Escolha uma Página

SUPER ERRO DA SUPER LEAGUE

por Idel Halfen


Durou menos de 48 horas a existência da Super League. Na verdade, a competição que reuniria quinze clubes fundadores mais cinco convidados por critérios técnicos só chegou a ser “realidade” nos noticiários e nos devaneios de alguns dirigentes, pois a avalanche de opiniões contrárias e a desistência da maioria dos clubes deram o tom do que seria o desenlace.

A causa do “fracasso”, nesse caso, é fácil de apontar: a falta de visão estratégica e, consequentemente, de planejamento.

Primeiramente deve ser registrado que é inconcebível que um produto seja lançado sem a realização de uma pesquisa bem elaborada e que contemple os principais públicos envolvidos. No caso da Super League seria fundamental entrevistar um número significativo de representantes dos seguintes segmentos: torcedores – tanto dos clubes participantes como dos “excluídos” -, patrocinadores das equipes e da modalidade, imprensa, órgãos federativos, clubes, meios de comunicação, governos, jogadores e comissões técnicas. Contudo, os responsáveis pelo “lançamento” preferiram confiar nos seus “achismos”, inebriados pelos possíveis ganhos financeiros de curto prazo e pela soberba que caracteriza os pouco afeitos a estudos.

Os que preconizam a agilidade operacional em detrimento da cadência estratégica minimizaram o ocorrido, alegando que o mesmo não trouxe grandes prejuízos, visto não ter havido investimentos substanciais e que a reversão foi rápida, o que não deixa de ser verdade. Só esqueceram, ou preferiram ignorar, os danos à imagem e a insegurança criada no meio. Isso mesmo: será que os patrocinadores irão querer investir em clubes que, independentemente de seus desempenhos técnicos, podem vir a ser alijados da competição mais importante em função de alguma decisão autoritária? E os patrocinadores da competição que será descontinuada, a Champions League, renovarão seus contratos?

O próprio critério de escolha dos participantes, sem querer entrar aqui em divagações filosóficas sobre a meritocracia e a essência do esporte, dá margem para críticas na medida em que correlacionam capacidade financeira com garantia de boa gestão e, por conseguinte, de melhores times.

Além disso, não enxergam que a audiência de um campeonato não está associada exclusivamente à participação dos melhores times, e que fatores como presença de ídolos e número de fãs precisam ser ponderados para se estabelecer quem são efetivamente “os mais atrativos”, condição, aliás, bastante dinâmica.

Na ansiedade dos ganhos rápidos, deixaram também de avaliar os riscos para a indústria, pois, na medida em que se cria uma competição tão mais importante do que as outras, essas últimas perdem a atratividade diante de patrocinadores, o que impacta na capacidade de investimento em contratação e formação de jogadores, levando ao “apequenamento” de algumas equipes. Tal cenário redunda em um menor interesse do público pela modalidade e consequentemente de menores receitas advindas com bilheteria e direitos de transmissão.

É importante deixar claro que as críticas contidas no artigo são voltadas exclusivamente à Super League, ou seja, o conceito de se criar ligas com as equipes mais representativas segundo alguns critérios não se trata de nenhum absurdo, vide, por exemplo, as ligas profissionais norte-americanas. Todavia, antes de se aventurar nesse tipo de criação, é preciso entender bem as características de cada modalidade, de cada país, da concorrência e, principalmente, da cadeia econômica envolvida, a qual comporta, entre outros, a formação e o aproveitamento dos atletas.

PERCALÇOS DE UM TIGRE

por Rodrigo Ferreira


Certa vez, os amantes do futebol soltaram a perola: “Time Grande Não Cai” para tirar um sarro do seu rival e ficar rodeando os torcedores por aí a fora quando algum time adversário está à beira de ser rebaixado de divisão. Contudo, não deixa de ser uma forma de reduzir ou negar a história do seu antagonista, sendo que os clubes, mesmo de forma indireta, cresceram juntos na rivalidade de um querer ser melhor do que o outro ou no momento do confronto o que está em baixa se recuperar diante de quem está em melhor situação.

A noite de 21 de abril de 2021 vai ficar na história, não somente pelos 229 anos do falecimento do líder da Inconfidência Mineira, Joaquim José da Silva Xavier, mas para os torcedores do Criciúma Esporte Clube vai ser uma noite de tristeza: o tricolor catarinense foi rebaixado pela primeira vez para a segunda divisão do campeonato catarinense.

Na última rodada do estadual, o Tigre precisava vencer o clássico contra o Avaí em casa e contar com uma combinação de resultados. No entanto, os concorrentes diretos estavam pressionados: no estádio Aníbal Costa, em Tubarão, o Hercílio Luz fez a sua parte venceu o Joinville por 4 x 3 e mesmo com a derrota do Concórdia por 2 x 1 diante do Juventus no estádio João Marcatto, em Jaraguá do Sul, o Criciúma não fez a parte dele e foi derrotado por um a zero. O gol foi do lateral-esquerdo Diego Renan que em 2012/2013 atuou no Criciúma e nesta noite decretou o rebaixamento de um dos gigantes do futebol catarinense.

O único clube de Santa Catarina campeão da Copa do Brasil em 1991; Campeão brasileiro da Série B em 2002 e Série C em 2006; Dez vezes campeão catarinense; Ídolos dentro das quatro linhas como Jairo Lenzi, Paulo Baier, Zé Carlos e entre tantos outros craques que vestiram a camisa do Tigre. Além disso, no banco de reservas do estádio Heriberto Hülse, o treinador Luiz Felipe Scolari, pentacampeão mundial com a seleção brasileira, já esteve posicionado no comando da equipe nos anos 90. Não, jamais a atual situação representa de forma alguma a história construída pelo tricolor do sul catarinense para o futebol de Santa Catarina.

Torcedor do Criciúma, momento de caça às bruxas para achar os culpados: diretoria, comissão técnica, jogadores ou foi o conjunto da obra. Difícil saber quem foi o(s) culpado(s) pela situação da equipe, mas a instituição Criciúma Esporte Clube vai ficar e precisar de vocês, os fiéis torcedores carvoeiros e lembrem-se da estrofe do samba que foi eternizado pela voz da madrinha Beth Carvalho: “Levanta sacode a poeira, dá a volta por cima / Levanta sacode a poeira, dá volta por cima”.

OS VELHOS BOLEIROS DO CAXINGUELÊ

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Quando escuto o locutor cogitando a possibilidade de o atacante Hulk ganhar nova chance na seleção brasileira, não tenho dúvida que enxergo o futebol com outros olhos. Nem no auge da forma física e técnica merecia. Na minha saudosa pelada do Caxinguelê tinham vários melhores que ele, Evandro Mesquita, por exemplo. Como se não bastasse, no dia seguinte, nas redes sociais, dou de cara com uma turma elogiando as atuações de Daniel Alves e pedindo “amarelinha nele!”. Esses dois casos retratam bem a pobreza de nosso futebol e a dificuldade para realizarmos uma renovação de verdade.

Há quanto tempo não surgem bons laterais? Nem falo sobre as outras posições, mas insistir em Daniel Alves é andar para trás. As bases dos clubes não conseguem mais formar jogadores. Se for grandão, fortão e correr feito um louco já garante a vaga. E essas “qualidades” justamente é que não buscávamos em nossas peladas. Vou sugerir aos velhos boleiros do Caxinguelê que voltem a treinar e aviso ao Tite para dar uma conferida na performance da turma.

Nas peladas, as posições são decididas na hora e muita gente que nunca havia jogado naquele espaço de campo acaba se adaptando. Saudade de jogar com Dadi, Vinicius Cantuária e Jorge Davidson, o Baba, amigos de 40 anos. E se falo de Dadi lembro do grupo A Cor do Som. Estava doidão nessa época e lembro das várias vezes que Vinicius Cantuária escondeu o meu próprio dinheiro para que eu não comprasse drogas. Queridos amigos! Paulinho Boca de Cantor, Charles Negrita, Luiz Melodia, Helson Gracie, Nonato Buzar, Pepeu Gomes, Augusto Casé, Maurício Krieger, Rubinho, Zeca, Chiquinho, Madalena, Rodolfo e Acácio, esse que faz chifrinho em mim.

Em foto de pelada sempre tem um engraçadinho para fazer chifrinho. Mas esse era goleiro, não o que ficou famoso no Vasco. Me vinguei disso da melhor forma possível: fazendo muito gols nele. Era uma hora de pelada, com árbitro, oito na linha, um jogo de camisa azul e o outro verde, campo de terra batida e balizas grandes, um sonho. Quando chegava a hora de terminar, Seu Joaquim mandava parar e não adiantava pedir um chorinho. Alguns anos depois, Canário, uma figuraça, comprou o bar e, ali, realizamos incontáveis resenhas.

Volta e meia apareciam Betinho Cantor, Moraes Moreira, Stepan Nercessian e Sombrinha, do Fundo de Quintal. E em pelada não tem essa de campeão do mundo e celebridades, todos são iguais. Dessa foto, Nando e Marcio já não estão mais entre nós, como também partiu o nosso verdadeiro futebol, o do improviso, do suingue, o da gingada na frente do marcador, o da caneta, o do balé.

Mas, Tite, infelizmente não poderei pedir para essa galera retornar aos treinos, pois aqueles momentos sublimes estão guardados em nossos corações. A grama sintética cobriu a terra batida e algum tempo depois o próprio Caxinguelê sucumbiu, assim como vários campinhos perderam a briga para a especulação imobiliária. E se hoje temos dificuldades em formar jogadores muito se deve ao desaparecimento desses campos, pois neles estão abrigados nossa essência, nossa verdade. A morte do Caxinguelê, podem acreditar, é a morte do futebol. Hoje somos obrigados a ouvir que o ala foi espetado na beirinha do campo após receber assistência!

WILLIAM BACANA, UM HERÓI ALVINEGRO

por Leandro Costa 


Nem a geração de Didi, Nilton Santos e Garrincha, nem o timaço de Jairzinho, Roberto, Gerson e Paulo Cézar, conseguiram realizar o feito que William Bacana e seus companheiros concretizaram na noite de 30 de setembro de 1993, no estádio Maracanã: conquistar um título internacional oficial para o glorioso Botafogo de Futebol e Regatas.

William Martins Sampaio, o William Bacana, chegou ao Botafogo em 1988, aos 20 anos, para se juntar ao grupo de juniores. Em 1989, já integrado ao elenco profissional, fez parte do grupo que acabou com o jejum do clube de 21 anos sem títulos, conquistando o Campeonato Carioca. No ano seguinte, foi bicampeão estadual. 

O ponto alto da carreira de William aconteceu no ano de 1993. Até então com poucas oportunidades de jogar, William recebeu a missão de substituir, no gol alvinegro, o titular Carlão, contundido, na Copa Conmebol. Com a confiança do Capita do Tri, Carlos Alberto Torres, William teve grande atuação na primeira partida das finais, contra o Peñarol, no Uruguai, garantindo o empate em 1×1. A partida de volta, no Rio de Janeiro, reservava uma noite inesquecível para William e toda a torcida Botafoguense.

Aos 34 minutos do primeiro tempo, Bengoechea abriu o placar para o time Uruguaio. O Botafogo virou no segundo tempo, com gols de Eliel e Sinval em cobranças de falta, porém ainda havia muita emoção reservada para aquela partida. Aos 45 minutos do segundo tempo, Otero empatou para o Peñarol, levando o jogo para a disputa de pênaltis. Hora de brilhar a estrela de William Bacana. 

Sinval desperdiçou a primeira cobrança do Botafogo. William defendeu a cobrança de Ferreyra. Suélio, Perivaldo e André converteram para o alvinegro. Da Silva marcou para o time Uruguaio. O zagueiro Guitierrez chutou para fora e De Los Santos cobrou o pênalti decisivo à esquerda do goleiro William, que pulou para o canto certo e sutilmente desviou a bola que ainda bateu na trave antes de colocar para sempre o nome de William Bacana e seu companheiros na rica história do Botafogo.

S.O.S GOLEIROS

por Irineu Tamanini


Hoje, dia 26 de abril é celebrado o Dia do Goleiro, uma data criada em 1976 para homenagear uma posição no futebol que, em poucos segundos, pode ir do céu ao inferno com uma defesa importante ou uma falha vexatória. A data é, simplesmente, uma reverência a um dos principais goleiros da história do futebol brasileiro: Haílton Corrêa de Arruda, o Manga. Com histórico de Seleção Brasileira e passagem marcante por Botafogo, Inter e Grêmio, ele foi campeão por todos os clubes em que passou e, já que o dia 26 de abril é seu aniversário, tornou-se o momento de todos os goleiros serem lembrados. 

A ideia de criar o Dia do Goleiro partiu de dois professores da Escola de Educação Física do Exército do Rio de Janeiro: o tenente Raul Carlesso e o capitão Reginaldo Pontes Bielinski. Carlesso, inclusive, foi um dos pioneiros no trabalho de preparação de goleiros no Brasil, tendo sido o primeiro treinador específico para a posição a atuar na comissão técnica da Seleção Brasileira em uma Copa do Mundo — durante o Mundial da Alemanha, em 1974. Inicialmente, a data era comemorada em 14 de abril. Isso porque naquele dia, em 1975, uma grande festa reuniu goleiros e ex-goleiros no Rio de Janeiro. Porém, a partir do ano seguinte, consolidou-se o dia 26 de abril.

Manga, à época, era goleiro do Inter. Havia sido campeão brasileiro em 1975 e seria, novamente, peça importante no bicampeonato em 1976. Antes disso, já havia conquistado inúmeros título com a camisa do Sport, do Botafogo e do Nacional-URU. Depois, viria a levantar taças também por Operário-MS, Coritiba, Grêmio e Barcelona-EQU. Além disso, disputou a Copa de 1966. Era reserva de Gilmar, mas foi titular na partida contra Portugal, vencida por 3 a 1 pelos europeus, que causou a eliminação do Brasil.

S.O.S goleiros

Paulo Roberto Xavier, de 61 anos é goleiro desde criança em Volta Redonda (RJ), onde nasceu. Filho e irmão de craques no futebol – seu pai, Xavier foi atacante e bicampeão no Atlético Mineiro e seu irmão, Wilton, ex-ponta-direita várias vezes campeão em supertimes do Fluminense, do Rio de Janeiro, na década de 1970. Para ele, que hoje tem uma empresa especializada em treinar jovens goleiros – a PRX Goalkeeper Academy – e divide sem tempo entre Porto Alegre e Garopaba (SC), “os goleiros estão sendo cada vez mais ridicularizados pela falta de responsabilidade e teimosia dos seus treinadores e preparadores de goleiros. Se é para os goleiros atuarem fora do gol, quem joga no gol?, pergunta Paulo Roberto Xavier que atuou durante muitos anos como goleiro em clubes dos Estados Unidos. 

Para Xavier, os goleiros de hoje são bem treinados em relação ao treinamento técnico específico, porém pessimamente, e até levianamente, orientados. Parece que não existe diálogo entre preparador de goleiros e goleiros. Eu vejo goleiros mal posicionados no gol, com tempo de reação precário, sem noção de espaço ao sair em uma dividida com os atacantes, vez que outra abafa uma jogada, assim mesmo mais pela deficiência técnica do atacante que por sua habilidade de raciocínio… Dá uma forte impressão que evoluímos, mas a verdade é que nos castraram, tiraram a maior virtude do goleiro que é segurar bola, e defende a goleira como um fiel guardião. Assim como um todo, o goleiro ficou á Mercer do futebol tecnisista, o goleiro virou um robô pessimamente mal programado … 

– Sequências de mal posicionamento por partes dos goleiros. No futebol atual os goleiros se destacam mais pela falta de qualidade dos jogadores que por suas virtudes. São poucos os Messis no futebol atual, e no Brasil não temos um jogador atualmente que possa deitar e rolar na debilidade técnica dos nossos goleiros, debilidade essa, imposta por seus treinadores. Se o Pelé estivesse jogando hoje no futebol brasileiro, faria um milhão de gols ao invés de mil – conclui Paulo Roberto Xavier.

Renato, também conhecido como “Aranha Negra”, ex-goleiro da Seleção Brasileira, do Flamengo, Fluminense, Atlético Mineiro e Bahia, aos 76 anos, morando em Uberlândia (MG), lembra que “se você acha que fazer gol é emocionante é porque nunca a fez uma defesa”. Essa frase – segundo ele – é exatamente o que penso sobre o goleiro. O zagueiro pode evitar um gol mas o goleiro está lá para evitar o gol mas fazendo uma defesa. A bola tem que morrer nele. Isso quando acontece o atacante faz o maior esforço, tenta dar o chute mais forte, procura o lugar para difícil mas se você pega essa bola e fica com ela, o atacante fica desmoralizado. O pensamento do goleiro não pode ser de outra maneira. Atualmente, vejo muito goleiro que é difícil fazer gol nele. Ele evita os gols. O goleiro tem que defender a bola, acabar com a jogada.

O goleiro é muito especial. A responsabilidade dele é enorme. Dificilmente um erro dele pode ser corrigido por algum companheiro. Toda a equipe tem que ter uma confiança enorme em suas qualidades, porque sabendo que o atacante adversário vai chutar mas a equipe sabe que tem um goleiro que vai pegar a bola, o time tem certeza que isso irá acontecer. Você tem que ter sempre a ajuda dos companheiros porque você tentar agarrar, não consegue e o companheiro precisa tirar a bola do alcance do adversário. Mas, repleto: o grande objetivo do goleiro é segurar a bola e acabar com a jogada do time adversário. 

A partir daí, precisa iniciar a jogada de uma forma eficiente, boa e rápida. O goleiro é um ser completamente diferente. Ele treina separado, o treinamento dele é muito diferente do elenco. Ele se veste diferente. É o único que pode colocar as mãos na bola. Ele tem que ter muita eficiência. Na época que eu jogava aqui no Brasil nos goleiros enfrentamos os melhores atacantes do mundo. Diversas vezes fui jogar na Europa e a jogada do adversário é sempre a mesma, alçando a bola no segundo pau para o seu colega devolver de cabeça no meio da área. Na maioria das vezes podíamos cortar essa bola porque a jogada era sempre a mesma.

Aqui no Brasil era completamente diferente. Tinha um lateral-direito do Fluminense, já falecido, Oliveira que cruzava a bola de curva na área. Tinha também o Nelinho do Cruzeiro que todo cruzamento era difícil para o goleiro pegar. Felizmente o saudoso tenente Carlesso teve essa brilhante ideia de criar o Dia do Goleiro. Antigamente nos programas de televisão o goleiro somente aparecia na imagem pegando a bola no fundo da rede.