OS EMERGENTES DA BOLA
por Zé Roberto Padilha
Muito bacana ver que um clube de futebol da Classe C, que no Brasil é definida por aqueles que ganham entre 2 e 2,5 salários mínimos, de pouca torcida, estádio modesto, fora do Brasileirão, da Copa do Brasil e Libertadores resistir ao abandono da sua federação e se impor diante dos grandes.
É o exemplo de amor ao futebol que está nos dando a lusa carioca ao deixar Vasco e Botafogo fora das semifinais do estadual.
Fico a imaginar o dia a dia de jogadores e comissão técnica ao se deslocarem para a Ilha do Governador em linhas vermelhas e engarrafadas. Treinar em dois períodos para equilibrar a parte física sem um centro de treinamento, isto é, indo e voltando com a gasolina a R$ 6. E se superando nas divididas para não dar espaços a adversários mais talentosos.
Seu goleiro rodou o país, seu técnico é desconhecido e seu Romário é genérico.
Pouco importam os meios, agora aquele grupo que frequentava a Rodoviária Novo Rio desembarca no Aeroporto Internacional do Galeão rumo a merecida felicidade.
Porém, ao entrar no Maracanã do equilíbrio social, encontram um olhar desconfiado, de ceticismo e até de ironia, fora o pior de todos que é o preconceito dos comentaristas que nem lhe vêem ou comentam sua atuação.
Preferem apenas julgar o seu adversário, o Fluminense, se jogou bem ou mal, se Roger Machado merece continuar ou dar lugar a Renato Gaúcho.
A Portuguesa é um novo alento aos que ainda acreditam que podemos viver num lugar menos desigual. Mesmo que não seja no bolso dos seus jogadores, mas no equilíbrio de renda e oportunidades concedida para todos os cidadãos.
Estejam eles jogando ou torcendo, carteira assinada ou autônomos, recebendo auxílio emergencial ou pensão vitalícia, por todo um país que precisava receber, das suas origens e cores lusitanas, um exemplo Portuguesa.
Com certeza.
OS CALOUROS DA SELEÇÃO DE 1981
por Paulo-Roberto Andel
Há exatos 40 anos, completados em 03 de maio, terminava o Campeonato Brasileiro de 1981. Pela primeira vez na história, o Grêmio se sagraria campeão ao vencer o São Paulo dentro do Morumbi por 1 a 0, com um golaço de Baltazar.
No mesmo dia, pelo placar eletrônico do próprio Morumbi logo após a partida, Telê Santana anunciaria a convocação dos jogadores para a Seleção Brasileira que disputaria três amistosos importantes, contra selecionados de expressão: Inglaterra, França e Alemanha. Avesso à imprensa, no dia seguinte Telê daria uma entrevista coletiva sobre o elenco convocado.
Se olharmos a lista dos 18 convocados, chegamos à conclusão de que, salvo raríssimas exceções, o grupo só tinha jogadores de, no mínimo, alto nível.
As duas surpresas positivas da convocação eram o goleiro Paulo Sérgio, do Botafogo (ex-Americano e Fluminense) e o volante Vitor, do Flamengo. Ambos teriam sua primeira chance com a famosa camisa amarelinha. Paulo Sérgio vinha de uma grande campanha com o Botafogo, parada nas semifinais do Brasileirão contra o São Paulo numa partida muito tumultuada. E Vítor tinha ficado nas quartas de final contra o próprio Botafogo de Paulo Sérgio, num 3 a 1 histórico pelo golaço de Mendonça driblando Júnior.
Outra curiosidade: embora fosse um jogadoraço, Vitor era reserva de Andrade no Flamengo, um fato inusitado – mas não inédito em se tratando de Seleção. Na Copa de 1954, Castilho foi para a Copa do Mundo como goleiro titular do Brasil e seu reserva era Veludo, também seu banco no Fluminense.
Aquela semana de 40 anos atrás seria promissora para o Grêmio: o time gaúcho iniciava uma sequência de triunfos que o levaria ao vice-campeonato brasileiro em 1982, ao título da Copa Libertadores de 1983 e ao Mundial de Clubes no mesmo ano. Uma época de glórias para o clube.
Já a Seleção Brasileira faria uma campanha maravilhosa na excursão europeia, vencendo Inglaterra, França e Alemanha em seus domínios, também credenciando-se à conquista da Copa do Mundo da Espanha em 1982. Mas o time dos sonhos acabaria nocauteado no Sarriá, muita coisa mudaria no esporte bretão e o Brasil ainda iria esperar 12 anos para o sonhado grito do tetra.
Paulo Sérgio e Vítor, os calouros da Seleção, brilhariam intensamente no futebol carioca pela década de 1980.
O CRAQUE DO BRASIL EM 1987
por Luis Filipe Chateaubriand
Depois de cinco anos jogando no Grêmio de Porto Alegre, em 1987 Renato Gaúcho desembarcava no Rio de Janeiro, para jogar no Flamengo.
O início, na disputa do Campeonato Carioca, foi difícil.
Fora de forma, apresentou um futebol apenas mediano.
Um jogador com porte físico avantajado, como Renato, tem mais dificuldades de entrar em forma do que jogadores mais leves, naturalmente mais afeitos a adquirirem condicionamento físico.
No entanto, veio o Campeonato Brasileiro.
E, aí, a história foi outra.
Vimos um jogador que, em forma, corria o campo inteiro, fazia cruzamentos certeiros, lutava pela bola, e a recuperava muitas vezes, tinha uma raça incomum, entortava marcadores, fazia gols e sofria faltas, para Zico bater.
O homem parecia estar possesso!
A cara de Renato Gaúcho naquele campeonato foi o lance do jogo da semifinal contra o Atlético Mineiro, em Belo Horizonte em que, com o jogo empatado em 2 x 2 e já quase aos 40 minutos do segundo tempo, Renato arranca quase do meio campo, dribla o goleiro João Leite e toca a bola para o fundo do gol.
Quase no fim do jogo, o cara ainda foi arrumar fôlego para fazer isso…
Por essas e outras, Renato ganhou a Bola de Ouro da Revista Placar daquele ano.
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
O JOGO DE FUTEBOL 10 X 10
por Luis Filipe Chateaubriand
Uma crítica muito comum que é feita ao futebol da atualidade é que há poucos espaços e, assim, a criatividade dos jogadores não aflora como em épocas pretéritas.
São, assim, mais raras as tabelinhas, os lançamentos em profundidade, os cruzamentos diretamente da linha de fundo, as penetrações em “facão”, as metidas em diagonal de trivela.
Isto acontece, indubitavelmente, porque o preparo físico dos atletas foi evoluindo ao longo do tempo e, com isso, as distâncias percorridas tornaram-se muito maiores e os espaços, obviamente, diminuíram.
Então, para que o jogo possa ter a plasticidade de anteriormente, é preciso criar espaços.
E a maneira mais elementar de criar espaços é diminuir o número de jogadores em campo – ao invés de 11 contra 11, 10 contra 10.
Reduzir o número de atletas, de 11 para 10, de cada clube, permitiria, ademais, que o meio campo ficasse menos congestionado do que atualmente, porque seria exatamente no meio de campo que surgiriam mais espaços.
Isso porque os times não iriam tomar a decisão de desfalcar algum setor do campo para compensar a perda de um jogador, então este seria retirado exatamente do setor onde há mais jogadores, a “meiuca”.
Como se sabe, é exatamente quando há o melhor aproveitamento do meio de campo que os times costumam ganhar jogos.
Portanto, reduzir o número de jogadores para cada time, de 11 para 10, aumenta os espaços para se jogar, e o faz especialmente no meio campo, o que propicia um futebol mais atraente e bem jogado.
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
A FORCA
por Zé Roberto Padilha
Essa cena aí, do encontro preciso nas alturas entre o matador e sua arma, dificilmente você verá acontecer junto às novas gerações. Isto porque tiraram dos clubes, principalmente nas divisões de base, na obsessão de alcançar um maior rendimento físico, uma ferramenta essencial no aprimoramento dos fundamentos dos jogadores: a forca.
Era um poste de Madeira que possuía uma bola de futebol presa por uma corda. O preparador físico calculava, de acordo com seu tamanho, uma altura que você poderia alcançar. Não era salto em altura. Era tempo da bola.
Como um pêndalo, um balanço, você ficava a calcular em qual tempo você a alcançaria. Com os treinamentos, encontrávamos o momento certo do cabeceio. Sábios treinadores, como Pinheiro, aproveitavam para introduzir os goleiros para que aprimorassem o tempo de cortar um cruzamento. Nielsen, Roberto, Paulo Sérgio, Paulo Goulart, da nossa geração, foram seus melhores alunos. E essa conquista, como andar de bicicleta e datilografar na máquina de escrever Remington Rand, você jamais esquecerá.
Ninguém ensina jogar futebol. Se alguém ensinasse estaria muito rico porque tem pai que daria o sítio para ver seu filho no Maracanã. Mas aprimorar fundamentos pode.
Quem fica, hoje, no Ninho do Urubu, como Zico, treinando cobranças de falta após os treinos? E cadê o tempo para gravar um comercial para a Adidas? Aí fica o narrador lembrando quando o Diego, de tiara, vai cobrar a sua: a última vez que o Flamengo fez um gol de falta foi contra o Cobreloa…
Tecnologia de ponta, escaltes, aparelhos que marcam passes, gráficos que rastreiam a movimentação, aparelhos de última geração mostrando o ar contido nos pulmões. Mas quando o Egídio vai a linha de fundo e a bola vai até o segundo andar…
Outro Fred?
Vão chegar antes ou depois naquela bola. Para ele, foi como andar de bicicleta de BH até o Rio. Para mim, escritor tricolor, restou buscar nas teclas e descrever momentos mágicos, como de um gênio e seu objeto de desejo se encontrando no ar, que dificilmente assistiremos outra vez.
Obs. Para ser justo, Renato Gaúcho mandou fazer duas para o Grêmio. Geromel e Diego Souza melhoraram muito.