REINALDO
por Zé Roberto Padilha
Passei uma tarde tentando explicar para meu filho quem foi Reinaldo. Se Raul, goleiro do Cruzeiro, batido e desolado na foto, que estava em campo e o enfrentava todo domingo, não sabia em que canto batia, em que ângulo cabecearia…
Um atacante de 1,72, que defendeu o Atlético MG por quase toda a carreira, de pura genialidade, que tirou o sono dos zagueiros, o emprego de treinadores adversários e levou ao desespero os goleiros que enfrentava.
Sem uma referência atual, achei mais fácil explicar porque parou tão cedo de, aos 31 anos, continuar dando shows que o futebol merecia eternizar. Se jogava há anos-luz, a medicina esportiva vivia na idade das trevas.
Seriamente caçado em campo, rompeu os meniscos e os médicos dos clubes, mais torcedores do que referendados pela classe, retiravam todo esse importante gel que protege e amortece cada movimento.
Alguns, homens da caverna, aproveitavam a lesão de um interno e retiravam o externo. Hoje, em que a artroscopia permite retirar apenas a parte lesionada, e dar vida longa ao atleta, teriam seu diploma cassado. Se não fossem presos.
Uma pena que, diante da genialidade explícita, as ferramentas disponíveis não eram as ideais. A bola de couro pesava 10 kg, quando chovia, 25. As camisas de malha, no dry-fit, retiam água, o short era de pano e as meias grossas toda a vida.
As chuteiras, de travas, deixavam marcas profundas nós pés, quando vemos as Nikes de hoje a vontade é de chorar. De pedir perdão aos nossos pés.
Enfim, toda essa genialidade não foi a campo no tempo em que a arte merecia. Foram tantos súditos a amar uma bola de futebol, e poucos Reis a entender, como ele, os rumos que ela merecia.
Coisas do futebol.
A SANTA FÉ
por Zé Roberto Padilha
Ter fé é acreditar nas coisas até contra as evidências.
Eles superaram, e a condenaram, toda a ditadura de Videla. Não cruzaram os braços diante da covarde invasão inglesa em suas Malvinas. Mas daí um time seu entrar em campo e enfrentar um adversário sem banco de reservas e sem goleiro?
Argentina é a minha segunda pátria. Como ponta esquerda, sempre admirei sua fábrica de revelar os melhores jogadores canhotos do mundo. E tinha em sua história de luta a Evita, Perón, e ainda nos concederam o melhor dos Papas.
Maradona, Conca, Ramon Diaz, Messi, D’Alessandro, D’Atalo, Mario Kempes, Di Maria, Di Bala, Passarela, Sorin…
Os pais do Gerson e Rivelino, certamente, passaram sua lua de mel por lá. Não há outra explicação para serem as duas honrosas exceções mundiais.
Para nossa definitiva admiração, da sedução do tango que nos leva a pista após o samba, ontem o River Plate não tinha uma equipe para entrar em campo. No limite de um time, onze jogadores, sem reservas e sem goleiros, um deles aceitou colocar as luvas e ir para o gol.
Não era um amistoso no Cruzeirinho. Era Copa Libertadores da América. E eles se superaram e venceram seu adversário utilizando o seu nome, Santa Fé, em prol de seus objetivos.
Torcer é bom. Ter fé, melhor ainda. Torcer pelo povo argentino, símbolo de garra e superação, não tem preço. Só orgulho.
Agora, depois dessa, só nos falta ocupar as praças de maio, junho, julho… colocar ordem na casa. Exemplos já não faltam mais.
PROJETO DE MAURÍCIO REVIVE ANO HISTÓRICO DO BOTAFOGO
por Aline Bordalo
“Olha o Mazolinha, entrou na área, o cruzamento, Maurício, goooooooooooooooooool!!! Do Botafogo!!!! Maurício!!!! Camisa número 7!!!!! Aos 12 do segundo tempo de jogo!!! Tem gente chorando no Maracanã!!!”
A narração eternizada na voz do saudoso Paulo Stein marcou a carreira do locutor. Antes de falecer, em março deste ano, ele gravou um depoimento para o livro “1989 – O Escolhido”, da jornalista botafoguense Aline Bordalo, falando sobre aquela final entre Botafogo e Flamengo.
O projeto foi ideia de Maurício, autor do gol histórico que encerrou o jejum de vinte e um anos do alvinegro sem títulos, e estava engavetado havia um tempo. Até que, numa live para o canal Botafogo Nela, o ex-jogador falou sobre ele. Aline, a apresentadora do canal, se propôs a escrever e deu o pontapé inicial a um grande trabalho de pesquisa.
– Eu recorri à internet, assisti a todos os jogos, entrevistas, inclusive aquelas feitas pelo Museu da Pelada, mas a maior ajuda veio de um torcedor. Márcio Lima soube que eu estava escrevendo o livro, conseguiu me achar e me emprestou todos os Jornais dos Sports da campanha. As reportagens foram essenciais para detalhar cada jogo! – revela Aline.
A história é desenhada seguindo a narrativa de Maurício, principal personagem de cada capítulo. Falando sobre aquele ano, ele se emociona em diversos momentos.
– Hoje minha vida é pautada em 89. Foi um ano que me concretizou como um jogador diferenciado. Um divisor de águas, um ano que revolucionou minha vida.
Jogadores que participaram da campanha, jornalistas que cobriram o dia a dia do Botafogo e personagens marcantes, como a gandulinha Sonja, também abriram o coração e falaram das emoções vividas naquele ano.
As vendas começaram esta semana, através de crowdfounding, uma espécie de vaquinha virtual, onde o interessado adquire uma cota, cujo valor varia, dependendo da aquisição. Além do livro, há outras recompensas incluídas, como a camisa e o boné de 89, e uma pelada com alguns dos jogadores campeões, que acontecerá assim que a pandemia acabar.
Falando sobre o livro com amigos botafoguenses, Aline descobriu que muitos tinham histórias pessoais maravilhosas e decidiu dedicar o último capítulo a elas. Torcedores anônimos mandaram relatos sobre os momentos vividos por eles, seus amigos e seus familiares enquanto assistiam ao fim daquele incômodo jejum.
– É um livro que com certeza vai emocionar os botafoguenses que testemunharam tudo aquilo e também os que nasceram depois. Várias vezes eu cheguei às lágrimas enquanto escrevia. No fim da história, o leitor vai ter certeza de que ele também é um escolhido.
Link para adquirir o livro:
O CRAQUE DO BRASIL EM 1988
por Luis Filipe Chateaubriand
O ano de 1988 foi todo de Geovani Silva, o Pequeno Príncipe de São Januário.
Pela Seleção Brasileira, foi líder do time treinado por Carlos Alberto Silva, que conseguiu o vice-campeonato nas Olimpíadas de Seul.
Jogou uma barbaridade!
Pelo Vasco da Gama, liderou o time na excelente campanha no Campeonato Brasileiro, que só não culminou em título por mero “acidente de percurso”.
Toque de bola refinado e preciso.
Lançamentos curtos ou longos encantadores.
Domínio de bola dotado de técnica ímpar.
Cobranças de faltas espetaculares.
Cobranças de pênaltis exatas.
Gols feitos e gols servidos aos companheiros.
Craque para mais de metro, em 1988 ele estava impossível.
Ave, Pequeno Príncipe!
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
A CAMISA MAIS BONITA
por Zé Roberto Padilha
Entre 68 e 75, quando defendia o Flu, usamos vários modelos de camisas. Na minha opinião, essa, utilizada na Taça Guanabara de 74, valorizada por vestir três tricampeões mundiais, foi a mais bonita.
Marca Athleta, um pouco mais grossa, sem patrocínios, riscas discretas verde e vermelha. E nem era branca, era um gelo.
Confeccionadas à mão, eram tão raras que se trocássemos nas partidas tinha bronca do Ximbica. E vinha descontada no pagamento.
Uma preciosidade.
E tivemos o privilégio de jogar ao lado desse monstro, Gerson, que fez o meio campo ao lado de Carlos Alberto Pintinho e Cléber. E se despediu na ocasião.
Que azar do futebol brasileiro que nunca mais revelou uma canhotinha assim. Uma camisa igual ainda dá tempo de copiar. Quem sabe?
Saudade e bom gosto, não tem idade. Nem verdades. Apenas a opinião de quem vestiu e foi com ela desfilar na passarela verde por onde o Fluminense se apresentasse.