O INCOMPRÁVEL
por Zé Roberto Padilha
Além da qualidade técnica que pesa muito em qualquer decisão, tem algo tão importante no futebol, que, infelizmente para nós, tricolores, não estava à venda para equilibrar a disputa..
O entrosamento. Nem Xerém tem um pra vender.
Com exceção do goleiro, de um ala, o Flamengo levou a campo a mesma espinha dorsal que o levou a levantar a Taça Libertadores da América e a ser o vice campeão mundial de clubes.
Jogando juntos já tanto tempo, Éverton Ribeiro troca de funções com o Gerson naturalmente. Sem qualquer ordem do banco. Se para eles é normal, e o fazem com extrema aplicação tática, para quem os marca, e mal jogaram um estadual juntos, é o próprio inferno.
Bruno Henrique e Gabigol, indicados por Abel Braga e treinados por Jorge Jesus, estão tão entrosados que podem retirar de cena quantos Rogérios estiverem à beira que basta um piscar de olhos para saber onde seu companheiro estará colocado.
E tem o Arrascaeta…
Agora, nos resta seguir o exemplo. Tentar fazer no Campeonato Brasileiro que nossa espinha dorsal se equilibre, se solidifique, se conheça. Mas para isso é preciso afastar de vez o maior inimigo do entrosamento: o time misto. Aquele que poupa desentrosando.
E quando a bola for alçada para a grande área da linha de fundo, o Fred terá a certeza qur ela chegará na altura e na velocidade que gostaria.
Mas para isso não tem que deixar o campo tão cedo. Outra vez derrotados, nem precisava subir a placa mostrando quem seriam os Bobadillas dessa história.
POLÍTICA DE PATROCÍNIO
por Idel Halfen
Uma das poucas certezas que o marketing nos brinda é a de que as marcas não devem ter um rosto, principalmente se for o de um ser humano, naturalmente suscetível a falhas, o que pode de alguma forma contaminar a marca. Daí a recomendação para que as empresas não restrinjam apenas a uma única pessoa a posição de “embaixador” ou de “endossador”.
Tal afirmação não significa que marcas e empresas não devam ter identidade, o que é completamente diferente, pois esta está relacionada ao posicionamento e à proposta de valor, variáveis imprescindíveis em qualquer mercado.
Esclarecimentos feitos, passemos para o tema que suscitou interessantes debates na última semana: o patrocínio da Havan ao rubro-negro carioca.
Enquanto alguns criticaram a iniciativa pelo fato de o dono da empresa ser um apoiador ferrenho do presidente da república e de suas falas, outros a defendiam sob o argumento de que o que importa é o valor que o clube receberá, algo mais ou menos na linha de que os fins justificam os meios.
Pois bem, inicialmente deve ser registrado que é inconcebível que as pessoas sejam julgadas por possuírem algum posicionamento político – seja de esquerda ou de direita -, aliás, qualquer tipo de generalização a respeito de preferências estritamente ideológicas denota o quão imbecil é o sujeito que a faz.
Contudo, não é salutar que marcas/empresas tenham posicionamento político, cabendo a elas no que tange ao relacionamento com a sociedade focar suas ações nas causas sociais, o que, inclusive, contribui para fortalecer a imagem de uma empresa preocupada com a humanidade.
Embasa tal afirmação o fato de que o patrocínio deve buscar, além da exposição e ativação da marca, a associação dos valores do patrocinado com o do patrocinador, para assim criar uma espécie de simbiose. Neste contexto, o clube passa a usufruir dos atributos do patrocinador, sendo a recíproca verdadeira.
Por isso é tão importante o trabalho de análise das possíveis parcerias sob o prisma do branding, mesmo porque, uma eventual contaminação pode implicar na fuga de outros patrocinadores (efeito co-branding) no caso do clube, ou de clientes no caso da empresa.
Voltando ao caso específico, a Havan pode vir a se tornar um problema para o clube em função do que foi citado no início do nosso artigo: a empresa tem a cara do dono, o qual, pouco se importa em se posicionar politicamente. Aliás, a pouca preocupação com a imagem da empresa já levou seu dono a se manifestar publicamente contra medidas voltadas à inclusão de deficientes em suas lojas.
Por mais que tais atitudes possam ser minimizadas com argumentos de que elas agradam e atraem clientes que comungam das mesmas convicções, não se pode esquecer que a concorrência, ao não tomar partido, agrada e atrai a todos, isto é, não tem rejeição.
Vale ainda relatar que esse problema, embora pareça inédito já ocorreu outras vezes, vide, por exemplo, o caso do Werder Bremen da Alemanha que foi alvo de protestos quando anunciou que a Wiesenhof – empresa de alimentos acusada de maus tratos a animais – seria sua patrocinadora.
Tais situações provavelmente estarão cada vez mais presentes no cotidiano dos clubes, o que faz com que fique evidente a necessidade de modernização do estatuto com cláusulas de compliance que estabeleçam restrições a empresas que possuam envolvimento político e que adotem práticas não-sustentáveis.
BRASILEIRÃO DE 1971, A DESCOBERTA DE UM GÊNIO CHAMADO ROBERTO DINAMITE
por Erismar Silva
No ano de 1971, iniciava a era Campeonato Brasileiro em nosso futebol. No ano em que o Clube Atlético Mineiro conquistou seu único título do Brasileirão até o momento, o que não faltam são histórias e curiosidades. Após 1 ano da conquista da Copa do Mundo de 1970, os olhos se voltava para o nosso futebol, a qual, tínhamos um “Brasileirão” se iniciando.
Nas temporadas anteriores a competição tinha nomes diferentes, e claro, o formato também eram outros. Vale lembrar também, que mesmo com esse novo nome, os formatos da competição dificilmente se repetiram. Nos gramados brazucas daquele ano, desfilava a maestria futebolística de um gênio da bola, chamado Dadá Maravilha, craque do Atlético Mineiro.
A famosa “subida no ar” de Dadá contra o Botafogo no jogo decisivo, calou mais de 84 mil torcedores no Maracanã. Dadá era um verdadeiro gênio. Naquele ano, ele foi o artilheiro da competição balançando as redes 15 vezes e, consequentemente, eleito o craque daquele ano. Com 20 clubes representando oito estados, o Brasileirão se consolidava com grandes disputas e rivalidades.
Nos embalos da canção mais tocada daquele ano, “Detalhes” do Rei Roberto Carlos, o nosso futebol também embalava a galera. Nas arquibancadas, 80 mil era o mínimo em vários estádios. O charme do Campeonato era a disputa, a rivalidade e a busca incessante da vitória. No Clube Atlético Mineiro, além de Dadá, a base do time mineiro era essa: Renato, Humberto, Grapete, Vantuir, Odair, Vanderlei, Humberto Ramos, Ronaldo, Beto, Dadá Maravilha e Romeu. Técnico: Telê Santana
O ano ficou marcado pela última partida do Rei Pelé com a camisa Seleção Brasileira. No Estádio do Maracanã, o Brasil encarava a antiga Iugoslávia, o jogo terminou empatado em 2×2. No momento em que o país ainda estava no regime militar, sob o comando do General Medici, amargava o mais terrível momento da nossa história, conhecido como os “Anos de Chumbo”, em que a repressão era pesada. Para muitos, o futebol e a música, eram o refúgio para fugir das tensões do Regime Militar.
Naquele ano, foram marcados 419 gols por 20 clubes, com uma média de público de aproximadamente 20.300 torcedores por jogo. No jogo entre a Portuguesa e o Palmeiras, válido pela primeira rodada do Brasileirão, ocorreu a primeira expulsão do campeonato, aos 47 do segundo tempo, Eurico do Palmeiras e Tatá da Portuguesa foram expulsos.
E as curiosidades não param por aí. Naquele ano, o futebol conhecia um dos maiores jogadores da história do nosso futebol, artilheiro vascaíno, Roberto Dinamite. Em um jogo entre Vasco da Gama e Internacional de Porto Alegre, o então garoto da base foi chamado para integrar o time principal do Cruzmaltino, assim, fazendo a sua estreia como profissional. Em uma entrevista ao Portal Uol, Dinamite relata como surgiu o apelido que o consagrou no futebol.
Na partida contra o Colorado, o garoto entra no segundo tempo, recebe a bola na entrada da área, dá um corte no zagueiro Ferretti, e solta um “foguete” para balançar a rede. No Jornal dos Sports no Rio de Janeiro, o jornalista Aparício Pires, destacava seguinte Manchete: “Garoto-Dinamite, explodiu no Maracanã”. De lá para cá, Dinamite veio fazendo história no futebol, artilheiro em praticamente todos os campeonatos que disputou, no Brasileirão, por exemplo, ninguém fez mais gols que ele até o momento, 190 gols. Depois dessa manchete, o apelido de “Dinamite” ficou eternizado na história do Vasco e do futebol brasileiro.
Voltando a falar do Club Atlético Mineiro, foram 27 jogos disputados com 39 gols marcados e 22 sofridos. 12 vitórias, 10 empates e 5 derrotas. Fatos curiosos desse emblemático campeonato de futebol, não deixaram de acontecer. No clássico entre Botafogo e Vasco da Gama, o zagueiro Brito cometeu um pênalti. Ofendeu o árbitro José Aldo Pereira e foi expulso, não contente, agrediu o juiz com um soco no estômago e foi parar na delegacia. Pegou um ano de suspensão, depois, teve sua pena reduzida, levando em conta seus serviços prestados à Seleção Brasileira. A confusão voltou a acontecer na rodada final da competição, no jogo entre Botafogo e Atlético-MG, Nilton Santos perdeu a cabeça e agrediu o árbitro Armando Marques.
O Brasileirão começava a ganhar forma, e a competição ficava cada vez mais acirrada. As rivalidades se intensificaram entre os clubes locais e também entre os estados. O mundo passava a conhecer ainda mais o nosso futebol, que naquele ano, já tínhamos três títulos de Copas do Mundo. O nosso Campeonato, até hoje é reconhecido como um dos mais disputados de todo o mundo.
EX-LATERAL PROMOVE REEDIÇÃO DE CAMISAS DE CLUBES EXTINTOS
por André Luiz Pereira Nunes
Através de dois artigos anteriores, mencionei a atual febre de lançamento de camisas retrô pertencentes a times de futebol extintos do Rio de Janeiro que tomou conta dos aficionados das saudosas agremiações de bairro.
O ex-lateral-esquerdo Luiz Fernando, conhecido como Caldeira, é um dos protagonistas dessa iniciativa. Atuando como ponta-esquerda, fez parte do time titular do Mesquita, comandado por Renê Simões, que se sagrou vice-campeão da segunda divisão do Rio, em 1985, feito notório que representou a ascensão inédita de um representante da Baixada Fluminense no Campeonato Estadual. Após pendurar as chuteiras, Caldeira ingressou nos Correios em busca de uma vida mais confortável e segura. No entanto, jamais se desvencilhou de sua antiga paixão. Por conta disso, há cerca de alguns meses, decidiu reeditar camisas de times extintos, a começar pela do Quintino Futebol Clube, equipe de pelada de seu bairro. A satisfação foi tão grande que passou a investir em outras reedições. Uma delas foi a do hoje pouco conhecido campeão carioca da Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), em 1933, o Sudan Athletico Club, de Cascadura. A outra pérola é o Manguinhos Football Club, campeão da Liga Brasileira de Desportos, em 1921.
E Luiz Fernando não pretende parar por aí. O Modesto Football Club, de Quintino, bicampeão carioca, em 1926/27, pela mesma Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), é um dos próximos alvos.
De acordo com o equivocado entendimento da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ) quando o Vasco, último grande, foi aceito na Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), os torneios jogados por equipes menores passaram a ser estaduais não reconhecidos pela entidade, uma injustiça que precisa ser urgentemente corrigida. Existem, portanto, seis campeões cariocas “esquecidos” e não reconhecidos: o Engenho de Dentro A.C., em 1925, o Modesto F.C., de Quintino, em 1926 e 1927, o S.C. América, de Lins do Vasconcelos, em 1928 e 1929, o Sportivo Santa Cruz, em 1930, o Oriente, em 1931, e o S.C. Boa Vista, da Tijuca, em 1932.
Falta ainda à FFERJ reconhecer os títulos cariocas vencidos, em 1933, pela Viação Excelsior (LMDT), São José de Magalhães Bastos, em 1934 (LMDT) e pelo São Cristóvão, em 1937, organizado pela Federação Metropolitana de Desportos (FMD), além dos certames da segunda divisão conquistados, em 1932, por parte do Engenho de Dentro; de 1933 vencidos por São Cristóvão (LCF) e Anchieta (AMEA); 1934 através do Brasil Suburbano (AMEA) e Modesto (LCF); 1935 ganhado pelo Engenho de Dentro e, finalmente, o de 1936, cujos campeões foram Carbonífera (LCF) e Benfica (FMD).
Para o ex-lateral-esquerdo a ação promove um importante resgate da memória, não só do futebol, como também dos bairros que sediavam essas agremiações.
– A resposta tem sido muito boa, o que é ótimo, pois essa iniciativa precisa de fato ser corroborada por um determinado contingente, haja vista que a fábrica exige um mínimo de 20 camisas. De qualquer forma, estou bastante empolgado e espero que tenhamos novas surpresas, declarou.
Oportunidades não faltarão. No rol de Luiz Fernando se encontram muitas outras equipes que praticamente caíram no esquecimento. Estão cotados Nacional de Guadalupe, Cascadura, Municipal de Santo Cristo, Atilia, Adélia, Piedade, Palmeiras de São Cristóvão, São Paulo-Rio, São Tiago de Inhaúma, Penha, Onze Rubros, de Quintino, Mavilis, Galitos, Sampaio, São José de Magalhães Bastos, Del Castilho, Abolição, Oposição, entre outros.
Quem estiver interessado em participar da confecção das camisas, o telefone de Luiz Fernando é 21 99645-0999.
REINALDO
por Zé Roberto Padilha
Passei uma tarde tentando explicar para meu filho quem foi Reinaldo. Se Raul, goleiro do Cruzeiro, batido e desolado na foto, que estava em campo e o enfrentava todo domingo, não sabia em que canto batia, em que ângulo cabecearia…
Um atacante de 1,72, que defendeu o Atlético MG por quase toda a carreira, de pura genialidade, que tirou o sono dos zagueiros, o emprego de treinadores adversários e levou ao desespero os goleiros que enfrentava.
Sem uma referência atual, achei mais fácil explicar porque parou tão cedo de, aos 31 anos, continuar dando shows que o futebol merecia eternizar. Se jogava há anos-luz, a medicina esportiva vivia na idade das trevas.
Seriamente caçado em campo, rompeu os meniscos e os médicos dos clubes, mais torcedores do que referendados pela classe, retiravam todo esse importante gel que protege e amortece cada movimento.
Alguns, homens da caverna, aproveitavam a lesão de um interno e retiravam o externo. Hoje, em que a artroscopia permite retirar apenas a parte lesionada, e dar vida longa ao atleta, teriam seu diploma cassado. Se não fossem presos.
Uma pena que, diante da genialidade explícita, as ferramentas disponíveis não eram as ideais. A bola de couro pesava 10 kg, quando chovia, 25. As camisas de malha, no dry-fit, retiam água, o short era de pano e as meias grossas toda a vida.
As chuteiras, de travas, deixavam marcas profundas nós pés, quando vemos as Nikes de hoje a vontade é de chorar. De pedir perdão aos nossos pés.
Enfim, toda essa genialidade não foi a campo no tempo em que a arte merecia. Foram tantos súditos a amar uma bola de futebol, e poucos Reis a entender, como ele, os rumos que ela merecia.
Coisas do futebol.