FUTEBOL EM VERSOS
por Rodrigo Melo Silva
Em território brasileiro chama a atenção pela pluralidade da identidade cultural porque em cada canto do país se apresenta em formatos na dança, das artes plásticas, do audiovisual, da fotografia, da natureza e entre outras peculiaridades regionais. Fato que a riqueza e a qualidades das produções musicais é um dos marcos genuínostupiniquim que atravessa por gerações sendo produto tipo exportação.
Funk carioca, frevo nordestino, rock gaúcho ou rap paulistano são alguns exemplos de gêneros de sucesso internacional que coloca os cantores, cantoras e bandas em evidência colocando a cultura brasileira como destaque. Além disso, outro “produto” se destaca pela excelência na qualidade nas terras tupiniquins e chega aos demais países com expectativa elevada são os “pés de obras” dos jogadores formados no Brasil que levam ao delírio os torcedores pela sua habilidade, assistências e gols aos montes.
Por vez ou outra, os caminhos se encontram entre um violão e uma bola de futebol. Ao longo da história, jogadores fora de séries ou atletas carismáticos e além deobjetos ligados ao futebol como o estádio ou a torcida se tornou inspiração para a composição musical nos mais diversos gêneros musicais como, por exemplo, É Uma Partida de Futebol dos mineiros do Skank que gravaram o clip da música em pleno estádio do Mineirão durante clássico mineiro entre Cruzeiro x Atlético Mineiro ou quando o carioca Marcelo D2 homenageou Ronaldo Nazário, o fenômeno, com a canção Sou Ronaldo, os paulistas MC Guimê e Emicida colocando todos os amantes do futebol nas estrofes da canção País do Futebolaté mesmo o resultado de partida mereceu música como caso de Um a Zero pela voz do carioca Pixinguinha.
No final dos anos 90 e início dos anos 2000, podíamos ver os cantores na versão “jogadores” de futebol nas hiláriasedições do Rock & Gol, idealizado pela MTV Brasil quando pertencia ao Grupo Abril, quando foi a oportunidade ver a habilidade de Samuel Rosa do vocalista do Skank, a artilharia de Japinha e Badauí do CPM 22 e quando poderia ver a galera do Ratos do Porão, Sepultura e Angra troca o som pesado dos riffs dasguitarras por uma bola de futebol com narrações de Paulo Bonfá e comentários de Marcos Bianchi que traziam doses de humor para os lances da partida.
O futebol é um território fértil para a música e as canções embalam as quatro linhas que não conseguem ficar longe.
O SÃO PEDRO DO FLA
por Marcos Eduardo Neves
Renato era camisa 7. Assim como Bruno Henrique. Assim como Michael. Assim como Vitinho. Em uma semana, três jogos, três vitórias, 10 gols marcados e um único sofrido – e, detalhe: não por mérito do ataque adversário, mas por falha bizarra de um grande goleiro de corte de cabelo bizarro.
O Flamengo começou o jogo irresistível, como desde Jorge Jesus não se via. Bruno Henrique lembrava o Renato de 1987. Um autêntico cavalo de raça, com sua vistosa crina e tudo. Um tanque. Talento e força física.
Tudo ia bem na equipe até Diego Alves entregar. Fiquei com saudade dos goleiros-raiz, que não sabiam jogar com os pés. Por essas e outras Hugo se queimou. E complicar um jogo fácil, em plena Libertadores, decididamente, não vale a pena.
Após o tenso intervalo, tudo mudou. Se Bruno Henrique é o seu Renato, o Portaluppi resolveu mandar a campo seu Alcindo, o Michael. Que é outro com ele. Autoconfiante e aliando objetividade a seu estilo agressivo. Depois, tirou da cartola Vitinho, que seria o artilheiro do jogo, mesmo jogando menos tempo. Nas apostas de Renato, o jogo que, se não fosse a falha de Diego Alves, acabaria uns seis ou sete a zero pôde terminar, sem defesa mas com justiça, 4 a 1 para o Flamengo – outra vez e cada vez mais temido.
Óbvio que Renato não é Jorge Jesus, nem vai ser. Mas é Renato, e continuará sendo. Jorge Jesus montou o grupo, desenvolveu o estilo de jogo e embutiu na galera o espírito vencedor. Parafraseando a Bíblia, Jorge Jesus é um Jesus Cristo para os fiéis rubro-negros. Mas, segundo a Bíblia, vale lembrar que Jesus deu ordem a seu apóstolo Pedro para, após sua morte, fundar a igreja e propagar sua mensagem. Sendo assim, Jorge Jesus é Jesus, mas São Pedro tá com toda pinta de ser não Pedro, o queixudo atacante reserva do Gabigol barba de carranca, mas São Pedro tem tudo para ser Renato.
Que se cumpram as escrituras!
Avante, Flamengo!
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MUITO ALÉM DE TRÊS PULINHOS E O SINAL DA CRUZ
por André Felipe de Lima
Um lugar específico do Órun, o recanto dos espíritos, está muito feliz. Nele certamente residem muitos ídolos do passado, especialmente Zizinho, o maior do Flamengo até surgir Zico; Didi, craque do Fluminense, do Botafogo e da Copa de 58; Orlando Pingo de Ouro, grande artilheiro do Flu nas décadas de 1940 e 50; “Pai” Jaú, zagueiro do Corinthians e da Copa de 38 e um babalorixá inesquecível, e muitos outros grandes jogadores do passado que sempre nutriram fé no deus maior, Olorum, mas também em todos os orixás do panteão mais iluminado do Órun. Todos estes sagrados espíritos e os dos nossos craques do passado certamente comemoram um simples gesto de um menino, mas de significado espetacular, gigantesco, e que pode ser muito importante para que a sociedade brasileira comece a respeitar a diversidade religiosa. Paulinho tinha tudo para entrar pela porta da frente da história como promissor ídolo do Vasco, onde começou a carreira, mas os orixás determinaram a ele outro destino. Exu, o orixá da comunicação, da transformação do mundo, o equivalente a “Hermes” ou “Mercúrio”, da cultura ocidental, abriu as portas deste futuro para o Paulinho, e Oxóssi, o consolidou naquele gesto do menino, como se erguendo um ofá (arco e flecha) do rei maior das florestas de corações, saiu rumo ao vento para comemorar mais um gol do Brasil. Um gol marcante, libertador, impositivamente vencedor, como assim querem os orixás, e, como alega Paulinho, um gol ou sucesso que “nunca” foi fruto da “sorte”: “Sempre foi Exu”, diz ele.
O futebol brasileiro sempre foi marcado pela aproximação com a fé. Seja ela de origem católica, protestante ou afrodescendente. Não importa qual bandeira de fé envolve o jogador. A fé sempre esteve e está ali dentro e fora de campo. Recorrente eram os depoimentos de jogadores do passado a proferi-la sem receios de serem perseguidos ou recriminados. Tudo bem, não havia rede social por onde detratores intolerantes pudessem emitir racismo e preconceito religioso. Estes dois nefastos e enraizados aspectos estão lamentavelmente entranhados em nossa cultura. Essa intolerância com a fé alheia e a cegueira do sectarismo que a molda são responsáveis para que muitos escondam sua certeza em uma força maior, uma força que brota na particular imagem do céu de cada um. Naquele gesto do Paulinho, há muito mais além de um simples pulinho e o sinal da cruz tão “praticados” por muitos jogadores ao entrarem em campo. Entendamos e, sobretudo, respeitemos, e com muita fé, a mensagem do menino de Oxóssi. Epa, Babá!
AINDA BEM QUE NÓS TEMOS O MARCÃO
por Zé Roberto Padilha
Em meio a insanidade dos nossos dirigentes, que vivem a trocar treinadores para desviar o foco de suas incoerências administrativas, e levam um grupo construído na pré-temporada a se desmanchar pelas sucessivas competições devido ao desconhecimento dos que assumem o leme de um barco sem um manual de instruções, para sorte do Fluminense existe o Marcão.
Foi ele, como treinador interino, em meio a saída de Odair Hellman, que montou o barco e a chegada de quem passou a dirigi-lo (Roger Machado), sendo capaz de manter o equilíbrio entre a velha e a jovem guarda.
E não perder o entrosamento, este fundamental quesito de um grupo que não está à venda mesmo com a abertura de todas as janelas.
Foi ele que bancou a permanência do Nenê, Fred, Egídio, ao mesmo tempo que renovava os votos de confiança nos meninos de Xerém.
Sem ele, com sua humildade, sensatez e amor ao clube, dificilmente o Fluminense alcançaria a solidez tática que, hoje, o credencia para disputar o título tão almejado da Libertadores da América.
Já ao Botafogo, que se arrasta desentrosado e amargando maus resultados, faltou um Marcão na sua transição. Do elenco que disputou o estadual, apenas três jogadores foram mantidos para a disputa da Série B.
Isto é, jogou-se no lixo uma boa equipe e foi buscar cacos de outras quando os que chegaram pela porta da frente, como solução, não conversaram com os que saíram pela outra dos fundos.
Uma comissão técnica que não tem um governo de transição, muito menos um Marcão, transforma jogos decisivos em testes, e a bola, vocês sabem, não perdoa, pune.
Que todos os clubes se mirem no exemplo tricolor. Porque treinadores passam, a história do clube deve ser perpetuada por aqueles que vestiram sua história.
Escolham seus Leônidas, Zé Marios, Titas, Eduzinhos, que honraram seus clubes dentro e fora de campo, deram exemplos de postura e seriedade, e os nomeiem para ocupar essa faixa de gaza.
Um olhar palestino dos refugiados da insensatez dos cartolas, em meio aos conflitos entre os egípcios demitidos e a comissão técnica israelense recém contratada.
A paz, sem protestos, bombas ou muros pichados, será mais duradoura nos clubes de futebol que tiverem seu Marcão de prontidão.
DOIDO, SIM. DESEMPREGADO, NÃO
por Zé Roberto Padilha
Lisca sabe que a equipe do Vasco está montada. E definida. Pouca coisa tem a fazer a não ser beliscar os jogadores nas preleções. E tentar motivá-los gritando como um doido à beira do campo.
Serão gestos teatrais de um artista da bola que vão se constituir na nova atração da segunda divisão.
São engraçados, fazem parte do seu arsenal midiático que agrada os torcedores quando seu time está ganhando. Quando perde, não sabemos porque é demitido. E nada mais.
Bem ou mal, como um carro de Fórmula 1 testado em Jerez de Lá Frontera, onde as grandes equipes apresentam suas novidades todo começo de ano, foi na pré-temporada que os jogadores do plantel vascaíno foram escolhidos.
Um sistema tático definido. Não há como fazer milagres em um time que você não indicou os motores, os freios, a suspensão.
Marcelo Cabo era o Vettel que foi trocado. O cockpit tinha suas medidas, sabia que os pneus se deteriorariam no segundo tempo e que abrir a asa para ultrapassar qualquer time na tabela precisaria do Benitez. E do Marrone.
Um foi para a Lotus. O outro para o São Paulo.
Lisca não terá um time para chamar de seu. Ele sabe disso e colocou em risco seu currículo. Mas e os colégios das crianças? A primeira parcela do IR, a cota do IPTU, o IPVA?
Ele será apenas mais um piloto que arrumou um emprego na reta oposta do Campeonato Brasileiro. E que irá, pelos autódromos do país, se equilibrar ao volante de um carro que mal conhece suas peças pelo nome.
O problema maior do Vasco, a esta altura da Serie B, é que a Mercedes dos Aflitos não trocou seu piloto. Hamilton dos Anjos tem o carro nas mãos. Desde os testes, até a concepção. Seu time está voando nas pistas.
Restará ao Lisca pagar as suas contas em dia.
E evitar que seu time caia para a F3 ao não derrapar nas curvas dos autódromos em que irá dirigir seu desconhecido team daqui pra frente.