PEPETA, O PRIMEIRO AMAZONENSE A MARCAR NO MARACANÃ
por Antonio Carlos Meninéa
Os amazonenses mais conhecidos da mídia futebolística foram Berg que atuou pelo Botafogo/RJ, e Gilmar Popoca pelo Flamengo/RJ. Isso nos anos 80 dourados do futebol. Essas duas feras realmente fizeram história e estão na memória de milhões de torcedores por todo Brasil.
O que poucos sabem é que antes deles um outro amazonense já tinha feito história em pleno Rio de Janeiro, no Maior do mundo.
No dia 24 de agosto de 1969, no Estádio Mário Filho, 120.000 torcedores presenciaram o Nacional/AM derrotar o Grêmio Maringá/PR pelo placar de 1×0, dando o título de Campeão do Centro/Sul x Norte/Nordeste, ao time amazonense, uma espécie de série B do Brasileiro.
Tal decisão foi preliminar da peleja Brasil x Venezuela pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 1970. O autor do gol que entrou para história foi Pepeta, ponta esquerda de muita habilidade, gols e títulos conquistados pelo Nacional/AM.
Historiadores e jornalistas amazônicos dizem que ele era craque e só não foi mais longe no cenário do futebol nacional por ter desistido de treinar no Palmeiras, quando optou por retornar a sua cidade natal, Manaus.
Nem Berg nem Popoca, José Ricardo dos Santos Silva, “Pepeta”, o primeiro amazonense da história a estufar as redes no Maracanã.
O FUTEBOL É OLÍMPICO
por Idel Halfen
O título do artigo, ainda que contenha certo grau de sarcasmo, tem como intuito provocar uma reflexão sobre os pontos que fazem o futebol se diferir das demais modalidades.
O fato de haver restrições sobre a idade máxima – cada seleção pode levar no máximo três jogadores com idade acima de 23 anos – já deixa o futebol masculino diferente dos outros esportes olímpicos. Tal situação tem como justificativa o receio por parte da FIFA de que o torneio se transforme numa espécie de Copa do Mundo, receio esse que não existe em nenhuma outra federação internacional.
Além dessa “diferença”, há o poderio financeiro da modalidade, o qual tem sido responsável por acontecimentos que extrapolam o razoável, e aqui trazemos como ilustração a cerimônia de premiação, onde a seleção brasileira, vencedora da competição nos Jogos de Tokyo, subiu ao pódio com a camisa de jogo que trazia a logo da Nike, patrocinadora da Confederação Brasileira de Futebol, contrariando a determinação do Comitê Olímpico Brasileiro de usar o uniforme da Peak, fornecedora da entidade.
A hipótese de a Nike estar por trás da iniciativa não parece crível, contudo, mesmo sem a participação da marca é clara a situação de ambush marketing – marketing de emboscada – afinal, obteve exposição em um espaço que não pagou para estar. A alegação de que ela é patrocinadora da CBF, e como tal investe verbas altíssimas, não se sustenta, pois as marcas têm plena consciência dos seus direitos e deveres, não se cogitando sequer eventuais negligências ou esquecimentos sobre os Jogos Olímpicos. Nesse caso é até provável que a marca norte-americana esteja incomodada com a situação, visto que as suspeitas de estar por trás da vergonhosa atitude pode se refletir em rejeição à marca e impactar negativamente as vendas das camisas da seleção brasileira. Para piorar, qualquer declaração que venha a fazer sobre o caso trará constrangimento à CBF, uma das suas principais patrocinadas.
A CBF, por sua vez, se coloca perante o mercado – aqui consideramos patrocinadores atuais e potenciais – como uma organização pouco confiável, o que, aliás, é péssimo para uma instituição já desgastada com escândalos. Não surpreenderia saber que alguns patrocinadores estejam avaliando o quão saudável é estar associado a quem se sobrepõe à ética e acordos.
Já a Peak, apesar de ter reagido ao incidente de forma irônica e bem-humorada comunicando nas redes sociais que a Nike não faz parte do seu portfólio de marcas e ter aumentado seu awareness (reconhecimento), foi bastante prejudicada, pois, além de perder exposição, corre o risco de ter sua imagem arranhada no que tange à qualidade de seus produtos, afinal, em tese, esses foram rejeitados pelos campeões.
Todavia, nada se compara ao prejuízo que o esporte sofreu ao ser submetido a uma situação que nada tem a ver com os princípios que os regem, dentre os quais está o respeito às regras.
NAQUELA ESTANTE ESTÁ FALTANDO ELE
por Zé Roberto Padilha
Era uma vez um prêmio cobiçado e dificilmente conquistado, o Troféu Belfort Duarte. Para alcançá-lo, o atleta profissional de futebol precisaria atuar durante 10 anos sem ser expulso de campo.
Uma tarefa quase impossível diante da ausência do VAR.
O atual momento de revisão, dependendo do absurdo, do gol inglês que lhe deu o título mundial, em 1966, dentro de casa em que a bola não entrou, era o momento exato da revolta alemã. Dos nervos estarem à flor da pele.
E a revolta não tem revisão. Tem expulsão.
Desse jeito, para não dar brecha, criado na rígida universidade da bola chamada Fluminense FC, jamais fui expulso de campo.
Foram 17 anos, 7 clubes, competições em 4 estados diferentes da federação. E recebi apenas 2 cartões amarelos. Sendo um por engano, era para o Cléber, e o juiz pediu desculpas.
Pelo contrário, cínico ou sonso, pouco importava, por mais revoltado com suas decisões, diante da gritaria em cima do juiz, dizia assim: “Calma gente, erramos passes, perdemos gols. Ele tem o direito de errar também!”.
Talvez essa nem no Programa do Ratinho ele, árbitro, ouviria. Às vezes dava resultado. Tão sozinho, acuado, quando dividia a jogada era minha. Trazia o pobre coitado para o meu lado.
Ao contrário, Moisés, vigoroso xerife vascaino, pregava que zagueiro que se prezasse, jamais receberia um. Seria um afronto. Um contrassenso.
Enfim, no momento em que títulos negados são reconhecidos, a interdependência dos poderes precisa voltar a ser respeitada, que tal nos conceder, com data retroativa, o cobiçado troféu que fiz por merecer?
Na minha estante está faltando ele. E a saudade dele esta doendo em mim.
O GENIAL GERD MÜLLER
:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::::
Impossível passar em branco, não falar sobre a morte do genial Gerhard “Gerd” Muller. Ainda após assistir mais uma rodada do Brasileirão e ouvir jornalistas sugerirem o ataque da seleção brasileira com Hulk e Gabigol. Se o He Man fizer mais um gol pelo Botafogo não duvido se o incluírem nessa lista, mas quem salvou o Botafogo ontem foi o zagueiro Joel Carli! O atacante do Mengão exibe os bíceps após seus tentos e os outros dois tem apelidos de super-heróis. É o mundo fantasia, do marketing, da ilusão, da enganação.
Gerd Muller, sem qualquer exagero, pode ser considerado o melhor centroavante da história do futebol alemão e um dos maiores do mundo. Teve enorme responsabilidade no título mundial, de 74, da Alemanha Ocidental e podem ter certeza que se o Bayern de Munique é o que é hoje muito deve-se a ele. Não era um centroavante estiloso e habilidoso como Coutinho, Quarentinha e Reinaldo, mas se destacava com uma eficiência de tirar o chapéu, metendo gol tudo que é jeito! Lembro com muita felicidade de Fluminense x Bayern, no Maracanã, 10 de junho de 1975, partida que marcava o meu retorno ao futebol brasileiro vindo do Olympique de Marseille, promovida pelo dirigente Francisco Horta.
O Flu entrou com Félix, Toninho, Silveira, Assis e Marco Antônio, Zé Mário, Kléber, Cafuringa, eu Rivellino e Mário Sergio. Tá ruim??? Mas o Bayern era bicampeão europeu e campeões mundiais: Sepp Maier era o maior goleiro do mundo, Franz Beckenbauer era o maior de todos os zagueiros e Gerd Muller era o maior artilheiro da história das Copas. E ainda tinham Rummenigge, Kapelmann… Mas deu tricolor, 1×0, gol contra dele mesmo, Gerd Muller. No final do jogo, fomos, Flu e Bayern, para uma boate, em Ipanema, alugada por Francisco Horta. Outros tempos!
Lembro com carinho também de quando fui convidado para participar da Seleção Master da Alemanha e atuei com a 10 ao lado dele, Breitner e cia. Não poderia esquecer também dos duelos em solo americano, quando Carlos Alberto Torres me chamou para jogar no California Surf! Quando deixou o futebol, em 82, Muller abriu um bar. Mas assim como eu o artilheiro alemão também sofreu graves problemas com o alcoolismo, perdeu dinheiro, bens e levou a família ao desespero. Tive a ajuda de amigos, ele também. Beckenbauer, além de pagar todo o seu tratamento ainda o colocou para treinar a base do Bayern. Morreu com dignidade e seria importante as novas gerações de jornalistas e torcedores pesquisarem sobre ele.
Vou dar um dica, ao invés de exaltarem os produtos de marketing escrevam Gerd Muller no Google e se deliciem. Sobre o Brasileirão, o Vasco perdeu para o Remo e deu sorte de não levar uma lavada, o Grêmio segue na zona de rebaixamento e, liderado pelo “valentão” Felipe Melo, o Palmeiras aplicou um jogo sujo e violento contra o Galo e saiu derrotado! Ainda tive ouvir em uma transmissão que o lateral entrou por dentro, no lado dominante, com o pé invertido! Não entendi nada e desliguei!
A ÉPICA LUTA DO VASCO CONTRA O RACISMO NO FUTEBOL
por André Luiz Pereira Nunes
Camisas Negras: o time do Vasco, campeão carioca em 1923
Durante vários anos, não podiam ser inscritos na Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) elementos que exercessem trabalhos braçais remunerados, tais como, garçons, vendedores, entregadores de embrulhos, condutores de bondes e guardas, estes últimos chamados à época de praças de pré.
O futebol, cuja origem sempre foi aristocrática, era praticado pelos chamados “filhinhos de mamãe”, pertencentes às classes mais abastadas. No tempo do amadorismo era proibido ao jogador receber qualquer tipo de rendimento dentro ou fora das quatro linhas.
A partir de 1914, foram criadas centenas de associações esportivas de âmbito popular filiadas às ligas independentes, entre as quais, a Liga Suburbana, uma das mais prestigiadas, fundada a 2 de março de 1915. Tamanha efervescência ensejou a Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT) a formular, em 1915, a segunda divisão e, em 1916, a terceira.
Em 1921, graças à profusão de clubes populares, a LMDT passou a organizar o Campeonato Carioca em duas séries: A e B. As sete agremiações mais abastadas integravam a Série A, enquanto as menores foram incluídas na B, com direito a acesso do campeão, por meio de repescagem, contra o último colocado da A.
No mesmo ano o lanterninha da Série A foi o Fluminense. Em 1922, o São Cristóvão e, em 1923, o Botafogo. O primeiro e o terceiro disputaram eliminatórias contra o Vila Isabel e o segundo contra o Vasco da Gama.
O Vasco, em 1923, ascendeu à Série A, disputando de forma inédita a elite do Campeonato Carioca. Já o Vila Isabel não obteve a mesma sorte, capitulando nas duas repescagens.
Torcida do Vasco relembra as origens do clube em São Januário.
O Gigante da Colina, por conseguinte, escreveu páginas honrosas em sua história, sagrando-se campeão carioca em seu primeiro ano na divisão máxima. Tal feito provocou uma imediata reação nas hostes adversárias, que ante à conquista cruzmaltina, temeram ter que disputar a Série B.
Os chamados grandes clubes promoveram então um projeto diabólico por intermédio de Mário Pólo, do Fluminense, Antônio Avelar, do America, e Samuel de Oliveira, do Botafogo, que consistia em considerar profissionais os humildes jogadores dos pequenos clubes, cujos pecados eram apenas o de ganhar a vida fora do âmbito futebolístico. A medida, na verdade, visava atingir o Vasco da Gama, o qual tivera a ousadia de derrotar os chamados grandes clubes em sua primeira participação entre eles.
Coube a Samuel de Oliveira, em sindicância, apontar os supostos jogadores profissionais, todos pertencentes ao Vasco e às pequenas agremiações. Do America, Fluminense, Botafogo e Flamengo não apareceu sequer um nome. E eram justamente esses que a partir de 1913 mais profissionais introduziram ilegalmente no futebol.
A famigerada lista foi, portanto, apresentada por Mário Pólo em assembléia da Liga Metropolitana. Coincidentemente, não havia nenhum branco entre os indicados, apenas os chamados homens de cor. Ficou, então, comprovado o caráter racista da denúncia.
Os chamados grandes clubes, através de Mário Pólo, conclamaram os pequenos a afastar de seus elencos os supostos profissionais. Caso contrário, os grandes se retirariam da Liga Metropolitana para fundar outra entidade.
A decisão final foi tomada em assembléia geral e é tida até os dias de hoje como uma das mais emblemáticas e memoráveis. Mário Pólo era o líder dos chamados grandes clubes enquanto Barbosa Júnior, do Mackenzie, representava os pequenos. Pólo era um homem culto e se notabilizava pela excelente oratória. Já Barbosa Júnior, alto funcionário da Central do Brasil, era um político habituado a comícios em praça pública.
Para taquigrafar a ata da assembléia, Pólo trouxe uma funcionária da Câmara dos Deputados. Barbosa Júnior levou grande vantagem oratória sobre seu oponente, alegando que o propósito dos grandes clubes nada tinha de esportivo, era puramente racista.
A confusão foi tremenda. Mário Pólo pediu a suspensão da reunião por dez minutos na tentativa de acalmar os ânimos. Durante esse intervalo, chamou o então jovem Ari Franco, do Bangu, e ambos confabularam a sós.
Reabertos os trabalhos, Pólo, para salvar a situação, exclamou:
– O nosso propósito nada tem de racista. Tanto isso é certo que o Bangu tem jogadores de cor e acaba de aderir à nossa causa”, exclamou.
Tudo, porém, houvera sido combinado no momento, pois o Bangu fora um dos clubes mais atingidos pela nova ordem.
Ao ser posta em votação, a proposta dos grandes foi amplamente derrotada e rejeitada pela maioria. Os pequenos clubes, consequentemente, permaneceram na Liga Metropolitana, enquanto os grandes fundaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA).
Curiosamente, a ata dessa assembléia, realizada em 1924, não existe porque a tarquígrafa da Câmara dos Deputados nunca a transcreveu. No ano seguinte, Álvaro do Nascimento e o benemérito vascaíno Aníbal Artur Peixoto, em vão, tentaram obtê-la, mas a mesma desapareceu completamente por conveniência do astuto Mário Pólo.
O Campeonato Carioca da Liga Metropolitana passou a ser constituído por Vasco, Andaraí, Ríver, Vila Isabel, Carioca, Mackenzie, Mangueira e Palmeiras.
Os clubes nobres, conforme mencionado, criaram a AMEA, na qual alinharam Fluminense, Flamengo, São Cristóvão, Botafogo, Bangu, America, Helênico e Brasil.
A extinção da prática de racismo, em 1925, se deve, exclusivamente, ao presidente do Vasco, José Augusto Prestes, José da Silva Rocha, Barbosa Júnior e ao jornalista Álvaro Nascimento, com o apoio do jornal “A Pátria”, do notório cronista João do Rio.