TORCIDA: PAIXÃO QUE NÃO SE EXPLICA
por Rodrigo Melo Silva
Qual o momento mais sublime do futebol? Gol aos 45 minutos do segundo tempo, drible desconcertante no adversário, defender um pênalti ou levantar uma taça de campeão. Realmente, os fatos são marcantes para os amantes do futebol e acaba ficando difícil de escolher somente uma alternativa, mas com certeza esses momentos ficam mais doces ao lado de quem mais te ama: o torcedor!
Desde criança, você cultiva sentimentos dos mais diversos por uma determinada agremiação: alegria, tristeza, amor, raiva, felicidade, frustração, ansiedade, exaltação e entre outras sensações/reações. Com isso, acaba se tornado algo inexplicável esse mistura de efeitos durante os 90 minutos e podendo encontrar dificuldade em explicar para alguém que não gosta de futebol como centenas de pessoas se mobilizam em torno de 22 pessoas correndo atrás bola que tem como objetivo marcar um gol na baliza adversária.
Por vezes, me deparo com a reflexão: Qual o motivo para torcer para um determinado clube de futebol? Ou como eu explicaria para alguém que não gosta de futebol passar a torcer? Segundo o dicionário, a palavra “torcedor” tem como definição: diz ou aparelho para torcer algo. No entanto, não está nos verbetes traduzir ou reproduzir a emoção colocada naquele grito de gol e fica engraçado que não consegui achar as palavras para definir ao certo o sentimento e a expressão de ser amante do esporte mais praticado do Brasil.
Podemos acompanhar a transformação dos frequentadores das arquibancadas devido alguns fatores como, por exemplo, a modernização e construção de estádios com padrão elevado. A consequência disso foi o encarecimento dos valores do ingresso, excluindo os torcedores com menor poder aquisitivo. No entanto, vejo que o tão falado “Combate ao futebol moderno” ou “Não ao futebol moderno” não se restringe somente a questão de dar acesso a todos os torcedores, mas aplicar o debate sobre assuntos inerentes a sociedade e não ficando à margem porque o futebol possui grande representação na cultura popular brasileira.
Em tempos adversos como passamos devido a pandemia do Coronavírus no mundo, naturalmente a alternativa mais correta são os estádios sem torcida para evitar a contaminação das pessoas. Mas com o avançar da vacinação contra a Covid-19 logo poderemos voltar a frequentar as arquibancadas.
OBRIGADO, DIEGO
por Zé Roberto Padilha
Em nome de todos os jogadores de futebol, gostaria de lhe agradecer por ser responsável, ao lado do Nenê, pelo recente aumento da expectativa de vida de um atleta profissional.
Quando completei 34 anos, então jogador do Bonsucesso FC, disputando o estadual da primeira divisão carioca e literalmente “voando”, não havia um só comentarista que não depreciasse nossa apresentação.
– Mas ainda é aquele Zé Roberto, do Fluminense e do Flamengo? Veterano, hein! Ou seria seu filho? – ironizava.
Aí vinha o redator do caderno de esporte e, mesmo com o Motoradio nas mãos após empatarmos com o Fluminense, e abria os comentários assim:
– Apesar da idade, esteve bem…
34 anos. Em qualquer profissão, um estagiário. Na nossa, veterano.
Tudo porque os craques que nos precederam não tiveram uma nutricionista em seu clube. Um psicólogo para amenizar conflitos internos pós derrotas, e consciência profissional para evitar ir para o “bagaço”.
O campo era ruim, bola pesada, chuteira com travas que furava a sola dos pés, uniformes que pesavam 100 kg quando chovia. Pouca coisa contribuía para ir um pouco além.
Fisioterapeuta não existia, fisiatra só nos sonhos e artroscopia nenhum médico de clube dominava sua execução. E os joelhos eram operados a céu aberto.
Chegar jogando em alto nível após os trinta anos era tarefa para poucos. E como você precisa dos 35 anos para se aposentar, como toda profissão, mais cedo era jogado no mercado de trabalho em busca de algum ofício que ninguém se preocupou em lhe preparar.
Aí surge você, no Flamengo, contrariando todos os prognósticos e aos 36 anos realiza, contra o Corinthians, uma exibição de almanaque.
Como segundo homem do meio campo, deu o equilíbrio que toda equipe precisa quando não se erram passes e a bola gruda na chuteira.
Uma atuação impecável que mostra o quanto você se cuida e dá exemplos para as novas gerações.
Como toda profissão, quanto mais você pratica, mais aprende. No futebol não é diferente.
O que sobrava era preconceito. O que faltava eram Diegos.
Parabéns!
NO AMOR E NO JOGO: SORTE DE UNS E AZAR DE OUTROS
por André Luiz Pereira Nunes
Em 8 de agosto de 2013, minha então esposa, com quem estava casado há 13 anos, resolveu me pedir separação. A decisão me pegou de surpresa, visto que para mim aparentemente nada havia de errado. Nenhuma discussão ou desentendimento recentes. Tudo parecia na mais perfeita ordem.
Ledo engano! Nosso relacionamento já vinha mal há pelo menos dois anos e a falta de sexo durante boa parte desse período era um forte indicador. A indiferença e o desinteresse eram habituais. Estávamos vivenciando vidas e interesses bem diferentes. Mas o que isso tem a ver com futebol?
Exatamente um mês depois, o America decidiria com o Bonsucesso uma das duas vagas em disputa para a elite do Campeonato Estadual do Rio de Janeiro. A Cabofriense dependia de um empate para ser campeã. Na ocasião eu era o diretor de comunicação do America. Hoje faço parte pela segunda ou terceira vez consecutiva do conselho deliberativo.
Como já havia perdido o casamento, refleti que a minha única alegria naquele ano seria ver o meu time campeão e de volta ao convívio com os grandes. A vitória simples daria o título ao America, enquanto o empate seria suficiente para o Bonsucesso assegurar uma das vagas. Logo de manhã liguei para o presidente e assim se deu o seguinte diálogo:
– Olá, presidente, bom dia. Vamos juntos ao jogo? A que horas podemos nos encontrar?
– André, não vou de jeito nenhum. O time vai perder e eu corro até o risco de apanhar.
– Como assim, presidente? Você não vai à final para ver seu time campeão? Quem morre de véspera é peru.
– Os jogadores nem treinaram, André. Estão em greve. Não recebem há meses. Está todo mundo gordo. Como você sabe o patrocinador debandou. Já perdemos. Vai você, se quiser!
Ao desligar o telefone senti um misto de raiva e decepção. Já estava extremamente aborrecido com minha vida pessoal. Não era possível que nem o America poderia me dar o mínimo de alegria naquele ano horrível.
Me arrumei. Saí de casa. De fato, como diretor, eu sabia das dificuldades financeiras envolvendo o time. O técnico Duilio, ex-zagueiro do Fluminense e do próprio America, fazia milagres. Mesmo diante de todas as dificuldades jamais esmoreceu, procurando sempre motivar os atletas. Portanto, eu acreditava, que mesmo em meio a tantos percalços, meu time bateria o adversário e sairia campeão.
Chegando em Teixeira de Castro, fiz uso da minha credencial de jornalista e adentrei ao gramado. Percebi que a torcida do America estava alojada no pior espaço, em meio a um sol inclemente, enquanto a pequena claque do Bonsucesso se situava confortavelmente ao lado oposto, nas cadeiras. De repente, ouvi alguém me chamar. Era um amigo, repórter de rádio. Precisava com urgência de ajuda. O comentarista havia faltado por motivos médicos e necessitavam de um substituto. Confesso que não estava com a menor cabeça para nada. Me sentia mal pelo fim do meu relacionamento. Tudo ainda estava muito recente. Mas, mesmo assim, atendi ao chamado. Afinal, seria uma maneira de ajudar um amigo e me distrair de meus infortúnios.
Um fato logo me chamou a atenção. Um torcedor, aproveitando o estádio lotado, foi ao campo e pediu a mão da namorada em casamento. A torcida, animada, comemorou o “sim” como se fosse um gol. Eu pensei: sorte de uns e azar de outros.
Superior em campo e melhor na criação, a equipe rubro-anil comandada por Ricardo Barreto, começou com tudo, indo para cima dos rivais desde os primeiros momentos da partida. Nos quinze minutos iniciais, houve pelo menos três boas chances. Luiz Felipe acertou a trave em tentativa de cruzamento, Renan perdeu boa oportunidade quando apareceu livre e chutou para fora e Marlon, aparecendo bem pela esquerda, obrigou Fábio Noronha a fazer magistral defesa.
O America estava acuado em campo, dizia eu ao microfone da rádio. Seus jogadores não passavam do meio-campo, enquanto o Bonsucesso massacrava a meta do excelente Fábio Noronha, aliás, a melhor figura em campo, ressaltei também na transmissão.
Na segunda etapa o filme se repetiria. Luiz Felipe, Renan e Marco Túlio alternariam várias chances perdidas. Aos 9 minutos, a torcida local chegou até a comemorar. Mas o grito de gol entalado na garganta teve que ser contido após uma oportunidade claríssima desperdiçada por Marco Túlio. Na pequena área, o atacante antecipou-se à defesa, mas colocou à esquerda do gol de Fábio Noronha.
Com o decorrer da partida, a impaciência tomava conta da torcida americana, mas nem por isso os instrumentos pararam de tocar. Após os 30 minutos da etapa final, o nervosismo também começou a acometer os atletas. Foi um festival de passes errados, chutões e pouquíssimas chances de gol.
No fim, não deu mesmo para o Mecão. Seus jogadores, irritados com o fim da partida se aproximando, pouco conseguiam fazer. O goleiro adversário Santiago sequer sujou seu uniforme. Com o soar do apito final, no Leônidas da Silva, a festa, que já começara cedo, só tendia a crescer. O Bonsucesso estava na Série A de 2014.
Só me restou agradecer aos espectadores que prestigiaram a nossa transmissão radiofônica, me despedir do narrador e do repórter de campo, abraçar o Fábio Noronha e parabenizá-lo pelo seu profissionalismo, cumprimentar alguns amigos e me dirigir para casa.
No caminho alguns torcedores do America, todos bêbados, me reconheceram e me propuseram dividir um táxi até a Tijuca. Lotamos o veículo. Ao final da corrida nenhum de nós tinha dinheiro, mas o taxista, vendo o nosso estado deplorável, em raro gesto de compreensão, não nos cobrou nada. Sem saber coisa alguma da minha vida, ainda me disse que eu venceria todos os obstáculos. Me restaria mesmo a partir daquele dia juntar os cacos. Afinal, outros amores e outros acessos não tardariam a vir. Sorte de uns e azar de outros.
CADÊ A DEMOCRATIZAÇÃO?
::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::
Confesso que não tenho ficado acordado a noite inteira para assistir as Olimpíadas, evento que acompanho desde dos lendários Adhemar Ferreira dos Santos, Aída dos Santos e João do Pulo. Lembro também da Heloísa Becker, o velocista César, o treinador Anunciato e sua esposa Neíde, representando o grupo do Botafogo, e José Telles, Sebastião Mendes e a campeão sul-americana Erika, representando o Flamengo.
Mesmo sem acompanhar atualmente, assim que acordo me informo sobre cada detalhe. E em todos esses anos a história vem se repetindo, ficamos do meio para baixo na tabela geral de classificação e só conquistamos medalhas por conta da superação de nossos atletas. Mas não falo da superação óbvia de superar o adversário, mas a de vencer todas as dificuldades que a vida os impõe desde o nascimento, a miséria, os dramas familiares, a falta de estudo, o treinamento em pistas e quadras inadequadas. E mesmo sem qualquer estrutura, ajuda financeira ou patrocinadores, esses heróis conseguem alcançar os índices necessários para disputar uma Olimpíada.
Aída dos Santos, em 1964, ficou em quarto lugar no salto em altura e foi a primeira brasileira a disputar uma final olímpica, mas viajou sem técnico e material para competir. O que mudou de lá para cá? Ouçam as histórias de nossos medalhistas atuais e verão que continuamos mendigando para competir. Por isso, a cada bronze, prata ou ouro a emoção é redobrada, o choro é mais intenso. Na verdade, essas feras não são atletas profissionais, são brasileiros profissionais.
O mais revoltante é que após a consagração surgem as grandes marcas, os políticos, os velhos oportunistas de sempre. Estou escrevendo enquanto assisto nosso time feminino de handball perder para a França. Por que o handball não recebe mais investimentos? Lembro que todos os colégios eram muito fortes nessa modalidade, não sei se ainda é assim. Mas falta um trabalho de popularização, de marketing, uma liga forte. Mas a verdade é que grande parte dessas ligas, federações e confederações vivem em guerra política.
Soube que tínhamos atletas nas finais de arremesso de disco e salto com varas. Se os esportes populares não recebem investimentos, imagine esses! Agora, na tevê, uma menina do atletismo chora durante a entrevista. Desclassificada, desabafa, diz que está sem patrocinador e com salários atrasados de seu clube. O jornalista não pergunta o nome do clube, não se surpreende, não se emociona, talvez considere mimimi de perdedor. As emissoras precisam da audiência e os louros da vitória, os novos ídolos, como Rebeca Andrade, Ítalo Ferreira e Rayssa Leal, a Fadinha, são chamarizes para publicidade, propagandas em seus canais.
Os derrotados que treinem mais, afinal os discursos clichês garantem que basta sonhar para a conquista ser alcançada. Eu, por exemplo, sonho com a verdadeira democratização do esporte, com chances iguais para todos e, dessa forma, eu ainda consiga ver negros disputando, por exemplo, natação, ciclismo, hipismo, vela e tênis. Sonhar não custa nada! Voltando para o futebol, ouvi um comentarista dizer que o jogador chapou a bola na vertical para achar um companheiro que estava entrando por dentro no ultimo terço do campo. É melhor eu continuar vendo as Olimpíadas!
O CRAQUE DO BRASIL EM 1995
por Luis Filipe Chateaubriand
Giovanni Silva de Oliveira era praticamente desconhecido do grande público em 1994, quando se transferiu do São Carlense para o Santos.
Oriundo de Belém do Pará, possuía uma personalidade tímida, falava pouco e, ainda por cima, era gago.
Mas tinha bola no pé, e o ano de 1995 mostrou isso.
Alto, cabeça ereta, futebol clássico, passes precisos, dribles preciosos, gols, muitos gols.
Um repertório completo, ou melhor, recital, exibido ao longo do Campeonato Brasileiro de 1995.
O homem jogou tanto, mas tanto, mas tanto, que em 1996 já estava na Seleção Brasileira e, sonho de consumo de qualquer jogador brasileiro, no Barcelona, jogando ao lado de Ronaldo Fenômeno.
Um jogo especial de Giovanni em 1995 foi o da semifinal do Campeonato Brasileiro de 1995, contra o Fluminense.
O Santos precisava ganhar por três gols de diferença para ir à final e fez nada menos do que 5 x 2.
Giovanni só faltou fazer chover!
Esse foi o craque de 1995.
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada