MAESTRO DA SOLIDÃO
por Rubens Lemos
Geovani nasceu em 1964. Nasceu tarde demais. Seu estilo refinado é natureza pura dos anos 1950/60, faixa dos craques de nenhuma correria e inteligência superlativa. Práticos da lei máxima de que no campo corre a bola e aos craques, é facultado o direito ao prazer de saber movimentá-la, com sutileza e brilho.
Eram os tempos de Didi, Gerson, Dirceu Lopes, Ademir da Guia, Mengálvio. Suavam pouco, alegravam multidões na toques clássicos. Na morosidade de arapuca. Homens de raciocínio superior, de ocupação de espaços pela diminuição do campo no compasso dos passes que aproximavam a bola dos artilheiros. Geovani foi desse naipe, da tal categoria.
Na cronologia correta, teria disputado Copa do Mundo. Ou brilhado ainda mais do que luziu com seu jogo faceiro e delicioso, entorpecente de criatividade, de invenções em segundos de eternidade, de imortalidade genial guardada em jogadas absurdas, de tão belas.
Depois de Roberto Dinamite, o artilheiro do sorriso triste e impiedoso com zagueiros e goleiros, Geovani é o maior ídolo contemporâneo do Vasco.
Se nasceu depois da hora, Geovani veio subverter a era de um Vasco freguês caloteiro do Flamengo, início da década de 1980, Zico liderando a tropa que ganhava campeonatos com a naturalidade de um casal de adolescentes tomando sorvete ao primeiro dos namoros. O Vasco tinha Dinamite de Dom Quixote. E um monte de esforçados e brutamontes.
Em 1982, um garoto baixinho e gordinho, nascido no Espírito Santo, chegou e Impôs um qualidade absoluta, ritmo acadêmico de veterano, visão periférica de uma partida, imperador do meio-campo em dribles de minifúndio e lançamentos longos como se houvesse um novo Gerson, ambidestro. Geovani tomou conta da cátedra de melhor meia-armador de minha geração de torcedores.
Geovani arquitetava, organizava e compunha. Roberto Dinamite e Romário concluíam a obra de engenharia, executavam o projeto e verbalizavam a cantoria de gols.
A história, exemplar em seus castigos, mostra em seus replays que faltou Geovani para o Brasil estilizar beleza e improvisação. Geovani é o jogador (ele e Dinamite) com mais títulos cariocas conquistados pelo Vasco. Foram cinco, três deles sobre o Flamengo de Zico.
Foi chamado de lento e exagerado perfeccionista. Tratava a bola com carinho e carícia de namorado. Exatamente o traço da casta nobre dos idos do futebol acadêmico, categórico e intelectual. Sem força. Na ginga e no jeito.
Sem ele na seleção brasileira, perderam-se duas Copa do Mundo sintomáticas pela falta de um cérebro na criação da meia-cancha: em 1986, viajaram Elzo e Alemão.
Em 1990, Dunga e o tal Alemão, bom maratonista, obscuro criativo. Sebastião Lazaroni, especialmente, o técnico medíocre do Mundial da Itália, será praguejado pela memória nacional por não ter convocado Geovani e levado seu compadre Tita. Ou cinco zagueiros.
Geovani arquitetava, organizava e compunha. Roberto Dinamite e Romário concluíam a obra de engenharia, executavam o projeto e verbalizavam a cantoria de gols.
A Geovani, Romário deve muitos dos seus gols, recebendo livre na área lançamentos de 40 metros, fita métrica na chuteira do Pequeno Príncipe, assim batizado o regente cruzmaltino.
Tenho que dizer aos meninos de hoje. Se vocês tivessem visto Geovani, glorificar Firmino, Fernandinho e Jô, seria castigo implacável da proibição do videogame ou da exaltação da mediocridade.
Geovani, guerreiro suave, conquistou o maior campeonato da vida: superou um câncer e fez transplante de medula. Com a força extraordinária da fé e a luz radiosa dos homens escolhidos para gerar felicidade em milhões. Geovani veio depois e fez sua hora, impondo o batuque das rodas de samba em tardes vascaínas que liderou na solidão da maestria. Na apoteose de Maracanã com 100 mil pessoas.
UM PASSAGEIRO ENTRE OS GUERREIROS
por Zé Roberto Padilha
Se você, jogador de futebol do Fluminense, for trocado um dia por um do Flamengo, mesmo sendo um tricolor apaixonado, abaixe a cabeça e vida de gado, povo feliz, não reclame. Siga em frente. E sorria.
Quando fui trocado pelo Doval, era titular absoluto da Máquina Tricolor. Didi, o treinador, não abria mão de minha aplicação tática para cobrir os avanços do lado esquerdo de Rivelino, Edinho e Marco Antonio.
Ze Mário cobria o direito, pois subiam Toninho, Paulo Cezar, Cléber e Pintinho.
Disse aos repórteres: não quero sair do Fluminense. Eles estamparam na capa: Zé Roberto não quer ir para o Flamengo.
Diferente não?
Acabei trocado pelo Doval.
E indo para um clube em que os seus dirigentes não mais me queriam. E saí de outro que ficou ressentido porque fui reforçar seu maior adversário.
Fiquei mal dos dois lados.
Deixei o Fluminense após jogar sete anos, ajudar a levantar duas Taças Guanabara (73 e 75) três Estaduais (71, 73 e 75,), um estadual Juvenil (70) e vários torneios.
De vez em quando perguntam: quem, afinal, levou vantagem no primeiro troca troca do futebol brasileiro? Eu mesmo respondo: o Fluminense, pois foi bicampeão estadual e o Doval fez o gol do titulo.
Futebol é momento.
Mas nunca perguntaram ao Wikipédia qual dos dois merecia, pelo conjunto da obra, ter sua foto estampada junto a um mural onde ficariam expostos os maiores guerreiros tricolores em sua sala de troféus.
Esta semana fui visitar o clube. E levei o meu filho. Se fosse o contrário, e o Doval, já falecido, levasse o seu filho para visitar a Gávea, por onde jogou uma eternidade, ele passaria o constrangimento que passei.
Bruno pensou, muito ético, não disse: pai tem certeza que seus álbuns, medalhas e faixas são verdadeiros?
Depois daquele quadro, acho que minha vida foi mesmo toda uma ilusão.
Pois colocaram a foto do Doval. E omitiram a minha e de tantos que por lá foram guerreiros. Guerreiros na concepção de luta, entrega, amor à camisa.
Não seus maiores artilheiros. Ou craques passageiros.
Moral da história: vocês, pais, têm certeza que querem que seus filhos joguem bola? Para depois eles levarem seus Brunos e… esquecem. Coloque-os para estudar.
Essa guerra em que participei quem venceu foi a ingratidão.
PAVUNENSE COMPLETA 98 ANOS
por André Luiz Pereira Nunes
Time dos anos 70
Tradicional grêmio poliesportivo, localizado na Avenida Sargento de Milícias, na Pavuna, o Pavunense Futebol Clube já prevê a sua breve entrada no seleto rol das agremiações centenárias do país.
Uma das maiores expressões do futebol amador da cidade do Rio de Janeiro, filiou-se ao Departamento Autônomo em 1950. Em 1971, sagrou-se campeão da categoria adultos do D.A, feito que se repetiu em 1982, após ser vice no ano anterior, em antológica decisão, em Moça Bonita, contra o Oriente, transmitida de forma inédita pela Rádio Nacional. Na ocasião o time era dirigido pelo lendário e multicampeão Manoel de Almeida. No ano seguinte venceu a categoria de juniores.
Em 1989, uma nova e importante etapa se abriu, quando o clube resolveu adentrar às fileiras do profissionalismo, participando do Campeonato Estadual da Terceira Divisão.
Time da categoria de base comemora mais um título
Nos anos seguintes firmou uma parceria vitoriosa com o Bangu. Vários atletas das categorias de base de Moça Bonita foram cedidos, incluindo todo o staff banguense, então dirigido pelo bicheiro Carlinhos Maracanã. Até mesmo o ídolo Marinho, já em fase final de carreira, disputou algumas partidas pelo Pavunense, à época treinado por Gilson Paulino.
Em 1990, apareceu como um dos favoritos ao acesso. Apesar de ter liderado toda a primeira fase, no quadrangular final ficou apenas em último. Conseguiram a promoção à segunda divisão o Tupy, de Paracambi, e o Céres, de Bangu.
Em 1991, a antiga Terceira Divisão tornou-se Segunda por conta da criação do Módulo “B” da Primeira Divisão. Na fase inicial, o Pavunense ficou em primeiro em seu grupo, mas apenas em quarto lugar na classificação final, repetindo a boa campanha do ano anterior.
As atividades profissionais perduraram até 1994, quando a equipe verde e amarela se licenciou definitivamente das competições oficiais, passando a disputar apenas torneios amadores voltados às categorias de base, como a Rio Copa. Coincidentemente, a boa fase do clube padrinho da zona oeste também começou a declinar.
Entre os inúmeros talentos que o Pavunense revelou, cabem citação Osmar Guarnelli, Manguito, Juary, Ney Conceição e João Paulo (ex-Santos Futebol Clube e Clube de Regatas do Flamengo).
Além de uma ótima sede social poliesportiva, a agremiação ainda detém o estádio Arnaldo de Sá Mota, cuja capacidade é, de aproximadamente, 1000 pessoas.
O TÍTALO É DO VASCÃO
por Luis Filipe Chateaubriand
Mílton Queiroz da Paixão, o Tita, despontou para o Futebol no Flamengo.
Formado na Gávea, chegou ao time principal e, ali, cumpriu jornadas espetaculares e, em alguns momentos, jogou futebol digno de Zico – em, por exemplo, 1979, quando Zico se machucou e Tita assumiu sua posição e a camisa 10, Tita jogou por ele e por Zico, um espetáculo.
O sucesso mexeu com a cabeça do garoto, que exigia ou que o Flamengo vendesse Zico para ele ocupar a camisa 10, ou que o vendesse para que ele fosse o camisa 10 em outro clube.
Certa vez, indagado sobre qual seria um bom clube para jogar com a camisa 10, não hesitou: respondeu Vasco da Gama.
Ganhou, ali, a antipatia dos rubro negros.
Anos depois, mais precisamente em 1987, lá estava Tita, jogando no… Vasco da Gama.
Era decisão do título estadual, Flamengo x Vasco da Gama.
Romário intercepta uma bola passada por Leandro no lado esquerdo do meio de campo, passa a Luiz Carlos Martins à esquerda da grande área.
Luis Carlos Martins, de pé trocado, o direito, cruza a bola para a área, mais precisamente para a pequena área, na direção de Roberto Dinamite.
Dinamite, como um bom pivô e de forma genial, vira o corpo da frente para o gol para de costas para o gol, ajeita a pelota no peito, deixa a dita cuja descer e, quando esta chega ao chão, rola para trás, onde Tita vem na corrida.
Tita fuzila a esfera e esta bate na rede no alto, forte, indefensável para o goleiro rubro negro Zé Carlos.
Enlouquecido, Tita corre em direção ao banco vascaíno, na comemoração.
O jogo terminou, mesmo, 1 x 0 para o Vasco da Gama, e o título foi parar em São Januário.
Tita, criado no Flamengo, teve uma das maiores glórias de sua carreira no Vasco da Gama!
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
ATÉ QUANDO?
por Zé Roberto Padilha
Até quando vamos transferir nossas frustrações, no caso esportivas e tricolores, para um profissional correto que depende da inspiração alheia para alcançar seus resultados?
Roger não é o Guardiola. Foi muito melhor jogador do que ele, apenas não teve um clube que investisse nele anos a fio. Que lhe desse o tempo do Guardiola para colocar suas ideias em prática. Para um dia ser…Guardiola.
De repente, Roger perde Caio Paulista, que voava de um lado, e o Gabriel, que voava do outro.
E aí vira o sabido do Roger Flores, sem chuteiras para lembrar o que passou, com microfones para omitir o que sentiu, e joga no ventilador da Globo, que ecoa como uma sentença para todo o país: o Fluminense não teve o mesmo padrão tático das partidas anteriores.
Como?
A procura de culpados já existe mesmo quando utilizamos a razão, imaginem a busca insana por eles quando a emoção domina nossos julgamentos?
Tirem o fornecedor da melhor cevada da Brahma. O lúpulo da melhor qualidade que é o trunfo da Original da Antártica. Será que o mestre cervejeiro, ao não manter seus sabores, seria demitido da Ambev? Pichariam seus muros?
Apenas deixariam de comprar. E eu não vou deixar de torcer pelo Fluminense, hoje, contra o Barcelona, para desempregar o profissional menos culpado dessa história.
Aquele que não bate o pênalti, erra pouco os passes e costuma sair de fininho, pela porta dos fundos, pagando o preço de um mau desempenho que nenhuma gestão vai mais precisar assumir.
Já tive treinadores de todas as cores, de várias idades, rudes como o Duque, dóceis como Parreira, já tive até a sabedoria do Mestre Didi.
Mas nenhum deles foi mais treinador que o Roger.
A diferença é que o primeiro tinha o Manfrini, o segundo Romário e o terceiro Rivelino. E o Roger tem…Brahma na jogada!