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DONO DA BOLA

por Rubens Lemos


Chegou a 91% a posse de bola do Manchester City na recente goleada de 5×0 sobre o Arsenal pelo campeonato inglês. Desempenho de Santos de Pelé, Real Madrid de Di Stéfano, Ajax de Cruijjf, Flamengo de Zico, Barcelona de Messi. É o fantástico Pep Guardiola, único ser humano no planeta a ser chamado de técnico, de apreciador do jogo belo. Os outros são treinadores, domadores de esquemas táticos de contenção.

Manchester City x Arsenal é clássico e o Arsenal passou vergonha, correndo, cercando, tentando atalhar os deslocamentos constantes do adversário. Ficou rodando igual a pião sem rumo. O Manchester City tem um craque: Sterling, neguinho da bunda grande e camisa 10 do English Team. Os outros são bons jogadores.

Pep Guardiola é espetacular. Fazer seu time ficar com a bola em 91% de uma partida é trabalho de perfeccionista. O Manchester não é o Barcelona de Messi, Iniesta e Xavi, do início da segunda metade desta década. Eis o impressionante: jogadores limitados se sobrepõem às suas divisas pessoais e se transformam em imbatíveis pela sensibilidade de um técnico que não é simplesmente técnico, mas uma filosofia.

Ocorre tudo sem pressa no time de Guardiola. Que toca para um lado, toca para o outro, toca para a frente, ataca o oponente como uma divisão de infantaria dos Seals norte-americanos.

A letalidade ofensiva é inevitável e não cruel porque é bonita. Pep Guardiola gosta do seu time tratando a bola, ninguém vê chutões de zagueiros toscos, caneladas de volantes paupérrimos de recursos, tampouco força extrema de atacantes trombadores. Para jogar com Guardiola, é preciso saber tocar com classe e perícia.

Está na hora de o fã do Brasil de Zico, Sócrates e Falcão de 1982, que inspirou seu jeito de fazer jogar os times que monta, assumir uma seleção. Uma seleção de alto nível. Uma seleção que possa disputar uma Copa do Mundo para vencer.

Claro que Guardiola levaria tempo para convencer jogadores afeitos ao trivial das pranchetas e numerologias de táticas risíveis a se enquadrar na liberdade pragmática que consegue humilhar concorrentes fortes, como era feito com o Real Madrid nos idos do Barcelona.

O Brasil seria outro com Guardiola mandando. Aposto em mais de 80% dos treinadores retranqueiros e jogadores obtusos e boçais procurando outro país ou outra atividade para sobreviver. Aquele Fred adorado por Tite no meio-campo, seria expurgado dentro de uma nave espacial com destino a Saturno, onde ficaria até o fim de sua vida. É um dos piores jogadores da história da seleção desde Batatais, goleiro na Copa de 1938.

Pep Guardiola poderia ressuscitar a Argentina, tornar a Colômbia competitiva, transformar o México em esquadrão, dar charme ao compenetrado estilo alemão, poderia, quem sabe, fazer a Bolívia perder de menos de oito gols de diferença. Diferença que Guardiola faz por ser o solitário vingador do futebol-arte.

ROBERTO BAGGIO, AS COPAS E OS PÊNALTIS

por Serginho 5Bocas 


Garoto muito bom de bola, cheio de ginga e artilheiro nos campinhos italianos, parecia um brasileiro tal a sua facilidade no trato com a bola. Foi mais ou menos assim que o olheiro que viu Baggio dando show nos campinhos de pelada da Itália descreveu a fera no documentário e filme da Copa de 1994, “Todos os corações do mundo”. 

Com um estilo destes não poderia deixar de ter ídolos brasileiros. Seu primeiro ídolo foi Chinesinho, que jogou no Vicenza e depois foi Zico, a quem acompanhou de perto, inclusive viajando de trem para vê-lo jogar, quando o Galinho atuou pela Udinese e até mesmo no Flamengo pela TV. Seu primeiro treinador no Vicenza chegou o apelidando de Zico, por conta de sua habilidade com a bola.

Baggio foi precoce, pois, em 1982, aos quinze anos, já estava nos profissionais na Série C do Campeonato Italiano e, em 1985, aos dezoito anos, estreava na Fiorentina. Apesar de ter de conviver com problemas físicos no joelho, teve uma passagem na Fiorentina espetacular, fazendo lindos gols, que o levariam à seleção italiana e à primeira Copa do Mundo, de 1990, na Itália. 

Craque de belos gols, foram muitos, mas o que ele fez quando jogava pela Fiorentina contra o Napoli de Maradona, foi sensacional. Além de ter feito três gols na partida, fez um golaço arrancando da meia lua de sua defesa e enfileirando jogadores do Napoli, finalizando com um drible no goleiro, uma pintura que concorreria ao prêmio “Puskas” da FIFA nos dias atuais.

Roberto Baggio, “il brasiliano”, tem uma peculiaridade em sua carreira que precisa ser enfatizada: participou de três disputas de pênaltis nas três Copas do Mundo que esteve, e perdeu todas, infelizmente uma marca infeliz em sua carreira.


Na Copa de 1990, em casa, ele ficou praticamente toda a competição no banco para  Gianini do Roma, mas foi ganhando espaço com suas belas atuações e se firmando cada vez que entrava em campo. Fez um golaço contra a Tchecoslovaquia, mas foi desclassificado na semifinal contra a Argentina, quando Donadoni e Serena perderam suas cobranças. Baggio só entrou no meio do segundo tempo, fez o seu na disputa de pênaltis, mas não foi o suficiente, era a sua primeira eliminação.

Em 1994, como titular, fazia a Copa de sua vida, pois a partir da fase de mata-mata, danou a fazer gols importantes e foi carregando a seleção italiana para as fases seguintes do mundial. Na final contra o Brasil, jogou com uma lesão na coxa por conta de uma entrada que sofreu de um zagueiro búlgaro na semifinal e perdeu um gol feito cara a cara com Taffarel. Nos pênaltis, nova tristeza, pois Baresi e Massaro perderam primeiro, mas ele perdeu o último pênalti, isolando a bola. O Brasil venceu, mesmo com Marcio Santos perdendo a primeira cobrança. A Itália foi tão ruim nos pênaltis que Bebeto nem precisou bater a sua cobrança que seria a última da série, foi a segunda e talvez a mais marcante decepção de sua vida em Copas do Mundo. 

Em 1998, novamente foi reserva, ia dividindo o tempo das partidas com Del Piero, vinha tendo ótimas atuações e no jogo das quartas de finais contra a França, ele entrou no final do segundo tempo e poderia ter se consagrado, se fizesse o “Golden-gol” na prorrogação, quando tentou encobrir levemente Barthez e a bola passou rente à trave, uma pena. Desta vez, como em 1990, acertou a sua cobrança, mas seus companheiros Albertini e Di Biagio perderam e a Itália novamente voltou para casa sem vencer.


Triste sina, caprichos dos deuses, sei lá o que foi, mas sei que Baggio foi reserva injustamente em duas Copas e, na única que foi titular, perdeu o pênalti decisivo após carregar os italianos nas costas a Copa toda, vai entender o jogo bruto das Copas do Mundo.

Baggio pode colocar a cabeça no travesseiro antes de dormir e, se orgulhar de ter sido considerado o melhor jogador do mundo pela FIFA em 1993 e, de ter jogado nos três maiores clubes italianos, sendo considerado ídolo nas três equipes. Mas o mais brasileiro de todos os italianos, a fera dos gols bonitos, não foi um cara de sorte na Copa do Mundo, apesar de ter deixado belas pinturas na memória e na retina dos torcedores e dos fãs do bom futebol.

Baggio foi pra mim o melhor jogador de futebol italiano que vi jogar, gastava a bola com a beleza e a inteligência dos gênios, a falta de uma vitória em Copas com certeza diminuiu o seu tamanho para o resto do mundo, não pra mim.

Forte abraço

Serginho 5Bocas

O CRAQUE DO BRASIL EM 1998

por Luis Filipe Chateaubriand


Mauro Geraldo Galvão foi um zagueiro clássico – sempre aliou técnica com liderança – que atuou em diversos grandes clubes brasileiros, como Internacional, Grêmio, Bangu, Botafogo e Vasco da Gama.

Dentre estes, foi no Vasco da Gama que mais se identificou.

Em 1998, o Vasco da Gama iria jogar a Copa Libertadores da América.

Sem o supercraque Edmundo, negociado com a italiana Fiorentina.

Foi aí que a liderança de Mauro Galvão emergiu, juntamente com a técnica costumeira do craque, já próximo de seus 40 anos.

Mauro Galvão soube liderar aquele time, seja na técnica, seja nos gestos, seja nas palavras.

E, sob a liderança dele, o Vasco da Gama conquistou a Copa Libertadores da América, pela primeira e única vez – o título mais importante da história do clube.

Sem Mauro Galvão, não teria ocorrido.

Por isso, Mauro Galvão foi o craque de 1998!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

MAVÍLIS: O DESPERTAR DE UM SONHO

por André Luiz Pereira Nunes


Quadro do Mavílis campeão da Zona Sul da Federação Atlética Suburbana de 1938

Quadro do Mavílis campeão da Zona Sul da Federação Atlética Suburbana de 1938

O desportista Luiz Fernando Silva Alves, conhecido como Caldeira, pretende reviver, através do lançamento de mais uma camisa retrô, a tradição de uma das associações mais aclamadas da história do futebol carioca em seus primórdios: o Mavílis Futebol Clube.

Fundado em 23 de setembro de 1913 e tornado de utilidade pública pela Lei Municipal número 936, de 1959, possuía campo e sede situados à Rua Carlos Seidl, 993, no Caju.

A ideia de sua criação adveio de outro clube, o antigo Mavílis Brasileiro FC, constituído por moradores de São Cristóvão, sobretudo operários das fábricas Mavílis e Bonfim.

Entre os pioneiros, merecem destaque Silva, Constantino, Isnard Pires e Evaristo Teixeira, os quais não mediram esforços para tornar realidade o sonho de viabilização dessa agremiação.

A escolha do nome se deve às iniciais de Manoel Vicente Lisboa, um dos diretores da Companhia America Fabril e incentivador do esporte entre seus funcionários. Já o uniforme rubro-anil teve inspiração na bandeira inglesa, visto que na época os britânicos comandavam a indústria têxtil.

A construção da praça de esportes, denominada Praia do Retiro Saudoso, contou com o apoio de Afonso Bebiano, o qual cedeu uma vasta área, então pantanosa e posteriormente aterrada.

Uma das primeiras medidas foi estipular uma mensalidade no valor de um tostão antigo, importância que, em 1913, seus fundadores tinham muita dificuldade em saldar.

Ainda que nunca tenha galgado a esfera profissional, o Mavílis se consagrou durante a fase amadorista do futebol carioca. Em 1931 foi campeão de segundos quadros da Segunda Divisão. Em 1933, estreou na Primeira Divisão do Campeonato Carioca organizado pela Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA). Já, em 1934, quando o Botafogo levantou o último título no amadorismo, realizou excelente campanha chegando ao vice-campeonato, junto ao Andaraí, em certame igualmente organizado pela AMEA. O Mavílis, inclusive, bateu o Clube da Estrela Solitária por 2 a 0 (gols de Honório e Chavão, ambos no segundo tempo), em casa, em 22 de julho. No cômputo geral, arrecadou nove pontos em oito jogos, com quatro vitórias, um empate e três derrotas, marcando 24 gols e sofrendo 21. No mesmo ano foi vice-campeão do Torneio Início do Campeonato Carioca, capitulando novamente diante do Botafogo.

Com o advento da profissionalização do futebol carioca, o Mavílis foi um dos fundadores da Federação Atlética Suburbana, existente de 1936 a 1942, e precursora do Departamento Autônomo (DA), vinculado à Federação Metropolitana de Futebol (FMF).

Entre os seus craques formados, destacam-se Pascoal, do Vasco da Gama, e Vicente, mais conhecido como ‘Pé de Ouro’, principal figura da equipe campeã carioca do São Cristóvão, em 1926.

Nas décadas seguintes, o Mavílis alternou aparições mais modestas no Departamento Autônomo, chegando contudo ao vice-campeonato, em 1969, ao perder a decisão, em uma melhor de três, para o Nacional de Guadalupe. Em1951, 1957 e 1958 ganhou a categoria de aspirantes.

Além do futebol, a agremiação também foi pioneira nos chamados esportes de salão, como o vôlei e o atual futsal. Até mesmo na queda de braço, havia um representante campeão: o peso mosca Raimundo Teixeira.

Porém, a precária situação financeira sempre foi um entrave para as pretensões, não só do Mavílis, como da maioria dos times que disputavam os certames do Departamento Autônomo.

Em 1984, o clube sofreu um derradeiro golpe ao perder uma longa batalha judicial para a América Fabril, a qual reivindicava a reintegração de posse do terreno composto por 10 mil metros quadrados, divididos em um campo de futebol, duas quadras, bar, vestiários e um galpão para festas e prática de esportes. Na ocasião, a categoria juvenil do Fluminense treinava nessas dependências.


Chaveiro comemorativo do Mavílis pertencente ao acervo de Raymundo Quadros.

Chaveiro comemorativo do Mavílis pertencente ao acervo de Raymundo Quadros.

A extinção do Mavílis representou, não só o fim de um tradicional espaço para atividades esportivas, como para práticas sociais. Seu espaço, por exemplo, chegou a abrigar famílias inteiras da favela Buraco da Lacraia, expulsas de seus barracos devido a uma disputa de quadrilhas (naquele tempo ainda não se falava em facções).

Na ocasião de seu desaparecimento, o Mavílis contava com 384 sócios, que desde a década anterior não pagavam as suas mensalidades. O barzinho se encontrava arrendado e o montante arrecadado não era suficiente para custear a conta de energia, tampouco o salário do zelador.

Em 20 de abril de 1984 o clube perderia definitivamente o espaço. O desinteresse do presidente Joel, ex-ponta-esquerda do Fluminense e Botafogo, foi determinante. Segundo o ex-atleta Tostão, do Mavílis, o processo não teve o devido acompanhamento dos interessados. A crescente favelização do entorno também não contribuiu para que a agremiação mantivesse a posse de sua área.

Quem desejar reservar a camisa retrô do Mavílis, favor contatar o Luiz Fernando através do WhatsApp: (21) 99645-0999.

BOMBA QUE SACUDIU O MUNDO FOI ROMÁRIO NO FLAMENGO

por Elso Venâncio


Messi? Cristiano Ronaldo? Nada disso. A bomba que sacudiu o futebol mundial foi a contratação do centroavante Romário, em 1995, pelo Flamengo.

Tudo bem, o português Cristiano Ronaldo veste de novo a camisa do Manchester United, da Inglaterra. E o argentino Messi agora é ídolo francês no PSG. Mas esse burburinho todo no mercado da bola só me fez lembrar a volta do Romário ao Brasil. Aquela repatriação, sim, foi uma bomba. Sacudiu por completo o mundo do futebol. Nenhuma das transferências das superestrelas atuais chega perto, em repercussão, ao retorno do Baixinho ao futebol brasileiro.

A razão é simples. Romário tinha acabado de conquistar uma Copa do Mundo para o Brasil, que não levantava o caneco havia 24 anos. E mais: era o maior, o melhor jogador do mundo. Romário estava com 28 anos e só veio porque forçou a barra.

O mundo quebrava a cabeça tentando entender o que houve. Por que o “Número 1” optou por largar os milhões de dólares e fãs na Europa para, no auge, voltar à terra natal? Romário, como diz o grande biógrafo Marcos Eduardo Neves, retornou a seu país para ser tipo Chatô: o Rei do Brasil.

Incrédulos, os gringos em massa vieram para o Rio. Havia mais jornalistas estrangeiros no dia a dia da Gávea do que repórteres tupiniquins. Não à toa, foi preciso instituir o sistema de entrevista coletiva, com direito a background para expor o pool de empresas que somaram forças para viabilizar a estrondosa contratação.

O planeta havia se rendido ao Brasil. O tenor Luciano Pavarotti, por exemplo, veio cantar em um evento no Morro da Urca e acabou dando um pulo na Gávea só para ter o prazer de bater bola com a maior personalidade do país. Sim, Romário não era o maior nome do futebol brasileiro, nem a maior estrela. Era muito mais do que isso. Respondia como a figura de maior destaque do Brasil.

E os valores da época, você lembra? 4.5 milhões de dólares, mais 25 % de tributos. Quando valeria o passe dele hoje? O Barcelona não acreditou quando Kleber Leite, então presidente do Flamengo, garantiu ter em conta o dinheiro para honrar o depósito.

O Baixinho chegou a ligar para Gilmar Ferreira, que na época estava no Jornal do Brasil. O jornalista lhe aconselhou a se transferir para o campeoníssimo São Paulo, do mestre Telê Santana, clube que pagava em dia. A resposta do camisa 11 foi fulminante:

– Lá não tem praia, eu quero o Flamengo.

Você, torcedor, já imaginou, com todo respeito ao Gabigol, que é ídolo e fera bravíssima, se Romário jogasse nesse time atual do Mengão? Será que Romário passaria Pelé em número de gols?