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MAESTRO JUNIOR

por Elso Venâncio


Leovegildo Lins Gama Junior foi quem mais vestiu a camisa rubro-negra, atuando em 876 jogos. O craque, paraibano de João Pessoa, chegou ao Rio aos 5 anos e das peladas na areia de Copacabana foi jogar futsal no Monte Líbano. Em 1973 estava no Flamengo, onde logo se tornou titular entre os profissionais.

No ano seguinte, Junior passou a titular da lateral direita e fez um gol no América, que tinha um timaço, no triangular decisivo do Carioca. Dois a um, gols de Junior e Zico. Ou seja, já chega campeão, após uma disputa com Vasco e América.

Viveu um momento mágico no fim dos anos 70 e início de 80. Zico, Junior, Leandro, Raul, Mozer, Tita, Andrade, Adílio, Nunes e etc. conquistam três Brasileiros, uma Libertadores e um Mundial Interclubes, em 1981. A decisão contra o Atlético Mineiro, em 1980, é inesquecível. No time mineiro estavam Reinaldo, Cerezo, Luisinho, Chicão, Palhinha, João Leite, Éder e companhia. O Flamengo perde de 1 a 0 no Mineirão e vence por 3 a 2 no Maracanã, diante de 154 mil pagantes. Foi a grande decisão dos Brasileiros! Jogo que passou na TV ao vivo, fato que não era normal e parou o país.

O futebol tem alguns mistérios e o Brasil perde para a Itália em 1982, na Espanha. Essa derrota atrasa taticamente o esporte mais popular do país e sepulta o futebol-arte. Diria o nosso amigo Fernando Calazans:

“Se Zico e Júnior não ganharam a Copa, pior para a Copa do Mundo”.

Junior resolve passar um tempo no exterior e, atuando no meio-campo, sua nova posição, e brilha pelo Torino, além de manter o pequeno Pescara na primeira divisão do futebol italiano. Na Copa de 1986, no México, Telê Santana atende o pedido de Junior e o escala no meio-campo.


Em 1989, aos 35 anos e já realizado profissionalmente, depois de cinco temporadas na Europa, Junior volta ao Flamengo para virar o “maestro” da garotada e conquista uma Copa do Brasil, um Carioca e um Brasileiro. Ele foi o destaque da equipe no título nacional de 1992, inclusive nos dois jogos contra o Botafogo na decisão. O filho Rodrigo, entrando em campo para vibrar com o pai, ele que tanto pediu a Junior para voltar a jogar no Brasil, é uma cena emocionante! Histórica!

Esse período dele marcante é lembrado no livro que o próprio Junior escreveu junto ao pesquisador Maurício Neves de Jesus e que vai ser lançado hoje, às 18hs, na Gávea, na loja oficial do Flamengo, com o selo do Museu da Pelada, da Approach Editora.

Uma foto gigantesca ficava no Departamento de Futebol: Junior à frente de Paulo Nunes, Marcelinho, Rogério, Piá, Júnior Baiano, Djalminha, Fabinho, Nélio e Marquinhos, junto à frase “Craque o Flamengo faz em casa”. Pena que a diretoria, na época, negociou esses craques, por conta da dificuldade financeira que atolava o clube.

Lembro ainda que presenciei dois momentos marcantes do Junior que são pouco lembrados. Na Supercopa da Libertadores, em outubro de 1991, o Flamengo vence o Estudiantes por 2 a 0, na cancha do Huracán, em Buenos Aires. Estádio pequeno, jogo pegado, os argentinos provocando e abusando da violência a todo instante. Carlinhos saca Junior aos 42 do segundo tempo, para ele ser aplaudido. A torcida argentina, de pé, ovaciona a saída do mito. Foi a maior manifestação de carinho que vi dos argentinos a um jogador brasileiro.


Outro jogo inesquecível do Junior se deu na estreia de Bebeto no Vasco, que tinha um timaço superbadalado e acabou se tornando campeão brasileiro em 1989. Zico e Junior foram os destaques na vitória de 2 a 0, dois gols de Bujica. Bebeto não aguentou a pressão e foi expulso após o segundo gol, depois de chutar o goleiro Zé Carlos, compadre dele, no meio de campo. Ambos receberam o cartão vermelho.

Na véspera dessa partida, na Gávea, Zico, na bronca com o favoritismo do Vasco, fez uma declaração histórica no microfone da Rádio Globo:

“Bahia é o Campeão Brasileiro; Flamengo, da Taça Guanabara; Botafogo, do Estadual. Onde está o Vasco? O Vasco tem que comer muito feijão pra chegar perto do Flamengo.”

O comentarista Sérgio Noronha, o ‘Seu Nonô’, disse que nunca tinha ouvido uma declaração tão forte de Zico. Junior jogou de zagueiro e anulou Bebeto, que era o maior atacante do futebol brasileiro e tinha sido campeão e artilheiro da Copa América, com seis gols. Título que o Brasil não conquistava havia 40 anos. O técnico rubro-negro era Valdir Espinosa, que fora campeão com o Botafogo no mesmo ano.

Junior também jogou de zagueiro na despedida oficial de Zico, 5 a 0 no Fluminense, em Juiz de Fora. Junior e Zico! Zico e Junior! Os dois maiores ídolos da Nação Rubro-Negra. Vida longa aos dois!

FUI MAIS FELIZ

::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::


Já falei algumas vezes que adoro assistir até terceira divisão do campeonato da Indonésia. E gosto mesmo, seja para me surpreender, elogiar ou criticar. Há alguns anos venho assistindo boas exibições do Salah, jogador discreto e com pouca mídia, talvez por conta de sua origem. Dessa vez, colocou o Manchester United, de Cristiano Ronaldo, no bolso, marcando três gols na casa do adversário. Gosto do estilo leve do futebol egípcio.

Enquanto CR9 pediu desculpa à torcida e saiu revoltado após o apito final, Pogba saiu rindo para o vestiário depois de ter sido expulso com apenas 14 minutos em campo. Alguns gigantes são mimados e batem o pezinho quando algo o desagrada. O PSG, de Messi, não arrumou nada contra o meu Olympique de Marseille, 0x0.

Pelo que tenho acompanhado a liga inglesa segue sendo o mais interessante a ser visto no futebol. Chelsea vai bem e tem o Manchester City. O Barcelona, desfigurado, perdeu para um Real Madrid fraco. Vinícius Jr. foi o melhor em campo, não é preciso dizer mais nada. Na Alemanha, Bayern continua como franco favorito e na Holanda, o brasileiro Antony jogou bem novamente e o Ajax goleou o PSV.

Assino todos os canais de esporte. Tento não ver, mas não consigo. Aqui no Brasil, a surpresa foi o jovem Kennedy, cria de Xerém. Adoro quando surgem esses meninos que não se intimidam com adversário. É bom de bola tem que colocar em campo! O Santos também tem uma base que sempre revela meninos bom de bola. O Santos é uma escola ofensiva e o time não sabe jogar de outra forma, mas aí chega um técnico retranqueiro e quer mudar isso, óbvio que não vai dar certo.

Não poderia deixar de elogiar o Marcão! Mesmo com os desfalques do Fluminense, não ficou se lamentando e conseguiu uma vitória importante contra o Flamengo. Como puderam perceber vi muitos jogos nesse fim de semana e é impressionante como a defesa do Vasco não consegue segurar resultado. Diniz, toma um Rivotril ou terá um treco! E seguindo conselhos de amigos vi todos os jogos sem som para não ouvir essa lamentável geração de locutores e comentaristas. Fui mais feliz!

CONFIANÇA: O SAUDOSO SUPERCAMPEÃO DO RIO DE JANEIRO

por André Luiz Pereira Nunes


Equipe supercampeã amadora do D.F.A.C., em 1987, em Figueira de Melo

Equipe supercampeã amadora do D.F.A.C., em 1987, em Figueira de Melo

Caso ainda estivesse em atividade, o Confiança Atlético Clube, de Vila Isabel, já teria completado 106 anos. O simpático clube da Rua General Silva Teles, 104, infelizmente encerrou as atividades em 1993, quando a sua área foi cedida pelo então prefeito César Maia ao antigo locatário Acadêmicos do Salgueiro. Dos resquícios, só resiste a bela arquibancada de madeira de lei, tombada pelo patrimônio histórico. Em relação ao time, o qual já se encontrava inativo, foi na época articulada uma fusão, pelo presidente da Federação, Eduardo Viana, com o Barra da Tijuca Futebol Clube, uma agremiação de vida breve formada por empresários. O intuito era que esta pudesse ingressar diretamente no terceiro módulo profissional sem precisar passar pelo quarto. Tais negociatas eram bastante comuns naquele tempo a fim de favorecer equipes com mais pompa e recursos financeiros.

Foi o primeiro campeão da Liga Suburbana, em 1918. No ano anterior já vencera a segunda divisão. Em 1924 e 1933 disputou a primeira divisão do Campeonato Carioca na fase amadorista. Em 1946, obteve outra conquista de reconhecimento, quando atuando na primeira divisão da segunda categoria da Zona Sul, arrebatou o título do torneio promovido pela Federação Metropolitana de Futebol (FMF). Na mesma temporada vencera o Torneio Início.

Se sagrou também vencedor da Taça Disciplina em 1958 e 1959 na categoria infanto-juvenil do Departamento Autônomo (D.A.). Em 1959, se sagrou vice-campeão de amadores na Série Centro.

Em 1964, conquistou a Série Almir dos Santos, graças a outra ótima campanha. Já em 1966 houve uma de suas maiores conquistas: o Supercampeonato Amador, quando bateu na final, em 13 de novembro, o Cruzeiro de Realengo, no estádio da Rua General Silva Teles. Joaquim Nunes orientou o time durante o primeiro turno, enquanto Edgard Felipe dos Santos, futuro presidente, assumiu o comando técnico da equipe no restante do certame.


Na ocasião, ocorreu um sério incidente. O zagueiro Beu, do Cruzeiro, ao ver o seu irmão brigando na arquibancada, deixou o campo e, aos 19 minutos do segundo tempo, houve um conflito generalizado. O cotejo acabou suspenso enquanto os mandantes venciam por 3 a 1. A conclusão do restante da partida aconteceu em 12 de dezembro, quando o Confiança assinalou mais dois gols. No retrospecto geral foram 14 jogos, 8 vitórias, 4 empates e 2 derrotas. 20 pontos ganhos e 4 perdidos. 30 gols a favor e 21 contra. O presidente era Nélson Duarte Calaza.

Após ser vice em 1979 e 1981 do Departamento de Futebol Amador da Capital (D.F.A.C.), novamente perdeu a decisão, em 1983, quando capitulou diante do Oriente por 1 a 0, com um gol de Quinha, na prorrogação, em prélio disputado no campo do Botafogo, em Marechal Hermes.

Contudo, a redenção viria, em 1987, quando o time voltou a se consagrar supercampeão amador ao bater o Francisco Xavier Imóveis, comandado pelo lendário Manoel de Almeida. O Confiança era então presidido por Edgard Felipe dos Santos e treinado pelo seu filho Erinaldo Felipe dos Santos, o Mimão.

Em 1990, finalmente se profissionalizou, passando a disputar o Campeonato Estadual da terceira divisão. Acabou precocemente eliminado na primeira fase ao ficar em sexto lugar, entre oito participantes. No ano seguinte, passou a integrar a Segunda Divisão, visto que a verdadeira segundona se tornara Módulo “B” da Primeira Divisão. Portanto, a terceira passou a se auto intitular segunda divisão numa das muitas mudanças de nomenclatura feitas até hoje de maneira atabalhoada e incompetente pela Federação. Também foi eliminado na primeira fase ao ficar na quinta posição em sua chave.

Em 1956, a antiga fábrica já havia sido adquirida por uma construtora e os novos donos não tinham o menor interesse na manutenção do clube. Portanto, uma disputa judicial entre o Confiança e os empresários se arrastou por quase 40 anos. Nesse ínterim, a quadra passou a ser alugada à escola de samba Acadêmicos do Salgueiro.

A arquibancada de madeira, construída em 1915, uma das primeiras do país, conforme mencionado, permanece de pé.

O CRAQUE DO BRASIL EM 2003

por Luis Filipe Chateaubriand


Escolher o craque do Brasil no ano de 2003 é uma das maiores barbadas que já se teve para escolher um craque anual no Brasil!

Ele atende pelo nome de Alex, e era meia atacante do Cruzeiro, no referido ano.

Em 2003, o Cruzeiro ganhou a chamada tríplice coroa – três campeonatos, o Campeonato Mineiro, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro.

Do banco de reservas, o treinador Vanderlei Luxemburgo, na época um mago da tática, comandava o time e, dentro de campo, Alex só faltava fazer chover…

Visão de jogo apuradíssima, achava os companheiros livres de marcação e em condições de darem sequência às jogadas.

Técnica ímpar, resolvia lances a contento de forma inusitada, imprevista, até espetacular, provendo vantagem para a “Raposa”.

Capacidade inequívoca de liderança, apontava caminhos, indicava soluções, era um técnico dentro de campo.

Monstro!

Dá para afirmar que, sem Alex, o Cruzeiro não ganharia os títulos que ganhou naquele 2003 abençoado.

Craque para mais de metro!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

MEMÓRIAS DO FLA X FLU

por Paulo-Roberto Andel


Depois do expediente, no começo da tarde de sábado, fomos eu, Jocemar e Pimenta num boteco da Praça Tiradentes, famoso por seu bom chope e seus acepipes nem tão bons assim. Três tulipas e, pela margem de segurança, uma porção de queijo prato em cubinhos. Dois tricolores e um flamenguista.

Passamos a manhã falando de música, mas logo após o primeiro brinde o assunto não poderia ser outro: o primeiro Fla x Flu com público em um ano e meio. Logo de cara, tivemos saudades dos velhos tempos em que, no dia do clássico maior, camisas tricolores e rubro-negras se espalhavam pela cidade. É, tudo mudou. Agora a turma se acotovela em frente às tevês dos botequins. Quem governa o futebol chama isso de modernidade: quem não tem dinheiro não vai ao estádio, quem tem não está muito a fim.

Memórias, memórias. Aquele Fla x Flu em que o Cristóvão deixou o Manguito sentado na grama e fez um golaço, que fez o Jocemar enlouquecer na arquibancada abarrotada – no mesmo jogo o Paulo Goulart defendeu um pênalti cobrado por Zico. E outro, quando o Pimenta levou o pai que nunca ia ao Maracanã e, mal sentaram nas cadeiras, o Flu já tinha feito 3 a 0. Ou ainda quando voltavam de uma vitória tricolor e, no carro, o Barata debochava que ele só de todo mundo. Acabamos falando de muito mais vitórias tricolores do que rubro-negras, mas não era uma provocação e sim apenas as lembranças, só que quando todos aqueles assuntos surgiram, minha cabeça foi e voltou num espaço de quarenta anos. Ah, sim, e o empate épico de 1985 com o golaço de Leandro que eu, por azar e sorte, vi atrás do gol, no meio da galera adversária – fui com um amigo flamenguista ao jogo, vimos o primeiro tempo na torcida tricolor e, no segundo, trocamos. Detalhe: já estávamos na boca do túnel da arquibancada, com o Ricardinho já indo embora e eu disse “Espera!”. Deu no que deu. O Flu acabou campeão mas ninguém esquece daquele empate.


Falar de Assis é inevitável, Renato Gaúcho idem, Zico e Júnior, Félix e Raul, Edinho, Pintinho, Adílio, Geraldo, Paulo Cezar Caju e até Pelé, aniversariante do dia e que vestiu as camisas dos dois clubes em amistosos. O Fla x Flu deságua num mar do Rio de Janeiro e, por isso mesmo, estamos loucos para ler o livro do Simas sobre o Maracanã, que acaba de sair. Tempos de glória. Sobrou até para o Botafogo, pois em certo momento rediscutimos a final do Carioca de 1971 que surgiu no caminho – é um jogo interminável.

E quem disse que o Fla x Flu é escrito apenas por craques e jogadores duradouros? Da parte que me toca, é só lembrar de Valtair, Zezé Gomes, Luiz Marcelo, Alexandre, Agnaldo, Ademilson, Fabio Bala, Rodriguinho e tantos outros.

[Depois de uma hora de bate-papo, finalmente entra um flamenguista a caráter no bar, com a devida camisa branca surradíssima, talvez de uns dez ou quinze anos atrás. Nenhum tricolor uniformizado.

Foi minha primeira mesa de botequim em um ano e meio. Talvez o primeiro sábado de tranquilidade no ano, do jeito que tinha de ser, com chope e boa conversa sobre futebol. Me despedi dos amigos, eu fiquei pelo Centro, o Jocemar ia para Niterói e depois Honório Gurgel, o Pimenta para Guadalupe: era o Fla x Flu se espalhando com braços abertos sobre a Guanabara.


Veio a noite e, mantendo a tradição do clássico, onde o melhor no papel nem sempre vence, o Fluminense passou o trator no Flamengo e ganhou com autoridade por 3 a 1, num raro jogo com todos os gols bonitos. Uma noite de contrastes entre a juventude de John Kennedy, autor de dois belos gols, e a talvez despedida do veterano Abel Hernandez, que deixou sua marca em um golaço. O Fla x Flu foi tão elétrico que até o vaiadíssimo lateral Renê fez um gol bonito também. Em tempos de pandemia a casa não podia ficar cheia, mas dez mil maníacos puderam ver de perto o jogo dos jogos.

O Pimenta, rubro-negro de nobreza exemplar, me mandou uma mensagem de parabéns pela vitória. O Jocemar, mergulhado no caldo verde da vitória, não falou nada porque a gente brinca que ganhar Fla x Flu é normal – é o clássico dos clássicos. Não dá para saber o que será daqui por diante – o Fluminense sofre com nove anos sem grandes títulos -, nem as trajetórias dos jogadores, mas uma coisa é certa: John Kennedy e Abel Hernandez vão ficar na memória dos pequenos tricolores para sempre. Eu entendo muito bem: Cristóvão, Valtair e Zezé Gomes continuam comigo. Paulo Goulart também.

No fim das contas, todos vimos mais um capítulo do jogo que nunca termina. É o Fla x Flu, é o Maracanã, são dois gigantes que se digladiam no maior ringue de grama do mundo pela eternidade afora.

@pauloandel