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O ÍDOLO CASTILHO

pod Elso Venâncio


Segundo Evaristo de Macedo, “fazer gol nele era quase impossível.”

Carlos José Castilho é considerado o maior ídolo da história do Fluminense e tem um busto em sua homenagem, na entrada das Laranjeiras. São Castilho, como era carinhosamente chamado pela torcida, foi quem mais defendeu a camisa tricolor. Entrou em campo em 698 jogos, durante 20 anos. Isso mesmo, de 1946 a 1965. Além deste número impressionante, em 255 partidas não levou um gol sequer.

Lembro do craque Evaristo de Macedo me falando da sua estreia, pelo Madureira, no Maracanã. De um lado, ele, Evaristo, atacante que faria sucesso no Flamengo, no Barcelona e no Real Madrid. Do outro, Castilho. “Era quase impossível fazer gol nele. Eu fiz e nem consegui dormir.”

Humilde, Castilho dizia ter uma inacreditável sorte. As traves e o travessão eram três fortes aliados, mas a verdade é que ele se garantia. Defendia pênaltis como nenhum outro goleiro da sua época.

Conheço vários tricolores que torcem pelo clube em razão do ídolo. No Carioca de 1964, fui pela primeira vez ao Maracanã. O Fluminense venceu o América por 3 a 0, dois de Amoroso e um de Gilson Nunes. Vi Castilho jogar. Era a grande atração. Sua presença era marcante, até pelas mãos enormes. Eis o time que entrou em campo naquela ocasião:

Castilho, Carlos Alberto Torres, Valdez, Procópio e Altair; Denilson e Oldair; Jorginho, Amoroso, Joaquinzinho e Gilson Nunes. Naquele ano, o Fluminense, após jejum de meia década, decidiu a final com o Bangu e conquistou, merecidamente, o Campeonato Carioca.

O goleiro esteve presente em quatro Copas do Mundo: 1950, 1954, 1958 e 1962. Foi titular na segunda delas. É detentor também de três títulos cariocas – 1951, 1959 e 1964 – e faturou dois Torneios Rio-São Paulo: o primeiro em 1957 e o último em 1960.

“Suar a camisa, derramar lágrimas pelo Fluminense, muitos fizeram. Sacrificar um pedaço do próprio corpo por amor ao Tricolor, somente um: Castilho” – eis a frase que sintetiza o ídolo; dizeres que vêm logo abaixo do busto de Castilho na sede oficial do Fluminense.

Em 1957 uma contusão o tiraria de uma sequência de jogos importantes. Foi a quinta contusão seguida no dedo mindinho da mão esquerda. O goleiro não pensou muito. Para não ficar fora das finais, demonstrando inigualável amor ao clube, optou por amputar parte do dedo. Livre das dores, ficou apto a defender (literalmente) o clube do coração. Foi um ato heroico, sem sombra de dúvidas. Em 15 dias, retornou aos gramados.

Admito que cada torcedor, dependendo de sua época ou da sua idade, tem a sua preferência. Pesam também as conquistas. A cada grande título, surge um destaque que passa a ser idolatrado. O Fluminense, por exemplo, teve vários. Difícil até citar: Marcos Carneiro de Mendonça, primeiro goleiro da seleção brasileira. Tim, Telê Santana, Pinheiro, Didi, Samarone. Paulo César Caju, Rivellino, Romerito, Assis, Washington. Roger, Romário, Conca e Fred, entre outros.

Mas… e você, torcedor? Quem foi ou é o seu grande ídolo no futebol?

FUTEBOL DECADENTE

::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::


Os campeonatos estão chegando ao fim e Hulk, certamente, será eleito o jogador do ano. O Galo, por sinal está repleto de super-heróis, porque também tem o Homem-Arana e o Capitão América Réver, por conta da conquista da Libertadores da América. E ainda teve o Dadá Peito de Aço entregando a taça! A criatividade do torcedor é e sempre será o ponto alto da festa. Bom demais ver os estádios cheios e, agora, é torcer para que essa nova variante não seja devastadora e nos deixe seguir em paz porque para encarar a Covid e suas variantes só incorporando algum super-herói mesmo.

Mas, sobre o Hulk ele acaba sendo um personagem interessante porque simboliza o futebol-força, saiu cedo do Brasil, não tinha identificação com o torcedor brasileiro e transformou o seu pesadelo pessoal, do 7×1 contra a Alemanha, em um belo título, no mesmo Mineirão da tragédia. Agora, cogita-se a volta de Hulk à seleção. Esse exagero é que me irrita. Aquela turma do 7×1 deve ser esquecida. Nas partidas do Corinthians tem sido comum um cartaz exigindo o afastamento dos veteranos. Claro que os jogadores acima dos 35 devem seguir jogando só que eles não podem ser encarados como os salvadores da pátria porque estão aí para curtir uma aposentadoria milionária.

David Luiz voltou e se já havia chorado no 7×1 voltou a derramar lágrimas em território brasileiro. Estão tirando onda conosco. Os técnicos portugueses viraram os astros e Jorge Jesus, que não ganha nada lá fora, já já desembarca na Gávea dando as cartas. Mas aí o Vasco vai e traz o Zé Ricardo. Nada contra ele, mas são treinadores que ficam pulando de galho em galho sem nunca terem surpreendido. Por isso, não quero estragar a festa de ninguém, mas acho que Hulk ter sido o craque do campeonato só aumenta a minha certeza que o nosso futebol precisa ser revisto, virado do avesso, ou continuaremos lustrando as chuteiras de quem já deveria estar aposentado.

A turma do dez a um (7 da Alemanha e 3 da Holanda) caprichou nesse fim de semana: “O time joga com uma linha de cinco, com três zagueiros espetados fazendo a ligação direta para os alas correrem pela beirinha do campo”. Pensa que acabou? “Assistência para o atacante agudo chapar na cara da bola viva e estufar a bochecha da rede”. Só rindo mesmo!

COMO NÓS PRECISAMOS DE HERÓIS

por Zé Roberto Padilha


A culpa foi do Fantasma, do Mandrake, do Super-Homem e quem mais, durante nossa adolescência, fizesse justiça nas bancas de jornais com as próprias mãos.

Se tinha um cara no colégio que jogava mais do que a gente, outro que disputava a morena mais bonita da sala e o Alcendino, que insistia em tirar as notas mais altas, encontrávamos naquelas páginas os atos de heroísmo que não alcançávamos.

Crescemos assim, trocando de objetivos, ideais e jogando nas costas do Flávio, o Minuano, os gols que nos fariam, como torcedores do Fluminense, mais felizes e campeões cariocas.

Não parou aí. Emerson Fittipaldi, seguíamos pelas Quatro Rodas. O Rei Pelé, pelo Placar, e Michael Jordan num cantinho em que o O Globo reservava para acompanhar o esporte pelo mundo.

Pouco sabiam que um pódio, um gol e uma cesta de três pontos influenciariam o humor e a autoestima na vida de um distante morador de Três Rios.

Hoje, sou uma velha raposa que, num domingo à tarde, ainda liga a TV à procura de atos de heroísmo. Fred, o meu de carteirinha, estava entregue à garra dos baianos na Fonte Nova, mas foi no Gremio que fechei com aquele que tornaria minha tarde mais justa.

Ele se chama Diego Souza. Quase rebaixados, os tricolores do sul entraram contra o Corinthians com a garra que faltou aos nossos. Tão importante o confronto, o repórter informou que até os jurados que julgavam a tragédia da Boate Kiss, em Porto Alegre, suspenderam a sessão.

E esse rapaz, que parece interminável, fez um gol fantástico que deu ao Gremio esperanças de não cair para a segunda divisão.

Obrigado, Diego Souza, que começou em Xerém, e mesmo com as três cores trocadas nos reservou um ato de coragem, conquistado em meio a uma selva de “loucos” torcedores da Fiel.

Boa sorte, Grêmio, mesmo com o empate levado no fim, vocês, além de motivaram nossa tarde esportiva, mostraram a garra e a coragem próprias dos heróis que merecem permanecer na elite do nosso futebol.

10 ANOS SEM SÓCRATES

por Rubens Lemos


Sócrates faz parte de minha vida como Quixote da bola. Com Zico e Falcão, forma a trinca de ases dos meus sonhos insones de menino, colorindo o Brasil de imbatível. Só fui comemorar uma Copa do Mundo em 1994, um mês antes de fazer 24 anos.

Na foto, o capricho de ourives dos quatro cantos verdejantes de Sócrates é observado pelo argentino Ardiles na mistura de encantamento e perplexidade. Um baile de 3×1 para o Brasil na melhor exibição do Mundial de 1982.

Ardiles foi um dos melhores armadores da história do futebol, campeão mundial de 1978 quando era o único acima da média no time ajudado pela Fifa para ganhar sob o chicote de uma sanguinária Ditadura.

Sócrates parece empalmar uma pedra preciosa. Usa o pé direito para acariciar a bola em pleno sossego, naturalidade e perfeição , virtudes que ele exibia sem vaidade por onde jogou.

É, ao lado de Roberto Rivelino, o melhor jogador do Corinthians (SP) de todos os tempos, embora a mídia virgem tente impor Marcelinho Carioca e até Neto, o bom de escanteio e cobrança de falta.

Suave gazela em campo, Sócrates irritava os conservadores pois não era o boleiro-padrão. Era médico e vinha de uma família de classe média alta, com pai auditor fiscal federal. Jogava no diletantismo com que Vinicius de Moraes compunha seus poemas musicais.

Estavam em Sócrates a genialidade de Vinicius e a calma irritante de João Gilberto, fosse o Magrão integrante da Bossa Nova. Sócrates dançava conforme o ritmo, impondo sobre o gramado sua coletânea clássica desenvolvida por invisível violino. Passadas largas, estabelecia seu movimento de enganosa lerdeza, levando os outros 21 homens na disputa a caçá-lo em câmera lenta, infrutífera artimanha.

As pernas de palito em carne e osso distribuíam passes certeiros tirados do pensamento de águia de um jamais atleta a mover-se em permanente processo de criação. Lindos acordes acompanhados pelo deleite das arquibancadas.

Sócrates pagou caro por se envolver politicamente sem deixar clara, de verdade, sua ideologia, fruto de uma inquietude conhecida a partir do primeiro pêndulo corporal até a batida de calcanhar direto no companheiro próximo. Se entendeu melhor com Palhinha, técnico, malandro e habilidoso, ambos campeões paulistas de 1979.

Em 1982, com Zico, Falcão, Leandro(um mágico usando a camisa 2), Júnior e Éder, formou um sexteto violado de fintas e desfile de jogadas sinfônicas.

Hoje, faz 10 anos da morte de Sócrates, que nunca deixou seu copo de cerveja tampouco seu cigarro para obedecer a ninguém. O técnico Telê Santana, tido como rabugento, sabia que não poderia abrir mão do seu camisa 8 e deixava-o livre. Para dar o petardo do empate contra a União Soviética(Brasil 2×1) e bater entre o goleiro Zoff e a trave na derrota para a Itália(2×3) no gol do empate em 1×1, criação artesanal de Zico ao enxergar o espaço para servir ao Magrão.

Alguns idiotas protestaram pelo cumprimento de Sócrates ao primeiro italiano que encontrou ao apito final da derrota para a Azzurra. Sócrates compreendia o futebol como jogo limpo, sem a neurose do vida ou morte banalizado. Também reclamaram do pênalti perdido por displicência contra a França, em 1986, repetindo o canto que acertara contra a Polônia nas quartas.

O futebol anda chato e uma das razões é a ausência de Sócrates, polemista irritante para adversários burros e frasista demolidor de conservadores. Liberdade. Há uma década, o Magrão, após o sofrimento do álcool, incompreendido e secundarizado em sua importância, passeia pelos clássicos eternos, onde não há cronômetros nem medíocres a incomodá-lo.

A BOLA AFASTA, A BOLA APROXIMA

por Luis Filipe Chateaubriand


Na época em que eram jogadores de futebol, Júnior e Roberto Dinamite não se davam – um não ia com a cara com o outro.

Roberto Dinamite sempre tinha um “olhar torto” para Júnior, um azedume, uma cara feia para o “Maestro”.

Júnior não era diferente: um olhar ameaçador, uma cara de amargor, uma postura corporal de quem quer ir para a luta.

Um dia, depois que já tinham parado de jogar, no Sambódromo, se encontram, conversam, se entendem.

De lá para cá, se tornam grandes amigos.

É o futebol unindo ídolos, unindo gente!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!