O CRAQUE DO BRASIL EM 2003
por Luis Filipe Chateaubriand
Escolher o craque do Brasil no ano de 2003 é uma das maiores barbadas que já se teve para escolher um craque anual no Brasil!
Ele atende pelo nome de Alex, e era meia atacante do Cruzeiro, no referido ano.
Em 2003, o Cruzeiro ganhou a chamada tríplice coroa – três campeonatos, o Campeonato Mineiro, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro.
Do banco de reservas, o treinador Vanderlei Luxemburgo, na época um mago da tática, comandava o time e, dentro de campo, Alex só faltava fazer chover…
Visão de jogo apuradíssima, achava os companheiros livres de marcação e em condições de darem sequência às jogadas.
Técnica ímpar, resolvia lances a contento de forma inusitada, imprevista, até espetacular, provendo vantagem para a “Raposa”.
Capacidade inequívoca de liderança, apontava caminhos, indicava soluções, era um técnico dentro de campo.
Monstro!
Dá para afirmar que, sem Alex, o Cruzeiro não ganharia os títulos que ganhou naquele 2003 abençoado.
Craque para mais de metro!
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
MEMÓRIAS DO FLA X FLU
por Paulo-Roberto Andel
Depois do expediente, no começo da tarde de sábado, fomos eu, Jocemar e Pimenta num boteco da Praça Tiradentes, famoso por seu bom chope e seus acepipes nem tão bons assim. Três tulipas e, pela margem de segurança, uma porção de queijo prato em cubinhos. Dois tricolores e um flamenguista.
Passamos a manhã falando de música, mas logo após o primeiro brinde o assunto não poderia ser outro: o primeiro Fla x Flu com público em um ano e meio. Logo de cara, tivemos saudades dos velhos tempos em que, no dia do clássico maior, camisas tricolores e rubro-negras se espalhavam pela cidade. É, tudo mudou. Agora a turma se acotovela em frente às tevês dos botequins. Quem governa o futebol chama isso de modernidade: quem não tem dinheiro não vai ao estádio, quem tem não está muito a fim.
Memórias, memórias. Aquele Fla x Flu em que o Cristóvão deixou o Manguito sentado na grama e fez um golaço, que fez o Jocemar enlouquecer na arquibancada abarrotada – no mesmo jogo o Paulo Goulart defendeu um pênalti cobrado por Zico. E outro, quando o Pimenta levou o pai que nunca ia ao Maracanã e, mal sentaram nas cadeiras, o Flu já tinha feito 3 a 0. Ou ainda quando voltavam de uma vitória tricolor e, no carro, o Barata debochava que ele só de todo mundo. Acabamos falando de muito mais vitórias tricolores do que rubro-negras, mas não era uma provocação e sim apenas as lembranças, só que quando todos aqueles assuntos surgiram, minha cabeça foi e voltou num espaço de quarenta anos. Ah, sim, e o empate épico de 1985 com o golaço de Leandro que eu, por azar e sorte, vi atrás do gol, no meio da galera adversária – fui com um amigo flamenguista ao jogo, vimos o primeiro tempo na torcida tricolor e, no segundo, trocamos. Detalhe: já estávamos na boca do túnel da arquibancada, com o Ricardinho já indo embora e eu disse “Espera!”. Deu no que deu. O Flu acabou campeão mas ninguém esquece daquele empate.
Falar de Assis é inevitável, Renato Gaúcho idem, Zico e Júnior, Félix e Raul, Edinho, Pintinho, Adílio, Geraldo, Paulo Cezar Caju e até Pelé, aniversariante do dia e que vestiu as camisas dos dois clubes em amistosos. O Fla x Flu deságua num mar do Rio de Janeiro e, por isso mesmo, estamos loucos para ler o livro do Simas sobre o Maracanã, que acaba de sair. Tempos de glória. Sobrou até para o Botafogo, pois em certo momento rediscutimos a final do Carioca de 1971 que surgiu no caminho – é um jogo interminável.
E quem disse que o Fla x Flu é escrito apenas por craques e jogadores duradouros? Da parte que me toca, é só lembrar de Valtair, Zezé Gomes, Luiz Marcelo, Alexandre, Agnaldo, Ademilson, Fabio Bala, Rodriguinho e tantos outros.
[Depois de uma hora de bate-papo, finalmente entra um flamenguista a caráter no bar, com a devida camisa branca surradíssima, talvez de uns dez ou quinze anos atrás. Nenhum tricolor uniformizado.
Foi minha primeira mesa de botequim em um ano e meio. Talvez o primeiro sábado de tranquilidade no ano, do jeito que tinha de ser, com chope e boa conversa sobre futebol. Me despedi dos amigos, eu fiquei pelo Centro, o Jocemar ia para Niterói e depois Honório Gurgel, o Pimenta para Guadalupe: era o Fla x Flu se espalhando com braços abertos sobre a Guanabara.
Veio a noite e, mantendo a tradição do clássico, onde o melhor no papel nem sempre vence, o Fluminense passou o trator no Flamengo e ganhou com autoridade por 3 a 1, num raro jogo com todos os gols bonitos. Uma noite de contrastes entre a juventude de John Kennedy, autor de dois belos gols, e a talvez despedida do veterano Abel Hernandez, que deixou sua marca em um golaço. O Fla x Flu foi tão elétrico que até o vaiadíssimo lateral Renê fez um gol bonito também. Em tempos de pandemia a casa não podia ficar cheia, mas dez mil maníacos puderam ver de perto o jogo dos jogos.
O Pimenta, rubro-negro de nobreza exemplar, me mandou uma mensagem de parabéns pela vitória. O Jocemar, mergulhado no caldo verde da vitória, não falou nada porque a gente brinca que ganhar Fla x Flu é normal – é o clássico dos clássicos. Não dá para saber o que será daqui por diante – o Fluminense sofre com nove anos sem grandes títulos -, nem as trajetórias dos jogadores, mas uma coisa é certa: John Kennedy e Abel Hernandez vão ficar na memória dos pequenos tricolores para sempre. Eu entendo muito bem: Cristóvão, Valtair e Zezé Gomes continuam comigo. Paulo Goulart também.
No fim das contas, todos vimos mais um capítulo do jogo que nunca termina. É o Fla x Flu, é o Maracanã, são dois gigantes que se digladiam no maior ringue de grama do mundo pela eternidade afora.
@pauloandel
PAULINHO PIRACICABA, O ARTILHEIRO METEÓRICO
por Luis Filipe Chateaubriand
Paulo Luiz Massariol começou no XV de Novembro, da sua cidade natal, Piracicaba.
O jovem centroavante chamou a atenção do Vasco da Gama e, assim, transferiu-se para São Januário – inicialmente, para jogar nos juvenis – em 1976.
Em 1977, devido ao tanto de gols que fez nas categorias de base, já aportava nos profissionais do cruz maltino, ainda reserva da dupla de ataque Roberto Dinamite / Ramon.
No entanto, em 1978, Ramon deixava o Clube da Colina, e a nova dupla de ataque titular era Roberto Dinamite / Paulinho.
Foi “chuva de gols” para cima dos adversários.
O novato Paulinho Piracicaba terminaria o ano de 1978 como nada menos que o artilheiro do Campeonato Brasileiro.
E a toada de fazer gols, em parceria com o Dinamite, seguiu em 1979 e em 1980.
Em 1981, Paulinho é transferido ao Palmeiras e, surpresa, os gols escasseiam.
De 1982 em diante, pouco se ouviu falar de Paulinho Piracicaba, muito menos de gols por ele assinalados.
Foi artilheiro por três temporadas, depois, sumiu.
Futebol tem dessas coisas.
Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!
A APOSENTADORIA SEM ADEUS DE UM GÊNIO DA BOLA
Por Pedro Tomaz de Oliveira Neto
Todo craque fora-de-série deveria ter um jogo de despedida para que a torcida pudesse prestar reverências e agradecimentos pelas jogadas espetaculares, dribles sensacionais, golaços inesquecíveis e pelas glórias alcançadas ao longo de sua carreira. Merecidamente, o Rei Pelé teve não só uma, mas várias despedidas. Garrincha — ainda que numa homenagem tardia —, Zico, Roberto Dinamite, Romário e Ronaldo também ganharam um jogoespecial para congraçamento entre ídolos e fãs.
Surpreendentemente, o craque que herdou a camisa 10 da Seleção Brasileira após o adeus de Pelé não teve um jogo de despedida. Roberto Rivellino, dono da temida Patada Atômica, de dribles desconcertantes como o elástico, de lançamentos longos e precisos, que marcou época defendendo o Corinthians, o Fluminense e, claro, a Pátria de Chuteiras, se aposentou da bola quase que na surdina, sem um jogo festivo para receber os salamaleques e os tributos da torcida brasileira pelos relevantes serviços prestados à causa do futebol. Sem chance de um adeus, até a lembrança do seu último jogo foge a nossa memória.
Com a camisa do Corinthians, Rivellino fez 474 jogos, marcando 141 gols. Não conquistou títulos, porém, com seu futebol exuberante, tornou-se um ídolo da fiel torcida, mantendo acesa, enquanto esteve no Parque São Jorge, a chama da esperança de um grito de campeão que não vinha desde 1954. Mesmo com toda a idolatria, seu último jogo pelo Timão, ao invés de uma festa, foi um dos mais tristes de sua carreira, perdendo a decisão do Paulistão de 1974 para o maior rival e ainda sendo culpado pela derrota, injustiça que o estimulou a aceitar a proposta de transferência para o Fluminense.
No Rio de Janeiro, Rivellino comandou a memorável Máquina Tricolor, sendo bicampeão carioca. Foram 158 jogos, exibindo toda a sua genialidade e técnica refinada, traduzidas em 53 gols e em jogadas de encher os olhos do torcedor. Ainda assim, não teve um jogo para dizer adeus à torcida tricolor e vice-versa. Sua última partida pelo Fluminense ninguém lembra. Aconteceu em fevereiro de 1978, na distante Itumbiara, interior do estado de Goiás, num amistoso contra o time local, informação essa obtida após minuciosa pesquisa de internet. Depois, o craque se apresentou à Seleção Brasileira para a disputa da Copa do Mundo na Argentina e não voltou mais. Foi desfilar seu futebol pelo mundo árabe.
Pela Seleção Brasileira, Riva fez 122 jogos, anotando 43 gols. Desses, três foram “patadas” indefensáveis e muito importantes para a épica conquista do tricampeonato mundial no México, em 1970: contra a Tchecoslováquia, ao empatar o jogo e aliviar a tensão da estreia, abrindo a porteira para a goleada; contra o Peru, ao inaugurar o marcador logo no início da partida; e contra o Uruguai, aofechar o placar de um jogo nervoso do começo ao fim. Sem Pelé, Rivellino passou a ser o astro maior da Seleção Canarinha, jogando mais duas copas do mundo e conquistando a Taça Independência e o Torneio Bicentenário dos Estados Unidos. Com todo esse currículo, fazia jus a um jogo de despedida para receber dos brasileiros os merecidos aplausos. Mas não! O jogo do adeus foi somente seu último jogo pela Seleção, contra a Itália, na decisão do 3º lugar da copa de 1978.
Nem tempos depois, quando Rivellino encerrou seu contrato com os sheiks e retornou ao Brasil, a CBF se dignou a organizar uma homenagem por tudo o que ele representou para o nosso futebol. Fazer o quê? Resta-nos apenas parabenizar esse gênio da bola e sempre agradecer, em vida, pelas alegrias e emoções indescritíveis que ele nos proporcionou por quase duas décadas de futebol bem jogado.
ESQUECI DE VOCÊS
por Zé Roberto Padilha
Era, como a maioria, um torcedor apaixonado pela seleção de futebol do meu país. E jamais pensei que uma partida sua passaria ignorada por mim. Fui dormi e nem lembrei, no último domingo, que jogaríamos contra a Colômbia.
Não sei quando nos separamos, mas desconfio dos primeiros sintomas. Tinha 18 anos quando assisti, no auge da repressão militar, as mesmas mãos que decretaram o AI-5 e condenaram o Herzog, receberem dos nossos heróis, em Brasília, a Taça Julio Rimet.
Desceu queimando e fiquei desconfiado. Eles não tinham o direito de usar a nossa mais autêntica arte em prol de encobrir seus escusos objetivos.
Depois, quando todas as classes se envolveram na luta pela redemocratizacao do país, com a exceção da Democracia Corinthiana, não vi nenhum dos nossos selecionáveis subir num palanque pedindo a Anistia.
Muito menos, naquele célebre comício da Candelária pelas Diretas Já, nossa classe colocar sua idolatria na reta.
Depois, os jogadores se afastaram da nossa realidade. Se já não combatiam o aumento da gasolina e do gás de cozinha morando aqui, imaginem quando foram jogar na Euripa recebendo em euros e falando outra lingua?
Hoje, se limitam a desembarcar de jatinho com fones de ouvido, cercado de seguranças para ficar longe do assédio dos torcedores e nem autógrafos assinam. Mesmo porque ninguém quer o autógrafo do Gabriel Jesus.
Enfim, que pena constatar que no país do futebol sua maior expressão, a nossa seleção, pouco significa para sua gente. Não jogam por nós, não lutam por nós, correm pelos seus interesses e desconhecem os interesses daqueles que pagam ingressos para vê-los jogar.
E para quem viu Gerson, e seus lançamentos de 50 metros, Roberto Rivelino, e sua patada atômica, jogar, assistir as limitações da canhota de Lucas Paquetá é desanimador.
E esquecível. Como toda a seleção estrangeira formada por brasileiros que pensa que nos representam.