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ÍDOLOS DOS NOSSOS ÍDOLOS

A IDOLATRIA E A PRÁTICA DA ADORAÇÃO DOS ÍDOLOS

por Elso Venâncio


No início de suas carreiras, os ídolos do futebol se espelham em grandes referências. Na nossa juventude, admiramos o estilo de um determinado jogador e procuramos realizar nas peladas o que ele ousava e conseguia fazer nos jogos.

O ídolo do Pelé era Zizinho. ‘Mestre Ziza’ aconselhou o ‘Rei’ no início da carreira:

– Você, com essa genialidade, tem que ser respeitado no choque. Os adversários entram pra quebrar em quem é habilidoso.

João Máximo, nosso grande nome do Jornalismo, afirmou:

– Zizinho foi maior que Pelé. Eu e minha geração somos testemunhas.

Zico disse que se espelhava em Dida, um alagoano que comandou o Flamengo ao longo do tricampeonato de 1953/54/55. O ‘Galo’ conta que, nos rachas em Quintino, se autoproclamava Dida e fazia gol atrás do outro.

Dida, por sua vez, teve Leônidas da Silva, o ‘Diamante Negro’, como professor. Inclusive, ele era o destaque do seu time de botão.

Diego Maradona nunca escondeu de ninguém quem foi o maior para ele: Rivelino. De Zurda (de canhota), pela TV Venezuelana, na TV Sur, com Rivellino presente, ‘El Pibe’ fez uma dedicatória e assinou:

“O mestre de toda minha vida.”

O grande ídolo da infância de Ronaldo Fenômeno, eleito três vezes o melhor do mundo (1996, 1997 e 2002), foi Zico. Dois tricampeões do mundo, Gerson, o ‘Canhotinha de Ouro’, e Paulo Cezar Lima, o ‘Caju’, elegem Didi, o homem da ‘Folha Seca’, que marcou o primeiro gol no Maracanã. Gerson confessa que Didi o ensinou a lançar:

– Tem que treinar lançamentos médios e longos, revezando os lados e colocando cadeiras em campo, como referência – incitava ‘O Príncipe Etíope’.

O baixinho Romário aponta Reinaldo, maior ídolo da história do Atlético Mineiro, e completa:

– Me inspirei muito nele, principalmente na hora de definir o lance e fazer o gol.

Aqui, alguns ídolos dos ídolos

Messi: Pablo Aimar

Cristiano Ronaldo: Eusébio

Neymar: Robinho.

Mbappé: Cristiano Ronaldo

Renato Gaúcho: Zico

Mohamed Salah – Ronaldo Fenômeno

Marcelinho Carioca: Zico

Alex – Zico

Sergio Ramos – Claudio Caniggia

Lewandowski  – Raúl

Hazard – Zidane

Ronaldinho Gaúcho – Maradona

Luís Suarez – Batistuta

Daniel Alves – Cafu

Chicharito Hernández – Ronaldo Fenômeno

Pirlo – Juninho Pernambucano

Angel Di Maria – Kily Gonzalez

Roberto Baggio – Zico

Ronaldinho Gaúcho – Maradona

Iker Casilas – Oliver Kahn

Ibrahimovic – Ronaldo Fenômeno

Lamento os clubes brasileiros não reverenciarem os grandes jogadores que vestiram suas camisas. Evaristo de Macedo me contou que quase anualmente vai a Barcelona e Madri, com vários outros ex-craques, receber homenagens em solenidades festivas. Evaristo foi o primeiro brasileiro a fazer história na Espanha. Jogou nos rivais Barcelona e Real Madri, sendo ídolo das duas torcidas. Ao lado dele, Puskas, Kocsis, Gento e Di Stéfano. Segundo Evaristo, todos craques. Mas nenhum igual a Pelé.

No Rio, o Botafogo lembra de seus destaques no muro em frente à sede social. Vários personagens da história estão lá, de Heleno de Freitas a Loco Abreu, de Garrincha a Seedorf. No casarão de General Severiano há ainda mais homenagens, com fotos gigantescas destes e outros grandes craques.

O Santos dá um exemplo importante com o projeto ‘Ídolos Eternos’. O clube tem contrato com Clodoaldo, Mengálvio, Dorval, Manoel Maria, Edu, Abel e Pepe. Eles merecem ser lembrados e representam o Peixe em eventos, quando são devida e merecidamente valorizados.

Vou citar, entre tantos, dois craques que me impressionavam. Carlos Alberto Torres, o grande lateral que vi jogar, ao lado de Leandro, e Paulo Cezar Caju. O ‘Capitão do Tri’ se destacava não apenas por seu futebol, mas pela liderança exercida em campo. Já Paulo Cezar foi definido pelo comentarista João Saldanha como “um garoto grande jogando bola no meio de crianças”. Aliás, Saldanha dizia que um clube grande vive até sem títulos, mas não sem ídolos. Citava o jejum de 23 anos do Corinthians, que contratava e aumentou a paixão e a torcida durante esse longo período.

Paulo Cezar está no nível de Gerson, Zico, Rivellino, Romário, Cruijf, Beckenbauer, Ronaldo Fenômeno, Ronaldinho Gaúcho e outros poucos desse nível. Acima desses: Pelé, Messi, Garrincha e Maradona.

Tantos ídolos! Todos inesquecíveis… e eternos!

Citei alguns, mas tem outros monstros sagrados da bola. E o seu ídolo, quem é?

ENCARNAÇÃO NO FUTEBOL

:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::


Acho que a encarnação faz parte do futebol. Na década de 80, com ajuda do Jornal dos Sports e da Revista Placar, essas provocações ficaram mais acirradas. Os jogadores adversários posavam para a capa desses veículos promovendo os clássicos. Pouco antes disso, o troca-troca do Francisco Horta era uma forma de dar visibilidade ao espetáculo. Joel Santana, Jairzinho e eu disputávamos o título de Rei do Rio, e isso foi até capa da Revista Placar de 1972, quando fui campeão pelo Flamengo.

Na década de 90, tinha jogador que imitava um porco e outro que usava máscara nas comemorações dos gols, uma tremenda zoação. Antes de Edílson Capetinha fazer aquelas embaixadinhas que geraram grande confusão, eu já havia feito contra o Vasco e o Buglê partiu cima de mim. Já na década de 60, o goleiro Manga avisava que o bicho já estava garantido em jogos contra o Flamengo. Ontem mesmo, após a vitória do meu Botafogo, liguei para alguns amigos vascaínos. É irresistível! Mas no Sul, a rivalidade e essas encarnações há tempos passaram do ponto.

Ontem, Patrick exibiu um caixão de papelão após a vitória sobre o Grêmio. Nos últimos clássicos vários jogadores foram expulsos e pouco futebol se viu. A imprensa incentiva e trata a partida como guerra, a torcida entra na onda, e em uma época de pandemia, todos mais sensibilizados e cansados de ouvir falar em caixão a história não poderia acabar bem, como não acabou. Os jogadores comemoraram como se fosse um título se esquecendo que, hoje, o Inter é apenas um time de médio para ruim. Assim como é o meu Olympique de Marseille.


Nessa rodada, empatou com o Metz, último colocado. Gerson e Luís Henrique não vão bem. E como o futebol é provocação saudável, sigo torcendo pelas zebras. O West Ham venceu o Liverpool, o Atletico de Madrid não passou pelo Valencia, o Veneza venceu a Roma, o Napoli empatou em casa e o Lyon perdeu feio. Não, por acaso, sempre gostei da zebrinha, do Fantástico.

É importante saber ganhar e perder. Na verdade, o caixão de Patrick é o retrato do futebol atual, que não convence dentro de campo e nem na dose das comemorações. Desliguei o mute nesse fim de semana para rir um pouco do linguajar e separei uma pérola para vocês: “Um time com consistência e intensidade, que joga por dentro e briga pela bola viva”.

PENTA VICE É O …

por Luis Filipe Chateaubriand


Os vascaínos das antigas, como eu, estavam acostumados a ser “zoados” pelos rivais, sobretudo os rubro-negros.

Penta vices!

Não era verdade.

Nos dois Campeonatos Cariocas de 1979, fomos vice em um deles, no outro não fomos.

Tínhamos, então, quatro vices em cinco Campeonatos Cariocas disputados: 1978, 1979 (um dos dois), 1980 e 1981.

Eram, de qualquer forma, muitos vices.

Era insuportável a zoação dos vermelhos e pretos.

Só que a hora deles estava chegando…

Em 1982, foram à final o Vasco da Gama, o Flamengo e o América. 

Como Vasco da Gama e Flamengo venceram o América, os dois primeiros foram fazer o jogo decisivo.

Primeiro tempo morno e equilibrado.

Mas eis que, aos três minutos do segundo tempo, Pedrinho Gaúcho bateu escanteio pela esquerda, a bola veio fechada, e Marquinho raspou nela para fazer o gol, frente a um embasbacado Raul.

Era o gol do título, pois, dali para a frente, o Vascão segurou o jogo com força e galhardia.

Então, responde aí:

Quem é vice?

QUINZE PRAS CINCO

por Paulo-Roberto Andel


Mal acabavam de fazer o primeiro jogo, os garotos dos dois times juvenis se apinhavam perto das escadas. Nada de descer para tomar banho: eles queriam era ver os craques entrarem em campo.

Cem mil pessoas, cinquenta mil de cada lado mais ou menos.

Dos dois lados, dezenas de bandeiras imensas enfileiradas, prontas para serem desfraldadas assim que os times entrassem.

Quinze pras cinco da tarde. De repente, entre os gritos das torcidas, havia certo silêncio e alguma aflição, alguma coisa que mexia com o peito.

De repente, no belo placar de lâmpadas amarelas, estava escrito “SU-DERJ IN-FORMA: ÁR-BI-TRO”. Pronto, todo mundo vaiava. Um barulhão. Em meio ao caos, no alto-falante uma voz abafada e inesquecível narrava o que se lia.

Cinco para as cinco. O coração parece que vai sair pela boca. Num súbito, o lado de cá explode num grito de alegria: entra um time todo de branco e, de repente, não dá para enxergar quase nada porque tudo em volta está no meio de uma grande nuvem branca. Um sinal de paz. E logo em seguida explode o lado de lá, com outro mar de bandeiras tremulando e centenas de rolos de papel higiênico desfraldadas.

É um oceano de barulho, mas dá para ouvir direitinho o que se canta lá e cá. Aquela aflição no peito bate com força total feito a pancada nos bumbos logo acima na arquibancada.

Aparece o nosso escudo no placar de lâmpadas e gritamos como se fosse um gol. Quando é a vez do escudo deles, aí berram com toda força. É uma festa fascinante, pra arrombar a retina de quem vê, como na letra imortal de Chico Buarque.

Cinco da tarde. Eu tenho onze anos de idade. Meu pai me segura pela mão na velha arquibancada de concreto cinza, onde quase não podemos nos mexer. Estou coberto de pó de arroz. Daqui a pouco eu vou ganhar um cachorro quente e uma coca-cola. Vai ser dada a saída.

Por uma hora e meia, sou o garoto mais feliz do mundo: estou no maior estádio do mundo, em meio a uma multidão, vendo o melhor futebol do mundo. No placar do Maracanã, aparece o nome do craque do meu time, ele tem a camisa 5. Vai enfrentar uma barra pesada: o 2, outro 5, o 7, o 8, o 9, o 10. Enfim, um grande clássico.

Parece que foi ontem, mas faz muito tempo. Há muito tempo eu não tenho a mão do meu pai para apertar, nem me junto a cem mil pessoas que sequer cabem onde, um dia, esteve o maior estádio do mundo.

Onde estão os craques?

Bandeirão, não pode. Fumaça, não pode.

Não há mais o velho placar de lâmpadas, nem milhares de pessoas humildes, às vezes desdentadas, que sorriam feito crianças ao ver algum nome escrito com as luzes.

Não há nem os garotos juvenis para se apinhar nos túneis da felicidade.

Vida que segue, diria o mestre João Saldanha, ao menos presente de espírito, mas para sempre.

@pauloandel

O HISTÓRICO SUPER SUPERCAMPEONATO CARIOCA DE 1958

por Victor Kingma


Em 1958 o futebol brasileiro vivia uma fase de euforia, pois a seleção tinha conquistado pela primeira vez o tão sonhado campeonato mundial, na Suécia.

Os campeonatos regionais, principalmente do Rio e São Paulo, onde atuavam todos os jogadores da inédita conquista, nunca estiveram tão empolgantes. Os torcedores lotavam os estádios para ver os heróis da seleção, além de outros craques consagrados.

O campeonato carioca da daquele ano, então, talvez tenha sido o mais emocionante de todos os tempos.

Disputado em dois turnos o regulamento previa que o campeão seria aquele com maior número de pontos conquistados.  Se dois times terminassem empatados na pontuação a decisão aconteceria numa “melhor de três”.

Caso três equipes terminassem com a mesma pontuação, seria disputado um triangular entre eles para definir o campeão, mini-torneio chamado de  Supercampeonato. 

O Vasco, dos campeões mundiais Bellini, Orlando e Vavá, liderou quase todo o certame e faltando duas rodadas para o fim bastava um empate nos jogos contra Flamengo e Botafogo para se tornar o campeão daquele ano.   

Mas isso não aconteceu. Perdeu de 2 x 0 para o Flamengo de Moacir, Joel e Dida, que estiveram com a seleção na Suécia, e de 2 x 1 para o Botafogo, dos consagrados craques e titulares na Copa, Nilton Santos, Didi, Garrinchae Zagallo, que havia sido comprado do Flamengo.

O campeonato terminou com os três empatados, com campanhas idênticas: 14 vitórias, 4 empates e 4 derrotas. E a decisão foi para o triangular decisivo, o Supercampeonato. 

Na primeira partida o Vasco venceu o Flamengo por 2 x 0, gols de Pinga e Almir. 


Na partida seguinte, entre Flamengo e Botafogo, vitória rubro-negra por 2 x 1. Dida e Luis Carlos marcaram para o Flamengo e Paulinho Valentim para o Botafogo. 

E veio a última partida entre Vasco e Botafogo.  Mais uma  vez o empate daria o título  para os  cruzmaltinos. Mas o Botafogo ganhou de 1 x 0, com novo gol de Paulinho Valentim. Tudo igual de novo entre os três.

Foi necessário, então, um novo triangular para definir o campeão, o Super Super, como a imprensa esportiva começou a chamar aquele histórico campeonato.

Na primeira partida, o Vasco derrotou o Botafogo por 2 x 1, com dois de Pinga contra um de Quarentinha, o artilheiro do torneio com 20 gols. 

Na segunda rodada  Botafogo x Flamengo  empataram de 2 x 2, gols de Quarentinha para os alvinegros e Dida e Luis Carlos para o Flamengo. Resultado que eliminou o time botafoguense do técnico João Saldanha.

E a decisão ficou para a última partida entre  Vasco x Flamengo. Quem vencesse seria o campeão. O empate, mais uma vez, daria o título ao Vasco.

E no dia 17 de janeiro de 1959, os times entraram em campo no Maracanã para a grande decisão assim escalados:


Vasco:  Miguel, Paulinho, Bellini, Orlando e Coronel; Écio e Valdemar; Sabará, Almir, Roberto Pinto e Pinga.
Técnico: Gradim.

Flamengo: Fernando, Joubert, Pavão, Jadir e Jordan; Dequinha e Moacir; Luís Carlos, Henrique, Dida e Babá.
Técnico: Fleitas Solich.

Diante de um publico de 140.000 torcedores e com arbitragem do árbitro Eunápio de Queiróz  a partida foi emocionante. 

Depois de um primeiro tempo muito estudado, o meiaRoberto Pinto, sobrinho do lendário Jair da Rosa Pinto,abriu o placar para o Vasco, aos 13 minutos.  Os rubro-negros reclamaram impedimento, mas o quarto zagueiro Jadir  dava condições de jogo ao vascaíno. 

O Flamengo partiu para o ataque e aos 24 minutos o ponta esquerda Babá, pegou um rebote da defesa e empatou a partida.  

O final do jogo foi dramático. O time rubro-negro pressionou muito, mas dessa vez os vascaínos espantaram o fantasma do empate e souberam segurar o resultado que lhes garantiu o histórico título de Super Supercampeão carioca de 1958.