PELÉ SEM COMPARAÇÃO
por Rubens Lemos
Começando pelos compatriotas: Friendenreich, Leônidas da Silva, Zizinho, Jair Rosa Pinto, Zico menos por vontade de Zico do que da mídia. Todos comparados a Pelé. Nenhum sequer 30% dono do futebol do Crioulo.
No Brasil, inferior complexidade, Pelé sempre foi cobrado mais pelo que seu corpo humano Edson Arantes fazia do que o extraterrestre maravilhoso produziu. O Brasil tem inveja de Pelé.
Contam os antigões que, Leônidas da Silva, o brilhante propagador da bicicleta, o salto corporal ao infinito para o chute poderoso sem defesa para os goleiros, foi o mais incomodado entre os craques depois da chegada de Pelé.
Pelé mundialmente famoso a partir de 1957, aos 16 anos marcando um gol contra a Argentina em Maracanã diante de 60 mil pessoas no Martacanã, ele um menino atrevido e sem dar a menor peteca às tremedeiras juvenis.
Chegava a entidade capaz de chutar, cabecear, driblar, lançar, bater falta, pênalti, escanteio, ser mau quando preciso, desde que uma bola foi usada sabe-se lá onde. Pelé veio para ser primeiro e incomparável. Ninguém, enquanto existir espécie humana sobre a terra, será, sequer, assemelhado a ele.
Seguiram os invejosos. Na Argentina, Di Stéfano era tão bom ou superior ao neguinho estupendo. Maradona por palavras próprias, era melhor do que Pelé, neurose de milhões de portenhos que jamais admitirão um brasileiro no topo da lista e a anos-luz à frente do segundo colocado, outro brasileiro, Mané Garrincha.
Pelé quatro vezes campeão mundial aos 23 anos, duas pela seleção brasileira, duas pelo Santos. Nenhum dos seus concorrentes forçados chegou perto. Pelé campeão de três das quatro Copas disputadas.
Maradona disputou quatro, ganhou uma, em 1986, esplendoroso. Mas saiu em 1994 pela antessala da eternidade, dopado até a medula apenas no começo da derrocada que lhe tirou a vida. E Maradona foi ilusionista.
Chegando à Europa, ousaram comparar Pelé com o magnífico português Eusébio, destaque na Copa do Mundo de 1966, aquela em que o Brasil convocou 44 jogadores e não conseguiu formar um time.
Eusébio acabou com o Brasil na partida(Portugal 3×1), em que os zagueiros patrícios esfolavam todas as dobradiças do Rei. Do único e irrevogável Rei.
Dois meses depois do Mundial, em um torneio nos Estados Unidos, Pelé pelo Santos e Eusébio pelo Benfica se encontraram. Cara a cara. De testa. E Pelé usou sua filarmônica de jogadas de efeito e gols humilhantes, sem precisar provar nada, apenas mandando os chatos para a PQP. Santos 4×0.
Antes, Pelé havia triturado Eusébio em 1962, em Lisboa, na decisão do Mundial Interclubes, Santos 6×2 Benfica, provavelmente a melhor partida entre clubes da história.
Depois o múltiplo holandês Cruijff na Holanda de 1974. Supercraque. Líder de um carrossel em que ninguém tinha posição. Mas Cruijjff para chegar a Pelé seria preciso um tiro de canhão acertar uma formiga. Pelé aguentando, suportando, ouvindo e rindo.
De todos os pretensos, Maradona foi o mais insistente. Maradona era equivalente a Roberto Rivelino, ele, padroeiro das contradições, dizia e repetia: imitava Rivelino em seu bairro pobre da Villa Fiorito, território da aristocracia boleira de Dieguito. Ele copiava Rivelino porque, a exemplo de todos os milhões de seres humanos, nunca repetiria os toques e traços de Pelé.
Messi, gênio, devidamente integrado aos cobras dos séculos, ganhou, com Justiça, sua sétima Bola de Ouro de melhor jogador do mundo. Messi é melhor do mundo e não haveria necessidade de concurso.
Semana passada, o critiquei pela violência e arrogância contra os brasileiros pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, mas sou macaquito(assim os argentinos chamam os brasileiros) de auditório da Pulga e tenho textos suficientes para um livro sobre ele.
Pena que a blogosfera estampa: Messi se iguala a Pelé. Pecado capital. Pelé não entrava na disputa porque seria referendo, mas experts, sabe com base em quais quesitos, o colocaram em primeiro em 1958/59/60/61/63/65 e em 1970, ano em que, sozinho, teria jogado a Copa do Tri.
Messi não chega nem perto de Pelé, o que não lhe ofusca o brilho. Ele nasceu, como todos os outros, em chão terreno. Pelé é da galáxia espiral da Via Láctea. E ponto final.
RETROSPECTIVA DO FUTEBOL EM 2021
por André Luiz Pereira Nunes
Chegamos a mais um final de ano com a melhor sensação possível de estarmos vivos apesar de todas as dificuldades envolvendo a pandemia da Covid 19, governo negacionista, alta da gasolina, centrão no Congresso, crise hídrica, PEC 32, desemprego e inflação nas alturas.
No que tange ao futebol, o Brasil, mesmo sem apresentar bom padrão de jogo, se classificou facilmente para a Copa do Mundo. O país também predominou na Copa Libertadores, protagonizando uma decisão tupiniquim, na qual o Palmeiras bateu o Flamengo, tal qual Davi a Golias.
O Atlético Mineiro voltou a figurar no rol dos vencedores. Entretanto, Vasco e Cruzeiro parecem viver suas piores fases. Já o Botafogo, por seu turno, fez valer seu poderio, conquistando com méritos o acesso à elite do futebol brasileiro.
A Seleção Brasileira continua a não dar a menor esperança de sucesso para a Copa do Mundo do Qatar. Curiosamente, a Itália, a vencedora da Eurocopa, caiu para a repescagem e pode mais uma vez ficar de fora, pois pegará Portugal e Turquia e só uma se classifica. Pelo menos teremos a Holanda. É sempre bom contarmos com a presença da Laranja Mecânica em um mundial.
O America, pobre America, continua sua triste sina no limbo em formato de espiral que representa a segunda divisão do Rio de Janeiro. Sua gestão amadorista, repleta de erros, precisa ser modernizada com urgência. No futebol moderno não é cabível um time contar com elenco inchado, jogadores velhos e falta de preparo físico. Pelo menos, o Olaria conquistou a terceirona ao bater o time dos refugiados que não tem nenhum refugiado.
O futebol, em 2021, não trouxe muitas surpresas. Não surgiu nenhum novo Neymar, tampouco um Ronaldo Fenômeno. Por ora, teremos que contar com os mesmos pernas de pau de cabelos descoloridos que abundam no futebol brasileiro. E lambam os beiços!
VIA DOLOROSA DE UM REI
por Marcos Vinicius Cabral
Reinaldo se descobriu. E isso ocorreu, quando ainda menino, aos 15 anos, participou de um treino no Atlético Mineiro.
Naquele dia, jogando no ataque reserva contra a defesa titular que havia acabado de conquistar o Brasileirão poucos meses antes, em 1971, José Reinaldo de Lima, nascido na pequena Ponte Nova, município brasileiro do estado de Minas Gerais e localizado na Zona da Mata Mineira, se despia de sonhos de uma infância difícil e se tornava jogador de futebol.
Na ocasião, foi um dos melhores em campo naquele dia e nascia ali, um jogador que seria apelidado com as três primeiras letras do próprio nome: REInaldo!
Meses depois estreava no time contra o Valério, time fundado em 1942 por funcionários da empresa estatal Companhia Vale do Rio Doce. Derrota por 2 a 1.
Era 1974, quando em uma partida contra o Ceará, ao pisar despretensiosamente em um buraco, torceu o joelho.
E de lá para cá, começou a via crucis do ídolo atleticano que, assim como Jesus, caminhou na Via Dolorosa, rua na cidade velha de Jerusalém, até a crucificação na Colina de Gólgota.
Mas para o camisa 9 atleticano, o negócio piorou quando teve que extrair ambos os meniscos depois de uma entrada de um zagueiro do próprio time em um treinamento.
O Rei nunca mais foi o mesmo.
Diferentemente de Jesus, que ressuscitou no terceiro dia, os joelhos de REInaldo morriam em definitivo para o futebol.
Mas mesmo mortos, conquistou seu primeiro título ao ganhar de forma invicta o Campeonato Mineiro de 1976 e, dois anos depois, daria início ao hexacampeonato entre 1978 a 1983. Jogou a Copa do Mundo de 1978 e por pouco não fez parte daquele belíssimo time de 82 que encantou o mundo.
Não bastassem, no Campeonato Brasileiro de 1977, estufou por 28 vezes as redes adversárias e tornou-se o artilheiro com melhor média de gols em uma única edição da competição. Anos depois – duas décadas para ser mais exato – foi superado por Edmundo no Vasco. Mas Dimba no Goiás e Washington no Athletico Paranaense, ousaram tirar-lhe o reinado, mas quem é REInaldo nunca perde a majestade.
Entretanto, se REInaldo não teve a oportunidade de conquistar o título nacional que Hulk conquistou quarta-feira (1°), na Arena Fonte Nova, na vitória de virada sobre o Bahia por 3 a 2, azar do Campeonato Brasileiro, ora bolas!
Mas REInaldo aprontou das suas, mesmo não estando em condições físicas ideais. O Flamengo e os seus 154.355 mil torcedores que o digam, na final do Brasileiro de 1980.
E qual a simbiose dele com o torcedor? A simplicidade de quem não foi simples, a humildade de quem não passou despercebido e a grandeza de quem carrega tantas qualidades no grande jogador que foi. Isso, sem falar o rei no nome.
Mas o Rei chorou. E o choro, captado pelas lentes aguçadas de fotojornalistas que trabalharam na partida em que o Atlético Mineiro venceu o Fluminense por 2 a 1 no Mineirão, no domingo (28), em partida válida pela 36ª rodada, mostra que as lágrimas são de quem sente no coração e percebe na alma que ser atleticano não é tarefa fácil para qualquer um.
E sendo mortal ou partindo de REInaldo… há de se perdoar qualquer coisa!
O ÍDOLO CASTILHO
pod Elso Venâncio
Segundo Evaristo de Macedo, “fazer gol nele era quase impossível.”
Carlos José Castilho é considerado o maior ídolo da história do Fluminense e tem um busto em sua homenagem, na entrada das Laranjeiras. São Castilho, como era carinhosamente chamado pela torcida, foi quem mais defendeu a camisa tricolor. Entrou em campo em 698 jogos, durante 20 anos. Isso mesmo, de 1946 a 1965. Além deste número impressionante, em 255 partidas não levou um gol sequer.
Lembro do craque Evaristo de Macedo me falando da sua estreia, pelo Madureira, no Maracanã. De um lado, ele, Evaristo, atacante que faria sucesso no Flamengo, no Barcelona e no Real Madrid. Do outro, Castilho. “Era quase impossível fazer gol nele. Eu fiz e nem consegui dormir.”
Humilde, Castilho dizia ter uma inacreditável sorte. As traves e o travessão eram três fortes aliados, mas a verdade é que ele se garantia. Defendia pênaltis como nenhum outro goleiro da sua época.
Conheço vários tricolores que torcem pelo clube em razão do ídolo. No Carioca de 1964, fui pela primeira vez ao Maracanã. O Fluminense venceu o América por 3 a 0, dois de Amoroso e um de Gilson Nunes. Vi Castilho jogar. Era a grande atração. Sua presença era marcante, até pelas mãos enormes. Eis o time que entrou em campo naquela ocasião:
Castilho, Carlos Alberto Torres, Valdez, Procópio e Altair; Denilson e Oldair; Jorginho, Amoroso, Joaquinzinho e Gilson Nunes. Naquele ano, o Fluminense, após jejum de meia década, decidiu a final com o Bangu e conquistou, merecidamente, o Campeonato Carioca.
O goleiro esteve presente em quatro Copas do Mundo: 1950, 1954, 1958 e 1962. Foi titular na segunda delas. É detentor também de três títulos cariocas – 1951, 1959 e 1964 – e faturou dois Torneios Rio-São Paulo: o primeiro em 1957 e o último em 1960.
“Suar a camisa, derramar lágrimas pelo Fluminense, muitos fizeram. Sacrificar um pedaço do próprio corpo por amor ao Tricolor, somente um: Castilho” – eis a frase que sintetiza o ídolo; dizeres que vêm logo abaixo do busto de Castilho na sede oficial do Fluminense.
Em 1957 uma contusão o tiraria de uma sequência de jogos importantes. Foi a quinta contusão seguida no dedo mindinho da mão esquerda. O goleiro não pensou muito. Para não ficar fora das finais, demonstrando inigualável amor ao clube, optou por amputar parte do dedo. Livre das dores, ficou apto a defender (literalmente) o clube do coração. Foi um ato heroico, sem sombra de dúvidas. Em 15 dias, retornou aos gramados.
Admito que cada torcedor, dependendo de sua época ou da sua idade, tem a sua preferência. Pesam também as conquistas. A cada grande título, surge um destaque que passa a ser idolatrado. O Fluminense, por exemplo, teve vários. Difícil até citar: Marcos Carneiro de Mendonça, primeiro goleiro da seleção brasileira. Tim, Telê Santana, Pinheiro, Didi, Samarone. Paulo César Caju, Rivellino, Romerito, Assis, Washington. Roger, Romário, Conca e Fred, entre outros.
Mas… e você, torcedor? Quem foi ou é o seu grande ídolo no futebol?
FUTEBOL DECADENTE
::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::
Os campeonatos estão chegando ao fim e Hulk, certamente, será eleito o jogador do ano. O Galo, por sinal está repleto de super-heróis, porque também tem o Homem-Arana e o Capitão América Réver, por conta da conquista da Libertadores da América. E ainda teve o Dadá Peito de Aço entregando a taça! A criatividade do torcedor é e sempre será o ponto alto da festa. Bom demais ver os estádios cheios e, agora, é torcer para que essa nova variante não seja devastadora e nos deixe seguir em paz porque para encarar a Covid e suas variantes só incorporando algum super-herói mesmo.
Mas, sobre o Hulk ele acaba sendo um personagem interessante porque simboliza o futebol-força, saiu cedo do Brasil, não tinha identificação com o torcedor brasileiro e transformou o seu pesadelo pessoal, do 7×1 contra a Alemanha, em um belo título, no mesmo Mineirão da tragédia. Agora, cogita-se a volta de Hulk à seleção. Esse exagero é que me irrita. Aquela turma do 7×1 deve ser esquecida. Nas partidas do Corinthians tem sido comum um cartaz exigindo o afastamento dos veteranos. Claro que os jogadores acima dos 35 devem seguir jogando só que eles não podem ser encarados como os salvadores da pátria porque estão aí para curtir uma aposentadoria milionária.
David Luiz voltou e se já havia chorado no 7×1 voltou a derramar lágrimas em território brasileiro. Estão tirando onda conosco. Os técnicos portugueses viraram os astros e Jorge Jesus, que não ganha nada lá fora, já já desembarca na Gávea dando as cartas. Mas aí o Vasco vai e traz o Zé Ricardo. Nada contra ele, mas são treinadores que ficam pulando de galho em galho sem nunca terem surpreendido. Por isso, não quero estragar a festa de ninguém, mas acho que Hulk ter sido o craque do campeonato só aumenta a minha certeza que o nosso futebol precisa ser revisto, virado do avesso, ou continuaremos lustrando as chuteiras de quem já deveria estar aposentado.
A turma do dez a um (7 da Alemanha e 3 da Holanda) caprichou nesse fim de semana: “O time joga com uma linha de cinco, com três zagueiros espetados fazendo a ligação direta para os alas correrem pela beirinha do campo”. Pensa que acabou? “Assistência para o atacante agudo chapar na cara da bola viva e estufar a bochecha da rede”. Só rindo mesmo!