OBRIGADO, DIRETORIA DO FLAMENGO
por Zé Roberto Padilha
Em nome de todos os tricolores, gostaria de agradecer aos sábios e ilustres diretores de futebol do Flamengo por ter vendido, e nos livrado, do seu melhor jogador.
Seria muito complicado ter nas semifinais o “Luiz Henrique deles” jogando contra nós.
Sabe aquela jogada cada vez mais rara no futebol, aquele drible que chega à linha de fundo e puxa a bola com um pé, ameaça cruzar e sai para o outro, se bobear, dá mais uma entortada no zagueiro…
Que eu me lembre, excetuando essas duas feras acima mencionadas, apenas o Soteldo realizava essa jogada no Santos. E ela é mortal, objetiva e desmoralizante.
Espero, sinceramente, que o valor da transação tenha sido bem alto. À altura das dores de cabeça que vocês terão para encontrar um outro Michael.
Como vendem um jogador no melhor momento de sua carreira para pagar a maior e mais vultosa Comissão Técnica, portuguesa com certeza, já contratada no país?
Falar nisso, quem foi mesmo o sabido que bateu o martelo? Gostaria de agradecer pessoalmente. Lhe conceder minhas sinceras “saudações tricolores”.
MÁ GESTÃO
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::
Logo após o golaço de Luiz Henrique chega a notícia sobre sua venda por R$ 72 milhões para o Betis, da Espanha. É uma pena para os torcedores, mas é a solução que os dirigentes tem encontrado para seguir adiante.
Há anos, grande parte dos clubes brasileiros sofre com dívidas estratosféricas, algumas impagáveis, mas basta chegar a época das eleições para começarem brigas entre vários grupos políticos dispostos a assumirem um negócio falido. Alguém consegue me explicar?
O futebol é um esporte assistido por milhões de pessoas e é inadmissível que os executivos desse esporte, o mais popular do mundo, ainda não tenham se unido para transformá-lo em algo lucrativo. As federações, confederações e emissoras de tevê também deveriam estar nessa mesa. Não dá para as revelações irem embora tão cedo e os clubes seguirem arcando com salários altíssimos de veteranos e de quem já deu o que tinha para dar.
Dá para os estádios lotarem como na partida entre Flamengo x Bangu. Todos gostam de ver uma festa bonita. E hoje é fácil encher os estádios porque eles diminuíram, como o futebol vem se apequenando ao longo dos anos. Já falei repetidas vezes que uma boa estratégia de marketing contribuirá para todos, como ocorre, por exemplo, com NBA, Super Bowl e a Premier League.
Hoje, apenas os empresários enchem os bolsos de dinheiro. O torcedor ama futebol e basta o time ganhar uma, duas partidas e ele está lá prestigiando. Mas, hoje, acham que essa SAF é a solução. A solução sempre existiu, unir forças para criar um produto atrativo, mas cada dirigente prefere olhar para o seu próprio umbigo e deu no que deu.
Pérolas da semana:
1) A bola viajou em direção à área adversária para encontrar o atacante centralizado, que tem poder de fogo e corre por dentro para chapar a bola contra o time permissivo.
2) O time não tem a maturação do adversário e cede a bola propositalmente para jogar por uma bola.
SÓ O TITE NÃO VIU
por Zé Roberto Padilha
O treinador da Seleção Brasileira foi assistir aos últimos jogos do Fluminense. E só ele, e sua obsessão por quem atua fora do nosso país, não foi capaz de reconhecer as duas novas pérolas do nosso futebol: Calegari e Luiz Henrique.
Até o Matinelli ele preferiu convocar o similar importado.
Atuando do lado direito, onde nossa seleção tem encontrado sérias dificuldades desde que Cafu se aposentou e Mané Garrincha nos deixou, Calegari e Luiz Henrique tem nos oferecido momentos raros de criação e inspiração.
Um entrosamento que trazem desde as divisões de base. Desde Xerém. Não é todo dia que surgem dois grandes craques assim em nosso futebol.
Um lado direito tão ruim, o da nossa seleção, que Fagner foi titular das últimas Copas do Mundo e Daniel Alves, próximo do seu jogo de despedida, foi convocado para sua milésima participação.
Nem ele aguenta mais apoiar, muito menos Thiago Silva e Marquinhos cobrirem o buraco que ele deixa escancarado às suas costas.
Para nós, que jogamos futebol, a convocação para a seleção brasileira representa um prêmio, um reconhecimento a uma fase esplendorosa da nossa carreira.
Sabe aquele choro do Pelé, saindo do Santos novinho, convocado para defender a seleção do seu país na Suécia? Mais ou menos o que estão sentindo os civis ucranianos, saindo às ruas para defender a sua pátria.
Só que as guerras no futebol são pacíficas, armas de chuteiras, balas de uma bola sintética, que já foi de couro e que não querem destruir ninguém, apenas acertar o gol e impor o talento e a vocação proprios de uma nação.
Calegari e Luiz Henrique mereciam estar na lista, mas não foram jogadores do Corinthians aos quais Tite deve eterna gratidão. Tantas tem demonstrado, que escalou contra a Bélgica, na última Copa do Mundo, Fagner, Paulinho e Renato Augusto.
A Bélgica nos eliminou por 2×1. E ele continuou no cargo a distribuir gratidão, não ao seu país, à sua profissão. Mas aos seus interesses particulares, sensíveis aos assédios dos empresários que rondam à CBF, somados às palestras e preleções de auto-ajuda quem nem o Paulo Coelho aguenta mais.
Fora, Tite !
O CRAQUE DO BRASIL EM 2011
por Luis Filipe Chateaubriand
Em 2011, ele era um menino.
O Menino Ney!
Mas Neymar, com a bola nos pés, já era um monstro.
Dribles para a direita.
Dribles para a esquerda.
Giros de corpo.
Balões.
Ovinhos.
Lambretas.
Um repertório vasto de jogadas capaz de deixar qualquer marcador maluco.
E, adicionado a isso, lançamentos e, óbvio, gols.
Foi assim que Neymar se tornou campeão e melhor jogador da Copa Libertadores da América de 2011 e, consequentemente, o melhor jogador do ano não só no Brasil, mas nas Américas.
Êta moleque bom de bola!
ESFIHA ALVINEGRA, ALEGRIA DO POVO
por Paulo-Roberto Andel
A SAARA – Sociedade dos Amigos das Adjacências da Rua da Alfândega – é o maior núcleo popular de comércio do Rio de Janeiro, bem no centro da cidade, e é ainda marcada por forte influência dos tradicionais comerciantes árabes, hoje dividindo espaço com os chineses e congêneres. Um de seus pontos comerciais mais queridos é a Padaria Bassil, fundada em 1913 e sempre lotada por clientes ávidos por lives, esfihas, pães e pastas – para muita gente, a esfiha da casa, feita no forno à lenha, é a melhor do Rio, brigando com a maravilhosa Rotisseria Sírio-Libaneza (no Largo do Machado), o imperdível Restaurante Baalbek (de Copacabana) e o El Gebal (no Centro). Aliás, o debate sobre a melhor esfiha do Rio suscita discussões acaloradas, mexe com paixões como se fosse um clássico no Maracanã e convoca os melhores esfihólogos cariocas, mas uma coisa é certa: as quatro são gostosíssimas. Em suma, a Bassil é uma padaria literalmente: há um balcão só, nenhum assento e os clientes se engalfinham em busca de grandes iguarias árabes, ora comendo ali mesmo, ora levando para casa.
Suculências à parte, o que será que a Padaria Bassil tem a ver com a história do nosso futebol? Há um capítulo divertido e marcante que completa 60 anos neste 2022.
Nas décadas de 1950 e 1960, os jogadores de futebol, embora já muito famosos, faziam parte da rotina cotidiana das ruas, longe do modelo superstar atual. Eram gente do povo, das ruas. E quem vivia traçando saborosos lanches árabes em pleno centro da cidade era Garrincha, gênio dos gênios do futebol brasileiro, antes e depois de se tornar campeão do mundo – e fã declarado da Padaria Bassil, assim como diversos outros jogadores do futebol carioca. No ano de 1962, a Padaria estava precisando de algumas reformas e dar uma melhorada no visual. Para ajudar na obra, Garrincha teve uma ideia: apostar com seu amigo Jordan, vigoroso lateral do Flamengo e considerado por muita gente como seu melhor marcador, na decisão do Campeonato Carioca daquele ano. O perdedor da final arcaria com as despesas do retrofit da padaria, fazendo prevalecer as cores do time campeão.
O desfecho da aposta é conhecido: Garrincha deitou e rolou, o Botafogo não tomou conhecimento do Flamengo, disparou 3 a 0 em 15 de dezembro de 1962 – diante de quase 160.000 torcedores – e garantiu o título para General Severiano numa final apoteótica. A Jordan, coube apenas a resignação e o financiamento da obra da Padaria, conforme combinado na aposta, fazendo uma grande parede de azulejos quadriculados em preto e branco, que se tornaram a marca definitiva do lugar a partir de 1963. Hoje, a Padaria Bassil tem a decoração alvinegra em todas as paredes.
Seis décadas depois, a casa de iguarias árabes mantém o sucesso centenário. Reformada e celebrada pelos clientes, atravessou até os tempos brabos que o Rio tem encarado, especialmente o centro da cidade – com enorme esvaziamento, fechamento do comércio e desemprego. Diariamente dezenas e dezenas de clientes continuam a busca por esfihas, quibes, pães e pastas. Belas e discretas, as paredes alvinegras do estabelecimento estampam um verdadeiro tributo aos melhores momentos do grande Campeonato Carioca, bem como a um dos maiores jogadores de todos os tempos – o inesquecível e fabuloso Garrincha, a Alegria do Povo. A Bassil merece um documentário por essa divertida – e deliciosa – história na decisão de 1962, quando o Rio era mais Rio e o nosso futebol rugia para o mundo.
@pauloandel