O FLA-FLU DO LEANDRO FOI O DA REDENÇÃO
Leandro é considerado, ao lado de Djalma Santos e Carlos Alberto Torres, um dos maiores laterais do futebol brasileiro de todos os tempos. Nesta quinta-feira (17) o eterno camisa 2 rubro-negro faz aniversário e o jornalista Marcos Vinicius Cabral, o mesmo que, nas peladas de rua, quando moleque, lá na longínqua década de 1980, no Barreto, em Niterói, imitava o Leandro, enquanto todos os outros meninos personificavam o Zico. Fã de carteirinha do craque que vestiu apenas o Manto Rubro-Negro em toda carreira, o autor da série Vozes da Bola, coletânea que homenageia craques do passado, escreveu sobre o jogo mais emocionante que o ídolo disputou, até se aposentar em 1990. Jogo este que é até hoje lembrado por rubro-negros e tricolores: o Fla-Flu, ou melhor, o Fla-Flu do Leandro!
por Marcos Vinicius Cabral
Leandro já havia passado por muitas coisas, até chegar o ano de 1985. Uma delas era a sua autoafirmação na posição de beque central do Flamengo (a escolha do número 3 foi obra do destino e também para homenagear o amigo Figueiredo, zagueiro que morrera em um acidente aéreo com o monomotor prefixo PT-NJS 193, que espatifou-se contra uma das partes dos 2.237 metros de altura do Pico da Caledônia, na Região Serrana de Nova Friburgo, em 1984), pois, com as articulações dos joelhos desgastadas pelo vai e vem que a lateral-direita lhe exigia, mudar àquela altura, era arriscado.
A outra, era conviver com dores e tratamentos específicos para continuar jogando em alto nível, já que lhe era cobrado – não só pelos torcedores, mas também pela imprensa esportiva, treinadores e dirigentes rubro-negros – um futebol à altura da habilidade daquele menino de cabelos escorridos e olhos verdes, que deixou o futebol de salão do Tamoyo Esporte Clube, em Cabo Frio, Região dos Lagos, para jogar na lateral-esquerda do Santos, time amador de São Pedro da Aldeia, antes de mostrar grande repertório técnico e ser aprovado por Américo Faria, ex-coordenador da Seleção Brasileira, nos treinos no Campo da Base de Fuzileiros Navais da Ilha do Governador, Zona Norte do Rio.
“Em 1976, eu era treinador do juvenil do Flamengo e realizávamos treinos de experiência toda às segundas-feiras. De tantos garotos, dois foram aprovados com sobras e encaminhados à Gávea”, relembrou em conversa com o Museu da Pelada pelo telefone.
Cabeça de área dos bons, um foi Vítor Luís Pereira da Silva, nascido do dia 4 de novembro do ano de 1952 em Governador Portela, no interior de Miguel Pereira, sendo até hoje um dos poucos jogadores que defendeu os quatro grandes clubes do Rio de Janeiro – sagrou-se campeão em cada um deles. No Flamengo, jogou 136 vezes. Fez gols decisivos, como o da virada por 3 a 2 na semifinal do Campeonato Brasileiro de 1982, contra o Internacional, no Beira-Rio, e no Brasileiro do ano seguinte contra o Athletico-PR, na vitória por 3 a 0, no Maracanã, além, é claro, de ter conquistado os maiores títulos da história do clube, como a Libertadores e o Mundial, ambos em 1981.
“Eu e o Leandro chegamos juntos no Flamengo e, por obra do destino, acabamos caindo no mesmo time nos treinos. O nosso treinador, o professor Américo Faria, viu qualidades no nosso futebol e nos aprovou de imediato. Havia a dúvida se o Leandro era direito ou esquerdo, devido a facilidade com que jogava com as duas pernas. Leandro foi um senhor jogador de futebol e, não à toa, virou esse monstro da posição”, revelou Vítor ao relembrar que, ao lado do camisa 2, disputou três finais consecutivas do Carioca de Juniores contra o Botafogo, perdendo as de 77 e 78 e vencendo em 79, antes de subirem para os profissionais.
O outro, José Leandro de Souza Ferreira, tornaria-se um dos maiores laterais do futebol brasileiro, eternizado no coração e mente dos flamenguistas como simplesmente Leandro, que vestiu apenas uma camisa em 12 anos como jogador profissional: a rubro-negra.
E com ela, em 415 partidas disputadas, entre vitórias, empates e derrotas, uma em especial, até hoje, passados 36 anos completados em dezembro do ano passado, é lembrada por todos: o Fla-Flu do Leandro! Inclusive para o craque ambidestro, que considera aquele jogo o mais emocionante de todos os que jogou na carreira.
Mas, naquele Campeonato Carioca de 1985, disputado por 12 clubes em turno e returno, Vítor, seu companheiro das categorias de base, camisa 5, era titular do meio-campo do Vasco, que não se classificou para disputar o triangular, enquanto o número 3 pertencia a Leandro, zagueiro do Flamengo, que desejava o mesmo que o Bangu: impedir o tricampeonato do Fluminense.
Todavia, enfrentar a equipe que teve Preguinho (1905-1979), meio-campista e autor do primeiro gol do Brasil em uma Copa do Mundo, a de 1930, disputada no Uruguai, trazia à memória momentos inesquecíveis na infância na cidade onde deu seu primeiro choro em vida, a paradisíaca Cabo Frio.
Infância, Preguinho, Copa do Mundo, futebol amador, Fluminense… tudo girava no hipocampo do craque, a ponto de deixá-lo com os nervos à flor da pele quando ouvia “Fluminense”.
Este mesmo Fluminense, que na decisão do Carioca de 1969, vencia o Flamengo por 2 a 1, e fez o pequeno Leandro, então com dez anos, mentir para o pai Evilásio, com quem ouvia o jogo deitado na cama, ao dizer que iria ao banheiro fazer xixi. Na verdade, foi para a sala, rezar para que os santos ajudassem o Flamengo a empatar o jogo e eliminar a tristeza do pai. Resultado: o Flamengo empatou com Dionísio, mas tomou o terceiro e fatídico gol da derrota pelos pés de Flávio Minuano.
Se para Leandro, vencer o Fluminense era uma maneira de ver estampada no rosto do pai a alegria que faltou em 1969, para o Flamengo não restava outra coisa para se redimir dos dois outros triangulares infelizes que deram o bicampeonato ao Tricolor em 83 e 84 – gols do carrasco Assis (1952-2014).
“A gente sabia que o nosso time era inferior, pois o Fluminense tinha jogadores excepcionais como o goleiro Paulo Vitcor, Ricardo Gomes, Branco, Jandir, Romerito, Deley, Assis, Washington, Tato, e além disso, vinha de um bicampeonato, já que jogavam juntos há pelo menos três anos”, recordou Leandro.
Mas, se o entrosamento era arma importante do Tricolor, a sensação era o forte time do Bangu, alçado a uma das grandes forças do futebol brasileiro da época, comandada pelo técnico Moisés (1948-2008), que tinha Marinho (1957-2020) como principal estrela e era turbinado pelo dinheiro do patrono e mecenas Castor de Andrade (1926-1997).
Naquele ano de 85, Fluminense (campeão da Taça Guanabara), Flamengo (vencedor da Taça Rio) e Bangu (que somou mais pontos no campeonato todo) decidiriam entre si para ver quem seria o melhor time de futebol do Estado do Rio de Janeiro.
Flamengo e Fluminense entraram em campo para quase 96 mil pagantes presentes na noite de quarta-feira, 11 de dezembro. Na moeda jogada para o alto pelo árbitro Luís Carlos Félix no cara e coroa, vitória de Vica, capitão tricolor, que escolheu o campo e Leandro ficou com a saída de bola. Partida disputada pau a pau, Romerito é derrubado por Andrade na lateral do lado direito. Branco levanta na área e Washington sobe mais que a zaga do Flamengo e abre o marcador: 1 a 0 para o Fluminense, aos 38 minutos do primeiro tempo.
No segundo tempo, nervoso, Adalberto recebe entrada forte de Leomir e, mesmo caído, revida com um chute no camisa 4 do Fluminense. Confusão formada, os dois jogadores foram mandados mais cedo para o chuveiro.
Jogo aberto. De um lado, o Fluminense, muito superior tecnicamente, e do outro, o Flamengo, bem preparado mentalmente e que teve que usar raça, amor e paixão. O Rubro-Negro se agigantou na partida e o Tricolor procurou fazer da defesa o seu melhor ataque.
”Nós, torcedores, sabíamos que o time deles era uma equipe superior, mas no papel, pois o que se viu lá dentro de campo foi outra coisa”, diz o torcedor rubro-negro Luiz Antônio Lorosa, de 56 anos, morador de São Gonçalo, que estava nas arquibancadas naquele jogo.
Torcida gritando, tensão, nervosismo dos dois lados, jogo brigado e um Cantareli jogando de zagueiro, marcaram todos aqueles 45 minutos finais. O Flamengo em cima, buscando o empate. O Fluminense se defendendo e tentando manter a vitória.
Leandro fez carreira brilhante. Ganhou quatro Brasileiros, uma Libertadores e um Mundial. Amado pela torcida, tinha as fortes dores no joelho como maior inimiga. Passou para a zaga. Se em 1969, ouviu no rádio o terceiro gol marcado por Flávio Minuano, 16 anos depois, jogaria um Fla-Flu como zagueiro. Para ele, um Fla-Flu especial, o da redenção.
Sem Zico e Júnior, negociados para a Itália, ele era a estrela. No minuto final, após pressões sucessivas na área tricolor, a bola vem fora da área para quem quer arriscar. O Fluminense ganhava por 1 a 0, gol de Washington, aquele do Casal 20. O empate deixaria os rubro-negros ainda na briga. Leandro soltou o petardo. Um pombo sem asas. Indefensável. Paulo Victor ainda tocou na bola e ela bateu na trave, voltou nas costas dele e entrou mansamente. Era o empate. “Goooolaaaaaaaaaaaaço-aço-aço”, narrou Jorge Curi pelas ondas sonoras da Rádio Globo. O último minuto. Era um Fla-Flu. Era gol de Leandro.
Quatro dias depois, Flamengo e Bangu se enfrentaram no Maracanã, e o time de Moça Bonita saiu vitorioso, por 2 a 1. No dia 18, Fluminense e Bangu encerraram o triangular final. Por ter vencido o Flamengo, o Bangu possuía a vantagem do empate, mas o Fluminense venceu por 2 a 1 e conquistou o tricampeonato.
Mas aquela partida, disputada naquele 11 de dezembro de 1985, fez Zico e Junior confessarem: “Esse foi o Fla-Flu que faltou na minha carreira”.
O jogo foi também o último do clube narrado por Jorge Curi, rubro-negro confesso. Na semana seguinte, o locutor de voz forte inconfundível, que fez longa carreira na Rádio Globo, mas havia se transferido para a Tupi, narrou a final entre Fluminense e Bangu, e pouco depois, indo para Caxambú, encontrou a morte em um acidente automobilístico na BR-354.
A pedido da família do radialista, a camisa número 3 que Leandro usou naquele Fla-Flu foi colocada sobre o caixão de Jorge Curi, fã do jogador, que foi enterrado no jazigo perpétuo da família no Cemitério Municipal de Caxambu, Sul do estado de Minas Gerais.
Coisas do destino, do futebol, e do Fla-Flu. Aliás, do Fla-Flu do Leandro.
“Leandro, com sua excepcional qualidade, jogando na lateral-esquerda, encantou a todos e a mim em especial. Todas as vezes em que o treino se aproximava do fim, ele perguntava se havia sido aprovado. Eu, sempre brincando, dizia que ainda não havia decidido nada e que ele estava sendo avaliado. Dentro de campo, ele realizava coisas extraordinárias, de puro encantamento e magia e a cada jogada que ele fazia, olhava em minha direção como se dissesse:’Está gostando, professor?’. Eu fingia que não via e ele continuava a fazer aquelas coisas sobrenaturais a fim de me impressionar. E confesso, depois de anos, me impressionava”, revelou Américo Faria sorrindo, para depois falar sério, em tom profético:”Não há e jamais haverá outro igual. Leandro foi o melhor jogador que passou pelas minhas mãos e o maior lateral-direito de todos os tempos!”.
Profecia? Talvez, sim. A escassez de outros ‘Leandros’ no futebol, faz com que Leandro – que assopra 63 velinhas de aniversário – tenha se tornado, no imaginário do torcedor, uma divindade no panteão rubro-negro.
Passado tanto tempo, o eterno camisa 2 considera o Fla-Flu de 11 de dezembro de 1985 como o jogo inesquecível para ele e para os verdadeiros amantes do futebol. Para a Nação Rubro-Negra, fica a certeza que nada nesse mundo é eterno, mas Leandro é!
FICHA TÉCNICA
Flamengo 1 x 1 Fluminense
Data: 11 de dezembro de 1985
Local: Maracanã
Competição: Campeonato Carioca de 1985 – Triangular Final
Público: 95.049 pagantes
Renda: Cr$ 1.838.050.000,00
Árbitro: Luís Carlos Félix
Flamengo:Cantareli; Jorginho, Leandro, Mozer e Adalberto; Andrade, Adílio e Valtinho (Gilmar); Bebeto, Chiquinho e Marquinho (Júlio César Barbosa). Técnico: Sebastião Lazaroni.
Fluminense:Paulo Victor; Leomir, Vica, Ricardo Gomes e Branco; Jandir, Delei e Renê; Romerito, Washington e Tato. Entraram Paulinho e Rogério. Técnico: Nelsinho.
Gols: Washington (38’/1T) e Leandro (43’/2T).
Expulsões: Adalberto e Leomir.
AOS 30, MAS COM 14
por Rubens Lemos
Ídolo de minha geração cinquentona, Zico estava sublime ao fazer 30 anos. Se perdeu a Copa do Mundo de 1982, era campeão mundial de 1981 e brasileiro do ano seguinte. Em 1983, completou 30 anos maduro, respeitado por torcedores de todos os clubes, incluídos os do Vasco da Gama, meu time, Fluminense e Botafogo, rivais rubro-negros domésticos.
Zico partiu ao completar três décadas de vida se despedindo ao dar de presente o terceiro título brasileiro ao Flamengo numa surra homérica de 3×0 no Santos diante de 155 mil pessoas, maior público das finais nacionais.
Fez um gol com menos de um minuto e depois partiu para a Udinese, uma espécie de Ponte Preta de Campinas da Itália, mediana e que luziu apenas enquanto Zico vestiu sua camisa 10, por sinal, parecidíssima com a do Vasco.
Até os 30 anos, Zico construiu uma imagem cristalina de atleta e cidadão. Estava no Flamengo nos três mundiais que disputou, porque voltou da Udinese em 1985.
Zico estava nos álbuns de figurinhas, nas campanhas publicitárias politicamente corretas, era o Flamengo nascido no subúrbio de Quintino, aparência frágil e voracidade assassina em direção gol.
Em toda a sua carreira profissional, de 1971 a 1983, Zico encarnou o jovem e depois o adulto modelar. Não dava declarações polêmicas, evitava divididas políticas (só depois de pendurar as chuteiras, foi Ministro de Fernando Collor), honrava a camisa 10 que Pelé passou a Rivelino, seu antecessor.
Zico criou uma sólida reputação de bom caráter que o permitiu circular livre em todas as camadas futebolísticas, jornalísticas e passionais de arquibancada.
Somente aos 30 anos, Zico se preocupou com prioridade em ganhar dinheiro mais do que suficiente. Assim mesmo, teve que jogar até quase 40 no futebol japonês, que a ele deve o sol nascente ludopédico.
Zico e Neymar não podem ser comparados. Zico jogava mais bola do que Neymar assim como os outros dois da trinca mágica e azarada vestindo amarelo: Sócrates e Falcão. Zico era um meia-atacante que os tecnocratas hoje chamariam de vertical, como se fosse possível alguém jogar deitado. Zico era um driblador progressivo, sentava cinco marcadores e o goleiro antes de fazer o gol.
Uma – das inúmeras – vantagens de Zico sobre Neymar: Zico buscava o gol com objetividade requintada, sempre quis a vitória e o gol como seu instrumento único. Zico jamais driblou Dudu do Vasco, Jandir do Fluminense ou Carlos Alberto do Botafogo para trás e depois deu um sorrisinho irritante para as câmeras.
Outra diferença em favor de minha patota de barriga proeminente mas sem onde guardar hectolitros de cerveja: Zico comemorava seus gols com a torcida do Flamengo. Nem que tivesse de atravessar o campo inteiro do Maracanã. Não mandava galera rival se calar tampouco fazia sinais pornográficos aos adversários.
Zico foi uma instituição, em lampejos no PSG, Neymar é contradição, literal ou metafórica: é o que sobrou de um futebol profanado em sua matéria-prima de arte e molejo, de ginga e balé, de malabaristas ocupando o espaço tomado de assalto por trogloditas especializados na deformação do 0x0, no máximo 1×0, como regra autoritária pelas ideias paupérrimas de técnicos de prancheta e sem contato com a dona do teatro, a bola.
Enquanto Zico atravessou a fase final de Pelé, passou por Rivelino, Ademir da Guia até ser o primeiro de uma seleta galeria com Reinaldo, Sócrates, Falcão, Júnior, Roberto Dinamite, Adílio, Paulo Isidoro, Jorge Mendonça, Paulo César Caju. Até ensinar à garotada bicampeã mundial de juniores(1983/85), com Geovani, Bebeto, Mauricinho, Romário(não foi campeão, mas era estupendo ainda criança), Silas e Muller.
Neymar nunca teve concorrência. Surgiu como um raio e, em 2010/11, explodiu como o fora de série que misturava dribles e danças com passagens na mídia indesejável, colecionava baby girls e, a contragosto, segue de figurante na Europa, primeiro para Messi e depois para o francês Mbappé.
Zico fez 30 anos sem festejos, é só pesquisar. Neymar, na idade comportamental, deve estar provocando coleguinhas com 16 Iphones de última geração. Ele completou 30, mas, na prática, parece estar com 14 anos.
ESQUADRÕES DO FUTEBOL
por Elso Venâncio
O tema era muito comum e hoje está esquecido. Quais foram os “Esquadrões do Futebol”, os grandes times que encantaram o mundo?
Os requisitos começavam por um que é considerado fundamental: ter um punhado de craques na equipe. Depois, conquistar títulos por alguns anos e, se possível, mantendo sua base.
Abro esse papo com o Vasco do decantado “Expresso da Vitória”. Primeiro clube brasileiro a conquistar um título internacional, levantou o Torneio dos Campeões Sul-Americanos – o equivalente à Taça Libertadores da América – no ano de 1948.
Barbosa, Augusto e Rafagnelli; Danilo, Ely e Jorge; Friaça, Ademir, Dimas, Ipojucan e Chico. Que timaço!
A torcida do Flamengo, após seis anos sem vitórias sobre os vascaínos, fez um tremendo carnaval fora de época quando o venceu, de virada, por 2 a 1, gols de Índio e Adãozinho, em setembro de 1951.
Outra equipe inesquecível foi o Santos de Pelé. Gilmar, Carlos Alberto Torres, Mauro, Calvet e Dalmo; Zito e Mengálvio; Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. Bicampeão da Libertadores e do Mundial Interclubes, tetra do Torneio Rio-São Paulo, penta da Copa do Brasil e Octacampeão paulista na década de 60. Quer mais?
Como esquecer o Botafogo de Nilton Santos, Didi e Garrincha? Veja só: Manga, Paulistinha, Tomé, Zé Maria e Nilton Santos; Airton e Pampolini; Garrincha, Didi, Quarentinha (Amarildo) e Zagallo.
Por sinal, Santos e Botafogo formaram a base do Brasil bicampeão mundial em 1958 e 1962. Os jogos entre ambos os clubes reuniam, na década de 60, os maiores craques do planeta.
A seleção húngara – cuja base era o temido Honved, que chegava a ceder nove craques titulares: Puskas, Bozsic, Czibor e o artilheiro Kocsis, dentre outros – não deve ser esquecida. Foram 39 jogos sem perder. Sem falar que a derrota para a Alemanha, na final da Copa do Mundo de 1954, causou um espanto maior até do que a derrota do Brasil para o Uruguai, quatro anos antes, no Maracanã.
O Real Madrid, com seu ataque formado por Del Sol, Kopa, Di Stéfano, Puskas e Gento, enfileirou títulos entre as décadas de 50 e 60. Como o tetracampeonato espanhol, o primeiro Mundial Interclubes e o único pentacampeonato consecutivo da Liga dos Campeões da Europa (atual Champions League), transformando um clube de, até então, poucos triunfos e torcida exígua na maior força do país e uma das maiores potências do mundo do futebol.
Outros três esquadrões europeus foram Bayer de Munique, de Franz Beckenbauer; o Ajax, de Johan Cruyff; e o Barcelona de Guardiola, que, liderado por Lionel Messi, conquistou 14 dos 19 títulos oficiais possíveis.
Peris Ribeiro, o grande escritor campista e biógrafo do Mestre Didi, analisa a matéria:
“Se quisermos ser um tanto rigorosos, veremos que o último grande time que tivemos foi o Flamengo de Zico. Durante cinco anos, entre 1978 e 1983, essa equipe conquistou um Mundial Interclubes, uma Libertadores, três Brasileiros, quatro Cariocas, o penta da Taça Guanabara e seis torneios internacionais, inclusive o bicampeonato do badalado Torneio Ramon de Carranza, na Espanha”.
Alguns ameaçaram chegar lá, como as Academias do Palmeiras (houve duas), o Cruzeiro de Tostão – e, depois, o de Zezé Moreira – e o São Paulo de Telê Santana.
Hoje, infelizmente, não temos as feras de antigamente. Mas vale recordar. Então, me diz, qual é o seu “Esquadrão de Futebol” inesquecível?
BANGU: A EX-MISS DO FUTEBOL CARIOCA
por André Luiz Pereira Nunes
O Bangu mais uma vez decepcionou no Campeonato Estadual. Sua pífia campanha, a qual culminou na goleada acachapante para o Flamengo, por 6 a 0, demonstra que os áureos tempos em que jogava de igual para igual com os grandes em busca de títulos, tanto em esfera regional como nacional, ficaram mesmo para trás.
O Alvirrubro da Zona Oeste só não foi rebaixado porque o regulamento, no tocante ao descenso à segunda divisão, foi recentemente alterado. Apenas o último colocado, Volta Redonda, cairá sem choro nem vela. É óbvio que essas mudanças não ocorrem por acaso. Servem justamente para conceder um certo alívio a determinadas ex-misses. Já viram por acaso álbum de ex-miss? É o famoso “olha como eu era”. Se aplica perfeitamente a equipes como Bangu e America que ainda respiram ares aristocráticos e bolorentos de um passado cada vez mais remoto e que hoje se assemelham mais a maracujás de gaveta.
A principal atração do Bangu esse ano foi o treinador. O ex-lateral-esquerdo Felipe, que fez história no Vasco. Foi uma aposta, é claro, pois está a iniciar a nova e ingrata carreira. E, ainda assim, não tem como fazer milagres. O elenco é comprovadamente muito fraco. Tão, mas tão ruim que capitulou por 6 a 0 diante do Flamengo, em pleno Maracanã, no último jogo. Parece até resultado de jogo-treino contra time juvenil.
Foi-se o tempo em que os banguenses tinham um verdadeiro timaço. No início da década de 80, o bicheiro Castor de Andrade injetava muita grana. E não se omitia na hora de reforçar a equipe. Trazia desde veteranos consagrados, como o lateral-esquerdo Marco Antônio, a revelações do porte de Marinho, Arturzinho, Mário, Baby, Ado e tantos outros. Eram os tempos em que, na pior das hipóteses, o Bangu chegaria às semifinais de uma Taça Guanabara ou Taça Rio.
Em 1985, por exemplo, eliminou o Flamengo e chegou à decisão contra o Fluminense. E só não foi campeão porque o polêmico árbitro José Roberto Wright não concedeu, ao fim do cotejo, pênalti claro de Vica em Cláudio Adão. Ao Bangu bastava apenas o empate. O Fluminense ganhava, de virada, por 2 a 1.
No mesmo ano, os banguenses, em campanha memorável, já haviam sido vice-campeões brasileiros. Inacreditavelmente perderam a final, nos pênaltis, no Maracanã, para o Coritiba. Também houve nesse jogo um polêmico lance que poderia ter dado o título ao Bangu a partir de uma arrancada de Marinho que, claramente vindo de trás, driblou vários marcadores, o goleiro Rafael, e fez um lindo gol. Um lance magistral desse grande craque, o último do Bangu a ser convocado para a Seleção Brasileira. Apesar do bandeirinha ter validado o gol ao correr para o meio, o juiz Romualdo Arpi Filho marcaria impedimento.
Não à toa, o saudoso ex-árbitro Walquir Pimentel dizia sempre que futebol se ganha dentro e fora do campo. Se uma equipe não tem influência nos bastidores, não conquista absolutamente nada. Por incrível que pareça, o Bangu de Castor poucos títulos ganharia naqueles áureos anos. Mas o atual, pelo menos, dificilmente será rebaixado nas próximas edições. A menos que se esforce ao máximo para ser o último colocado do Campeonato Estadual. É uma tarefa difícil, mas não impossível, em se tratando das últimas campanhas e da qualidade sofrível de seus elencos.
OBRIGADO, DIRETORIA DO FLAMENGO
por Zé Roberto Padilha
Em nome de todos os tricolores, gostaria de agradecer aos sábios e ilustres diretores de futebol do Flamengo por ter vendido, e nos livrado, do seu melhor jogador.
Seria muito complicado ter nas semifinais o “Luiz Henrique deles” jogando contra nós.
Sabe aquela jogada cada vez mais rara no futebol, aquele drible que chega à linha de fundo e puxa a bola com um pé, ameaça cruzar e sai para o outro, se bobear, dá mais uma entortada no zagueiro…
Que eu me lembre, excetuando essas duas feras acima mencionadas, apenas o Soteldo realizava essa jogada no Santos. E ela é mortal, objetiva e desmoralizante.
Espero, sinceramente, que o valor da transação tenha sido bem alto. À altura das dores de cabeça que vocês terão para encontrar um outro Michael.
Como vendem um jogador no melhor momento de sua carreira para pagar a maior e mais vultosa Comissão Técnica, portuguesa com certeza, já contratada no país?
Falar nisso, quem foi mesmo o sabido que bateu o martelo? Gostaria de agradecer pessoalmente. Lhe conceder minhas sinceras “saudações tricolores”.