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CANADÁ RETORNA À COPA EM GRANDE ESTILO

por André Luiz Pereira Nunes


Canadá retorna em grande estilo ao Mundial (divulgação)

Finalmente o Canadá dará mais uma vez o ar da graça em um Mundial, feito que não ocorre desde a edição de 1986, no México, quando uma equipe cheia de limitações caiu ainda na primeira fase.

Durante a metade da década de 80, os canadenses vivenciaram a sua melhor fase no futebol. Além de vencerem a Copa da Concacaf, promoveram boa campanha nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Nas Eliminatórias para a Copa da Argentina já haviam chegado ao hexagonal decisivo. No ano seguinte, em 1979, disputaram o Mundial de Juniores, sediado no Japão. O time foi a sensação da primeira rodada, ao vencer Portugal por 3 a 1. Nas partidas seguintes, porém, capitulou diante da Coreia do Sul (1 a 0) e o Paraguai, de Romerito, por 3 a 0, sendo então eliminado na fase inicial de grupos.

Diante de um notável crescimento, a seleção principal quase se habilitaria para a Copa do Mundo da Espanha, em 1982. Entretanto, na fase final, disputada em Honduras, bastava apenas vencer Cuba e torcer para que os hondurenhos, líderes e já garantidos no Mundial, empatassem com o México. As coisas, contudo, não decorreram dessa maneira. Os canadenses ficaram no 2 a 2 com os donos da casa para desespero do técnico Barrie Clarke, que também comandara o escrete sub-20.

Em 1985, após conquistar a Copa da Concacaf, o país finalmente alcançou a inédita participação na Copa do Mundo. Todavia, o sorteio das chaves não o favoreceu. Além da França, de Michel Platini, campeã européia e semifinalista da Copa anterior, o Canadá ainda pegaria a Hungria, de Lajos Detari, uma das promissoras sensações do Mundial, que houvera eliminado Áustria e Holanda nas Eliminatórias. Para completar o quadro, o terceiro rival na fase de grupos seria a temível União Soviética, de Igor Belanov, cuja base era composta pelo campeão da Recopa, o fortíssimo Dínamo de Kiev.

Vale, porém, ressaltar que na estréia os franceses não encontraram moleza, só vencendo por 1 a 0, graças a um gol salvador de Jean-Pierre Papin, aos 34 minutos do segundo tempo.

Contra os húngaros, o Canadá realmente pegou uma pedreira, pois seu adversário havia tomado uma inevitável goleada de 6 a 0 para os soviéticos na rodada inaugural. Consequentemente, a sorte mais uma vez não contaria a favor dos canadenses, que caíram por 3 a 0.

Finalmente, no último cotejo, a equipe defrontou os já classificados soviéticos que, mesmo escalando os reservas, não tiveram a menor dificuldade para vencer por 2 a 0. Estava decretada assim a inédita e discreta campanha canadense na Copa do Mundo.

De lá para cá, o Canadá esteve perto de retornar a um Mundial apenas em 1994. Nas Eliminatórias contava com vários remanescentes da epopéia de 1986, como Randy Samuel, Mike Sweeney, David Norman, Carl Valentine e Dale Mitchell. A equipe chegou à última rodada do quadrangular final da Concacaf precisando somente vencer o México, em Toronto. Chegou até a abrir o placar logo no início, mas tomaria a virada nos minutos finais. Despachada para a repescagem, foi batida lamentavelmente pela Austrália. Mesmo tendo vencido em casa por 2 a 1, acabaria perdendo fora pelo mesmo placar, culminando na desclassificação através das cobranças por pênaltis.

Um momento de brilho ainda aconteceria, em 2000, quando o Canadá arrematou a Copa Ouro. Agora, classificados com honra para seu segundo Mundial, buscam conquistar uma campanha ainda melhor. A tarefa, no entanto, não será nada fácil. Seus contendores na primeira fase serão Bélgica, Croácia e Marrocos. Será uma parada bastante difícil.

UM GANSO FORA D’ÁGUA

por Zé Roberto Padilha


Será que não lhe alertaram que o futebol arte acabou?

Que precisa parar de insistir com que a classe, a habilidade, o domínio e a assistência persistam em meio ao futebol moderno?

Quando os garotos chegam às divisões de base, os gritos dos treinadores trogloditas, que tomaram o lugar dos ex-atetas nos clubes, começam a soar: toca, pega, marca, dá um chutão nessa porra!!!

Eles estão salvando seus empregos. E castrando gerações.

Não se formam mais craques, potencializam seu dom ou dão asas às suas infinitas inovações. Cerceiam na fonte ao priorizar a correria. A marcação forte, se possível, um carrinho voador.

Ganhar, por uma bola, como missão também nos infantis, são barricadas que se estendem para evitar a ousadia.

E o garoto vai chegando à graduação com medo de dar um drible. Uma caneta? Vai levar uma porrada porque, tão rara, vai parecer um acinte. Um deboche.

Luiz Gustavo, Fernandinho, Casemiro, Fred, Arthur, Fabinho, todos chegaram craques em seus clubes. Mas só foram convocados porque foram catequizados para deixar, gradativamente, sua classe pelo caminho.

Sabe quando o Ganso vai ser convocado depois que a Era Dunga veio forte e consagrou Felipão?

Quando entrar no Du Lorean do Dr. Brow e desembarcar na década de 1970. Com Ademir da Guia, Gerson, Geraldo, Cléber, Clodoaldo e Carlos Alberto Pintinho, iria entrar para a história do nosso futebol.

Como nasceu ontem e joga hoje, sem Telê Santana no comando da seleção, vai ser sempre um Ganso fora d’água.

Pobre água.

FUTEBOL BRASILEIRO: ASILO DE ÍDOLOS

por Elso Venâncio


O chileno Arturo Vidal, da Inter de Milão, quer jogar no Brasil – de preferência no Flamengo, que tem orçamento de um bilhão/ano. Nosso futebol erra ao contratar quem não têm mais espaço no exterior. Ninguém volta por vontade própria. Deu certo na Europa? Fica! O cara só é descartado quando já deu o que tinha que dar.

Aliás, teve um que contrariou a regra. Romário era o número 1 do mundo em 1995 e foi repatriado. Mas só veio porque avisou que não jogaria mais no Barcelona. Kleber Leite, presidente do Flamengo na época, falou grosso, avisando que depositaria o dinheiro na conta do clube catalão. Quatro milhões e meio de dólares, mais 25 por cento de impostos. Era muita grana… Hoje, o questionável Andreas Pereira vale três vezes mais. No tempo do Baixinho, os jornalistas estrangeiros invadiram a Gávea para decifrar o motivo da volta do melhor jogador do planeta à sua terra natal.

O jornalista Marcos Eduardo Neves, o “biógrafo dos biógrafos”, afirma que Romário voltou para ser o “Rei do Brasil”. Uma espécie de Chatô, tal qual o livro escrito por Fernando Morais.

Já o velho Arturo Vidal… bom, visão ele tem. Quer ser mais um a mamar nas tetas do futebol brasileiro.

Com Investidores e Liga chegando, a tendência é que os clubes se fortaleçam. O nosso problema é a dependência, que faz vender a preço de banana as novas joias que surgem. Empresários têm olheiros espalhados em toda parte. Viramos reféns.

“Craque o Flamengo faz em casa”. O slogan, com uma foto gigantesca do “Maestro” Junior cercado pelos jovens Júnior Baiano, Paulo Nunes, Djalminha, Marcelinho, Rogério e Marquinhos, foto essa que ficava no departamento de futebol rubro-negro, já é coisa do passado. A exceção da Era Zico e da equipe montada por Jorge Jesus em 2019, o clube mais popular do país não formava grandes esquadrões. Mas sempre havia um time raçudo, empurrado ainda mais da arquibancada, pela força da sua massa colossal.

Os Estados Unidos mudaram a filosofia dos anos 70 e 80. Contratava craques em fim de carreira. Como o nosso futebol gosta de fazer hoje. Neymar e Messi andam se oferecendo. Mas os dirigentes da terra do “Tio Sam” deixam claro que só se interessam por jovens com potencial. Não duvidem se, desta vez, os americanos, em médio prazo, passarem para um novo patamar no “Planeta Bola”.

ESTADUAIS SÃO SAGRADOS

:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::


Depois de três decisões que lotaram os estádios ainda vai aparecer gente detonando os Estaduais. Esqueçam, os Estaduais são um barato! Mas antes de começarem muita gente tenta desmoralizá-los. Alguns dirigentes ameaçam entrar com os reservas e até com os meninos da base, os treinadores avisam que vão usá-los para experiências e os ‘’especialistas” dizem que esses campeonatos são um estorvo para o calendário. A imprensa vem fazendo campanhas agressivas para que eles sejam extintos, mas o que se viu foi um show dos torcedores, vibrantes, coloridos e, melhor, saudáveis.

O problema da imprensa é que ela funciona como vaquinhas de presépio. Basta um jornalista mais influente ser radical, enfático, em sua opinião, vários outros que não dominam muito bem o tema começam a seguir essa cartilha. Com os Estaduais vem funcionando assim. Algum especialista, não duvido que tenha vindo de algum fisiologista, disse que os Estaduais são os responsáveis pela catástrofe vivida pelo futebol brasileiro e todos acreditaram, virou verdade absoluta.

E o mais curioso são os torcedores desse novo normal que falam como técnicos, fazem longas análises e apoiam o clube colocar para jogo seus times B, C, D. Essa turma tem que entender que os Estaduais são sagrados. Tanto são que o técnico português do Fla entrou na corda bamba, Roger, do Grêmio, vibrou como uma criança, a torcida do Galo deu mais um show e o Palmeiras conseguiu uma virada histórica contra o São Paulo, que certamente entrará para a história. Basta ver o choro do Abel Ferreira e o depoimento dos jogadores após a partida. E as mesas-redondas com aqueles donos da verdade tendo que se render ao espetáculo.

Futebol é espetáculo e quem dá as cartas é o torcedor. Perguntem hoje ao Rogério Ceni se ele acha que a derrota foi inexpressiva por ter ocorrido em uma final de Estadual. Perguntem ao David Luiz, ao Rafinha, do São Paulo, pateticamente expulso. O Estadual fez Ganso renascer, Roger respirar aliviado e Hulk continuar exibindo seus músculos. Tive o privilégio de estar em São Paulo, no Clube Pinheiros, com amigos médicos, e testemunhei a felicidade nos olhos de jovens e crianças palmeirenses. Penso em até voltar a morar em São Paulo, cidade onde a imprensa me bateu muito, mas aprendi a respeitar. Imprensa, deixe os Estaduais em paz!

Pérolas da semana:

O time está defendendo no 4-5-1, para atacar a linha de cinco do adversário e desconfigurar o sistema através de alçadas de bolas vivas. Isso tudo para encontrar o atacante que penetra por dentro e chapa de primeira.

PARABÉNS, AMIGO

por Zé Roberto Padilha


Sobre você, Abel, posso escrever um livro. Chegamos juntos ao Fluminense, aos 16 anos, e saímos formados cidadãos e atletas profissionais sete anos depois. Você foi pro Vasco, eu para o Flamengo.

Oito anos depois, nos reencontramos em Campos, e disputamos, ao lado do nosso mestre, João Batista Pinheiro, e do Rubens Galaxe, o estadual de 84 pelo Goytacaz.

Histórias suas tenho aos montes para contar, mas, hoje, vou apenas lhe dedicar uma crônica pela vitória do nosso tricolor. E ela é mais do que merecida.

Sei do que você passou, há dois anos, quando saiu pelas portas dos fundos do Ninho do Urubu enquanto, pela da frente, entrava Jesus.

Nunca foi fácil, que o digam os imperadores romanos, questionar Jesus.

Na ocasião, escrevi o quanto foi injusto o Flamengo ao não lhe conceder as faixas e medalhas de campeão estadual, brasileiro e das Américas porque foi você que montou a base daquele time.

Carro de F1 e time de futebol se montam na pré ‘temporada. Seja em Jerez de la Frontera ou uma estâncias climática, dos campos e túneis de vento saem a a suspensão, os chassis e a aerodinâmica. Foi quando você indicou Bruno Henrique, Rodrigo Caio e Gabigol.

Depois, nas pistas e nos gramados, bastou ajustar os pneus, durante os milagres ocorridos no reino de Fátima, quando Rafinha chegou para o lugar do Pará, e o Filipe Luis para o do Renê.

Inegáveis foram os méritos de Jesus. Lamentável, na ocasião, foi a diretoria rubro-negra subestimar sua valiosa contribuição em meio a tantas conquistas. Mas esse é o mundo do futebol, cruel e imediatista, e você que sabe dele mais do que eu.

Sábado, no Maracanã, você não deu o troco. Nem se vingou.

Não faz parte da Escola das Laranjeiras tomar atitudes arrogantes quando a Roda Gigante nos coloca acima. Mas já que o Flamengo não lhe concedeu as medalhas, você foi lá e além de pegar a sua, mostrou que quando lhe deixam montar um time e conduzi-lo ao mesmo tempo nas pistas, o Fluminense levará a campo, durante o Campeonato Brasileiro, mais do que uma grande equipe de futebol.

Será uma Mercedes.