O CRAQUE DO BRASIL EM 2015
por Luis Filipe Chateaubriand

Quando jogava pelo Corinthians, em 2015, Renato Augusto exibiu um jogo de se admirar.
Uma característica de seu jogo eram os passes precisos – bola bem tratada, chegando ao companheiro de clube de forma limpa, plástica, eficaz.
Outra característica de seu jogo era a capacidade de jogar de uma intermediária à outra, com grande sagacidade e espírito competitivo.
Não bastasse isso, seu jogo também era feito de gols, que não eram em profusão, mas eram decisivos, bom chutador de média distância que era.
Essas características fizeram de Renato Augusto o craque de 2015!
FUTEBOL, UMA INDÚSTRIA MILIONÁRIA?
por Idel Halfen

O futebol é uma indústria milionária!
Quantas vezes já lemos ou ouvimos essa frase, a qual se reforça em nossa mente ao tomarmos ciência dos salários e bens adquiridos por alguns jogadores.
Não há como negar que as cifras que ganham as manchetes geram grande impacto, até porque para a maioria das pessoas que acompanha o futebol tais valores soam como algo inatingível e longe das respectivas realidades.
Mas será mesmo uma indústria milionária?
Se formos simplesmente olhar as receitas dos principais clubes poderemos responder afirmativamente ao questionamento, no entanto, se compará-las com algumas empresas, veremos que a discussão pode tomar outro rumo.
Visando buscar uma parametrização no que tange à relação de consumo das marcas por cliente, assim como é no futebol, onde, em tese, cada torcedor tem um único time, utilizaremos como balizador o setor de telefonia móvel, no qual quase toda a população é cliente, no mínimo, de uma operadora. Claro que não se trata de uma comparação perfeita, porém, entre as que analisamos em termos de recorrência e acesso às cifras do consumo é a que nos pareceu mais coerente. Não sabemos, por exemplo, quanto uma pessoa consumiu ao longo do ano de cada marca de biscoito, mesmo porque, o produto muitas vezes é consumido por toda a família.
Em nosso exercício, conforme pode ser visto no quadro a seguir, comparamos o clube de maior receita recorrente no Brasil com duas operadoras de telefonia móvel que aqui atuam.
Constatamos assim que a Vivo tem uma quantidade de assinantes que é quase o dobro do que o clube possui de torcedores, porém o faturamento em 2021 foi 2.765% maior. Comparado com a Oi, a torcida do vice-campeão carioca é 0,10% menor do que a base de clientes da operadora, a qual faturou no mesmo período 626,5% a mais.
Reiteramos que a comparação tem falhas, visto haver casos de um mesmo cliente ter mais de uma linha, assim como pode estar na relação de torcedores pessoas que mal saibam dizer as cores do time. O que se pretende com o exercício é mostrar os montantes envolvidos, tanto que nem fazemos menção ao EBITDA ou a outro indicador econômico-financeiro.
Nessa linha, vale inclusive observar que número de seguidores nas redes sociais não apresenta correlação com as receitas, vide no quadro o número de seguidores do instagram do clube (13,4 milhões) e o da operadora líder (apenas 602 mil).

Para testar a hipótese se o comportamento detectado seria algo exclusivo do Brasil, realizamos a mesma análise comparando o Real Madrid, clube que foi líder em dez das quinze edições do estudo feito pela Deloitte acerca dos clubes que mais faturam no mundo e a Vodafone na Espanha. Escolhemos essa empresa pelo fato de ela ter o número de assinantes – 13,6 milhões – similar ao de torcedores do time de Madrid – 13,3 milhões -, valendo salientar que o clube tem características de uma organização multinacional, vide a quantidade de seguidores, 117,5 milhões, que é quase o triplo da população espanhola.
Mesmo diante de tanta pujança, o Real Madrid teve as receitas recorrentes na temporada 2020-21 na ordem de 640 milhões de euros, enquanto a operadora de telecom faturou 3,788 bi em 2021 (491% a mais).
Claro que são valores significativos e que podem evoluir ainda mais, o Real Madrid, por exemplo, cresceu 116% em 13 anos – expurgamos o período da pandemia por razões óbvias. Mas será que ele pode chegar ao nível dos grandes players de outras indústrias?
Não creio!
O futebol mexe com paixão, o que por si só tem a capacidade de incentivar atos de consumo por impulso, por outro lado, essa mesma paixão impõe pressões por resultados esportivos de curto prazo, que prejudicam eventuais tentativas de se gerir os clubes como se administra uma corporação, onde responsabilidade financeira, projetos que não visem simplesmente o imediatismo, compliance e planejamento estratégico, entre outros, são fatores indispensáveis.
DI STÉFANO: O COMEÇO DA LENDA DO REAL MADRID
por Péris Ribeiro

Parece que foi ontem. Mas, é sempre bom lembrar, tudo isso aconteceu há quase 70 anos. Mais precisamente, em meados de 1953. Justo no instante, em que transpunha os portões do Estádio Chamartín um homem determinado. Forte, boa estatura, cabelos em desalinho começando a rarear, aquele argentino de fisionomia circunspecta sabia bem a dura missão que o esperava.
Quando explodiu, com 20 anos de idade, na lendária La Maquina do River Plate argentino – um timaço dos Anos 1940, cinco vezes campeão no espaço de tempo de seis temporadas -, era comum a apaixonada torcida rivense chamá-lo “La Saeta Rubia”. Uma alusão, óbvia, à cabeleira loira, encimada por um vistoso topete gomalinado, e ao seu futebol veloz e habilidoso, com raro faro de gol.
Porém, agora, eis que o momento a ser vivido era bem outro. E o craque feito, que acabara de chegar da sensação colombiana, o Millionarios de Bogotá, tetracampeão nacional, era visto como o “Messias” com que o presidente Santiago Bernabéu tanto sonhara. Alguém que chegara para escrever, enfim, o destino de um clube praticamente sem história. Ou com pouca, bem pouca coisa para contar – ou do que se orgulhar.
Na verdade, de concreto mesmo até então, o que o Real Madrid possuía era um bicampeonato espanhol para exibir. Isso, há mais de 20 anos – e com o clube chegando, discretamente, aos 41 anos de existência. Só que, bem pior, era no quesito popularidade, pois o Real não tinha uma apreciável legião de admiradores. Longe disso, já que via, pelo menos, quatro ou cinco clubes à sua frente. Dentre eles, o futuro arqui-inimigo Barcelona, o determinado Atletico de Bilbao – recordista de títulos da Copa da Espanha – e o incômodo vizinho Atletico de Madrid.
Pois foi com esse cenário nada animador, que Alfredo Di Stéfano, tão logo assinou contrato na secretaria do clube, decidiu caminhar pelo gramado do Estádio Chamartín. Lá, queria conhecer, de cara, os novos companheiros. E também faria questão de trocar algumas palavras, e um significativo aperto de mão, com Francisco “Paco” Gento – justamente quem se transformaria, no decorrer da próxima década, no seu mais constante parceiro de ataque. Os dois, responsáveis por vários títulos de campeão do Real Madrid, nas mais diversas competições que disputariam dentro da Espanha e mundo afora.
Porém, se havia um fato desconcertante, que chamava deveras a atenção, era que, mesmo com todo aquele clima adverso, bem pouca gente procurasse sentir de perto os bastidores do clube presidido por Don Santiago Bernabéu. E, certamente por isso, é que quase ninguém percebeu – ou, sequer, desconfiou – que o ambiente do dia-a-dia no Chamartín era um intenso renovar-se. E tudo ainda iria bem além. O que faltava, pelo menos por ora, era um sinal positivo. Que chamasse a atenção. E ele veio no momento preciso, na agitada fase da pré-temporada de 1953 – 54.
Justamente pelo fato de, na decisão do tradicional Torneio Teresa Herrera – realizado anualmente, na cidade de La Coruña -, o Real enfiar sonoros 8 a 1 no Toulouse, da França, sagrando-se campeão com uma atuação das mais convincentes. Mas, isso ainda não era tudo. Simplesmente porque, iluminado, Di Stéfano, resolveu roubar a festa só para si. Super motivado, e protagonizando lances de raro efeito, o novo camisa 9 madridista também se deu ao luxo de marcar cinco belos gols, enlouquecendo de vez a apavorada defesa do jovem time francês – recém sagrado campeão da II Divisão, e promovido automaticamente à I Divisão do seu país.
Retornando quase em seguida a Madrid, e recebendo, depois de bom tempo, rasgados elogios de uma imprensa que se mostrara até então reticente, eis que os blancos acabaram fazendo a sua estreia, duas semanas depois, no sempre atraente Campeonato Espanhol. Só que, o que parecia indisfarçável àquela altura, era a aura de otimismo que emanava de um ressuscitado Real Madrid. Um time que recebera alguns bons reforços, é bem verdade, mas que parecia muito mais motivado, e cada vez mais confiante em campo, graças ao “fator Di Stéfano”. Ele, sim, um demolidor de tabus.
– Era mais que necessário, que o nosso time começasse a vencer. Só a vitória traz a verdadeira confiança. E com os jogadores acreditando mais em si mesmos, nada agora passa a ser impossível. Nem mesmo o título – diria, alguns dias depois, um objetivo e lacônico Di Stéfano, aos jornalistas presentes ao Chamartín.
E foi, decididamente, graças às diabruras daquele Di Stéfano irresistível, que o Real voltou a se sagrar campeão nacional, pondo fim a uma provação que já durava duas décadas em gramados espanhóis. E ainda houve um delicioso prêmio extra: a invencibilidade contra o então bicampeão Barcelona. Um verdadeiro tira-teima, decidido com duas vitórias marcantes: 2 a 1, em Madrid; e 2 a 0, fora de casa. As duas, saboreadas tão intensamente, que pareciam haver valido por um novo título.
No entanto, para completar uma temporada que fora de ouro, eis que a torcida madridista teria uma outra alegria toda especial, ao ver o mais idolatrado dos seus ídolos no topo da glória. É que, escolhido por unanimidade, Alfredo Di Stéfano se consagraria como o Maior Jogador do Campeonato – do qual seria, por sinal, o principal artilheiro, com 27 gols. Pronto! Foi o suficiente para que, durante mais de um mês, a cidade de Madrid se incendiasse em uma festa de enormes proporções.
Na verdade, tudo aquilo que acontecia ali, era um desabafo e tanto! Que valia por um sofrimento intenso, que durara cerca de 20 anos. Nada menos de duas longas décadas, longe da emoção de levantar uma taça importante que fosse. ”Real! Real Madrid campeão! Real! Real Madrid campeão!” Esse era o cântico ensurdecedor, mas irresistivelmente convidativo, que ecoava pelas praças e ruas da vibrante e imponente Madrid.
E dizer que o que se via ali, era só o começo de uma bela, inesquecível história…
AS AVENTURAS DO PROFESSOR PARDAL
por Zé Roberto Padilha

O Fluminense, que fez uma grande partida, deixou escapar a vitória porque seu treinador, para não fugir à regra de complicar o que está fácil, quando seus goleiros e zagueiros precisam sair jogando sem ter qualidade para isso, improvisa Yago Felipe na lateral esquerda.
E deixa de fora os três especialistas que o clube colocou à sua disposição: Marlon, Pineida e Chris. Fernando Diniz é um grande treinador. E um péssimo cientista.
Como se fosse fácil um meia, que nunca havia atuado por ali, sem uma cobertura treinada para dar segurança às suas subidas, enfrentar o lado mais poderoso do Flamengo.
Naquele setor, esse monstro chamado Éverton Ribeiro consegue, com sua habilidade, organizar uma série de jogadas com seus laterais que desmontam qualquer defesa organizada. Imaginem diante de uma improvisada.
Enquanto aquele toque de bola desumano chama a atenção da zaga, e a confunde, quando alcançam a linha de fundo a bola é enviada para o setor que melhor define as jogadas. Fecha o Bruno Henrique. E surge o Arrascaeta. E, ontem, foi a vez do Andreas aparecer e decidir nessa brecha.
Quando fui para o Flamengo, trocado pelo Doval, Toninho Baiano foi também. Era lateral direito da seleção brasileira. E Junior, o lateral direito titular rubro-negro. Aí nosso treinador, Carlos Froner, disse ao nosso Maestro, um solista à época: melhor você tentar a lateral esquerda.
Junior disse que nunca havia atuado ali. Froner explicou que eu, que corria muito, ajudaria na marcação e seu potencial ofensivo era superior ao meu. Era tentar ou sentar no banco de reservas.
E foi com muito treino, jogos amistosos, posicionamentos e coberturas treinadas à exaustão com o Jaime de Almeida e o Dequinha, que ele se adaptou à nova função.
Será que deu certo?
Coitado do Yago, nem pelas divisões de base passou para aprender, na cartilha do prézinho do Professor Pinheiro, que primeiro o lateral marca. Depois realiza as coberturas e só depois apoia o ataque.
Os dois gols do Flamengo surgiram nas costas e nas indecisões do lado esquerdo tricolor. E não será desprezando lições do passado que Fernando Diniz vai nos apresentar o seu futebol do futuro.
DESCANSE EM PAZ, MEU IRMÃO
::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Não sei como seria a minha vida sem Fred. Sei como foi com ele, desde que menino, jogando futebol de salão no Flamengo, ele me “convidou” para ser seu irmão adotivo. Eu era muito pobre da Favela dos Tabajaras, em Botafogo, não conheci meu pai mas era cuidado com muito afinco por minha mãe, Dona Sebastiana, descendente de escravos.
Com Fred cresci e aprendi as melhores coisas da vida, construí caráter e valorizei os laços familiares. Com o meu pai adotivo, Marinho Oliveira, famoso zagueiro do Flamengo e Botafogo nas décadas de 1940 e 1950, mergulhei de cabeça no futebol.
Fred também construiu uma sólida carreira, foi capitão da seleção olímpica e voltamos a jogar juntos pelo Flamengo, agora no futebol profissional. Sempre me orgulhei pela forma carinhosa e respeitosa que a legião de amigos o tratava.
Fred sempre foi uma referência, mas vocês conhecem bem o meu perfil e até com ele tive minhas rusgas e desentendimentos. Mas sempre gargalhávamos quando tudo voltava às boas.
Seu aniversário de 70 anos foi um dos momentos mais prazerosos de minha vida. Vários amigos do futebol de praia mais Jayme, Búfalo Gil, Deley, Carlos Roberto e tantos outros em uma resenha num barzinho do Leblon.
Ontem recebi a devastadora notícia que Fred, meu irmão, meu amigo, meu pai, meu conselheiro, havia morrido vítima de um infarto. Também morri, assim como todos que o cercavam. Fred ajudava muitos ex-jogadores e sofria com o drama de cada um deles, de verdade.
Fred me esticou a mão e me abraçou quando eu achava que meu destino fosse correr descalço nas ruas, mas ele me ofereceu o mundo e suas maravilhas. Fred merecia mais reconhecimento da mídia, mas nós sabemos o gigante que ele foi e como canta João Nogueira:
“O corpo a morte leva
A voz some na brisa
A dor sobe pra’as trevas
O nome a obra imortaliza”
Descanse em paz, meu irmão!