OS CLUBES COM MAIORES RECEITAS – 2021/21
por Idel Halfen

Como sempre é feito anualmente, a Jambo Sport Business acaba de publicar a versão relativa ao período 2020-21 do seu trabalho sobre as receitas dos principais clubes de futebol, o qual tem como base os relatórios anuais produzidos pela Deloitte sob o título “Football Money League”. O estudo pode ser acessado pelo link https://www.linkedin.com/posts/halfen_os-clubes-de-futebol-que-mais-faturam-2006-activity-6938149916087046144-prBQ?utm_source=linkedin_share&utm_medium=member_desktop_web, e sobre o mesmo citaremos a seguir alguns pontos que consideramos importantes para um melhor entendimento acerca do momento pelo qual passa a indústria do futebol.
Como aconteceu na maioria dos setores, a continuação da pandemia impactou fortemente as receitas dos dez clubes que mais faturaram, resultando numa queda de 2,3% nas receitas totais, a qual foi menor, no entanto, do que a ocorrida em 2019-20, equivalente a 11,1%.
As rendas com matchday em 2020-21 atingiram o patamar mais baixo já registrado desde que o estudo é realizado, não chegando sequer a três dígitos. Uma queda de 89,4%, o que representou apenas 1,6% das receitas totais do somatório dos TOP10, visto ter sido um período de forte restrição a aglomerações e, consequentemente, de público nos estádios. Nota-se claramente um movimento de queda dessas receitas desde 2006-07, mas nunca de forma tão abrupta como a detectada no período analisado.

Por outro lado, as receitas advindas de broadcasting cresceram 40,6% – o que corresponde a 55,9% do total -, redundando no maior faturamento desta linha em toda a história do relatório. Tal crescimento pode ser creditado ao recebimento de cifras que haviam sido adiadas em função do fluxo de caixa do período anterior, quando alguns campeonatos foram suspensos.
No caso de commercial houve uma queda de 6,3%, provavelmente devida à revisão de alguns contratos – já que os patrocinadores sofreram o impacto da pandemia – e da diminuição do consumo de produtos licenciados que rendem royalties aos clubes. Ainda assim, a participação desta modalidade de receita contribui com 47,9% do total.

A temporada 2020-21 apresentou também o maior desvio padrão entre as participações das receitas, o que significa dizer que houve um desequilíbrio maior na relação entre elas.
Em termos de clubes, vemos o Manchester City ser pela primeira vez o time com maior faturamento, desbancando o Barcelona que ocupava a liderança nas duas edições anteriores e que nesta caiu para a 4ª posição.
O título inglês e o vice-campeonato na Champions League certamente ajudaram ao clube inglês aumentar em € 95,7 milhões o seu faturamento (17,4%), e galgar cinco posições no ranking em referência.
A relação dos clubes que compõem os TOP10 permaneceu a mesma, as alterações se deram na ordem de classificação, onde, além do ascensão do Manchester City destaca-se a queda do Barcelona.
O estudo traz ainda o ranking em todas as temporadas e uma análise individual dos clubes que ficaram entre os dez de maiores receitas.
A HORA DO TROCO
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Durante minha caminhada pelo Leblon, o vendedor do quiosque me pergunta: “PC, e o Dorival?”. Não tenho nada contra e até gostava do trabalho dele no Ceará, mas acho que agora os treinadores estão dando o troco. Se antes os clubes é que demitiam sem perdão, agora são os técnicos que estão saindo sem dizer tchau, assim como Zé Ricardo fez com o Vasco recentemente.
O cenário atual é extremamente favorável para os técnicos e, para mim, a conta não fecha. Quando são demitidos, recebem uma bolada de multa rescisória e não ficam nem dois meses desempregados. Por outro lado, quando abandonam o barco do dia para a noite, a rescisão é amigável ou nem se compara à multa dos clubes.
Paulo Sousa, por exemplo, precisou pagar aproximadamente R$ 2 milhões por largar a seleção da Polônia para assumir o Flamengo e, meses depois, vai receber quase R$ 8 milhões do rubro-negro. Teve um amigo meu dizendo que o português deveria dar uma aula de investimento… kkkkkk! Vale lembrar que, recentemente, o Flamengo pagou também R$ 11,4 milhões de multa para o Domènec Torrent.
Além dos dois, podemos citar no Brasil casos como Claudinei, Dorival Jr., Guto Ferreira, Barroca, Zé Ricardo, Mano Menezes e muitos outros que estão sempre nesse vai e vem enchendo o bolso! Na minha opinião, as multas deveriam ser equivalentes ou que não existissem! Talvez fosse mais justo, né? O que não dá é pra ficar esse sistema viciado, sempre com os mesmos nomes e nada de renovação. O resultado vocês já sabem: jogos feios, entradas duras, muita cera e pouca bola na rede. Vamos aguardar as cenas dos próximos capítulos para ver quem será o próximo milionário!
Pérolas da semana:
- Com uma ligação direta por dentro e pelas beirinhas, o time aplica uma intensidade para não perder a consistência e estar sempre servindo o jogador agudo na última linha de cinco e três zagueiros.
- Para ter uma compreensão da mobilidade, a amplitude do jogador precisa ser diagonal e muitas vezes isso impede uma leitura de jogo labial e completa.
TORCER CONTRA
por Rubens Lemos

Mente elasticamente aquele que, fulminado pelo fracasso do seu time, diz que não torce contra o maior adversário. É exercício sacana e desesperador. Tipo o pusilânime “se a gostosa não é minha, daquele idiota também não vai ser”.
É cívico torcer por time ruim. Cívico e masoquista. Desde sempre vascaíno, nem torço com fervor pelo meu ex-clube, há 22 anos, caricatura de uma linda história de craques e postura, a maior delas, a de ser o primeiro a aceitar negros jogando futebol no Brasil. O Vasco fez história libertária.
Na formação tipificada do vascaíno, há, em primeiro plano, o anti-flamenguista. É uma célula radical e equitativa ao sentimento de idolatria ao cruzmaltino. A repulsa ao Flamengo é um movimento crescente, pelo derrotismo intrínseco do Vasco e a piora gradual do comportamento dos rubro-negros.
Se você é Vasco, Botafogo ou o campeão carioca Fluminense, não pode tolerar as chateações urubulinas. Algumas que marcam uma vida como é o meu exemplo. A gozação flamenguista deriva para o mau gosto, o cinismo e o ódio.
Deixe-me contar o meu caso específico: em 1994, o Vasco foi tricampeão carioca pela primeira e última vez. Um belo time e uma conquista mórbida.
O craque chamava-se Dener Augusto de Souza. Um gênio do drible, 23 anos, comparado sem motivo a Pelé, mas o cara que teria sido o Rei de sua geração. Fazia da bola, prostituta obediente.
Dener costurava defesas em velocidade e habilidade que Neymar nunca sonharia em imitar parecido. Em busca da vitória. Era poético ao dizer que “o drible era mais bonito que o gol”.
Em sua estreia, contra o Newell’s Old Boys da Argentina, deixou boquiaberto Diego Armando Maradona, que bateu palmas para ele.
Dener costurou a zaga portenha aos gingados, fazendo marcador bater cabeça. E um dos lances mais acessados do Youtube. Lindo, lindo, lindo. Dener era extraordinário.
Depois de dar um show de bola contra o Fluminense, entortando o lateral-esquerdo Branco da seleção brasileira, Dener viajou a São Paulo para tratar da venda de seu passe ao futebol alemão. Saiu do Maracanã, jantou na capital paulista e voltou de madrugada num possante – para a época – Mitsubishi Eclipse.
A dor lancinante – a maior que senti como torcedor do Vasco – veio de manhãzinha da segunda-feira, 19 de abril. Dener morre asfixiado pelo cinto de segurança dormindo no banco do carona.
O motorista, que tinha envolvimento com traficantes de drogas e seria assassinado -, perdeu o controle do carro. Ainda hoje tenho saldo de lágrimas pelo choro convulsivo na morte de Dener.
O que fazem os flamenguistas? O imperdoável. No primeiro domingo sem Dener, Vasco x Flamengo com 98.027 pagantes no Ex-Maracanã, aquele das gerais, dos pobres desdentados formando um painel de classes sociais desenhando a democracia (perdida) no futebol.
Os dois times em campo (taí a foto acima). Antes do apito inicial, eis a deslealdade da massa rubro-negra, parodiando trechos do clássico carnavalesco Jardineira. Foi um ato asqueroso: “Ô vascaíno, por que estas tão triste/ Mas o que foi que te aconteceu/ Foi o Dener que bateu no carro/ Quebrou o pescoço e depois morreu”.
A punhalada cafajeste mexeu com os jogadores do Vasco, que perderam a única partida (1×2) da brilhante campanha na conquista inédita. O Vasco daria o troco com o baixinho William, canhoto sensacional em lugar de Dener, derrotando o Fluminense. Mas aquele coro covarde, nunca será perdoado.
Tenho inúmeros amigos flamenguistas, minha mãe era flamenguista, mas não dá para aguentar flamenguista de caráter apodrecido. O tal do Gabigol é o típico exemplar do jeito Flamengo de pisotear vencido. Provoca, exibe faixas, mexe com a torcida do rival.
Age o centroavante banal como se sua bola apenas razoável lhe desse o direito de compartilhar o espírito de porco que carrega sob a pele. Ou acima dela. A grandeza está no saber vencer e o Flamengo não sabe.
Daí me flagrar em êxtase, em qualquer olé sobre o Flamengo seja em decisão carioca, seja em jogo banal ou de baralho. O som da frase: Flamengo perdeu me faz bem. Nem quando uma namorada me deu o fora e descobri que tinha caspa , fiquei tão feliz.
UMA LIÇÃO AOS (IR)RESPONSÁVEIS
por Zé Roberto Padilha

Quando compramos um ingresso para um espetáculo, como uma partida de futebol, uma peça de teatro, está incluído no pacote um palco e um gramado à altura dos seus artistas.
O que o Maracanã possibilitou aos milhares de espectadores, anteontem, momentos de pura magia, foi negado a quem se dirigiu domingo ao Alfredo Jaconi.
Deveriam devolver o ingresso aos que foram assistir e os pontos ao Fluminense. E punir quem autorizou a bola ser afogada por lá.
Um crime palcos irregulares cercearem a Fernanda Montenegro e ao André, o Divino, e Cia, toda a plenitude de sua arte.
Todos perdem.
ALGUMAS BREVES PALAVRAS SOBRE FUTEBOL
por Paulo-Roberto Andel

Para mim e muita gente, futebol tem muitos significados. Um deles é a esperança de, a cada quarta e domingo, voltar a ter onze anos de idade, rever um Maracanã que já não existe e, no campo, espiar uma hora e meia do melhor futebol do mundo. Doces ilusões que, às vezes, se materializam.
Foi o caso desta quarta. Fluminense e Atlético fizeram um jogaço, daqueles que não se parecem com o futebol de hoje, nem deste século. Golaços, grandes lances, disputas, lambanças, garra e talento.
Antes da partida, eu caminhava para casa com certa tristeza por problemas que aqui não cabem, meus, dos outros, da minha cidade e do meu país. Tão triste que desisti de ir para o Maraca e resolvi ver o jogo em casa, sozinho. Esperava um clássico normal, rigoroso, até careta como os atuais, mas aí é futebol, amigos: a surpresa aparece a cada esquina.
Eu, meu copo de refrigerante gelado, a tela da TV praticamente como se fosse dentro do campo, os amigos no WhatsApp sofrendo com suas TVs e também na arena. E tome gols, tome lances bonitos e jogadas que remetiam ao velho UUUUUUHHHHH de muito tempo atrás.
Quando o Fluminense joga, meu mundo para e tudo se mistura. É assim há quase cinquenta anos. Eu me lembro do dia em que conheci Félix no álbum de figurinhas do meu pai. Eu me lembro do time de botão do Flu que ele me deu em 1975 em plena Estrada de Botafogo no terreiro de Dona Nininha e Seu Arlindo – que tinha um Aero Wyllis com banco vermelho. E também me lembro de Paulo Cezar Lima, craque campeão do mundo e colunista deste Museu da Pelada, cobrando três escanteios mortíferos contra o Flu em 1980 – todos fora da marca de cal.
[Então, bate uma saudade imensa dos meus pais e do meu irmão. Eu choro
Outro dia o Edinho fez 67 anos. Eu estava lá quando ele bateu o pênalti numa quarta-feira de chuva, fez o gol e ganhamos por 4 a 0. Fez 40 anos. Na volta, eu e meu amigo Floriano Romano, hoje artista consagrado, esperamos o ônibus por um tempão. Dois garotos de treze anos.
O jogo é quente, Luiz Henrique arrebenta, André corre por toda parte, o Atlético dá suas pancadas, Hulk fica nervoso sem trocar de cor e o Turco faz besteira. Cano faz um gol de barriga e todos os tricolores choram por um instante, lembrando aquele gol de barriga inesquecível em 1995. O primeiro tempo terminou 3 a 2 pro Flu, o segundo fechou em 5 a 3. Luiz Henrique é o melhor em campo, um garoto simples que sorri feliz e já está a caminho da Europa. Para muitos, foi o melhor jogo do Brasileirão. Para outros, o melhor de 2022.
Em duas horas, eu me esqueci da tristeza, dos problemas, das dívidas, das ameaças, das falsidades que encontramos a todo instante, da empáfia oca e só pensei no futebol. Na bolinha que sobe no tiro de meta, se perde no figurino da arquibancada e logo quica na grama. Nos uniformes em campo. Sonhei que meu pai estava ao meu lado, que minha mãe me dava um beijo, que meu irmão sorria. Sonhei com a Marina. Sonhei com a nuvem espessa de pó de arroz que me fez perseguir o Fluminense para sempre.
Acaba o jogo e a insônia vem forte. A emoção da vitória se junta a fotos, memes e gozações porque o rival Flamengo perdeu. Os gols são reprisados no telejornal, nas resenhas e, perto de uma hora da manhã, duas cerejas do bolo: Leo Batista aparece na televisão e fala de coisas belas. Depois, o VT de Flu e Galo. O Leo é voz obrigatória para qualquer torcedor que tem 50 anos ou mais – ele nos dá a falsa e maravilhosa sensação de eternidade. O VT é para ter aquele gostinho inesquecível das reprises da TVE aos domingos à meia-noite, e isso remete a Luiz Orlando, Achilles Chirol e outras feras.
A doce ilusão me oferece uma madrugada de 1980 ou 1983. A realidade é 2022, onde nem toda quarta-feira irá me sorrir com um grande jogo de verdade, mas para quem chegou aos 53 anos como eu, os versos de um gênio – tricolor – como Belchior são contestados: por duas horas de futebol, sonhar é melhor que viver. Quando a anestesia da paixão para, a gente espera o próximo jogo e o próximo sonho. Deve ser assim com meu amigo Edgard, que me contou de como seu pai estaria feliz com o 5 a 3.
Duas e quinze da manhã. Meu pai me puxa pela mão enquanto andamos pelo corredor lotado, até que chegamos à rampa da UERJ e descemos saboreando cada passo de uma tarde qualquer de futebol. Um dia eu ainda vou estudar lá, podem acreditar. E vou jogar campeonatos lá com meu time de botão.
Agora, como se dorme olhando para o teto e trocando os problemas pelas imagens do gol de barriga? É o Renato, é o Cano, é o sentido da vida.
[Esta coluna é dedicada a Edgard Freitas Cardoso, à memória de seu pai e da família Andel
@pauloandel