A CONTURBADA DEMISSÃO DE ROMÁRIO
por Elso Venâncio

Uma dos maiores crises que o Flamengo viveu aconteceu depois da derrota de 3 a 1 para o rebaixado Juventude, no Alfredo Jacomi – partida que eliminou o Rubro-Negro do Brasileirão de 1999. Após o jogo, Romário teve seu contrato rescindido.
O ambiente andava carregado. Gilmar Rinaldi, dublê de dirigente e empresário, não mais aceitava as mil e umas regalias do Baixinho. A ida do craque junto a alguns companheiros à Festa da Uva, em Caxias do Sul, não passou de pretexto para a demissão. Todos sabiam que, ao retornar da Copa dos Estados Unidos com status de melhor jogador do mundo, o camisa 11 sempre fez questão de deixar claro a todos os presidentes dos clubes nos quais jogava que, treino para ele, só se fosse à tarde.
A confusão no Sul propiciou que o maior fã que conheci do atacante entrasse em ação. Presidente do Vasco, Eurico Miranda fez uma boa proposta, aceita pelo atacante mesmo sendo inferior ao que vinha recebendo no Flamengo.
Jorge Rodrigues, Grande Benemérito Rubro-Negro e muito querido por todos, chefiava a delegação do clube naquelas duas partidas a serem jogadas no Sul – contra o Juventude, em Caxias; e diante do Internacional, em Porto Alegre. Na volta ao Rio, ainda tentou um acordo entre os diretores e o ídolo. Alugou, inclusive, uma sala no edifício Rio Branco-1, no Centro, para uma reunião.
A confusão era generalizada. Romário tinha batido boca com Gilmar, desafeto de Eugenio Onça, um dos “dirigentes” da Gávea. A demissão do craque, anunciada pelo presidente Edmundo Santos Silva, teve o aval do vice Rodrigo Dunshee de Abranches. Naquele portentoso prédio da Praça Mauá, participaram da reunião Edmundo Santos Silva, Romário, Luizinho Moraes, o representante do jogador, e os dirigentes Júlio Leitão, Betinho e Capitão Léo.
No início da conversa, gritos altos ecoavam do lado de fora da sala. Partiam do diretor Júlio Lopes, que entrou no peito e na raça após ser barrado e ter que encarar e brigar com seguranças. Edmundo Santos Silva foi duro, mas Romário reagiu. Disse que era sujeito homem, mas no fim das contas tudo caminhava para um acordo, apesar do ambiente tenso. Combinaram, contudo, uma coisa: ninguém iria falar com a imprensa. Melhor deixar a poeira baixar. Tudo certo, o Baixinho voltaria a treinar na semana seguinte.
O curioso é que três participantes da reunião não saíram pela porta da frente. Da garagem subterrânea surgiu um carro com Júlio Leitão ao volante. O veículo foi imediatamente cercado pela imprensa. Ao lado dele estava o agente de Romário, mas… cadê o artilheiro? Sumiu! O maior ídolo brasileiro da época, hoje Senador da República, saiu – acredite se quiser – no porta-malas daquele carro. Para evitar contato com os jornalistas.
A novela, porém, não teve final feliz. O presidente do Vasco, informado da possível reconciliação, não perdeu tempo e contra-atacou. Foi direto encontrar Romário:
– Eu honro a minha palavra…
A resposta do goleador foi a seguinte:
– Quero dois milhões de dólares por ano!
Eurico deu uma baforada no charuto e sentenciou:
– Te dou dois milhões e meio. Melhor, três milhões.
Fim de papo, estava pra lá de selado o acordo. Romário esqueceu o Flamengo e voltou a São Januário 11 anos após sua ida à Europa. No começo do ano seguinte, durante o Mundial de Clubes que o Corinthians ganhou em pleno Maracanã, reviveu com o “animal” Edmundo a dupla de ataque de cinco anos antes. Assim como os mesmos problemas que tiveram quando no Flamengo.
Aliás, mesmos problemas que seguem tendo até hoje. Mesmo longe dos gramados.
FESTIVAL DE SIMULAÇÕES
::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

O novo presidente da CBF assumiu seu posto, demitiu dezenas de pessoas, anunciou mudanças no futebol e um VAR mais dinâmico. Será que ele assumiu mesmo ou foi fakenews? A verdade é que se nada for feito seguiremos com esse festival de simulações, xingamentos, agressões e pouquíssima bola rolando. Se eu fosse presidente, o que nunca acontecerá, uma das primeiras medidas que eu tomaria seria reduzir quase a zero o número de integrantes da comissão técnica assistindo os jogos no banco de reservas. Já foram expulsos massagistas, analistas de desempenho, fisiologistas, vice-presidentes, psicólogos, auxiliares e assessores diversos.
Ou seja, além de penetrarem na festa ainda tumultuam as partidas, xingam os árbitros e participam das brigas como ocorreu na vitória do Botafogo sobre o Inter, de Mano, que continua sendo o queridinho da imprensa mesmo após uma sequência de empates e, agora, uma derrota. Felipão, outro que a imprensa adora bajular, conseguiu mais uma vitória seguindo o velho roteiro que conhecemos bem: o adversário domina a partida, mas perde com um golzinho no último minuto.
Por isso, elogio Fernando Diniz. Consegue montar times leves, com toque de bola rápido, gostoso de ver. Perde jogando, respeitando o torcedor. E não me venham com aquela lenga lenga que o importante é vencer mesmo jogando feio. O problema é que grande parte dos treinadores pensa assim e coloca em campo um amontoado de brucutus e pitbulls corredores.
Sinceramente, os portugueses que ainda seguem nos clubes brasileiros são tratados como gênios pela imprensa e, sinceramente, não são essa Coca-Cola toda. Prefiro o estilo dos argentinos Antonio Mohamed, do Galo, Fabián Bustos, do Santos, e Juan Pablo Vojvoda, do Fortaleza. Agora, para finalizar, preciso dizer como foi ridícula a forma com que a imprensa paulista e a assessoria do Palmeiras rebateram a crítica de Jorginho, técnico do Atlético Goianiense, contra a conduta de Abel Ferreira com a arbitragem.
Não sei se ele era assim em Portugal, mas aqui o Abel e sua comissão deitam e rolam. Jorginho criticou e foi carimbado de xenófobo. A imprensa paulista caiu de pau no tetracampeão do mundo. Talvez não conheça seu caráter e histórico de vida. A imprensa tem transformado Abel em um gênio do futebol, que veio ao Brasil nos ensinar futebol. Menos, Abel, menos.
Pérolas da Semana:
“É fundamental ter leitura de jogo para entrar por dentro das linhas de cinco e de quatro. Assim, é possível engatar na diagonal com consistência, enfrentar o X1 com intensidade e trocar a rota de jogo”.
“Para se associar ao contexto do ‘9 9’ mais proativo, o ala reativo encaixotou a posição para chapar a bola viva e abrir o leque por fora para o falso nove cabecear na costura da rede”.
Entenderam as baboseiras?
MEU PAI E A FINAL DA COPA AMÉRICA
por Rubens Lemos

O Brasil decidiu a Copa América de 1989 contra o Uruguai num domingo, 16 de julho, data fatalista pela perda da Copa de 1950, no Maracanã da mesma decisão 49 anos depois. Bobagem. A Celeste ganhou com justiça. Não errou.
Meu pai, sertanejo nato, vascaíno ultrarradical, tomara antipatia do técnico Sebastião Lazaroni. Achava-o injusto.
Para perseguido político, quem vacila é pior que inimigo ideológico.
Meu pai decifrava, poetizava o Brasil de 1950, exaltava o Expresso da Vitória cruzmaltino da década de 1940. Barbosa, Augusto, Rafanelli; Eli, Danilo, Jorge; Maneca, Jair, Ademir, Ipojucã e Chico. Posso ter errado por um ou dois, não por muitos.
Em 1989, desfiava seu compêndio de palavrões tão logo Lazaroni barrou quem, para Rubens Manoel Lemos representava o romantismo e a imaginação perdidas para a mediocridade: Geovani Silva, meia-armador que chamava de regente, pela capacidade de comandar, alterar, organizar, decifrar e subverter a administração de um jogo baseado na classe que ele acompanhava, criança, em Ipojucã ou Jair.
Geovani era capitão do Vasco e homem de confiança do “Laza”, a quem deu um bicampeonato carioca com Roberto, Romário e Mazinho. Geovani fora o melhor das Olimpíadas de 1988 e, sua ausência na final(suspenso), custou o Ouro. Entrou Neto, Dadá Maravilha sem graça.

Brasil x Uruguai pela TV Manchete. Saem as escalações. João Saldanha reclama a ausência de Geovani. Márcio Guedes, comentarista, ousa chamar o craque de decadente. João Sem-Medo:
– Decadente é você, que nunca esteve no auge, Geovani é o melhor de todos.
O meu pai nem esperou a resposta(que não houve), de Márcio Guedes:
– Viva João Saldanha, Viva Geovani!
Apartamento lotado, claro, cerveja grátis é convite a amigos de ocasião, um deles gracejou, flamenguista que era:
– Rubão, Geovani é apenas um driblador…
Agradeço a Deus meu pai estar desarmado.
– Você sabe quem foi Manoel dos Santos? Sabe?
O sujeito pensou, pesquisou e murmurou, todos tensos na sala:
– Não lembro…
Rubão saltou da rede, acendeu o 30o cigarro e, calmamente, fuzilou:
– Se você não sabe quem foi Garrincha, perdoo pela ignorante inveja de Geovani.
– Não tenho inveja dele, insistiu o penetra.
– Tem e a inveja arrasa a alma, mesmo a de quem não tem, o que é o seu caso.
Ninguém bebia, ninguém fumava, ninguém traçava petisco, só o som da TV.
Chateado também pela ausência do ídolo, disse ao inconveniente:
– Vai esperar meu pai te expulsar no braço?
Ele foi embora, meu pai dormiu 90 minutos, Romário fez o gol do 1×0 final.
No dia seguinte perguntei o que ele achava. Rubão profetizou:
– A Copa América vai matar o Brasil na Copa do Mundo. Não existe time sem criador, lançador, craque. E ninguém pronuncia o nome de Lazaroni nesta casa!
No dia 4 de junho, fez 23 anos que o meu pai morreu. Firme em suas convicções. E não errou. Perdemos em 1990. Com Lazaroni e sem Geovani.
FLAMENGO DESPREZOU JAIRZINHO
por Elso Venâncio

Faz pouco tempo, tive a chance de rever Jairzinho, único jogador brasileiro a marcar gol em todos os jogos de uma Copa do Mundo. O papo foi na tradicional feijoada, regada a pagode, do ‘Cariocando’, que está de volta no Catete. Este evento é organizado pelo misto de jornalista e promoter Paulo Marinho.
Foram 7 gols em 6 jogos, e usando a camisa 7, número místico. Deus criou o mundo em 7 dias, 7 são os dias da semana, 7 são as notas musicais, 7 são as maravilhas do mundo, 7 era a camisa do Garrincha, do Túlio Maravilha, do Cristiano Ronaldo… e com a 7 às costas Jair Ventura Filho brilhou no México, marcando 7 gols e popularizando o sinal do crucifixo nas comemorações.
O ídolo botafoguense me falou de seu início de carreira. Estava tão à vontade que, ao ser aplaudido, subiu no palco e cantou ‘Jair da Bola’, música do compacto simples que ele próprio gravou nos anos 70:
“Todo jogador quer ser cantor e todo cantor quer ser jogador”, lembrou.
Nascido em Caxias, Jairzinho foi treinar no Flamengo. Walter Miraglia, técnico dos juvenis na época, o observou durante quatro coletivos.
“Eu não vou ficar, seu Walter? Faço gol em todo treino…”
“Depende da diretoria…”, despistava Miraglia.
Isso foi em 1960. O feiticeiro Fleitas Solich tinha voltado ao clube e, a certa altura, chamou Jair ao lado do campo, na Gávea:
“Garoto, você tem quantos anos?”
“15…”
“Leva jeito, hein…”
Dona Dolores, a mãe do atacante, decidiu se mudar para a rua General Severiano. Jair atuava pelo Paulistano, time amador do bairro. Em um dos jogos, para sua surpresa, seria marcado pelo Nilton Santos. Isso mesmo, o consagrado lateral, mesmo tendo jogos profissionais aos fins de semana, também jogava as suas peladas.
Nilton teve trabalho e, ao final, perguntou se o jovem queria treinar no Botafogo. Jair parecia relutar:
“Só tem craque lá. E tem o Garrincha…”
Em outro jogo, marcado por Rildo, viu que o lateral se irritava ao ver tanta força e correria:
“Vai para o outro lado, sai daqui, menino! Senão te meto a porrada.”
Desprezado pelo Flamengo, virou gandula e resolveu treinar mesmo no Glorioso:
“Me destaquei no juvenil, onde fui tricampeão carioca no início dos anos 60. Logo passei a treinar com os profissionais.”
Foi o próprio Rildo, que se tornou um dos seus melhores amigos, quem insistiu com os treinadores e a diretoria, alertando que Jair, aos 17 anos, tinha mais é que subir.
Nos primeiros treinos, sempre se destacava, marcando gols. Depois, corria para casa, feliz da vida:
“Mamãe, mamãe… meti dois gols!”
Órfão de pai aos 2 anos, ele só tinha Dona Dolores, que não compreendia a empolgação do filho único. Sempre no dia seguinte após os treinos, acordava cedo e comprava o ‘Jornal dos Sports’. Certa vez, leu a manchete do ‘Cor de Rosa’:
“SURGE UM NOVO GARRINCHA”
Dona Dolores começou a se dar conta de que a relação entre Jair e a bola era um caso sério.
O Botafogo de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Amarildo, Manga, Quarentinha, Zagallo & Cia. treinava sempre à tarde. De repente, Mestre Didi falou:
“O bagaço, o bagaceiro…”
Meio sem jeito, o garoto olhou de lado, como quem perguntava a si próprio, “Será que ele está falando comigo?”
“Você mesmo! Você vai treinar entre os titulares. Quando eu estiver com a bola, se mexe que te coloco na cara do gol.”
Jairzinho barrou Quarentinha. O ataque titular do Alvinegro virou Garrincha, Didi, Jairzinho, Amarildo e Zagallo.
No período em que jogou três Copas, entre 1966 e 1974, chegou a ser considerado por muitos, em algumas temporadas, como o maior atacante do planeta.
Jair Ventura Filho, 77 anos, é um ídolo eterno do futebol brasileiro!
O CRAQUE DO BRASIL EM 2016
por Luis Filipe Chateaubriand

No ano de 2016, o Palmeiras se destacou, vencendo o Campeonato Brasileiro.
O destaque do time foi o jovem Gabriel Jesus, que exibiu futebol de qualidade – o que o levou, posteriormente, para o Manchester City.
O garoto era especialista em fazer gols, com posicionamento na área bastante pertinente.
Além disso, Jesus fazia bem o pivô, preparando chances para companheiros de clubes.
Jogador, também, de saúde e força física, não desfalcava o “Verdão” em seus jogos.
O conjunto de virtudes levou o jogador a vencer a Bola de Ouro da revista Placar, em 2016.
Merecidamente.