SOPRO DE ESPERANÇA
:::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Não sei se minha coluna está tendo alcance internacional, mas fiquei feliz que minhas preces começaram a ser atendidas lá nos Estados Unidos! Ainda estamos engatinhando, mas vi que aplicaram uma regra que o jogador que pedir atendimento médico precisará ficar fora de campo por, no mínimo, três minutos. É um começo? Claro que é, mas vale ressaltar que o mal tem que ser cortado nas divisões de base!
Não acho que isso será o suficiente e já deve ter até dirigente tramando nos bastidores uma forma de fazer um rodízio para que os jogadores simulem no momento oportuno. Nada mais me surpreende!
A punição deveria ser severa, incluindo expulsão, multas milionárias e até exclusão do campeonato! Dessa forma, acho que consigo ver uma luz no fim do túnel!
Na rodada do fim de semana, como de costume, teve jogador rolando, técnico expulso, árbitro xingado e por aí vai! Sabe qual é o pior? Acompanhei alguns jogos da categoria de base e a falta de educação é a mesma! Os pais, irmãos e amigos dos garotos soltam palavrões a todo momento e às vezes até saem na mão com os familiares do outro time!
Em relação ao desempenho dos jogadores, vimos mais um show de horror! Sem querer crucificar o lateral do Flamengo, mas aquele lance que ocasionou o gol contra é o reflexo da situação atual do nosso futebol! Uma bola fácil, sem ninguém pressionando e ele colocou para o fundo da rede. O domínio é um fundamento básico que, na minha época, treinávamos exaustivamente.
Sabem o que é isso, né? Hoje em dia a prioridade é correr 200km por jogo, dar trombadas e carrinhos por aí! Precisamos urgentemente olhar para os detalhes que compõem o nosso futebol!
Pérolas da semana:
“Ligação direta durante o jogo em direção aos três zagueiros, com o apoio do alas, para zerar a bola viajando por dentro e na faixa central. Dessa forma, cria-se um espaçamento confortável do time jogando por uma bola (como se tivesse outras no campo)”.
“O lateral do Flamengo não teve o fundamento e, ao rebater, a bola pegou na goiaba do pé”.
“Nas trocas do 4-4-2 por um modelo clássico de linha de 5 e 4 na frente, tendo amplitude e encorpando os volantes para o lado do campo e criando a opção do movimento corporal do 9”.
UM JOGO NUNCA É UM JOGO SÓ
por Paulo-Roberto Andel

Sábado passado, cheguei ao Maracanã com meu amigo Marcelo e fomos para a arquibancada hoje chamada de setor Norte, nem sempre aberta.
Quando me sentei na cadeira, olhei para a frente e me deparei com a massa de gente do Fluminense, por todos os lados. Tudo bem, o Maracanã de agora não é o de antigamente, mas o que importa é que, nas circunstâncias atuais, o que sobrou do velho estádio estava lotado.
Às vezes eu espio as arquibancadas e vejo o que já não existe: a velha arquitetura com cadeiras na parte de baixo e a inesquecível geral. Tudo se mistura. Não é loucura, mas a memória que transborda e que parece tão viva fisicamente, por maior que seja a ilusão.
Cadeiras abaixo, o pai brinca com seu pequeno filho que ainda descobrirá o mundo do futebol, das lágrimas e alegrias às vezes simultaneamente. Outro dia mesmo era eu quem brincava com meu pai, mas acreditem: quarenta anos passam rápido demais. Por um instante, sei que ser órfão é um tiro no peito, não importando a idade, mas a maturidade me regenera em instantes.
Eu estou num jogo e venho para ver a despedida de um ídolo do meu clube, para ver o ballet da vida que a minha torcida vai proporcionar, mas ao mesmo tempo reencontrar meu passado. São muitos e muitos anos, são vitórias inesquecíveis com derrotas idem. A perfeição não existe; a vida, sim.
Perto de mim, garotinhos esbugalham seus olhos antes do jogo porque esperam o último ato de Fred, o maior ídolo de todos eles. Eu era um garotinho quando Rivellino foi embora, depois Wendell, depois Edinho e Cláudio Adão, sei o que é aquilo. Minha única vantagem é ser testemunha de que tudo passa, que a máquina do tempo não para e que os ídolos precisam passar para que venham novas sementes a germinar o futebol.
[Afonsinho, um dos maiores jogadores de seu tempo, encerrou a carreira no Fluminense em 1981. Ainda jogava muito. Ganhou várias notas 10 dos jornais em seus três meses de Laranjeiras. Isso já passou de quarenta anos.
No novo Maracanã, a torcida tricolor poucas vezes encheu o estádio. As campanhas não ajudaram, nem a escassez de títulos, mas alguma coisa mudou. O futebol é outro, o povão está alijado do estádio, as pessoas estão empobrecidas e há muito sofrimento.
O sábado foi mais do que agradecer a Fred ou testemunhar o fim de sua carreira. Para pessoas como eu, que já viram e viveram muita coisa, que estão mais próximas do fim do que do começo, a arquibancada repleta de três cores foi o reencontro com minhas raízes, com o que vivi ali por muitos e muitos anos.
Apesar de todas as dificuldades e dos tempos modernos, o futebol ainda faz com que sessenta mil tricolores compareçam ao Maracanã. Dá a certeza de que ainda estamos muito vivos, tal como em tantas e tantas ocasiões que agora parecem tão distantes.
Meu momento culminante foi com a entrada do time em campo. Os tanques de fumaça criaram uma espessa nuvem branca que aos poucos subiu, cobrindo tudo. A gente sabe que não era, mas parecia demais o velho e bom pó de arroz que cativou milhões de tricolores para sempre. Olhei para baixo e vi a multidão alucinada na geral imaginária. Olhei para o lado e vi meu pai balbuciar alguma coisa enquanto apertava minha mão. Na impossibilidade daquela fantasia, o Marcelo presente também ao lado trouxe o conforto que a gente precisa quando se sente só no meio da multidão.
O Fluminense venceu, Fred se despediu, teve celebração e homenagem, a torcida saiu feliz. Os garotinhos de 2022 já procuram pela próxima partida. Ainda tensos com a saída do ídolo, eles esperam pelos novos jogadores que possam arrebatar os corações em três cores. A fumaça dos tanques não é o pó de arroz, mas aquele momento mágico nos fez sentir como se estivéssemos nas nuvens.
Um jogo nunca é um jogo só. São muitos e muitos jogos. Os corações mais atentos sabem que, num Maracanã lotado, o passado e o presente andam de mãos dadas.
@pauloandel
FRED EXPLICA
por Marcos Eduardo Neves

O nome de Fred é Frederico. E, sim, Fred é rico. Nem digo patrimonialmente, mas rico de espírito. Rico de fãs. Rico de felicidade pessoal. E nacional. Sua felicidade é a mesma dos milhares de tricolores que hoje misturaram orgulho e tristeza para ovacioná-lo de pé no Maracanã.
Fred é um dos principais ídolos do futebol brasileiro. Talvez, o maior do Fluminense. Há tempos se discute quem é o grande nome das Laranjeiras. Castilho? Rivellino? Assis e Washington? Ouso dizer que é Fred.
Sua identificação com o clube foi imediata. Paixão e amor à primeira visita. Mal chegou de volta ao Brasil, após passagem pela França, e se deu tanto, doou-se tanto, que eternizou seu nome em um dos maiores clubes do país, o Fluminense.
Um Fluminense que hoje sorri e chora ao mesmo tempo. De alegria, mas não tristeza. Porém, com um oceano de saudades.
Quis o destino que Fred se despedisse tendo o clube um sucessor à altura. Estrangeiro que nem Romerito, astro da conquista do Brasileiro de 1984; argentino tal qual Darío Conca, protagonista do título de 2010; seu sucessor é Germán Cano – por sinal, quem abriu o placar e deu o passe para o segundo, nos 2×1 contra o Ceará. No entanto, Cano vai ter que colocar muito pó-de-arroz nas chuteiras para fazer a torcida não se lembrar volta e meia de Fred.
Cano está só começando sua trajetória de sucesso. Ao passo que Romerito saiu do clube querendo “mi dinero”– nossa, como foi feio aquilo. Já Conca, coitado, preferiu retornar ao Brasil direto para o rival Flamengo: traição imperdoável. Fred, não. Mesmo tendo saído, sempre teve as portas abertas.
O centroavante que hoje se aposenta passou por duas vezes pelo Tricolor carioca. No começo, fez fama no América Mineiro, tendo marcado 45 gols em 51 jogos, um assombro. Na temporada seguinte, sua estrela luziu no Cruzeiro: 53 tentos em, pasme, 71 partidas.
Mineiro de Teófilo Otoni, Fred nasceu em 3 de outubro, tal qual meu filho, que é tricolor muito por causa dele. Meu filho é de 2000. Fred, de 1983 – ano em que a saga da verdadeira máquina tricolor, aquela que alcançou o tricampeonato carioca e, junto a isso, o Brasileirão, se iniciou.
No Lyon, Fred assinalara 41 gols em 119 jogos. Até que, de volta à pátria amada, em 2009 encontrou seu grande amor – profissional, diga-se. No Rio, ajudou o Flu a de forma heroica escapar do rebaixamento, quando nem o mais otimista dos torcedores acreditava. Diante do próprio Cruzeiro, jogo perdido por 2×0 e queda praticamente consumada, marcou dois e o time virou o jogo, começando uma arrancada das mais notórias da História do futebol. Líder do “time de guerreiros”, uma pena o capitão Fred não ter erguido a Copa Sul-Americana do mesmo ano. Seria um prêmio. Mas a consagração viria no ano seguinte.
Do fundo do poço ao ápice, em 2010 Fred se tornou, enfim, campeão do país. E dois anos depois, novamente levantou o troféu, sendo também o artilheiro da competição. Em 2013, ganhou a Copa das Confederações detonando a poderosa Espanha, campeã da última Copa, em um dia épico do Maracanã. Depois se arrasou no Mundial disputado no Brasil, é verdade. Passou por uma verdadeira provação, uma espécie de calvário. Chegou a ser chamado de “poste”, ao passo que uns achincalhavam, dizendo que ele “não Fred nem cheira”.
Ah, idiotas da objetividade, havia ainda muito aroma no ar. A pecha do 7 a 1, que dizimou o moral de muitos convocados por Felipão em 2014, não atingiu Fred. Hulk só há pouco conseguiu afastar a urucubaca, exorcizando aquele fantasma. O que David Luiz, por exemplo, luta, até agora em vão, para conseguir.
Fred sempre se sobressaiu, jamais se abateu, continuou sendo Fred. Um Fred que já havia disputado uma Copa, em 2006, e mesmo jogando míseros minutos, deixou sua marca. Aliás, marcas não lhe faltam. E marcar – no caso, gols – jamais também lhe faltou. Como vimos em seu penúltimo jogo.
Entre 2009 e 2016 foram 172 gols em 288 jogos pelo Flu. No Galo Mineiro, vazou por 42 vezes os goleiros nas 83 vezes em que vestiu o uniforme alvinegro. Retornou ao Cruzeiro, mas para talvez perceber que Minas apenas lhe gerou, contudo quem fez dele um cidadão foi mesmo o Rio de Janeiro – mais precisamente, o Fluminense. Apesar de fazer 25 gols em 69 partidas pelo time celeste, voltou para as Laranjeiras e deixou mais 27, em 94 partidas. Ou seja, contando com hoje, foram 382 jogos e 199 gols. Média maravilhosa de um jogador acima da média. Um dos maiores nomes do esporte nacional em todos os tempos.
Pela seleção Fred deixou 18 bolas na rede em 39 apresentações. Mas pergunta se ele trocaria a idolatria alcançada junto aos tricolores por um caneco mundial com a amarelinha. Claro que não. Sempre que Fred aparecer no Maraca, no clube ou em qualquer evento ligado aos tricolores, tanto ele como sua família hão de se orgulhar pelo legado que Frederico Chaves Guedes deixou. Um legado que não terminou hoje, apenas começou. Para o todo e sempre. Fred explica.
F-R-E-D. Quatro letras que emocionaram o país neste sábado. Mais do que cidadão carioca, Fred é unanimidade nacional. Ídolo de verdade. Merece livro, filme, documentário, tudo. Só não merece ser esquecido. Nem vai. Pois Fred não é Pelé mas é eterno. Assim como seus gols, seu empenho, dedicação e sua alma, ele já é História. Com H maiúsculo. De um homem com H igual. Alguém que honra o seu trabalho e assume com galhardia sua condição de ídolo.
Parabéns pela linda festa, Fred. E, saiba, você não se despediu do futebol. Na natureza tudo se transforma, então, acredite, como seu sobrenome aponta, você tem as Chaves e as portas abertas para uma nova etapa que está apenas começando. E o melhor: já inicia já no topo. De onde, por sinal, na verdade você jamais saiu.
O PONTO FINAL
por Mauro Ferreira

Fugiu uma lágrima, Fred. Fugiu, artilheiro. Bem que você tentou esconder a emoção, cumprir a promessa e não chorar. Pra quê? Como? Quem emociona, precisa antes se emocionar. Da cara amarrada ao sorriso largo e à lágrima solitária escorrendo pelo rosto, tudo passou pela bola, pela magia e pela poesia do futebol.
E não há poesia no futebol sem o gol. Talvez por isso, de todos os esportes com bola, seja o que menos vezes arranque da torcida um grito de êxtase durante a disputa. E você escreveu muitas poesias ao longo dos anos. Emocional, precisava arrancar emoções. Pra isso, pouco importou a forma. Deitado ou voando, de cabeça ou de bico, o que valia era a poesia do gol. A poesia do grito explosivo de um gol. Bem como aquele tal 199.
Pois é, não poderia ter o gol 200. Precisava haver a sua marca, o seu “9”. Por duas vezes no Fluminense, ambas com o “9” tatuado nas costas. Os Deuses do futebol sabem o que fazem e colaram dois “noves” na sua marca. 199 gols com a camisa do Fluminense é o presente final. Como diria o ex-presidente tricolor Manuel Schwartz, “Deus escreve certo por linhas certas porque Deus jamais vai escrever torto ou errado”.
E, ao contrário do que você pensa, Deus incumbiu, sim, Nelson Rodrigues de escrever o roteiro final de sua carreira. Pediu ao seu fiel escritor tricolor que lhe entregasse sua obra mais poética e emotiva: o gol 199, o gol dos noves, o gol do nove mais nove de todos os times que habitaram as Laranjeiras.
Fred, uma lágrima fugiu. E tantas outras – tantas – fugiram junto. Você, ainda bem, não cumpriu a promessa de não chorar. E só há um motivo:
O Fluminense te pegou.
ACORDA, PEDRINHO! SUA HORA CHEGOU
por Marcos Eduardo Neves

Provável titular da seleção na Copa de 2026, o talentosíssimo e mais que eficiente Pedro teve uma noite de gala nesta última quarta-feira, no Maracanã. Que hat-trick, que nada: iluminado, fez logo quatro gols, em plenas oitavas de Libertadores. Ainda participou de dois dos outros três, na imponente goleada de 7 a 1 sobre o Tolima. Uma semana após o Dia de São Pedro, o centroavante do Flamengo pescou almas e mais almas a seu favor como titular, o que tantos já sonhavam faz tempo, porém havia um certo Bruno Henrique, inquestionável até na questionalidade, nublando-lhe a vista do campo.
Bruno Henrique, ao que parece, ficará um ano ausente. Ao que tudo indica – e que me desculpem Marinho, Vitinho, Lázaro e até você, Cebolinha, que mal chegou, perdão pela sinceridade, mas tudo aponta para que o massacre de ontem consolide Pedro como um dos onze soldados da linha de frente em jogos decisivos.
Pedro Guilherme Abreu dos Santos é queixudo. Por isso, o apelido ‘Queixada’. Tal qual chamavam Ademir, craque do Vasco no melhor Cruzmaltino de todos os tempos, o Expresso da Vitória.
Assim como Ademir Queixada, Pedro é artilheiro nato. Assim como Ademir, pode ser também artilheiro de uma Copa. Queixada foi no Mundial de 1950. Pedro, por que não, pode cravar seu nome no cenário mundial daqui a quatro anos. Parafraseando Cazuza, para Pedro o tempo não para. O dele voa. Bem alto.
Aos 25 anos, Pedro vive um grande momento. Deve estar acordado até agora… Impossível dormir! Libertadores é a nossa Champions e Pedro é dela o artilheiro, com sete gols, mesmo número que os palmeirenses Rafael Navarro e Rony. Mesmo tendo poucas chances. Um aproveitamento, diria, divino.
Além dos gols, ontem Pedro deu de calcanhar, por elevação, chutou raspando, cedeu assistências. Fez o diabo, mas saiu glorificado. Em 2016, quando se profissionalizou, aos 19 anos, certa vez se excitou ao fazer cinco – sim, 5! – pelo Fluminense, clube do qual foi ídolo e hoje causa revolta ou ojeriza entre os pó-de-arroz. Chegou a dizer, no calor do momento:
– O Fred é um ídolo da torcida. Me espelho muito nele. Procuro sempre melhorar olhando para ele e para o Ibrahimovic.
Contudo, fez cinco nos 10 a 0 sobre o Capivariano, de São Paulo, pela primeira fase da Copa São Paulo de Juniores. Não era partida de vida ou morte, muito menos na principal competição continental. Inclusive, na coletiva concedida após aquele feito, o púbere artilheiro afirmou que já havia marcado quatro gols numa oportunidade, mas nunca cinco. Só que estes quatro de ontem, convenhamos, não tem comparação.
Se com Fred, uma de suas referências, ele tinha o sonho de jogar, hoje joga com outro super-herói. Por sinal, o que mais viu de tão perto, ali do banco: Gabigol. Que, por sinal, deixou o dele e fez bela partida ontem também. Participou de vários gols.
Mas, Pedro, faz seu nome, que o de Gabigol já está feito. Você pode vir a ser o Gabigol deste ano, acredite. Sei que você acredita muito em você, nós também.Quem sabe assim, Pedro, você se aliviará da decepção de não ter sido liberado pelo próprio clube para brilhar nos últimos Jogos Olímpicos.
Na época, pareceu maldade contigo. Hoje, sinto que você estudou bastante num colégio interno. Compreendeu o professor, e agora está maduro, pronto, para assegurar de vez seu nome no clube mais amado do Brasil.
Acorda, Pedrinho! Sua hora chegou.