ADRENALINA PURA EM 1987
por Luis Filipe Chateaubriand

O ano de 1987 foi marcado pela Copa União, grande torneio que reunia os maiores clubes brasileiros.
Uma das semi finais do certame era Atlético Mineiro x Flamengo.
O Atlético Mineiro, que fez a melhor campanha da fase classificatória, levava a vantagem de jogar por dois empates e uma vitória e uma derrota pelo mesmo saldo de gols.
No primeiro jogo, em um Maracanã “abarrotado” de gente, o Flamengo venceu por 1 x 0, gol de Bebeto.
Significava que, nos seus domínios, o Atlético Mineiro precisava da vitória, para se classificar à final.
Caso contrário, a vaga seria do Flamengo.
E veio o segundo jogo, em um Mineirão lotado!
Com um gol de cabeça, Zico fez 1 x 0 para o Flamengo.
Pouco depois, Bebeto aproveitou um cruzamento vindo da direita para fazer 2 x 0.
Tudo no primeiro tempo.
Parecia “fatura liquidada”.
Mas eis que o “Galo” não estava morto…
Começa o segundo tempo e o Atlético Mineiro parte com força para o ataque, cedendo oportunidade de contra-ataque ao “Urubu”.
O jogo fica frenético, dinâmico, emocionante.
Em cobrança de pênalti, o lateral direito atleticano Chiquinho diminui o placar para 2 x 1.
Pouco depois, Sérgio Araújo, ponta direita mineiro, faz um fuzuê na área do Flamengo e empata em 2 x 2.
Eis, então, que ficou tudo em aberto… mais um gol do “Galo” o levaria à final.
O jogo fica alucinante, com o Atlético Mineiro pressionando e o Flamengo contra-atacando.
Já perto do fim do jogo, Renato Gaúcho recebe uma bola na intermediária, arranca com ela, passa por dois defensores atleticanos, passa pelo goleiro João Leite e toca a “pelota” para o gol vazio.
Atlético Mineiro 2 x 3 Flamengo.
Um dos jogos mais espetaculares que este escriba assistiu na vida!
Na final, contra o Internacional, o Flamengo se sagraria campeão brasileiro, mas essa é outra história.
BANCOS DESTEMPERADOS
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Quando você ganha ingresso vip para assistir o jogo de seu time e em cima da hora desiste de ir por total falta de interesse é porque há algo de muito errado acontecendo com você, com o clube do coração ou com os dois. Estou com 72 e meu nível de tolerância só aumenta. Juro, sem exageros, pouquíssimas coisas prendem minha atenção nesse Brasileiro.
A mídia paulista vinha exaltando esse Corinthians e eu nunca consegui enxergar o que eles viam. E se ele está no alto da tabela é porque algo de muito errado realmente vem acontecendo! Ficou na roda para o Flamengo, assim como o Inter, de Mano, outro que a mídia adora colocar em outro nível. Ontem, com um jogador a menos, o Fortaleza deitou e rolou com o time gaúcho. Ah, mas estava com o time reserva defenderão os “especialistas”. Graças a Deus o presidente do Fortaleza manteve o técnico, que montou um time que há tempos vem dando prazer de assistir.
O Ceará também tenho gostado. E o mais engraçado de tudo é como a mídia dança conforme a música. Agora o Fernando Diniz é gênio e o Ganso é fora de série. Sempre defendi os dois pelo simples fato de entenderem o futebol como espetáculo e não um circuito de Fórmula 1.
Hoje quem faz espetáculo são os torcedores. Viram o show que a torcida do Bahia deu? Recorde de público e um colorido especial para incentivar um time limitado. A do Vasco vem fazendo o mesmo. Como pode haver espetáculo se os “comandantes” desrespeitam os árbitros e incentivam o anti-jogo? Nesse Brasileiro, já foram expulsos 100 integrantes das comissões técnicas! Ninguém vai fazer nada? Um monte de “aspone” tumultuando o jogo e a CBF vai seguir permitindo? Desde que retornou ao Atlético-MG como herói, Cuca ainda não conseguiu fazer o seu time jogar!
Já está ruim e ainda recebo a notícia da morte de Jô Soares, artista completo, múltiplo, que entregava ao público um conteúdo de bom gosto, divertido, relevante. Assim como Chico Anysio, Renato Corte Real, Ronald Golias. Hoje para fazer rir os “humoristas” apelam para os gritos e palavrões, assim como os treinadores e suas comissões técnicas. Mas vão me chamar de nostálgico, o Ganso de lento, o Diniz de viajandão e o Tite de gênio. Mas, vamos em frente e um beijo do Gordo! Quer dizer, do PC!!!!
Pérolas da semana:
“Fazer a leitura de jogo em tempo integral para enxergar o ponto futuro e dar um tapa na cara ou orelha da bola. Assim, o ala consegue uma conexão na diagonal para sustentar a carga no combate pegado”.
“Quebrou a linha de três da defesa com tráfego intenso e goleiro monólogo, mas o falso 9 foi atropelado pelo atacante agudo”.
Analistas de computadores, futebol você enxerga e tem visão de jogo, não se lê!
tardes de zico…
por Péris Ribeiro

Ah! Quantas saudades… E quem não as teria, se viveu um Maracanã em tarde de Zico?
De todas as que vivi, guardo um carinho especial por duas delas: as das decisões dos Campeonatos Brasileiros de 1980 e 1983. Tardes típicas de Rio de Janeiro. Com alma bem carioca. De céu azul profundo e sol aberto convidando à praia. E bandeiras e gritos de “Flamengo!”, “Flamengo!” tomando as ruas e sacadas. Da Zona Norte à Zona Sul.
Na decisão do Brasileiro de 80, Reinaldo, praticamente com uma perna só, parecia deveras enfeitiçado. E dava a entender que poderia, com a sua genialidade, impedir a conquista tão ansiada pela torcida rubro-negra – com um simples empate, o Atlético Mineiro seria o campeão.
Mas, em contraponto a cada gol do “9 de ouro” do Galo – e foram dois -, Zico esbanjava categoria e visão de jogo. E um inacreditável poder de decisão.
Na abertura da contagem, por exemplo, fez um primoroso lançamento em diagonal, como se medido fosse à fita métrica, para o artilheiro Nunes. E, pouco depois, exibia todo o seu senso de oportunismo, ao marcar o segundo gol após um tremendo bate-rebate dentro da área atleticana – e em que os seus reflexos apurados, e aquele raro poder de decisão, é que acabaram de vez com as chances de defesa do goleirão João Leite.
Já os 3 a 2 vieram numa jogada de pura raça de Nunes, quando vivíamos a angústia dos minutos finais. Mas foi a visão de um Zico vencedor, erguendo para a torcida em delírio o troféu de campeão, que me ficou para sempre no arquivo da memória.
- Joguei machucado. Com o pé direito enfaixado, o tornozelo inchado. Doendo pra burro! Mas, pra ver o Flamengo campeão, faria qualquer sacrifício. A alegria dessa torcida me enlouquece – diria ele depois, na esfuziante comemoração dos vestiários.
Quanto à decisão de 83, seria a última antes da sua ida para a Itália. E, por isso mesmo, estava a merecer aquele público frenético de 155 mil pessoas – recorde, até hoje, em decisões de Brasileiros.
Àquela altura, convém dizer que aquele Flamengo já havia chegado ao seu auge. Tinha se consagrado, inclusive, como Campeão do Mundo de Clubes – e da Libertadores da América -em 1981. E vira Zico ser escolhido o Maior Jogador do Ano, na mesma temporada. Porém, não em uma enquete qualquer, em algum tipo de pesquisa banal. Mas, sim, na que realizara a famosa revista italiana “Guerin Sportivo”, uma das mais conceituadas de toda a Europa. O que significa dizer que, em 1981, Zico se destacara definitivamente como o maior Jogador do futebol mundial.
Pois agora, eis que lá estava ele, mais uma vez sem as condições físicas ideais, enlouquecendo a torcida rubro-negra. Simplesmente porque, em menos de um minuto, havia surpreendido a defesa santista e o goleiro Marola, inaugurando o placar. E, como em tantas outras vezes, utilizando-se daquele seu fantástico poder de conclusão, no ato de decidir uma jogada. Na verdade, o craque ideal no momento e lugar adequados.
E, daí para a frente, não seria outro, senão ele, quem comandaria um inesquecível baile no Santos de Pita, Paulo Isidoro, Serginho Chulapa e Cia. Um baile que fez a torcida cantar e dançar o tempo inteiro, aos gritos de “Mengo!, Mengo!” e “Flamengo campeão!”. Uma agitação que só fez aumentar após os 3 a 0, com dois belos gols de cabeça de Leandro e Adílio.
Paixão para sempre, da imensa nação rubro-negra, até hoje Zico é parado onde quer que vá, para uma interminável sessão de fotos, abraços e autógrafos. E demonstra, como Pelé, a compreensão permanente do que é ser um ídolo de verdade. O sorriso é sempre aberto, simpático, e do mais grato entendimento por aquele momento. É como se estivesse a cumprir, ali, a mais nobre das missões.
É que Zico sabe que, aquelas mãos que pedem um autógrafo, um aceno, e um simples afago, muitas vezes são as mesmas que, a cada domingo, pagaram com sacrifício o ingresso só para vê-lo jogar. Os olhos que solicitam um mero sorriso são os mesmos que acompanharam os seus dramas e vitórias. Seu joelho danificado. E a taça de campeão, que ele erguia sobre a cabeça, era como uma espécie de senha, capaz de liberar de vez a louca festa de uma multidão em transe.
Sabe, enfim, que é por causa desses rostos anônimos na multidão que ele um dia foi Zico, o rei do Maracanã. Estádio que se confunde com a sua própria história, e onde ele marcou nada menos de 333 gols, tornando-se o seu maior artilheiro. Um cenário, aliás, tão especial em sua vida, que também é dele o recorde de títulos por ali, com sete Campeonatos Cariocas, oito Taças Guanabara e três Campeonatos Brasileiros. E, contando com uma meritória dose de justiça, uma heroica Taça Libertadores da América. No caso, não só pela importância da grande conquista, mas, mais do que tudo, por ter ele, Zico, marcado os gols da vitória do Flamengo ( 2 a 1 ) sobre o Cobreloa chileno, na primeira partida da série decisiva da competição – realizada exatamente no mais famoso estádio do mundo.
E é com um fecho clássico para uma bela história, que nunca é demais dizer que Zico tem, até hoje, a mais plena consciência das tardes inesquecíveis que nos proporcionou. Particularmente, as das decisões dos Brasileiros de 1980 e 1983 – aquelas que teimo em não esquecer.
Como não consigo esquecer a sua imagem, após uma daquelas irresistíveis arrancadas em ziguezague – e que acabavam, sempre, no fundo das redes adversárias. No chão, aquele bando de zagueiros empilhados, zonzos com os seus dribles. E ele, camisa 10 às costas, os esvoaçantes cabelos louros ao vento, a soltar o grito louco da comemoração. Ali bem junto da galera, colado às gerais do estádio.
O Z de Zico, afinal, como o Z do Zorro. Tremulando, implacável, em meio às bandeiras rubro-negras. Eternamente justiceiro! E para sempre, vencedor!
DORIVAL SIMPLES
por Zé Roberto Padilha

Meu primeiro é inesquecível treinador, João Baptista Pinheiro, sempre dizia: “Futebol é simples”. E citava uma máxima que, segundo ele, seria eterna: “Com a bola você joga, sem ela você marca!”.
E para ter sempre o elenco nas mãos, a receita era ainda mais simples. “Sempre escalo os melhores!”. Só assim acalmava o “gabinete de crise”, que no futebol chama-se banco de reservas.
Pinheiro tinha razão, todas as greves, passeatas e insurreições surgem de lá quando seus “líderes” enxergam apadrinhamentos e burrices.
Ele nos treinou, no Fluminense, na década de 70, e muita coisa evoluiu. A Holanda implantou um revolucionário Carrossel, o Guardiola nos trouxe o Tic-Tac, mas tanto Cruyff quanto Xavi e Iniesta jogavam com a bola e marcavam sem ela.
Simples assim. Acontece que após s saída de Jorge Jesus, desembarcaram na Gávea os novos navegadores portugueses inventores da bússola, da pólvora e da roda. E um telão foi colocado à beira do campo de treinamento.
Suas comissões técnicas, tão inovadoras, seguiam em um veículo separado, tal a quantidade de “especialistas”. Tudo isso para pedir a contratação do Marinho, que atuava pela direita no Santos, e escalá-lo do lado esquerdo.
Isso sem queimar o Arão, um baita protetor de zaga, ao lhe dar a função de zagueiro. A mesma que Luxemburgo deu a Felipe Melo, no Palmeiras, e ambos foram dispensados.
Apesar do nepotismo, o favorecimento de parentes e amigos nos cargos de livre nomeação, em detrimento dos mais capazes, “Dorival Neto é coisa de Brasília, não de Maracanã”, a recuperação do Flamengo passa pela simplicidade dos métodos do Dorival Júnior.
Com a bola estão jogando, sem ela estão marcando. O resto deixa que o Arrascaeta resolve.
JÔ E O FUTEBOL
por Claudio Lovato Filho

Humorista, apresentador, escritor, colunista, roteirista, ator e diretor, homem da música e das artes em geral, Jô Soares também era um cara do futebol. Amava o futebol.
Torcedor do Fluminense, conhecia a fundo história do Tricolor das Laranjeiras, mas, quando achava necessário, fazia suas críticas ao clube pelo qual era apaixonado desde a infância. Foi assim, por exemplo, quando o Fluminense liberou Gustavo Scarpa. Jô ficou inconformado e se manifestou. O tempo provou e continua provando que Jô tinha razão.
Como esquecer o personagem Zé da Galera, criado por Jô às vésperas da Copa de 82, para o programa Viva o Gordo? “Falando” com o técnico Telê Santana de um orelhão, Zé da Galera enunciava aquele que provavelmente foi o bordão mais repetido no Brasil naqueles tempos: “Bota ponta, Telê!” Jô achava que Renato – o Portaluppi, o Gaúcho – deveria estar ali. Jô sabia tudo.
Presente à final da Copa de 50, o Maracanazo, aos 12 anos de idade, Jô voltaria a ver o Brasil em campo na Copa seguinte, na Suíça. As memórias dessas experiências vividas quando ainda era tão jovem foram a base para a sua participação no livro “A Copa que ninguém viu e a que não queremos lembrar”, escrito em parceria com Armando Nogueira e Roberto Muylaert.
“Em 1950 eu tinha doze anos, mas participei intensamente da IV Copa do Mundo. Era um evento que mexia com o Brasil todo, mas muito especificamente com o Rio de Janeiro por causa da inauguração do Maracanã como o maior estádio de futebol do mundo, uma coisa monumental, um negócio extraordinário”, escreveu Jô. Sobre a final, relatou: “Eu saí chorando. Meu pai ficou triste, mas achou curioso e até um pouco engraçado um menino de doze anos ficar emocionado e chorar assim aos borbotões, por causa de um jogo de futebol. Para mim aquilo não era um jogo de futebol, era a minha primeira afirmação do Brasil como primeiro em alguma coisa. Qualquer afirmação de brasilidade lá fora me emociona, por mais boba que seja”.
Quatro anos depois, lá estava ele, na Copa da Suíça. Havia ido estudar no país em 52 e morava em Lausanne. Testemunhou a Batalha de Berna, em que o Brasil foi derrotado pela Hungria de Puskas. Voltando a 52, ano de seu desembarque na Suíça, Jô relembrou no livro papos com os novos colegas sobre o Maracanazo, o Rio e o Brasil. “(…) inventei uma história: garantia que, mesmo com 200 mil pessoas no estádio, não havia medo de invasão de campo. ‘Porque’, eu dizia, ‘há um fosso em torno de todo o campo com água e crocodilos’. Os moleques do colégio acreditavam. Alguns adultos também. O Brasil era uma coisa tão distante que as pessoas acreditavam em qualquer coisa. Pra eles, havia cobra nas ruas do Rio e de São Paulo. Dependendo do grupo, eu confirmava: ‘Claro. Mas não das venenosas’”.
Salve Jô Soares! Viva o Gordo!