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A EXIBIÇÃO DE GALA DE UM MENINO, CONTRA O MAIOR TIME DO mundo

por Victor Kingma

Um dos melhores jogos da história do futebol brasileiro, e também uma das maiores exibições individuais de um jogador, aconteceu em 30 de novembro de 1966, no Mineirão. Foi o primeiro dos dois encontros que decidiram a Taça Brasil daquele ano.

O jovem time do Cruzeiro, dos meninos Dirceu Lopes e Tostão, a nova sensação do futebol brasileiro, chegou àquela decisão contra o poderoso Santos de Pelé, o time a ser batido no futebol mundial.

O favoritismo era todo do Santos de Gilmar, Carlos Alberto, Zito, Dorval, Toninho, Pelé e Pepe, a máquina de jogar futebol que assombrava o mundo.

Entretanto, assim que a abola rolou, os 77000 expectadores presentes no estádio e quem acompanhava pela televisão começaram a assistir um verdadeiro espetáculo de futebol proporcionado pelo time azul celeste e, principalmente, por um jovem talento de 20 anos: Dirceu Lopes.

Com sua classe apurada comandava o jogo repleto de estrelas, como se fosse ele o veterano em campo. Aos 5 minutos seu time já vencia por 2 a 0, gols do lateral Zé Carlos (contra) e do ponteiro Natal, após receber belo passe do meia cruzeirense.

Aos 20 e aos 39, ele próprio, Dirceu Lopes, aumentou o placar para 4 x 0. E não parou por ai, aos 42, de Pênalti, Tostão ainda faria o quinto gol. E os astros santistas, comandados por Pelé, foram silenciosos para o vestiário, incrédulos em tudo aquilo que estava acontecendo em campo.

No início do segundo tempo a equipe santista ainda chegou a esboçar uma reação e diminuiu o placar para 5 x 2 com dois gols de Toninho Guerreiro, mas novamente Dirceu Lopes, o dono do espetáculo, e que continuava com sua exibição de gala, marcaria, aos 27 minutos, o sexto gol cruzeirense, o seu terceiro naquele histórico jogo.

Os jornais do outro dia estampavam em manchete a espetacular vitória cruzeirense e a exibição de gala da nova estrela que despontava.

Sete dias depois, no Pacaembu, na segunda partida daquela decisão, nova vitória do maior time do Cruzeiro de todos os tempos 3 x 2, após sair perdendo por 2 x 0. Campeão da Taça Brasil de 1966.

Eu, que acompanho futebol há quase sessenta anos, sempre que me perguntam quais os melhores jogadores do futebol brasileiro que vi jogar Dirceu Lopes está lá, na prateleira de cima. Aliás, com certeza, a maior injustiça já ocorrida no futebol brasileiro foi ele não ter participado da Copa de 70. Fato inclusive atestado por Pelé, Rivelino e tantos outros que participaram da memorável conquista.

O ROBOSANTOS

por Zé Roberto Padilha

No meu tempo adolescente, e tome tempo nisso, o pior da pelada ia para o gol. Simples assim. Em outros países, claro, mas não tão simples no país do futebol, onde poucos não jogam bem.

Muitas peladas eram canceladas porque ninguém queria jogar no gol. O garoto pensava: se todos atiram bombas para debaixo dos três paus, porque eu vou ficar lá para elas explodirem em minhas mãos?

Até que surgiu um goleiro que despertou seguidores. Era Pompéia, do América, do Rio, cuja elasticidade e saltos encantava as novas geracões. Logo ganhou o apelido de Ponte Aérea.

Do jeito que Éder Jofre levava meus amigos brigões para o boxe, e o Emerson Fittipaldi quem tinha um fusca para as pistas, de repente os ruinzinhos começaram a comprar luvas. E tentar voar também para impressionar as meninas.

E, de repente, na contramão desse atrativo que vencia a escassez, equilibrava a procura por posições, surge o Santos. Goleiro do Flamengo. E estraga tudo.

Tão bem colocado, não salta. Caminha para a defesa. Tão seguro, não solta a bola, e tira a emoção de um possível rebote. Parece um robô. O Robosantos, frio e calculista, não fala, nem falha. Seu contato com a bola é macio, suave, e cadê que ela se desgarra?

Não cria ambiente ruim, como Diego Alves, nem oscila como Hugo, apenas entra em campo para defender sua nação. Entra mudo, sai calado e, em mais de vinte jogos, sofreu apenas três gols.

Que coisa mais sem graça. Nem uma ponte. Um salto sequer, um franguinho por entre às pernas. Tá certo, não faz cera, mas defender um time que quer e sabe jogar, seria até incoerente.

Mas esse rapaz tem se mostrado tão diferente que o sindicato dos goleiros solicitou novos exames à CBF. E sugeriram a colocação de próteses.

Um par de Asas. Quem sabe retornem as emoções?

OS ESTRAGOS QUE UMA MERCEDES FEZ NA MINHA VIDA

por Zé Roberto Padilha

Tem seres humanos, como eu, que nasceram para dirigir, com muito orgulho, um carro Polo, da Volkswagen. Tirando o Puma azul-marinho, uma paixão boleira comprada na Lemos & Brentar, no Jardim Botânico, foi o melhor carro que já tive.

Mas naquela tarde, no ano de 1976, em nossa garagem só tinha uma Mercedes Benz. Uma preciosidade, daquelas que você é obrigado a virar o pescoço e seguir seus sonhos. Era conversível e azul da cor do mar. Morava com minha irmã, no Leblon, era seu carro, e nosso apartamento ficava a duas quadras do Flamengo, onde jogava.

Para variar, contundido no tornozelo, estava entregue ao DM e só ia ao clube fazer tratamento. A imprensa, especialmente o jornalista Oldemario Touguinhó, em sua coluna no JB, não me poupava.

Trocado pelo Doval, um ídolo rubro-negro, enquanto ele jogava e marcava gols pelo Fluminense, eu nem entrava em campo.

Daí tive a infeliz ideia de pedir a minha irmã seu carro emprestado. Estava ruim de andar. E, com muito cuidado, realizei as duas curvas que separavam minha casa do meu local de trabalho porque o carro valia bem mais que o meu passe. E quando encostei no estacionamento, quem para ao lado?

Dia seguinte, a coluna de Oldemário Touguinhó, no JB, poderia ser confundida com aquele caderno que anuncia um obituário como jogador profissional do CR Flamengo: “Zé Roberto? Esquece, nação, o cara anda de Mercedes Benz. Está preocupado em jogar?”

Zico, se não me engano, tinha um Chevete.

A IMPORTÂNCIA DA PONTUALIDADE

por Idel Halfen

Faltando pouco mais de 100 dias para o início da Copa do Mundo no Qatar, a data da abertura foi antecipada em um dia.

Para alguns, tal alteração não tem muita importância, dentre esses estão aqueles que acham que 5 minutos de atraso não pode ser considerado atraso e que a cobrança pela pontualidade nada mais é do que um capricho dos que preconizam o respeito ao combinado.

Para ilustrar as consequências do “não cumprimento” do que se é combinado, analisaremos a seguir as implicações do citado adiantamento da abertura da Copa.

No que tange à comunicação, as campanhas referentes à contagem regressiva foram impactadas tanto no âmbito da produção dos materiais publicitários, pois poderia haver o risco de as peças não estarem prontas a tempo, como também no espaço onde elas seriam divulgadas – em outras palavras, o processo de compra de mídia foi fortemente impactado. 

Exemplificando, as veiculações alusivas aos 100 dias que faltavam para o início do evento precisaram estar nas grades dos meios de comunicação no dia X-100, não havendo a menor possibilidade de ser X-101, todavia, pelo pouco tempo para se adequar à alteração, é bem provável que não houvesse espaço disponível.

Esse problema não se restringe às ações do comitê organizador, atingindo também aos patrocinadores que, ao decidirem pelo investimento, idealizam um cronograma de ações, muitas das quais atreladas às estratégias comerciais as quais, por sua vez, envolvem negociações com fornecedores e revendedores.

Além das implicações referentes a ativações e publicidade, não podemos esquecer-nos dos problemas relacionados às reservas de hotéis, até porque a oferta de quartos tem sido motivo de preocupação no Qatar. 

Será que haverá disponibilidade de acomodações para quem quiser/precisar antecipar suas hospedagens? Essa dúvida pode ser derivada para os voos. Não menos importante é a agenda dos que compraram os ingressos, pois pode ser que não consigam alterá-la.

São pontos que causam transtornos e que poderiam ser evitados, visto que a motivação da mudança não se deveu a problemas estruturais, tampouco de fenômenos naturais. A antecipação se deveu à decisão de preservar a tradição de ter a equipe do país-sede jogando a primeira partida da competição, ou seja, houve tempo de sobra para que o fato fosse considerado no planejamento.

Fazendo um paralelo com as pessoas que insistentemente não cumprem os prazos combinados, o processo costuma ser o mesmo. Não planejam seus afazeres e caminhos, desprezam a possibilidade de adicionar um intervalo para eventuais imprevistos e estendem-se em tarefas desnecessárias e/ou adiáveis.
Pior que isso, ignoram as demais partes do acordo, esquecendo que as mesmas abdicaram de algo para que o prometido fosse cumprido. Tais quais o comitê organizador, parecem pensar: “os outros que se virem”.
Para esses nunca é demais repetir um provérbio inglês que diz: “a pontualidade é a cortesia dos Reis e a obrigação dos educados.” 

QUAIS OS TITULARES DE TITE?

por Elso Venâncio

Faltando menos de 100 dias para a Copa do Mundo, Tite ainda não definiu o grupo que vai disputar a Copa

Há três meses da Copa do Mundo do Catar, você, por acaso, você sabe quem são os titulares de Tite? Será que o próprio técnico tem essa resposta? Me perguntaram se o Daniel Alves, que caminha para os 40 anos de idade, vai jogar. Não sei. E o Thiago Silva, aos 38? A verdade é que o torcedor há bastante tempo já perdeu o interesse pela seleção. Pintar as ruas, os muros? Nem pensar. Esquece…

Até para vestir a “amarelinha” hoje o brasileiro comum pensa duas vezes ou mais se vale a pena. Ela passou a ser símbolo político, e não nacional.

Nos últimos anos, com os interesses comerciais e pessoais prevalecendo, os cartolas retiraram os jogos do país. Amistosos da seleção são definidos por uma empresa que paga e faz negócios. Levar as partidas para o exterior é a melhor maneira de colocar na vitrine aqueles que podem ser observados pelos poderosos empresários europeus.

O que presenciamos por aqui nas últimas duas décadas foram amistosos sem sentido, sem qualquer objetivo ou critério técnico. Após o pentacampeonato de 2002, o Brasil deixou de enfrentar as principais seleções do Velho Mundo e, coincidência ou não, o jejum de títulos já chega há 20 anos.

Sei que o futebol mudou, passou a ser um grande business. A FIFA, com a ganância de sempre, colocará no Mundial seguinte, em 2026, nada menos do que 48 seleções na Copa. Inclusive, já fez as contas: somente de bilheteria, projeta 21 bilhões de dólares. Serão 80 jogos em um mês, e mais, em três sedes! Isso mesmo: Estados Unidos, México e Canadá. Sinceramente, é muito jogo…

Visitando o site da Conmebol me assustei com o número de competições. Fui no da CBF e… a mesma coisa! Por isso é que temos jogos todos os dias, de segunda a domingo. De manhã, à tarde e à noite. Será que ninguém observa que qualidade é mais importante do que quantidade? Paulo Cézar Caju, monstro sagrado do nosso futebol, já levantou o tema em sua coluna na revista Placar. Com menos jogos pode-se faturar muito mais. Nossa sorte é que a Liga está para chegar e, com ela, um novo calendário deve ser desenhado.

Sobre a retomada da identidade e da paixão do povo pela nossa seleção, vejo uma única saída. A volta dos amistosos ao Brasil nas datas FIFA. Só assim para reaproximar nossos craques com o torcedor, que é o verdadeiro responsável por sermos o país do futebol.