QUANDO É BOM CHORAR
por Rubens Lemos

Me telefona Alan Oliveira, o marqueteiro do ABC, um craque na comunicação esportiva, um menino que vi crescer no jornalismo e pular para a propaganda pelo talento. Queria o contato do maestro Danilo Menezes, o maior meia-armador da história do clube. Escrevi a biografia de Danilo, publicada em 2001.
Danilo me emociona. É complemento da ausência do meu pai. Tomamos muitas cervejas juntos relembrando vitórias épicas, do tempo em que eu, moleque esquelético, entrava em campo no Castelão (Machadão) de mascote, levado pela mão canhota de Danilo, um artista da bola.
Danilo Menezes me comove pela humildade exagerada, para quem já foi titular do Vasco (RJ) e da seleção do Uruguai. Danilo transporta e transmite em seus passos cadenciados, uma energia ressuscitadora. Me levanta da tristeza com sua força divina.
É Danilo Menezes o escolhido para a campanha de lançamento da camisa do ABC em braille, o alfabeto dos deficientes visuais. Danilo Menezes encontrou cinco alvinegros cegos. E iluminou cada um com sua força transcendental.
Experimente uma noite sem luz em casa. É terrível. Você sai tateando no escuro até encontrar uma lanterna ou vela salvadora. Os cegos ensinam pela força espiritual e a fé aos que se consideram perfeitos e se perdem nos defeitos de caráter e sensibilidade.
A nova camisa do ABC é emocionante. Lindo é o filme de 3 minutos e sete segundos criado por Alan Oliveira, ideólogo da criação inédita. Poucas vezes chorei tanto.
O ABC é assim. O ABC transborda o coração. O ABC é imenso, intenso e solidário. ABC que honra os deficientes visuais com a história construída, em parte fundamental, pela visão de lince na perna esquerda e a solidariedade do ídolo Danilo Menezes.
QUEM É O PATROCINADOR?
por Idel Halfen

Qual será a sensação do responsável pelo marketing de uma empresa ao constatar que ao investir no patrocínio máster de um clube de futebol a marca não irá aparecer na camisa do time em alguns jogos?
Antes que citem os Jogos Olímpicos, onde as marcas patrocinadoras do evento não podem ser expostas na arena, adianto que, no caso citado, outra marca estará exposta na camisa em referência.
Para piorar, as marcas substitutas são algumas vezes concorrentes das marcas originais.
O exercício provocado acima não é mera obra de ficção ou ocorre em algum país com pouca expressividade e maturidade na modalidade.
Estamos falando da Copa da França, torneio que acontece no país do mesmo nome nos moldes da Copa do Brasil, porém com a participação de equipes oriundas de territórios franceses ultramarinos.
Pelo fato de a competição ter em vigor um regulamento que data de 1917/1918, as equipes participantes são obrigadas a ostentar no seu uniforme os patrocinadores da competição, os quais são na atual edição: Betclic, uma marca do setor de apostas, o banco Crédit Agricole e a varejista Intermarché que aparece nas costas das camisas das equipes. Nenhuma partida tem um mesmo patrocinador entre os times, ou seja, um deles pode jogar hoje com Betclic contra um adversário com Crédit Agricole e na próxima partida estar com a marca do banco no espaço mais nobre da camisa.

Cientes que equipes como Clermont Foot e Montpellier são patrocinadas por empresas do setor financeiro e o Troyes por uma do setor de apostas, a cabeça do diretor de marketing desses patrocinadores deve ferver, além de ficar a prêmio, afinal a decisão de investir no esporte costuma não ter unanimidade dentro das corporações.
Se não bastasse a interferência em relação às marcas, o regulamento também intervém nas cores, pois, a partir de determinada fase só se pode jogar com branco, vermelho, azul, amarelo e verde. Caso o time não tenha camisa com essas cores, que é o caso do Toulouse, outro uniforme é confeccionado com as matizes permitidas.
Por mais que tais resoluções sejam de alguma forma interessantes para a Federação, visto assim valorizar as propriedades comerciais, elas são péssimas para os clubes que sofrem o efeito inverso.

O fato de algumas ligas como a NBA no basquete, a MLS no futebol ou mesmo a Superliga Chinesa, terem como fornecedor de material esportivo a mesma marca para todas as equipes, não enfraquece as críticas ao regulamento da Copa da França, afinal, a marca de material esportivo não descaracteriza os símbolos das equipes, além disso, ela não interfere em nenhum contrato prévio.
Responsabilizar os patrocinadores da citada competição não faz o menor sentido, tampouco acusá-los de praticar o ambush marketing, afinal pagaram por uma propriedade que estava disponível e lhes foram ofertadas.
Todavia, ainda que os benefícios do patrocínio não devam ficar restritos à exposição, é preciso refletir se um regulamento de 1917 não precisa ser atualizado levando em conta que o esporte passou a ser uma plataforma de marketing.
Vale lembrar que a Premier League, quando deixou de comercializar o title sponsor da competição, teve como uma das motivações não desvalorizar as propriedades de marketing dos clubes perante a eventuais patrocinadores que atuassem no mesmo ramo do proprietário do title sponsor.
O QUE A COPA DE 58 TEM A VER COM GUAYAQUIL?
por Gisa Macia, filha de Pepe, o Canhão da Vila

Com Guayaquil, nada. A maior cidade equatoriana, super populosa , tem um ilustre morador há mais de 50 anos. Chama-se Moacyr, é brasileiro e campeão mundial na Copa de 1958. Com o falecimento de nosso Rei Pelé; ele é um dos cinco campeões mundiais vivos daquela Copa. São eles: Dino Sani, Mazolla, Zagallo, Pepe (meu pai) e ele.
Moacyr Claudino Pinto nasceu em São Paulo, em 1936, mas foi no Rio de Janeiro que fez sua carreira de futebolista. Começou no juvenil do Flamengo, destacou-se como meia armador. Defendeu o clube carioca em 225 jogos e marcou 56 gols. Chegou a Seleção Brasileira, sendo reserva de Didi.
Jogou também com grande sucesso nos times do River Plate e Peñarol da Argentina e Barcelona de Guayaquil. Se apaixonou pela cidade equatoriana, constituiu família, foi treinador de futebol e reside lá desde 1964.
E eu, como amante do futebol e dos ídolos eternos, não poderia deixar passar esta oportunidade de conhecer o ex-jogador, que fez parte da primeira seleção campeã mundial e amigo do meu pai.
Antes, busquei com o meu pai uma lembrança para levar a ele. Meu pai escolheu um boné do SFC e fez uma dedicatória com carinho.
Com o contato dele em mãos e poucos dias em Guayaquil, tratei de mandar um WhatsApp. A minha ideia inicial era de visitá-lo junto com o meu marido Bruno em sua casa. Afinal, trata-se de um senhor de 86 anos. Mas ele, rapidamente, fez a vez de anfitrião dizendo que iria até nós. Bastou eu mencionar o nome do hotel para ele estabelecer:
“Amanhã por volta das 11 da manhã estarei aí”. Demonstrando saber aonde era, sem nem tomar nota do endereço.
Assim que chegou ao saguão de nosso hotel, aonde o esperávamos, desculpou-se pelo pequeno atraso e me contou que estava a uma hora e meia de Guayaquil na casa de sua filha. Sem demora, entreguei o boné com a dedicatória de meu pai. Ele, na mesma hora o colocou na cabeça. Sorridente e espirituoso, contava, com entusiasmo, alguns momentos que vivenciou na seleção e descreveu, como se fosse hoje, o momento que Garrincha, com um rádio que acabara de comprar nas mãos, resmungou:
“Não vou levar esse rádio que comprei! Só fala em sueco!”.
Fiquei impressionada com sua lucidez, não só pela memória do passado como, principalmente, por estar bem informado dos fatos atuais. Conversou sobre política, problemas vigentes da cidade… Deu risadas quando falamos do terremoto.
“É aqui, de vez em quando, a terra treme… Já estou acostumado”, embora confirmou que o tremor ocorrido no dia anterior tenha sido o mais forte dos últimos tempos.
Moacyr demonstrou ainda estar inteirado sobre a política no Brasil. E mais: veio ao nosso encontro sozinho!
Seguimos dali para um café próximo para mais conversa. Ele quis saber das novidades do meu pai e disse que quase morreu há 10 anos atrás, quando sofreu dois enfartes.
Foi muito agradável resgatar com ele memórias daquela seleção da qual meu pai fez parte também e conhecer um velho amigo.
Depois de cerca de duas horas, tivemos que nos despedir, pois ele precisava retornar a casa de sua filha e nós tínhamos um passeio a fazer. Mandamos lembranças a família e desejamos saúde, paz, prosperidade… Ele falou, as gargalhadas:
“A saúde eu deixo para vocês… o dinheiro pode ficar comigo!! ”
O JOGO DO ANO
por Zé Roberto Padilha

Esqueçam Barcelona x Real Madrid, Manchester City x Arsenal. O jogo do ano acontecerá no próximo sábado, dia 29/04, 16h30, entre Fortaleza x Fluminense.
As duas equipes que mais evoluíram no futebol brasileiro.
Não será apenas uma partida da terceira rodada do Campeonato Brasileiro. Será uma celebração aos bons tempos do nosso futebol.
Fernando Diniz e Juan Pablo Vojvoda conseguiram deixar do lado de fora a insegurança da profissão, que leva nossos treinadores a fecharem suas equipes lá atrás porque se perderem serão demitidos.
Não há tempo no futebol brasileiro para um trabalho a longo prazo. A não ser quando uma equipe, como a do Palmeiras, vive a colecionar bons resultados.
Os dois treinadores apostaram na arte de se jogar um futebol corajoso e agressivo.
Enquanto estados como Pernambuco, Bahia e Santa Catarina viram suas equipes perderem espaço, o Ceará tem se orgulhado de assistir seus representantes apresentarem um futebol de alto nível.
Não lutam mais por cair, estão disputando Sul-Americanas, Libertadores, um estado que, merecidamente, alcançou um estágio em outro patamar.
Já a Fluminense descobriu o Arias. Tudo bem, Ganso chegou ao auge, André não se fabrica mais e Marcelo veio carimbar o Selo Iso de time campeão. Mas o Arias…
Talvez Oliveira, lateral-direito tricolor dos anos 60, o inventor do “Chuveirinho”, que consagrou Flávio, o Minuano, tenha conseguido algo parecido. Mas ninguém faz um cruzamento “Mortal Kombat”, como o Arias.
Mesmo com o lateral fechando o ângulo, ele consegue realizar um venenoso cruzamento, que vai fazendo uma curva, tirando do goleiro e levando um recado: “Faz Cano!”. É impressionante como realiza tal fundamento.
Já colocaram na agenda? Depois me cobrem. O jogo do ano vem aí!
DINIZ, UMA POSSÍVEL REVOLUÇÃO EM NOSSO FUTEBOL
por Paulo-Roberto Andel

Nos últimos tempos, a grande sensação do futebol atende pelo nome de Fernando Diniz. O jovem treinador, finalmente campeão pelo Fluminense, pauta redações e estúdios com seu trabalho e não poderia deixar de ser diferente – há muito tempo não se vê no futebol brasileiro algo que tão bem resgate o melhor das nossas raízes, expressas em talento, qualidade e beleza. Pelo menos no Rio de Janeiro é comum ouvir torcedores de outros times dizendo que gostam de ver o Flu por causa do futebol. E para os próprios tricolores, este é um momento de grande luminosidade técnica no século XXI, mesmo o clube tendo outros grandes momentos no período.
É claro que todos querem ganhar partidas e conquistar títulos. Agora, o que Diniz vem promovendo nos últimos tempos é uma velha máxima que o nosso futebol andou deixando de lado: é possível ser competitivo com talento e técnica, é possível ganhar e também com qualidade, mostrando um bom futebol. Nem todos percebem, mas Diniz, independentemente de figurar futuramente na Seleção, pode ajudar muito o futebol brasileiro, tirando-o do atoleiro em que há muito se encontra, sem abrir mão dos paradigmas completos do jogo.
Ganhar e jogar bem, com talento, com belas jogadas, com beleza plástica, foi algo condenado no Brasil há 41 anos, quando a Seleção Brasileira foi amaldiçoada pela derrota no Sarriá em 1982. A indignação com a eliminação foi tamanha que muitos passaram a defender a prioridade do futebol-força, onde não há espaço para nada que não seja o pragmatismo de resultados, ignorando toda a nossa história. Em nome da “competitividade”, a meta passou a ser o desprezo à qualidade, cujos resultados são bastante contestáveis. O futebol de nomes como Zenon, Pita, Dicá, Aílton Lira, Falcão, Sócrates, Zico, Deley, Andrade, Adílio, Mário Sérgio, Mendigo e outros deveria ficar em segundo plano. A moda passou a ser dos brucutus com grife, dos burocratas da bola e, como Nelson Rodrigues já dizia bem antes, dos idiotas da objetividadade.
Ainda não se sabe se o estilo de jogo proposto por Diniz vingará com grandes títulos, mas uma coisa é certa: ele já tem feito burburinho, causado admirações e suspiros, recobrando para muita gente o que já foi um dia reconhecido como a marca do nosso futebol. Tem causado debates e análises mais aprofundadas. Tomara que dê tudo certo: nosso futebol não pode abandonar seus momentos mais bonitos para sempre, esse resgate tinha que ser feito. Em caso de pleno êxito do treinador, a onda vai se espalhar e causar uma verdadeira revolução no futebol brasileiro. Assim seja, pois.