BAIRRISMO SEM FIM
:::::::: por Paulo Cézar Caju ::::::::

Se antes era rotina, tenho escutado cada vez menos as piadinhas de cavalo paraguaio quando falam do Botafogo. Continuo achando que ainda é cedo, que jogadores importantes podem se lesionar ou serem negociados, mas dá para garantir que o time erra pouco e está cada vez mais confiante no Brasileirão.
Li que o Palmeiras vinha de 31 jogos sem perder no Allianz Parque e o Botafogo acabou com a invencibilidade com um belo gol de Tiquinho Soares. Agora, são sete pontos de vantagem para o segundo colocado e mesmo assim tive que ver muita bobagem da imprensa na televisão, sobretudo a paulista.
Tenho propriedade no assunto, pois sempre sofri muito com esse bairrismo quando jogava em São Paulo. Acho uma chatice tremenda e sabia que todos iam desvalorizar a vitória do Botafogo. Dito isso, vi alguns reclamando do impedimento no gol anulado, outros dizendo que não foi merecido e por aí vai. Na minha opinião, o Botafogo poderia ter vencido até de mais gols, mas pecou nas finalizações, como de costume. Acho, inclusive, que os jogadores que estão treinando pouco esse fundamento e isso pode prejudicar o Alvinegro no decorrer da competição, visto que é um time que tem a defesa segura e tenta aproveitar as poucas chances que tem na partida.
Quem não tem uma defesa segura é o Flamengo, que depois de tomar quatro do Bragantino, tomou dois do Santos, mas conseguiu uma vitória importante na Vila Belmiro. A nota triste é que o jogo foi de portões fechados depois da selvageria que rolou no clássico contra o Corinthians.
O mesmo pode se falar da torcida do Vasco, que depredou o maior patrimônio do clube, São Januário, após a derrota para o Goiás. Enquanto os clubes não forem punidos com rebaixamentos ou algo do tipo, essas cenas serão cada vez mais comuns, infelizmente! Além disso, lamento muito também o fato dos jogadores não se manifestarem, não protestarem contra esses atos de vandalismo. O mínimo que deveriam fazer era uma grave nacional, parando todos os campeonatos! São os jogadores que fazem o espetáculo!
Por fim, o Fluminense ganhou do Bahia de virada, com um a menos, mas acho que foi mais falha do lateral do Bahia do que méritos do tricolor carioca. O campeonato é longo e ainda não chegamos nem na metade, vamos aguardar!
Já que o escritor Helcio Herbert Neto dedicou sua coluna a mim, alegando que “iniciei a cruzada contra a imbecilidade há mais tempo e que percebi rapidinho que esse linguajar era um jeito de camuflar ignorância”, seguem as pérolas da semana:
“Com um triângulo equilátero, forma-se um sistema propositivo para atacar a linha de quatro no último terço do campo e amassar o adversário encaixotando com alas pelos lados”.
“Através de uma leitura de jogo posicional, o jogador agudo desenvolve o corredor central para zerar a segunda bola e proporcionar uma identidade à equipe que pega o elevador”.
O BOTAFOGO DE TODOS OS TEMPOS
por Luis Filipe Chateaubriand

No gol, Manga, um colosso!
Na lateral direita, Carlos Alberto Torres, técnica e vigor conjugados.
Na zaga central, Mauro Galvão, classe à toda prova.
Na quarta zaga, Nílton Santos, nada menos do que a enciclopédia do futebol.
Na lateral esquerda, Marinho Chagas, um talento assombroso.
De primeiro volante, Gérson, o “Canhotinha de Ouro”.
De segundo volante, Didi, o “Mister Football”.
De meia atacante, Jairzinho, um furacão.
Na ponta direita, Garrincha, um fenômeno monumental!
De centroavante, Heleno de Freitas, categoria notável.
Na ponta esquerda, Paulo Cezar Caju, irreverente e irrequieto.
Manga; Carlos Alberto, Mauro Galvão, Nílton Santos e Marinho; Gérson, Didi e Jairzinho; Garrincha, Heleno e Paulo Cezar.
E aí?
Vai encarar?
ZICO E GABIGOL
por Rubens Lemos

O erro começou quando Pelé se despediu do Santos em 1974. No exato instante em que o Deus se ajoelhou e abriu os braços dizendo acabou a festa, a camisa 10 do clube deveria ter sido abolida. Depois, Pelé foi obrigado a vê-la torturada por gente do naipe de Totonho, Toinzinho(esse era até razoável), Mococa e Rubens Feijão. Banalizaram o manto.
Sem o Rei, a camisa 10 tirou do Santos a luz da exclusividade genial. A seleção brasileira perdeu a glória da onipotência, mas Pelé foi sucedido por luminares como Rivelino e Zico.
Depois, Silas não esteve à altura da responsabilidade em 1990 tampouco Raí em 1994. Rivaldo jogou um bocado em 1998 e 2002, Ronaldinho Gaúcho bailou improdutivo em 2006, Kaká fraquinho em 2010, Neymar medíocre nas três Copas disputadas.
Hoje, não há ninguém digno da camisa 10, tornada por Pelé, símbolo de superioridade quando a usou por acaso em 1958. O mundo adotou o 10 como marca do melhor do time. Maradona era 10, Platini era 10, Matthaus era 10, Zidane 10 também, Messi, o 10 derradeiro, insuperável.
Meu Vasco teve um 10 que não jogava na função meio-campista da dezena. Roberto Dinamite, centroavante, tomou para si, graças a jornadas eternas de tão espetaculares, o número que, na tradição, seria de um companheiro mais recuado. O último 10 do Vasco foi Roberto Dinamite e está difícil surgir outro, ainda que, depois dele, Bebeto, Juninho Paulista, Dener e Edmundo tenham honrado o fardamento da categoria.
Acontece um novo atentado à memória e à verdade do bom senso no futebol e o Zico é a vítima. Zico, amigos, foi meu Pelé Branco, meu adversário querido pela lindeza do jogo e o caráter irretocável. Zico tinha a chave e o coração do Maracanã guardados com ele.
Ronaldinho Gaúcho foi o que de mais próximo apareceu ostentando a camisa do mito nascido em Quintino. Petcovic não fez feio. Os dois, multiplicados por 500, jamais amarraram a chuteira da entidade franzina e espetacular. Agora é intragável consumir Gabigol, a faceta mais ridícula da fase dos enganadores, com a posse da camisa de Zico.
Gabigol é chato diplomado. Supera os programas de auditório, todos. O flamenguista deve encabeçar uma campanha para que ele, o intrometido, seja contemplado com a 136. Enquanto houver Flamengo, nada pode ser comparado ao Galinho. Tirem a 10 do enganador e respeitem a imortalidade de Zico.
ANO DE LUTO
por Lédio Carmona

2023 foi concebido para ser um símbolo de luto do Vasco.
Roberto Dinamite morreu no oitavo dia desse ano maldito.
O maior ídolo se foi. O torcedor não o verá mais. Não pode mais abraçá-lo. Ficou a estátua. A saudade dos seus quase 800 gols e um vazio incomensurável.
Nada poderia ser maior do que essa perda. Mas toda maldição é pouca para quem vive de amar o Vasco nas duas últimas décadas.
A perda precoce do maior ídolo é insuperável.
É maior do que o risco de um novo rebaixamento. Qual é a novidade? Caiu quatro vezes em 15 anos. Qual é o espanto se cair a quinta?
O time joga como nunca e perde como sempre dentro da sua casa. Há anos é assim. A fúria do caldeirão engole seu próprio dono.
Por sinal, São Januário e seu torcedor seguem mal tratados. Abandonados, sucateados e clamando por um mínimo de bons tratos e modernidade.
Para piorar, a ira do torcedor machucado depreda o monumento de cimento. Esfarela o pouco que ainda resta do patrimônio da instituição. E maltrata mais o coração sofrido de milhões de apaixonados por uma causa chamada Vasco.
A cada futricagem dos dirigentes, o torcedor vê sua paixão ser pisoteada e sufocada com gás de pimenta. Vascaíno de verdade não sofre por politicagem, muito menos tem cartola como ídolo.
Vascaíno de verdade vive de paixão. Não se alimenta de bravata de engravatados, nem de promessas inférteis de milionários dolarizados, incapazes de entender o que significa ser Vasco. Vascaíno sem relutância vive de memórias, chora pelo presente e sonha com o futuro.
Amaldiçoaram o Vasco. Não sei quem foi exatamente, mas o trabalho se comprovou exemplar. Maquiavélico. Mas só uma coisa essa tal criatura tentou, porém nao conseguiu. A alma do vascaíno nunca será sequestrada. Nem ela, nem sua memória.
O vascaíno se acostumou a viver e se alimentar de sua história e de suas lembranças. Com esse patrimônio, ninguém mexe. É o que sobrou até o dia em que o resgaste seja pago e a grandeza do Vasco devolvida ao seu desamparado torcedor. Enquanto houver a saudade, o Vasco será imortal.
“UMA COISA JOGADA COM MÚSICA” – CAPÍTULO 15
por Eduardo Lamas Neiva

Com o fim da música “Pacaembu” nas caixinhas de som, muitos aplausos. Antes que cessassem, Idiota da Objetividade é ligeiro e retoma a pelota.
Idiota da Objetividade: – Além do Pacaembu, também houve partidas no Estádio dos Eucaliptos, em Porto Alegre; no Durival de Brito, em Curitiba; na Ilha do Retiro, no Recife; no Independência, de Belo Horizonte, e, claro, no Maracanã, construído especialmente para aquela Copa, a primeira depois da Segunda Guerra Mundial.
Sobrenatural de Almeida: – Ah, lá no Independência eu aprontei a maior zebra da História: Estados Unidos um, Inglaterra zero.
Idiota da Objetividade: – Mas nenhum dos dois times se classificou para a fase final. A classificada no Grupo 2 foi a Espanha.
Todos (de pé, alegremente, brindando): – “Eeeeeeeeu fui às touradas de Madri, pararatibum-bum-bum, pararatim-bum-bum-bum”!!!
Enquanto a turma toda canta, dança e batuca a marchinha gravada 12 anos antes por Almirante e a Orquestra Odeon, e que fez muito sucesso em 1949, com Carmen Miranda, a Pequena Notável voltava ao palco, desta vez com João de Barro, o Braguinha, e ambos são muito aplaudidos. O público não para de cantar o refrão de “Touradas em Madri”, até que Braguinha pega o microfone para se dirigir aos presentes.
Braguinha: – Muito obrigado, minha gente. Naquele dia eu chorei na arquibancada do Maracanã. Chorei de emoção. E se vocês não pararem eu vou chorar novamente.
Todos riem e o aplaudem. A música começa e todo mundo em pé canta e dança junto com Carmen Miranda e Braguinha. Uma festa completa.
Ao fim, a ovação é enorme. Carmen Miranda e Braguinha deixam o palco, sendo cumprimentados e cumprimentando quem estivesse pela frente. Zé Ary se apressa e anuncia.
Garçom: – Vou localizar aqui no nosso rádio do tempo a narração do Antônio Cordeiro, da Rádio Nacional, justamente naqueles minutos finais de Brasil e Espanha. Dá pra ouvir um pouco o público cantando ao fundo.
Ceguinho Torcedor: – Agora o Braguinha vai chorar lágrimas de esguicho!
Garçom: – Achei! Aqui está!
Todos ficam emocionados, o público aplaude, volta a cantar, e Braguinha chora copiosamente de novo, como se estivesse outra vez na arquibancada do Maracanã. É abraçado por amigos e louvado por todos:
“Braguinha, Braguinha, Braguinha…”
Ceguinho Torcedor: – Que dia, que espetáculo, que goleada, que maravilha aquele povo todo no Maracanã cantando e a seleção dando um baile na Espanha…
João Sem Medo: – Um dia muito especial pro nosso futebol, sem dúvida alguma.
Músico (no palco): – E pra nossa música também, seu João.
João Sem Medo e os demais concordam. Após a euforia, alguns devem ter se lembrado do que ocorreu no jogo seguinte e se aquietaram. Zé Ary não deixou a bola cair e pediu que os amigos seguissem em frente no bate-papo.
Idiota da Objetividade: – Esse jogo contra a Espanha foi o segundo da seleção brasileira na fase final da Copa do Mundo de 1950. No primeiro jogo, uma goleada ainda maior: 7 a 1 sobre a Suécia.
Sobrenatural de Almeida: – No dia em que a seleção brasileira derrotou a Espanha por 6 a 1, tinha de 152 mil pagantes no Maracanã. Pagantes e delirantes. Assombroso! (dá sua risada medonha)
João Sem Medo: – Tinha muito mais gente. Umas duzentas mil. Tinha gente saindo pelo ladrão.
Todos concordam. Houve quem dissesse: “Muito mais até!”
Fim do Capítulo 15
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