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ÍDOLO ETERNO

por Elso Venâncio, o repórter Elso

Roberto Dinamite é o maior ídolo e artilheiro da história do Vasco. Marcou 708 gols em 1110 jogos. Apenas Pelé, no Santos, e Rogério Ceni, no São Paulo, superaram a marca de mil partidas por um único clube. Com 190 gols, é também o número 1 dentre os goleadores do Campeonato Brasileiro. No Carioca, outra liderança: balançou as redes por 284 vezes.

Dos 22 anos de carreira, o camisa 10 cruz-maltino passou 21 temporadas em São Januário. Nesse estádio, por sinal, assinalou 185 gols. Teve, ainda, breves passagens pelo Barcelona, da Espanha, Portuguesa, de São Paulo, e Campo Grande, do Rio.

O clássico Flamengo x Vasco, por muito tempo, era Zico contra Roberto. E também Roberto contra Mozer, que sabia jogar e bater, o que irritava o goleador:

“Olha quem vai entrar, zagueirão…”

Um garoto de 19 anos aquecia. Era o baixinho Romário, que, de cara, após ser lançado por Roberto, driblou Mozer em alta velocidade e fez seu gol.

Na Rádio Globo, fui setorista do Vasco no bicampeonato carioca de 1987 e 1988 e acompanhei bem de perto o ÍDOLO ETERNO, além de ver Romário surgir. Anos mais tarde, já consagrado, Romário, no Flamengo, me confidenciou:

“Sou muito grato ao Bob. Ele me enchia de bolas.”

Aos 25 anos, Roberto foi contratado, no começo dos anos 80, pelo Barcelona. O clube catalão pagou 300 mil euros para tê-lo. Quanto valeria hoje um Roberto Dinamite? Ele fez dois gols na estreia, mas perdeu espaço após a chegada do técnico franco-argentino Helenio Herrera. Jurema Crispim, esposa e procuradora de Roberto, não admitiu:

“Reserva?”

Foi o momento mais tenso de sua carreira. Presidente do Flamengo, Márcio Braga foi à Espanha contratar o craque. Mandatário do futebol do Vasco, Eurico Miranda viajou às pressas e convenceu primeiramente Jurema. Depois, Roberto. O lendário goleador retornou para o Vasco e, na sua reestreia, contra o Corinthians, marcou os cinco gols da vitória por 5 a 2, numa das maiores apresentações de um jogador no estádio mais famoso do mundo, o Maracanã.

Roberto treinava muito cobranças de falta. Colocava várias bolas ao mesmo tempo: uma, na meia lua; outras, mais para o lado direito ou para o esquerdo. Algumas, mais distantes. Hoje, os atletas têm preguiça de treinar…

Quantos gols decisivos Dinamite marcou…. Alguns, eternos – como aquele em que deu um lençol no zagueiro Osmar, do Botafogo, antes de estufar as redes com um sem-pulo arrasador.

Pressionado, certa vez explodiu:

“Roberto deu muito ao Vasco.”

Disse isso enquanto discutia a renovação do contrato com o Gigante da Colina. Estava magoado com o desgaste da negociação. Não tinha mais a seu lado a enérgica Jurema, que faleceu em 1984 e sempre o defendeu com unhas e dentes, contra tudo e todos.

Roberto foi o artilheiro da seleção brasileira na Copa de 1978, disputada na Argentina. Em 1982, Telê Santana cedeu ao apelo popular e o convocou para a vaga aberta com a contusão do centroavante Careca, então no Guarani. No entanto, o técnico errou ao deixá-lo na reserva de Serginho Chulapa.

Em 24 de março de 1993, Roberto despediu-se do esporte em um amistoso contra o La Coruña. Compôs o ataque com Zico, que vestiu a camisa cruz-maltina em pleno Maracanã.

Carlos Roberto de Oliveira nasceu, em Duque de Caxias, no dia 13 de abril de 1954. E entrou para a História como um dos maiores artilheiros do futebol. Depois de alguns mandatos como deputado e vereador, o ídolo realizou o sonho de presidir seu Clube de Regatas Vasco da Gama.

Em decorrência de um câncer, Roberto faleceu no oitavo dia de janeiro deste ano. Ao menos, recebeu um sem-fim de homenagens e honrarias. Como uma estátua em São Januário. Hoje em dia, o trecho da avenida em frente ao estádio se chama Roberto Dinamite. Nome melhor, impossível.

PAREM OS CAMPEONATOS

::::::: por Paulo Cézar Caju :::::::

Hoje, pela primeira vez, não quero falar nada de futebol! Existe algo muito mais sério acontecendo no mundo e tenho visto pouquíssima repercussão. Um dos nossos maiores talentos atualmente, Vinicius Jr., mais uma vez, sofreu insultos racistas de torcedores rivais na Espanha. Dessa vez, foi hostilizado por torcedores do Valencia no estádio de Mestalla., a partida chegou a ser paralisada pelo árbitro, mas, no fim das contas, o garoto acabou sendo expulso. É mole?

O que mais me incomoda é o fato do seu Gianni Infantino, presidente da FIFA, não reagir, não tomar uma decisão drástica em relação ao deprimente fato! Assim como os demais atletas, sobretudo seus companheiros de Real Madrid, não se mobilizarem. Não há título ou vitória que seja maior do que essa causa. O mínimo que eu poderia esperar era que todos os jogadores deixassem o campo abraçados com o Vinicius. Seria um belo de um “cala a boca” para esses racistas babacas!

Até mesmo pelo meu jeito de ser, fui um dos primeiros atletas a sofrer na pele essa discriminação, desde as categorias de base, e sei o quanto é difícil não se indignar. Encarei uma barra duríssima, pois nunca abaixei a cabeça para ninguém na minha vida. É claro que isso fez com que muitas portas se fechassem para mim, seja em veículos de comunicação ou qualquer outro lugar, mas eu nunca vou deixar de falar o que penso para agradar alguém. Frequentei as melhores boates e restaurantes do Rio de Janeiro e do mundo, e pouquíssimas vezes vi outro negro nesses ambientes.

Nunca vou me esquecer, na década de 60, em uma excursão pelo Sul, com o time do Botafogo, quando deparei com um cartaz na porta do restaurante em que íamos almoçar: “É PROIBIDA A ENTRADA DE NEGROS”. Ainda dói demais e dói mais ainda o fato de os atos racistas continuarem tanto tempo depois e, pior, nada acontecer com esses criminosos. Racismo é crime! Todos, incluindo federação, jogadores, ex-jogadores, dirigentes, técnicos, gandulas, peladeiros, etc., precisam lutar por essa causa! Já deu! Se for necessário, deixem os estádios vazios, parem os campeonatos, que o futebol seja extinto, mas não deixem os racistas impunes, por favor!

Não tenho o número exato, mas sei que existe uma grande parcela de negros atuando nos principais campeonatos do mundo e a minha sugestão é que, pela primeira vez na história, eles façam uma greve para dar um basta nisso tudo!

Gostaria de encerrar essa coluna prestando toda a minha solidariedade ao Vinicius Jr.! Mesmo sem conhecê-lo, me parece um garoto muito humilde, que só quer ser feliz jogando futebol, aplicando seus dribles, respeitando os adversários e sendo respeitado!

Força, moleque! Estou contigo nessa e nunca vou me calar!

Estou tão indigado que resolvi traduzir as pérolas para os geraldinos:

Linhas = setores do campo (defesa, meio e ataque)
Primeira linha = lateral-direito, beque central, quarto-zagueiro e lateral-esquerdo
Segunda linha = centro-médio, meia-armador e meia-esquerda.
Terceira linha = ponta-direita, ponta-esquerda e centroavante.
Jogador de beirinha/alas = pontas ou laterais
Leitura de jogo = visão de jogo
Zerar a bola = dar um chutão
Cara da bola = gomo da bola
Tapa na bola = toque na bola
Time encaixotado = time acuado
Chutar na orelha da bola = Pegar mal na bola
Intensidade alta = raça
X1 = ponta partindo pra cima do lateral
Falso 9 = meia-esquerda ou meia-direita, que acompanha o atacante

Alô, analistas! Vamos facilitar a vida dos geraldinos, por favor!

ONDE ESTÁ AQUELE GAROTO DA FOTO?

por Paulo-Roberto Andel

Graças à internet, qualquer torcedor pode se divertir e até mesmo com uma quantidade incomensurável de fotos e pôsteres de times de futebol, em todo o mundo. Não é diferente no Brasil, nem no Rio.

Imagine o Maracanã. Quanta gente já jogou ali? São nomes, nomes e nomes. Muitos foram conhecidos e consagrados, outros nem tanto, alguns simplesmente não foram. E quem jogou no maior estádio do mundo num único dia ou noite? Times do interior, times de outros estados, times de menor investimento. Cada um a seu modo, eles viveram a experiência fantástica de subir as escadas dos velhos e maravilhosos túneis do mesmo jeito que Pelé e Garrincha.

Volta e meia me deparo com uma foto de time no Maraca, vejo os jogadores e, se for dos anos 1970 em diante, tenho familiaridade porque tenho sido um torcedor. É um mergulho maravilhoso ao recordar nomes e rostos de jogadores que vi quando criança, ou li nos jornais e na fabulosa Revista Placar. Para a humanidade, 40 anos não são nada, mas para a vida individual é muita coisa, são muitas lembranças. Onde foi parar fulano? E beltrano que morreu? Sicrano mudou para o interior?

Há um tipo de foto que me comove ainda mais: a dos times de juniores, à época chamados de juvenis. Em cada uma delas, você encontra ao menos um jogador conhecido e até mesmo um craque consagrado, ali registrado como um menino desconhecido. Agora, em sua maioria, as imagens mostram jovens que, tão perto do sonho da bola, simplesmente desapareceram e sequer defenderam suas equipes profissionalmente. Nomes desconhecidos, rostos sem identificação. O que foi feito de cada um deles? Muitos jogaram para mais de cem mil torcedores em preliminares dos clássicos, mas não chegaram ao topo da carreira. Outros eram grandes promessas que ficaram pelo caminho. O que será que aconteceu?

Em tempos difíceis, onde o futebol brasileiro está sendo posto à prova pelo escândalo que envolve jogadores e apostas, o que será que pensa aquele senhor maduro que, há quarenta anos, vivia o sonho juvenil do futebol no Maracanã que jamais se tornou uma realidade profissional?

Onde está aquele garoto da foto, além das vagas lembranças da nossa meninice?

O ORGASMO

por Zé Roberto Padilha

Talvez no Parrô do Valentim, em Itaipava, você sinta algo parecido quando um pedacinho dos sonhos, um bacalhau na brasa, com azeite português, alcança suas entranhas abertas com um Quinta dos Carvalhais, branco, do Dão, alcançados no Bordeaux ao lado.

Talvez, porque esse prazer aí de cima tem preço e lugares marcados. Já marcar um gol não tem preço. Tem um prazer único em que o Nino (foto) alcança o êxtase. Anestesiado, não sabe pra que lado corre, a quem abraça, a quem agradece.

No esporte mais cultuado no país, vinte e dois homens entram em campo toda semana para tentar, com uma bola nos pés, aninhá-la dentro de uma cobiçada e perseguida gruta. Ela tem 7,32m por 2,44 de altura.

Pequena diante da imensidão dos campinhos, estádios e arenas, ornada com redes, protegida por um goleiro, vigiada por zagueiros e monitorada pelo VAR, quando a gente consegue introduzir a bola em suas redes o paraíso é alcançado por seus pés.

Pode ser em uma pelada na encosta de um morro, no Espinhaço, em Monte Castelo, porque nem todos os orgasmos foram alcançados em lençóis de seda de frente para o mar de São Conrado.

São momentos únicos, inexplicáveis, que atiram seu ego, elevam sua autoestima ao mais alto estágio da cobiça humana.

Claro, não falo de quem goza desse prazer diariamente. Falo de Nino, não do Cano, imagino o Vidal, não o Gabigol, vale menos para oTiquinho e para o Pedro Raul do que para os esforçados mortais que o cobiçam ao seu lado.

Em 17 anos de futebol, marquei tão poucos gols (87, sendo 32 de penaltis) que lembro de cada um. Particularmente, um contra o Corinthians, no Maracanã, jogando pelo Fluminense.

Marco Antonio ameaçou bater direto e rolou a bola ao lado da barreira. Entrei nas costas do Zé Maria e toquei na saída do Ado. O que senti? Um orgasmo. E esse prazer não se explica. Se sente.

No meu caso, passou mais rápido porque o Rivelino, e o Vaguinho, com dois gols, viraram o placar para 3×1. Mas o gostinho do bacalhau, da Noruega, o tinto português, permaneceram vivos dentro de mim.

UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 10

por Eduardo Lamas Neiva

O racismo no futebol continua sendo o papo no bar “Além da Imaginação” e a bola está com o comentarista que o Brasil consagrou.

João Sem Medo: – Esse racismo entranhado em muitos clubes brasileiros é que acabou levando o futebol ao profissionalismo na década de 30. Os jogadores passaram a ser empregados dos clubes, tratados como tal, e isso foi uma forma de os dirigentes evitarem a mistura deles com a parte social na sede. Amadorismo, propriamente, já não existia há muito tempo. Com pouquíssimas exceções de jogadores ricos, o resto já era profissional de alguma forma. E, na verdade, foi o jeitinho brasileiro pra contornar a questão, pois os clubes que rejeitavam o profissionalismo, no fundo não queriam mesmo era abrir as portas ao negro. E aí caíram num dilema: ou fechavam o departamento de futebol ou aceitavam o profissionalismo. Isso causou uma cisão violenta.

Sobrenatural de Almeida: Foi por isso que a seleção brasileira disputou a primeira Copa do Mundo com um time enfraquecido…

João Sem Medo: – Foi. Eu assisti àquela Copa, morava ali perto da fronteira com o Uruguai. Aliás, assisti a todas as Copas do Mundo.

Todos os outros três (desconfiados): – Sim, claro…

Garçom: – Senhoras e senhores, como a conversa está nos tempos do amadorismo no futebol brasileiro, temos música no palco para ilustrar o tema.

José (Giuseppe) Rielli (no palco, com seu acordeão): É “vero”! “La canzone” se chama “Amadores da pelota”, de Antônio Teixeira Borges.

Garçom: – O bar Além da Imaginação tem a honra, então de apresentar José… Giuseppe… Como devo apresentá-lo: José ou Giuseppe Rielli?

José (Giuseppe) Rielli: – Giuseppe, como “io” assinava em 1914.

Garçom: – Então, com vocês, Giuseppe Rielli!

Todos aplaudem o italiano que veio para o Brasil ainda criança no fim do século XIX. Ele agradece e se despede. João Sem Medo continua. 

João Sem Medo: – Por causa dessa rixa entre amadoristas e profissionalistas, pro Uruguai, em 30, a seleção brasileira só levou um paulista, Araken Patusca, que estava brigado com o Santos, onde foi grande ídolo e artilheiro.

Idiota da Objetividade: – Araken já estaria sendo contratado…

Ceguinho Torcedor: – Estaria sendo, Idiota???

Idiota da Objetividade: – Peço desculpas. Tentando ser mais objetivo: Araken já estaria apalavrado com o América do Rio na época. Ele é primo de Arnaldo Patusca da Silveira, autor do primeiro gol da História do Santos Futebol Clube, e filho do primeiro presidente do clube santista: Sizino Patusca. O gol de Arnaldo foi feito na vitória de 2 a 1 sobre o Santos Athletic Club, em amistoso realizado em 1912.

João Sem Medo: – O Santos tem uma grande história antes mesmo de Pelé. Mas voltando ao que falávamos… a CBD, que deu origem à CBF, com sede no Rio, era amadorista, enquanto que uma tal de Federação Brasileira de Futebol e a Associação Paulista de Esportes Atléticos (Apea), um dos muitos nomes que a Federação Paulista de Futebol teve, eram profissionalistas. Acabou que só foram jogar a primeira Copa jogadores do Rio e o Araken, que aproveitou que o navio da seleção passou pelo porto de Santos e se juntou à delegação.

Sobrenatural de Almeida: – Mas fomos eliminados logo na primeira fase!

João Sem Medo: – Sim. Com uma derrota na estreia pra Iugoslávia, por 2 a 1, e uma vitória de 4 a 0 sobre a fraca Bolívia.

Idiota da Objetividade: – Araken Patusca fez parte de uma fabulosa equipe do Santos, que no Campeonato Paulista de 1927 marcou 100 gols em 16 partidas, média recorde mundial de 6,25 por jogo. Só Araken fez 31 gols, mas o time santista terminou em segundo lugar. O campeão foi o Palestra Itália, que deu origem ao Palmeiras e que conquistava ali o bicampeonato paulista. Ele só conseguiu ser campeão no Santos, em 1935, mas em grande estilo: marcou um dos gols dos 2 a 0 sobre o Corinthians, na última partida da competição.

Garçom: – Esse Araken era bom mesmo, né?

Idiota da Objetividade: – Araken estreou no Santos, no início da década de 20, saindo da arquibancada direto pro campo, fazendo 4 gols no empate em 5 a 5 com o Jundiaí. Ele tinha apenas 15 anos, senhores. Araken ainda jogou no Paulistano, no São Paulo e no Flamengo. E escreveu um livro sobre a excursão que o Paulistano fez à Europa em 1925, quando atuou ao lado do grande Friedenreich, o maior artilheiro de todos os tempos, com 1.329 gols, reconhecidos pela Fifa.

João Sem Medo: – Os jornais franceses, encantados com a série de shows de bola em gramados europeus, chamaram os brasileiros de “Os reis do futebol”. E este é o título do livro do Araken Patuska.

Ceguinho Torcedor: – Ainda bem que depois da divisão toda, entre amadoristas e profissionalistas, o futebol brasileiro pôde ter um pouco de paz.

João Sem Medo: – A partir daí nosso futebol deu saltos gigantescos, projetou-se internacionalmente pela qualidade extraordinária de nossos craques, apesar do núcleo dirigente tentar sempre atrapalhar. Mas de 1930 até 35 foi o pior momento da História do futebol brasileiro. Eu não presenciei muito, mas eu sei também que o incêndio de Roma aconteceu, né?

Ceguinho Torcedor: – Verdade, meu amigo, é o óbvio ululante!

João Sem Medo: – Foi uma fase de grande crise política e econômico-financeira, depois da crise mundial dos anos 30, no começo dos anos 30.

Ceguinho Torcedor: – A crise mundial de 29 com a quebra da Bolsa de Nova York.

João Sem Medo: – Isso mesmo. Toda a seleção brasileira… toda! Do goleiro ao ponta-esquerda, foi pra Itália, Argentina e Uruguai. E os jogos aqui, eu fazia jogo de infantil, juvenil… Foi terrível, não tinha dinheiro pra comprar material, chuteira, não tinha nada. Os campos vazios, o que era um reflexo da crise mundial. Essa crise foi ferocíssima até 35, por aí. De 30 a 35. Em 34, na Itália, ainda no meio da cisão e dessa crise toda, fomos mal de novo, eliminados logo no primeiro jogo, pela Espanha.

João Sem Medo é interrompido por aplausos direcionados ao palco. Ele mesmo só se dá conta depois e revela ao Ceguinho Torcedor o que está acontecendo.

João Sem Medo: – Meu amigo, estão no palco simplesmente Carmen Miranda e Lamartine Babo.

Ceguinho Torcedor: – Extraordinário, épico, monumental!

João Sem Medo: – O povo aqui os reconheceu logo e já começou a aplaudir antes mesmo de serem anunciados.

Garçom: – Nem preciso mais anunciar a próxima atração, né, Seu João? Vou deixar a bola com eles.

Carmen Miranda: – Muito obrigada.

Lamartine Babo: – Agradeço muito. Agradecemos muito. Bom, futebol e música sempre foram a minha cachaça, vocês sabem muito bem. Pro carnaval de 34, ano da segunda Copa do Mundo, lançamos esta marchinha chamada “2 x 2”.

Carmen Miranda: – Vocês vão gostar. Quem já conhece, de ouvir novamente. E quem nunca ouviu, de conhecer.  

São aplaudidíssimos. Com Lamartine dando a mão a Carmen, os dois deixam o palco ovacionados e se dirigem a uma mesa para ouvirem o recomeço do papo e aguardar a vez de retornarem.