A NOVA CONTRIBUIÇÃO DO JEITINHO BRASILEIRO
por Zé Roberto Padilha

Sabedores do pouco tempo em que seus pupilos estão em cena, muito provavelmente por falta de objetividade dos nossos times, os treinadores de goleiros resolveram orientá-los a supervalorizar cada boa defesa.
Basta uma grande intervenção que a ordem é não levantar após a defesa. Sentir o que não está sentindo porque o árbitro vai parar o jogo, vai acontecer o atendimento médico e as imagens de sua defesa vão ser repetidas à exaustão até que a farsa passe.
Se levantar logo e colocar a bola em jogo, sua defesa não terá replay. E não terá o mesmo impacto de suas repetidas intervenções.
Depois da paradinha para cobrar o pênalti, autoria do Rei Pelé, uma olhada pro lado e o passe realizado para outro, de Mario Sérgio, a cobrança de falta por baixo da barreira que salta, Ronaldinho Gaúcho, eis a nova contribuição ao futebol dos praticantes mais criativos do mundo.
Como já dizia nosso canhotinha de ouro, o importante é levar vantagem em tudo, certo?
Certo?
TÁ LÁ!!!!!
por Reinaldo Sá

“Craque na bola, craque na escola”! Esse era um dos bordões preferidos de José Cunha, mineiro de Ponte Nova. Mas o “tá lá”, que substituía o grito de gol, tornou-se a sua marca registrada.
Fez história em suas narrações, seja no rádio, onde teve grande destaque, principalmente quando foi escolhido pela Rádio Itatiaia para ser o locutor oficial da Copa de 70, seja na TV Tupi, canal 6, quando apresentava magistralmente o programa Flavio Cavalcanti.
Me lembro bem quando ele anunciou a vinda do Tostão para o Vasco da Gama: “Flavio, boa noite, abrimos o programa de hoje com o pé esquerdo, mas com a sorte e a categoria de um tricampeão do mundo”.
Ficou na Tupi até a Copa de 78, a última transmitida pela emissora. Dois anos depois, em julho de 1980, a Tupi encerraria as suas atividades. José Cunha também desfilou seu talento na TV Educativa e foi a voz foi pioneira nas transmissões esportivas, ainda experimentais, na emissora de Silvio Santos. Mas a sua popularidade explodiu quando topou apresentar o programa o programa “Aqui e Agora”, na Record TV, referência das vozes que clamavam no deserto e buscavam soluções para uma sociedade carente em todos os sentidos. Mas não dá para esquecer de sua atuação nas ondas da Rádio Tamoio AM 900, do Rio de Janeiro, ao lado do saudoso treinador Davi Ferreira, o Duque, no Debate Esportivo, de Luiz Penido na CNT, canal 9, e na rádio web da FERJ.
Sua carreira tem uma assinatura única e o nome de José Cunha tá lááááá!!! Entre os gigantes da comunicação.
EM QUE MOMENTO O JOGAR FUTEBOL SE PERDEU?
por Zé Roberto Padilha

Às vezes percebo um grande jogador, como o Arce, que nos brindou com um jeito todo especial de bater na bola, ao se tornar treinador, ser capaz de adotar um sistema tático de uma covardia sem limites.
Anestesiar toda a capacidade técnica dos seus jogadores em prol de uma retranca total. Para empatar fora de casa e se perder, perder de pouco. Foi o que fez no Maracanã na primeira partida do seu time, o Olímpia, terça-feira, no Maracanã.
Todos nós amamos o futebol bem antes de escolher para quem iríamos torcer. E quando ligamos a televisão, vamos aos estádios, tirando a opinião dos fanáticos, esses desprovidos da razão, esperando assistir a um grande espetáculo. Em que todos os artistas joguem o seu melhor e o esporte se consolide como o preferido dos brasileiros. E conquiste às novas gerações que são levadas a conhecê-lo.
Em suma: uma equipe, cheia de talentos individuais, que deixa o Paraguai e não vem jogar no Rio é uma falta de respeito. Com o esporte chamado Futebol. Ou já assistimos a Fernanda Montenegro segurando seu talento no palco? O Alok deixando de dar o seu melhor, mesmo debaixo de chuva, para se poupar para o show da volta?
A arte não pode ser contida. Quando alguém tenta, retira do ser humano o dom que Deus lhe deu. E se torna um Arce. Um craque liberto que se tornou medíocre ao escravizar o direito dos seus jogadores de ir a campo jogar futebol.
Em 1974, Parreira era nosso treinador e disputamos a Taça GB com Carlos Alberto Pintinho, Cleber, Gerson e eu. Aí dele se segurasse esse meio campo.
Um ano depois, Didi escalou a Máquina Tricolor com Zé Mário, Cleber, eu e Pintinho. No Brasileiro, ganhamos o Fla x Flu de 3×0 e ele não prendeu seus meninos.
Em 1976, o Flamengo, dirigido por Cláudio Coutinho, entrava em campo com Tadeu. Geraldo, Zico e me concederam a camisa 11 para escrever, anos depois, como testemunha, que o futebol é uma arte que precisa ser liberta. Não contida.
O ETERNO FÁBIO
por Elso Venâncio

Na reta decisiva da Libertadores, com vantagem de dois gols a seu favor para o jogo de volta, o Fluminense conta com a experiência do goleiro Fábio, que renovou o contrato e pode, em 2025, seguir atuando em alto nível, mesmo aos 45 anos de idade. Ninguém jogou mais partidas, tanto no Campeonato Brasileiro como na Libertadores da América.
Após vencer os paraguaios do Olímpia por 1 a 0 no Maracanã e ampliar, no início do jogo da volta, no Defensores del Chaco, por meio de Bruno Henrique, o Flamengo contou com vantagem semelhante. Só que, hoje, o Fluminense é mais aguerrido nas partidas decisivas. Ainda tem comando técnico, o que o faz seguir almejando o título inédito. Há um clima positivo entre os torcedores, ainda mais que a finalíssima será realizada no Maracanã.
Dirceu Lopes, supercraque do Cruzeiro, não disputou uma Copa do Mundo sequer. Fábio, depois de passar bem pelo Vasco e se tornar lendário no Cruzeiro, clube pelo qual conquistou um número avassalador de títulos expressivos, jamais foi lembrado nas convocações. Será que a história seria outra, caso jogasse no exterior, com a proteção dos ‘poderosos’ empresários?
Aliás, defendo a renovação, priorizando quem atua no país. Nomes como Lucas Perri, o melhor goleiro brasileiro da atualidade, o zagueiro botafoguense Adryelson e o atacante Vitor Roque, do ‘Furacão’, merecem ser chamados. Fábio foi quem mais vestiu a camisa do Cruzeiro, quase completou mil jogos pela ‘Raposa’. Com ele, a escola dos grandes goleiros está mantida nas Laranjeiras.
O primeiro titular da Seleção Brasileira foi justamente um tricolor: Marcos Carneiro de Mendonça, que chegou à Presidência do clube. Veludo, reserva de Castilho, junto com o titular foi convocado pelo treinador Zezé Moreira para a disputa da Copa de 1954, na Suíça. O tricampeão mundial Félix, Paulo Victor e Diego Cavalieri, dentre outros, mostram que a camisa 1 tricolor nunca navegou à deriva.
Antes de assinar o novo compromisso, Fábio chegou a ser sondado para retornar à Toca da Raposa. Os torcedores não concordaram com a forma fria através da qual o ídolo foi dispensado após a chegada da SAF, mesmo tendo contrato assinado para continuar e admitindo redução salarial. Depois de 17 anos de excelentes serviços prestados, não imaginava trocar de clube de uma hora para a outra:
“Nunca tive contato com Ronaldo e nem com Paulo André (homem de confiança do Fenômeno)” – comentou o goleiro.
Agora, Fábio pode igualar a longevidade de Manga – ídolo pernambucano e maior goleiro tanto do Botafogo como dos outros clubes que defendeu. Aos 45 anos de idade, Manga encerrou sua vitoriosa carreira no Barcelona de Guaiaquil, no Equador.
Quanto a Fábio, imaginem o seu tamanho na História, conquistando o título da Libertadores.
TÁLÁAAAAAAAA!
por Paulo-Roberto Andel

Durante anos, uma das vozes marcantes do futebol brasileiro foi ouvida à meia noite de domingo, quando começava na querida e saudosa TVE a reprise do jogo de domingo no Maracanã.
Uma voz clássica, retumbante, de falas pausadas a cada novo jogador que tocasse na bola. Uma explosão quando havia um lance de perigo para os goleiros. E se o perigo virasse gol sofrido, um segundo de silêncio e uma bomba atômica: TÁLÁAAAAAAAAA! Em seguida, o nome do jogador e, em alguns casos onde o gol havia acontecido numa rebatida na área, cravava: “Numa sinuca maluca!”.
José Cunha, um tremendo locutor esportivo, veio de Minas para o Rio e por aqui ficou. Passou por várias rádios, sentou praça na TV e, fora do futebol, participou do fenômeno popular “O povo na TV”, programa ao vivo na TVS, depois SBT, ao lado de futuros ícones da mídia como Sérgio Mallandro, Wagner Montes, Cristina Rocha, Roberto Jefferson (ele mesmo!), Anna Davies e Wilton Franco.
Cunha foi chefe, mestre e líder de gerações de jornalistas de suas equipes. Muitos profissionais o definiram como uma figura de extrema doçura, generosidade e carisma. Num meio onde vaidades costumam pipocar, ele foi uma unanimidade profissional.
Os garotos de 1979, 1980 e 1981 que escutavam José Cunha nunca mais vão se esquecer dele. A poderosa voz do narrador contou incontáveis partidas recheadas de craques por todo o gramado do inesquecível Maracanã. Com seu TÁLÁAAAAAAA, ele imortalizou grandes lances de Mendonça, Zico, Roberto Dinamite, Edinho, Cláudio Adão e tantas outras feras do futebol daquele tempo de arquibancadas populares, geraldinos ensandecidos e a festa permanente que o Rio desfraldava no maior estádio do mundo.
Sua despedida leva muitos torcedores de agora a se reencontrarem com a juventude, talvez nos melhores momentos de suas vidas. Sua voz é o registro de outro sobre um futebol fascinante, popular e extremamente humano.
Viva José Cunha!