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UMA COISA JOGADA COM MÚSICA – CAPÍTULO 33

por Eduardo Lamas Neiva

Todos se divertem e dançam com a música gravada pelo Sotaque Brasileiro. Ao fim, Zé Ary toma a palavra, pois uma surpresa está por vir.

Garçom: – Olha, gente, o Everaldo prometeu que virá aqui mais tarde, aí ele poderá falar sobre aquele episódio com o árbitro José Faville Neto.

João Sem Medo: – É bom lembrar que Everaldo foi homenageado pelo Grêmio com uma estrela dourada na bandeira do clube. Ele tem também muitas boas histórias pra contar.

Idiota da Objetividade: – Verdade. Ele foi o primeiro jogador de um clube gaúcho a ser campeão mundial pela seleção.

Músico: – E tem música em sua homenagem também, gravada depois que ele faleceu, em 1974.

Garçom: – É verdade. Chama-se “Everaldo, estrela de ouro”, de Francisco Castilhos e Albino Manique, fundadores do grupo gaúcho Os Mirins, que gravaram a música. Vamos ouvir aqui no som.

Todos ouvem com atenção e respeito. No fim, alguns se emocionaram e todos aplaudiram.

Garçom: – Everaldo prometeu vir, acho que junto com o Lupicínio Rodrigues, e aí a gente vai poder conversar com ele.

João Sem Medo: – Sobre o Grêmio e a seleção brasileira!Idiota da Objetividade: – Outro que fez parte da seleção tricampeã mundial, em 70, e agrediu árbitro foi o zagueiro Brito. Ele deu um soco no estômago de José Aldo Pereira, depois de não marcar um pênalti contra o Botafogo, num jogo que o Vasco venceu por 1 a 0, em 1971. Chegou a pegar um ano de suspensão, mas foi beneficiado pelos serviços prestados à seleção e a punição foi reduzida.

João Sem Medo: – O zagueiro Moisés, do Vasco, declarou à Rádio Globo, nas vésperas da partida, que iria entrar e espanar. De fato cumpriu parte de sua promessa antes de dois minutos de jogo sem sequer ser advertido. Foi um esbulho, uma desmoralização para o futebol. Disseram que o Brito deu a primeira e perdeu a cabeça, mas foi outro jogador e o juiz sabia quem tinha sido. Mas não teve coragem, nem moral para assinalar isto na súmula. Prova o fato de tal pusilanimidade…

Sobrenatural de Almeida: – Pusilanimidade, João! Gastou o vernáculo agora, hein.. hahaha (dá sua risada assombrosa)

Outros riem também, mas João está sério, retoma a bola e prossegue.

João Sem Medo: – Prova o fato que o jogador continuou no campo. É a consciência pesada de quem sabia estar prejudicando um time que impede isto. O Vasco nada tinha com o peixe. Tratou de seus papéis. Se não marcaram o pênalti em Jairzinho, paciência. O juiz parece que tinha combinado que não valeria pênalti. A única decisão sábia do juiz foi não comparecer à delegacia.

Garçom: – Bom, o senhor José Aldo Pereira não está aqui pra se defender, vamos deixar quieto, então.

Zé Ary percebe um burburinho próximo à entrada do bar e anuncia.

Garçom: – Olha só, gente, quem está chegando: o mestre Telê Santana!

Telê é aplaudido de pé por todos.

Telê Santana: – Obrigado, muito obrigado.

Garçom: – Seu Telê, estávamos pouco antes de o senhor chegar falando do título brasileiro do Atlético, em 1971. São muito boas as lembranças daquela conquista, não é?

Telê Santana: – Sim, muitas. Fomos jogar no Rio pelo empate, mas não o fizemos. Partimos para a vitória e ficamos com o título.

Idiota da Objetividade: – E a promessa, Telê?

Telê Santana: – Quando fiz a promessa, calculei que seriam 50 quilômetros de minha residência, em Belo Horizonte, até a igrejinha de Pires, em Congonhas do Campo. Estava enganado, eram 78! Era impossível fazer tal distância a pé. Por isso aceitei o transporte oferecido pelos patrulheiros. Estava exausto, queimado do sol e com bolhas nos pés.

Ceguinho Torcedor: – Você foi heroico, Telê! Além do título nacional, ainda percorreu a pé 45 quilômetros. Quando jogador do meu Fluminense era o Fio de Esperança. No Atlético, transformou-se no Pagador de Promessa.

Todos riem muito e aplaudem Telê, que agradece e vai pra sua mesa.

Garçom: – Como todos sabem, mestre Telê tem muita coisa pra nos contar, além daquele primeiro título brasileiro do Atlético.   

Ceguinho Torcedor: – Amigos, foi uma vitória perfeita, irretocável, a do Atlético. Não é à toa, nem por acaso, que Minas exultou com o título do futebol brasileiro. Sempre digo que um campeão não se improvisa. É todo um processo, toda uma preparação. O Atlético Mineiro teria de vencer, porque amadurecera para a vitória tão desejada. Duzentos ônibus  invadiram a Guanabara, como era chamado na época o estado em que ficava apenas a cidade do Rio de Janeiro, com as faixas de campeão. O título não era um desejo, uma esperança, mas uma certeza inapelável. Ao longo da jornada, o time mais regular foi o mineiro.

João sem Medo: – O Atlético fez mesmo por merecer o título.

Garçom: – Em mais uma homenagem ao Galo, vamos ver no telão, a homenagem do cantor, compositor e violonista Celso Adolfo ao Clube Atlético Mineiro. A música se chama “Paixão atleticana”.

Muitos aplaudem a música, que agrada, principalmente aos atleticanos presentes.

Quer acompanhar a série “Uma coisa jogada com música” desde o início? O link de cada episódio já publicado você encontra aqui (é só clicar).

Saiba mais sobre o projeto Jogada de Música clicando aqui.

LEANDRO FOI NOTA MUSICAL EM CAMPO

Ilustração e texto de Marcos Vinicius Cabral

“O carioca José Leandro de Souza Ferreira adotou Cabo Frio e, talentoso, saiu da cidade adotiva para tentar a sorte no mundo inóspito do futebol.

Mas José Leandro de Souza Ferreira sabia melhor do que ninguém que, se não fosse o amor dele pela bola e o dom dado por Deus para ele jogar futebol, nada teria acontecido.

Dom este que o transformou em um dos mais completos, vitoriosos e habilidosos jogadores do futebol brasileiro.

“Tenho dois orgulhos na vida futebolística: ter lançado Ronaldinho Gaúcho no Grêmio e ter trabalhado com Leandro. Foram, disparados, os mais habilidosos que meus olhos viram”, falou Sebastião Lazaroni, ex-treinador da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Itália, em 1990, mês passado quando conversamos por telefone.

Camisa 2 de um Flamengo imortal como foi o de 1981, Leandro, o Peixe-Frito, conquistou o mundo, foi genuíno craque de bola na acepção da palavra.

Não carregou o piano rubro-negro em muitos jogos inesquecíveis que o Flamengo fez, como por exemplo, nas decisões da Libertadores e do Mundial. Nos jogos, Adílio e Zico, exímios pianistas que tocavam com os pés o dó, ré, mi, fá, sol, lá e si, notas criadas pelo monge italiano Guido d’Arezzo (992-1050), resultaram em gols. Mas Leandro, ou melhor, o talento de Leandro, fez dele pianista dos grandes.

Mas o inesquecível lateral-direito e zagueiro central foi a melhor revelação surgida na base do Flamengo. Logo, perceptível aos olhos argutos da dupla América Faria e Sebastião Lazaroni, em 1976, construiu uma história. Linda, por sinal!

Passados 33 anos que deixou de atuar pelo Flamengo, único clube que jogou na brilhante carreira, nenhum outro jogador chegou perto da classe, posicionamento e habilidade naquela faixa de campo. Difícil saber se foi mais eficiente na lateral, zaga, ou nas especialíssimas participações como meio campista.

“Na seleção de todos os tempos, meu filho Thiago escala Leandro na lateral e na zaga”, contou Zico na recente entrevista que nos concedeu para o livro que estamos produzindo sobre Leandro.

Desarmes, comparados à frequência sonora medida em hertz (Hz), descrevia com exatidão se o contra-ataque era grave ou agudo. Muitas vezes, parou na estação intransponível que Leandro era.

O posicionamento dentro de campo, representação de uma partitura ou letra em uma tablatura, por muito tempo deixou a beleza do som daquele futebol no nosso inconsciente. Sofremos até hoje por não termos mais jogador naquela posição como Leandro.

Quantos desarmes! Quantos passes! Quantos momentos inesquecíveis! Quantos gols (poucos é verdade, apenas 14), mas com um quê de magia de quem é diferenciado, como na cabeçada mortal nos 3 a 0 contra o Santos, na decisão do Brasileirão de 1983, e no ‘pombo sem asa’ no ângulo de Paulo Victor no Fla-Flu de 1985.

Peixe-Frito, eterno ídolo rubro-negro, é patrimônio imaterial nosso e não esqueceremos sob hipótese alguma o que produziu como boa nota musical da bola que foi nos gramados.

Prova disso foram quatro Campeonatos Brasileiros que nos deu como profissional e o contrato assinado em branco como apaixonado que sempre foi pelo Flamengo. “Maluco beleza”, diria Raul Seixas (1945-1989), “louco”‘, cravaria Albert Einstein (1879-1955)… nada disso. Leandro foi prova de amor genuíno ao clube que tanto ama e quer bem.

Mas voltando ao século passado, não esqueceremos da Libertadores, dos Cariocas, dos Guanabaras, dos torneios internacionais e do Mundial Interclubes, como passar incólume e não lembrar de Leandro que contribuiu de forma decisiva nessas conquistas?

Além de um bom pianista que produzia belos sons com os pés, cada flamenguista já esqueceu quando Leandro negou-se a ir à Copa do Mundo no México, em 1986. Erro imperdoável? Talvez! Mas Leandro escreveu certo por pernas tortas.

Pernas tortas que driblaram a morte quando dirigindo o Puma voou na Curva da Norte, situada em São Pedro da Aldeia, na Região dos Lagos e, foi parar no brejo, em um acidente que acabou deixando-o preso às ferragens. Livre e recuperado, meses antes, calou o departamento médico do Internacional e provou para a ciência que não estava acabado para o futebol. Leandro foi a ressignificação de superação em pessoa.

Mas não esqueçamos da humildade de Leandro, maior qualidade do imortal camisa 2 e 3 rubro-negro nos tempos passado, presente e futuro. Só os GRANDES são humildes.

Feliz. Tal felicidade se resume a tantas coisas: ser amigo pessoal do lendário ídolo do Mais Querido, poder escrever com Sergio Pugliese um livro sobre este mito dos campos de futebol, além é claro, em ter pintando um quadro dele que enfeita a casa de Leandrinho, primeiro filho.

Obrigado Deus, obrigado Leandro, e obrigado futebol por me proporcionar viver tudo isso. Sem vocês, nada teria valido a pena”.

INGRESSO PARA A FINAL

por Idel Halfen

O aumento nos preços dos ingressos para as finais das competições de futebol no Brasil tem causado uma grande comoção popular.

As manifestações partem de torcedores que sentem no bolso a majoração, da imprensa que levanta teorias sobre a elitização do futebol, dos “especialistas” em gestão esportiva questionando a precificação. O que não falta é opinião.

Faltam, entretanto, avaliações mais estruturadas sob o prisma microeconômico, as quais, ainda que não tragam certezas absolutas, certamente ajudariam nos processos de precificação.

Sem a menor pretensão de usar o artigo para discorrer sobre princípios microeconômicos, vamos abordar a seguir, de maneira bem superficial, a sensibilidade de consumo diante da variação de preço, a qual permite segmentar os produtos em elásticos e inelásticos.

Os elásticos são aqueles sensíveis à alteração de preço em um mercado normal de oferta de produtos, isto é, que não haja escassez  e abrigue bens que possam substitui-los. Carnes de primeira, que podem ser substituídas por carnes menos nobres e manteiga, que pode ser substituída por margarina exemplificam com propriedade os produtos elásticos.

Já os inelásticos são os que não sofrem variação de demanda mesmo que os preços sejam alterados. Esses são representados por remédios e itens de primeira necessidade, tais como água, feijão, sal etc.

Quando o resultado da equação abaixo supera 1, o produto é elástico, já quando for inferior a 1, é considerado inelástico.

Não entraremos aqui nos conceitos de elasticidade cruzada de demanda – influência da modificação do preço de um produto sobre a demanda de outros -, pois, para isso precisaríamos nos deter mais detalhadamente nas diferenças entre bens substitutos – aqueles que podem substituir outro que tenha os preços majorados – e bens complementares, que ao terem seu preço reduzido aumentam a demanda de outro sem ter seu consumo abalado. Além do que, tal profundidade pouco agregaria para a avaliação do preço do ingresso.

Vale assim focar a análise da elasticidade do ingresso considerando ser esse um produto em que há limitação de oferta, afinal é finito o número de assentos, o que faz o produto se diferenciar daqueles cuja disponibilidade é maior. 

Em jogos de importância menor, podemos até vir a concluir que o ingresso é um produto elástico, vide as promoções que acontecem em algumas partidas. No entanto, no caso de uma final como será a da Libertadores 2023, aditivada por acontecer no estádio mais emblemático do mundo e por colocar frente à frente clubes que formam uma das maiores rivalidades da América do Sul – Fluminense e Boca Juniors -, não há dúvida de que o ingresso se trata de um bem inelástico, principalmente no curto prazo onde há uma corrida desenfreada pela compra assim que as vendas começam.

Essa condição de escassez, quando aplicada a qualquer outro segmento, inclusive em ingressos para eventos culturais, costuma levar os gestores de marketing a decidirem que a adoção de uma estratégia de preços premium seja a mais apropriada, uma vez que, dessa forma consegue se obter um nível máximo de receitas com taxa de ocupação dos assentos tendendo a 100%.

Porém, estamos falando de futebol que, por mais que necessite ser gerido de forma profissional, não pode prescindir dos torcedores, visto serem eles atores de vital importância tanto no que diz respeito à atmosfera do espetáculo, como também como fator influenciador de motivação aos jogadores.

Portanto, o grande desafio do gestor de marketing no que tange à precificação é encontrar um valor que contemple a lucratividade e atenda os objetivos mercadológicos, necessitando, no caso do futebol, uma atenção redobrada ao desempenho esportivo, o qual costuma sofrer influência da torcida. Para isso, a utilização de conceitos econômico-financeiros não pode jamais ser negligenciada, tampouco o profundo conhecimento acerca do mercado em que está atuando.

A FALTA QUE UMA PELADA FAZ

por Zé Roberto Padilha

Zé Mário, que jogou ao nosso lado na Máquina Tricolor, foi um dos maiores especialistas na difícil arte de proteger uma “cabeça de área”. Incaível, com uma noção absurda de cobertura e passes precisos, quando parou foi um baita treinador.

No domingo, percebeu do Rio o mesmo que nós tricolores, espalhados pelo país, sentimos diante do Bragantino: por que perdendo de 1×0 e faltando poucos minutos, o time do Fluminense tem que insistir em sair jogando bonito?

Cadê aquele tiro de meta batido pelo goleiro e a zagueirada lá na frente disputando a bola com a zaga adversária pra bola sobrar para o Cano?

Lembrei das peladas. Sem juiz ou juízo, tínhamos as nossas regras. E uma delas era “jogar pro abafa” como último recurso para não perder a pelada. Porém, com os campos de terra batida em extinção, as novas gerações já começam nas escolinhas contidos em sua livre criação.

Em Xerém, no Ninho do Urubu, na Toca da Raposa já tem um discípulo de Fernando Diniz a catequizar um garoto para sair jogando bonito. Correndo mais riscos dentro da sua grande área do que na do seu adversário que precisava acuar.

Faltando 5 minutos, perdendo para o Bragantino e não recorrer às sábias lições de uma boa pelada, é mais preocupante do que perder para o Uruguai. Porque o improviso, a superação, o desejo ardente de empatar está dando lugar a Inteligência Artificial.

Quando você recua seu melhor jogador, e deixa um David Braz no banco, e ele, André, é quem dá o ritmo e marca velocidade e temperatura em campo, o adversário, e a tabela, já sabem aonde não queremos chegar.

Nada se cria, tudo se copia. E o talento natural, nosso maior diferencial, vai desaparecendo nas cinzas de um Carnaval.

CENTENÁRIO DO FLAMENGO

por Elso Venâncio, o repórter Elso

O futebol do Flamengo viveu no seu centenário um dos momentos mais turbulentos da história do clube mais popular do Brasil. O centroavante Romário, repatriado no auge, logo após a conquista do tetracampeonato mundial pela seleção brasileira, chegou não como a grande personalidade do futebol, mas sim do país. Famoso, poderoso e intocável, o ‘Baixinho’, eleito o ‘Número 1’ do planeta, fez um pedido. Queria a seu lado Edmundo, do Palmeiras, melhor atacante em atividade no país. Surgiu uma forte e influente corrente contrária à contratação, devido à profunda identificação do ‘Animal’ com o Vasco, mas a vontade do camisa 11 prevaleceu.

A Nação Rubro-Negra lotou as ruas para receber Romário em janeiro de 1995 e repetiu o feito quatro meses depois, parando o Rio para celebrar a chegada de Edmundo. O craque chegou de jatinho, encontrando um Santos Dumont invadido por torcedores. Da pista, precisou entrar em um helicóptero que o levou direto à Prefeitura, onde recebeu as ‘chaves’ da cidade.

O Circo Garcia, em plena atividade na Praça XI, cedeu alguns de seus animais para desfilarem no carro aberto que conduziu Edmundo, atrás da viatura do Corpo de Bombeiros. O bicampeão paulista e brasileiro pelo Palmeiras acenava feliz da vida para todos os cariocas. Ao passar por Copacabana, surgiu no calçadão um barrigudo, de bermudas e camisa rubro-negra, dançando, gritando e fazendo gestos de vitória com as mãos. Era ninguém menos que Bussunda, estrela do ‘Casseta & Planeta’, que no ano anterior apresentou seu programa televisivo direto da Copa dos Estados Unidos para a TV Globo.

O valor do passe de Edmundo? Seis milhões de dólares. Na época o nosso real estava forte, pareava com o dólar. O consórcio Plaza forneceu o dinheiro em troca de um Shopping Center na Gávea, mas este nunca foi construído. Na Justiça, mais de vinte anos depois, o Flamengo fez um acordo. Porém, teve de pagar R$ 60 milhões.

Na estreia, Edmundo fez gol no empate em 1 a 1 com o Guarani, de Campinas, no Estádio José Fragelli, em Cuiabá. Jogou com a camisa 11 do ‘Baixinho’, que vestiu a 100, em homenagem ao Centenário do clube. Sávio vestiu a 10 de Zico. Estava formado o ‘Ataque dos Sonhos’, logo chamado de ‘Melhor Ataque do Mundo’.

O Flamengo seguiu para uma excursão à China. Antes de uma atividade de dois toques, Romário e Edmundo bateram o par ou ímpar para escolherem as equipes. De repente, acabaram discutindo feio e partindo para a briga. Foram separados pelo assessor de imprensa Rodrigo Paiva. Tal discórdia entre os astros começou a afetar o rendimento do time em campo. Se alguém passasse a bola a Edmundo desagradava Romário, e vice-versa. Resumindo, a guerra de egos engoliu o ‘Ataque dos Sonhos’.

Depois de perder o Campeonato Carioca para o Fluminense naquele mítico gol de barriga marcado por Renato Gaúcho, competição que Edmundo não pôde jogar por ter perdido o prazo de inscrição, o Brasileirão começou com ele já legalizado para honrar o manto sagrado. Apesar dos diversos investimentos, por pouco o clube não foi rebaixado. Para se ter ideia, apenas com Romário, Edmundo e Bebeto, que retornou à Gávea em 1996, o clube movimentou mais de dez milhões de dólares.

O vai-e-vem era intenso. Ao chegar Bebeto, Romário, que queria reinar sozinho, voltou à Espanha. Quando seu ex-parceiro de ataque no tetra deixou o clube, o Baixinho retornou. Campeões do mundo, como Branco e Ronaldão, vinham e iam embora. Sávio aceitou proposta do Real Madrid e Edmundo se mandou para o Corinthians antes de voltar à cidade para se consagrar no Vasco.

Na época, o Flamengo não estava estruturado para receber e cumprir seus compromissos com o então melhor jogador do mundo. O clube deveria ter lhe proporcionado um time e elenco mais forte, com o qual poderia tirar melhor proveito da sua genialidade em campo.