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A CADA VEZ MAIS ESTRELA SOLITÁRIA

por Marcos Eduardo Neves

No jogo entre o líder do Brasileirão contra um time da zona do rebaixamento, mais uma vez a lógica foi para o espaço.

A impressão é a seguinte. O Botafogo luta hoje para se manter na zona de classificação para a Libertadores, porque o título está cada vez mais fora da sua pobre realidade bilionária. No fundo, algo normal para quem terminou em quinto lugar no Estadual que só tem quatro clubes grandes.

Se a cada vez mais solitária Estrela vê suas Torres Gêmeas serem atacadas até pelo Pentágono, o Vasco vibra, sua torcida desesperada chora, todos se emocionam por enfim conseguirem, nem que por uma rodada, chegar ao décimo sexto lugar dentre os 20 times que disputam a elite da competição. É como se judeus brasileiros em Israel vissem um avião da FAB sobrevoar a Faixa de Gaza. Será que vai nos salvar ou teremos de seguir em oração em meio a bombardeios de todos os cantos?

A verdade é: o Brasileirão está pegando fogo. Não com o Bota. E o Vasco segue à espera de um milagre. Mas dormir alguns dias longe do inferno vale a pena e muito. Ainda que o diabo siga bem próximo, chamando com os dedinhos os que merecem e fizeram por onde descerem com ele.

Palmeiras, Bragantino, Grêmio, Atlético Mineiro e Flamengo, saibam, o céu está aberto. Quem encara pegar a crista da onda nessa praia?

O HALLOWEEN DE UM TRICOLOR NA FINAL

por Bruno Montenegro

Nem tudo foi sonho na final da Libertadores. Pelo menos para um tricolor naquele Maracanã lotado, o 04 de novembro teve contornos de Dia das Bruxas.

Um roteiro de filme terror para aquele jogo não seria algo impensável, afinal o Fluminense é Cinema. Para quem prefere novela, acredite, há times mais indicados para acompanhar. São feitos para o gosto comum, dado ao previsível, com roteiros conhecidos e finais água com açúcar, banais. No filme Fluminense o drama deixa traumas e a glória é eterna, geralmente ambos com desenlaces épicos, seja numa final importante ou numa virada improvável no mata-mata de um Carioca qualquer.

E a final com a LDU foi a prova mais cruel disso. Dizem que as tragédias mais atrozes estão reservadas apenas aos grandes, e aquela partida foi a maior catástrofe esportiva de um clube na história do futebol. Um verdadeiro cataclismo que fez com que 80 mil pessoas tivessem uma parte de si paralisada ali naquele estádio durante 15 anos. Como era preciso ir em frente, coube a cada um, a seu tempo, colocar um sorriso amarelo resignado no rosto e aprender a conviver sem aquele pedaço, até o desfecho retumbante do último sábado.

Antes da apoteose que presenciamos nessa nova final, no entanto, um tricolor se viu transportado para aquela noite fatídica em 2008. Ao término do tempo normal, desavisado sobre o regulamento, acreditou piamente que o jogo iria para os pênaltis e passou a vivenciar, a partir dali, uma trama psicológica desesperadora. Desacompanhado, nem cogitou em se certificar das regras com um estranho, até porque por um lapso aquilo para ele estava posto. Assim, permaneceu durante longos 5 minutos convencido de que a disputa da América, tal como no passado, seria definida na marca da cal.

Sentiu-se despencar num pesadelo horripilante, daqueles que você acorda todo suado. Buscando mentalizar a vitória, apesar do mau presságio, começou a tentar escrever na cabeça um desfecho feliz alternativo, em que Fábio teria sua redenção num duelo contra Romero. Esforçava-se para visualizar o goleiro tricolor carregado nos braços, dando entrevistas como herói. Um final lindo, merecido e, apesar de sofrido, ainda desejado. Tudo isso, no entanto, igual a um filme do Fred (não o nosso Fred, mas o Krugger), acabava sempre por se dissipar pela imagem de terror do arqueiro argentino correndo para abraçar os seus companheiros, com a La 12 ao fundo a explodir pela sétima. “Por quê, Senhor?”

A película horrenda o fez reviver toda a sensação que sentira ao presenciar a disparada dantesca de Cevallos. Percebeu a perna tremer levemente em descontrole, a boca ficou seca. Tudo aquilo o fez se dar conta que a ferida, há tanto oculta, jamais havia fechado, “apenas” se tornado uma hemorragia interna, que gotejava há 15 anos. “Não quero ver isso”, atestou seriamente, já cogitando aguardar o final das cobranças na rampa de acesso do estádio.

Decidiu ficar. “F0d@-se! Se perder, perdeu”. Esse pensamento o embrulhou o estômago violentamente. “Depois taco essa merd@ fora”, pensou rapidamente a respeito do copo oficial da final, todo mordido em sua mão.

Foi quando uma frase de um torcedor ao seu lado, tal qual um alarme de um despertador, o fez acordar daquele sonho de morte. “John Kennedy vai meter um”.

“Como assim? Agora é pênalti.”

“Não, vai ter prorrogação.”

E de repente, com aquele diálogo de três frases, a tempestade mental teve fim e o sol nasceu no peito do tricolor, tal qual profetizara Cartola. E o nosso amigo voltou a sorrir, o que nesse caso era o mesmo que acreditar.

“Você devia estar sofrendo, hein?”

“Estava, amigo. Há 15 anos”

Agora passou.

A ÚLTIMA OPORTUNIDADE

por Sergio Luiz Monteiro

O jogo contra o Grêmio será a última oportunidade de demonstrar que a briga é até o fim, que “uma pane” não pode persistir pra sempre, que são homens e não ratos, que essa torcida sequelada não merece, que pra “instituição clube” esse desfecho será um duríssimo golpe que macula sua já desgastada imagem…

Esforço-me para crer que tudo isso pode mudar na quinta-feira, que esse pesadelo chegue ao fim (a tempo) e que o ocorrido nos 15 minutos de intervalo no fatídico jogo seja apenas um capítulo triste e enigmático numa vitoriosa campanha.

Quero tanto acreditar nisso que minha razão e meu ceticismo — nunca vi o BFR com o título assegurado — mesmo quando a maior parte da mídia e a ala fundamentalista de nossa torcida vomitava e apregoava a conquista d’um campeonato antecipado.

Nesse momento em que a vantagem nunca foi tão ínfima, o mínimo que se pode esperar é a decência de disputarmos os jogos finais com gana, vontade e determinação. Ou seja, tudo o que não se viu no jogo de ontem.

A tristeza que sinto é ainda maior que a cegueira, a empáfia e o histrionismo de tantos que contaminados pela cólera da humilhação de tanto tempo, sempre quiseram enxergar a grama mais verde do que era.

E somos alvinegros: preto no branco.

O verde é a cor do nosso gélido, algoz e principal adversário.

Saudações alvinegras!

DINIZ FAZ HISTÓRIA

por Elso Venâncio, o repórter Elso

O Fluminense conquista, merecidamente, seu título mais importante de toda a sua História. O abraço demorado do técnico Fernando Diniz em cada jogador demonstra sua liderança e como é querido e respeitado. De forma espontânea, com o uniforme de trabalho do clube, o treinador se ajoelhou no campo após o título, deu cambalhotas, vibrou como um torcedor e com o torcedor.

Nas redes sociais, torcedores, ex-treinadores e ex-jogadores vêm opinando como jornalistas em blogs, podcasts e canais do youtube. O técnico foi criticado por chegar à seleção sem ter conquistado um título de expressão. Mesmo, há anos, mantendo sua filosofia de jogo, com toques rápidos que resgatam o futebol-arte e ofensivo que sempre demonstramos. Jogando em busca do gol, ele não enche o meio de campo de cabeças de área, temeroso de perder o emprego. Diniz, desde já, tem que ter na CBF autonomia para renovar o futebol nacional.

O decisivo Gérman Cano só necessita de uma bola e marca, com um único toque na bola. Cano, com seu gesto com as mãos sinalizando os ‘L’ após o gol, escreve seu nome entre os grandes ídolos tricolores. John Kennedy tem apenas 21 anos. Decidiu na épica vitória contra o Internacional, em Porto Alegre, e fez o gol do título. O lateral multi-campeão Marcelo repetiu, após a conquista, uma cena comum no CT Carlos Castilho. Os elogios a Kennedy:

“Sou seu fã! Você é fod*!!!”

O garoto de Xerém ri timidamente e Marcelo insiste sempre:

“Você é largo! Vai longe, moleque!”

Fabio, Nino, Felipe Melo, Keno e Cia. entram para a História com um título do tamanho do continente.

Quando o árbitro colombiano Wilmar Roldan, apitou o fim do jogo houve uma demorada queima de fogos de artifício na sede das Laranjeiras, que foi invadida pela galera, numa grande festa. O foguetório voltou a se repetir duas e quatro horas depois. Parecia Réveillon!

Os torcedores, cantando o hino do clube, deixaram a sede já no início da madrugada, atravessaram a Rua Pinheiro Machado e foram para a Praça São Salvador. Sábado tem Fla-Flu e domingo as comemorações continuam pelas ruas do centro do Rio, com um trio elétrico a levar os jogadores e a Taça da Libertadores.

Mês que vem temos a disputa do Mundial de Clubes, na Arábia Saudita. O Manchester City, de Josep Guardiola, estará presente como campeão europeu.

Novas emoções vêm por aí…

ELES NÃO PODEM SER ESQUECIDOS

por Zé Roberto Padilha

Sabe o Vasco? O Cruzeiro? Grandes clubes que andam precisando de um Romário, de um Roberto Dinamite, de um Tostão ou Dirceu Lopes para que seus encantos exerçam uma idolatria. Sem um ídolo, seus dribles, gols e magia, difícil qualquer equipe alcançar sua glória. Éfêmera que seja.

Em meados dos anos 70, Botafogo, Vasco e Flamengo davam as cartas. No Fluminense, Samarone havia parado, Lula e Flávio foram para o Internacional e aquela figurinha carimbada, a que nunca sai, deixou de existir no álbum da Panini.

Até que o Presidente Francisco Horta foi a São Paulo trazer o Rivelino.

Como num passe de mágica, um Celta se tornou uma Máquina.

O Hotel Paineiras não mais comportava sua idolatria. E o Fluminense foi se concentrar no Hotel Nacional. O Torneio de Florianópolis deu lugar ao de Paris, os voos rasteiros deram lugar ao Jumbo da Air France.

E num drible em forma de elástico, o encanto se espalhou. E o Fluminense voltou a ganhar. Mais do que isto, se exibir, realizar concertos ao ar livre.

Com Rivelino veio PC Caju, Mário Sérgio, Doval, Dirceu e Edinho, Cleber e Pintinho foram revelados.

Neste momento em que nosso time alcança um dos seus títulos mais significativos, sempre é bom lembrar daqueles que o engrandeceram. Lendas como Valdo, Assis, Denilson, o Rei Zulú, Deco, Conca e Fred que mantiveram acesos os sonhos de um dia acordarmos campeões da América.

O que ninguém iria prever é que os grandes craques desapareceriam do cenário. Que a Bola de Ouro da FIFA nunca mais seria entregue a um brasileiro.

E embora todos os atuais campeões sejam bons jogadores, possuam seus méritos, quem diria que as melhores assistências pertenceriam a um colombiano e a artilharia a um argentino.

Mais do que isto, o treinador fosse um dia considerado o melhor do nosso time.

Os tempos mudam. E se o futebol brasileiro perde quando precisa importar, não mais exportar idolos, o Fluminense continua enorme porque sempre se supera. E se reinventa porque sua aura jamais deixa de nos encantar.