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“CADÊ VOCÊ, MEU FILHO?”

22 / janeiro / 2023

por Zé Roberto Padilha

Se soubesse que minha mãe, cujo filho a largou aos 16 anos e saiu correndo atrás da bola pelos cantos do país, iria sofrer tanto sem ver nossa carinha, tentaria desde cedo fazer gols. E deixar de ser armadinho.

Começando no salão, eu e os que nascem habilidosos por serem canhotos, vamos aperfeiçoando dribles, domínio da bola e nos especializando em realizar assistências. Marcamos gols, mas vão se tornando raros porque essa tarefa cabe aos destros, altos e egoístas que ficam parado lá ns frente e poucos voltam para ajudar na marcação.

E quando você vai para o campo, se afasta ainda mais do gol por ser ponta esquerda. As orientações eram para chegar à linha de fundo e cruzar no segundo pau para o Flávio, Mickey, Té, Artime, Manfrine e até o Dionísio, o Bode Atômico.

Como estava jogando no Rio, e Três Rios é pertinho, acabava o jogo voltava para os braços da mamãe. Era o filhinho querido, diziam meus irmãos, por sair de casa mais cedo e blá, blá, blá….

Acusado, injustamente, por uns de que era seu puxa-saco, e denunciado por outros como cínico, tudo bem, aí encontraram indícios, suposições …mas prescreveu.

Até que fui parar em Recife. Foram dois anos e meio defendendo o Santa Cruz. Sem Internet, telefone tinha que entrar na fila para ter acesso à cabine, só restava para minha mãe nos ver nos Gols do Fantástico. Como não fazia gols, ela suplicava aos domingos: “Cadê você, meu filho!”.

Nunes, Betinho e Luiz Fumanchú não tinham esse problema. Nunes, então, começando, aparecia mais no Fantástico do que Michael Jackson e Sônia Braga. Só tinha um jeito: treinar piques rápidos em direção aos meus artilheiros.

E quando Léo Batista descrevia os seus gols, minha mão já estava agarrada aos seus pescoços. A outra, acenava do Arruda para Dona Janet. “Oi, mãe. Estou bem, obrigado. Bjs.”

Sei que ela preferia que os marcasse, mas quem nasce para armandinho se torna, no futebol moderno, um assistencialista. Ser protagonista, autor da obra, que é bom mesmo, era tarefa pra quem sabe marcar e tinha direito de aparecer no Fantástico.

O show da vida para os que foram além das preliminares de um lançamento em profundidade. De um duelo à parte com seus marcadores não transmitidos para todo o país via satélite.

E aprenderam, desde cedo, a atingir o orgasmo quando depositam a bola nos fundos das redes adversárias.

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1 Comentário

  1. Valdenir Bento da Silva

    Temos do futebol arte uma bela história do nosso querido José Roberto Lopes Padilha hoje craque da caneta parabéns SEMPRE SUCESSO

    Responder

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