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Búfalo Gil II

27 / agosto / 2017

BÚFALO TRICOLOR

| texto: André Mendonça | fotos: Marcelo Tabach | vídeo: Guillermo Planel | edição de vídeo: Daniel Planel

“O melhor momento da minha carreira foi no Fluminense. Joguei em um timaço, com grandes companheiros e pude chegar à seleção”. Depois dessa frase, tivemos a certeza de que não havia lugar mais apropriado do que as Laranjeiras para uma resenha de alto nível com Gilberto Alves, o lendário Búfalo Gil, ponta da Máquina Tricolor. Em um papo regado a muita cerveja, que contou com a participação de nosso colaborador Walter Duarte, de Campos, e durou quase duas horas, o goleador não fugiu de nenhuma pergunta e relembrou grandes momentos da carreira.

Para chegar ao Fluminense, no entanto, Gil precisou se destacar no Vila Nova-MG em 73. Com uma velocidade impressionante e muita força, características que lhe renderiam o apelido de “búfalo” anos mais tarde, o atacante deixava os marcadores para trás com facilidade e só tinha o trabalho de deslocar o goleiro e correr para o abraço.

No ano seguinte, contratado pelo Fluminense com status de grande promessa, o menino de 22 anos correspondeu às expectativas e fez um excelente Campeonato Carioca. O desempenho garantiu uma vaga na Máquina Tricolor, um time que jogava por música e encantava até mesmo quem não gostava do Fluminense.

– Aquele time era brincadeira! Dos 11 titulares, dez eram da seleção brasileira e o Doval, da argentina. Minha única tristeza foi não ter sido campeão brasileiro pelo Flu, batemos na trave duas vezes – lamentou o craque, lembrando das eliminações para Internacional e Corinthians.


No Fluminense, formou uma grande parceria com Rivellino, craque que encantava os companheiros e os adversários pela forma como tratava a bola. De acordo com Gil, após um treino nas Laranjeiras, Riva lhe chamou para combinar uma jogada que, colocada em prática, renderia muitos gols ao tricolor. Tratava-se das infiltrações do veloz atacante por trás da zaga.

– Ele falava para eu correr só quando ele não estivesse me olhando, porque na verdade ele já me conhecia e, dessa forma, surpreenderia a defesa rival. No início não entendi muito bem, mas logo percebi que era coisa de gênio!

Os lançamentos milimétricos de Riva encontravam o menino cheio de gás sem marcação e logo se tornaram uma arma poderosa daquele timaço. Dizem por aí que os zagueiros nem conseguiam dormir no dia que antecedia as partidas contra o Fluminense.

Cientes da qualidade da Máquina Tricolor, que não por acaso ganhou esse apelido, os times adversários costumavam ficar na retranca em busca de um contra-ataque para decidir a partida. Quando Gil falava sobre isso, Walter Duarte, torcedor do Goytacaz, fez questão de perguntar sobre uma das maiores goleadas já registradas no Campeonato Carioca.

– O Goytacaz veio com a proposta de jogar de igual para igual contra a gente e, com todo respeito, não dava, né? Nem os times grandes conseguiam! O nosso time era bom demais! Aí deu no que deu… O placar registrou 9 a 0, mas tenho quase certeza que foi dez – lembrou o artilheiro que marcou três gols naquele massacre no Maracanã.

O sucesso levou Gil à seleção brasileira em 76. Naquele ano, ajudou o Brasil a vencer a Itália por 4 a 1, marcando dois gols, pelo Torneio Bicentenários dos EUA. No ano seguinte, se transferiu para o Botafogo e as boas atuações lhe renderam a convocação para a Copa do Mundo de 78, na Argentina.

O torneio é considerado até hoje um dos mais polêmicos da história por conta da estranha goleada da Argentina sobre o Peru, que garantiu a classificação dos hermanos.

– Essa foi a “Copa do Roubo”, né? Se a gente ganhasse de dez, a Argentina ganharia de 12! Foi a única vez que eu chorei pelo futebol. Dizem que cada jogador do Peru recebeu 150 mil dólares para entregar aquela partida.

Além disso, Gil revelou que as polêmicas começaram muito antes da bola rolar:

– Quando desembarcamos na Argentina para disputar a Copa, João Havelange, presidente da FIFA na época, nos recebeu, disse que estava muito feliz com a gente, mas nos revelou que queria que a Argentina fosse campeã. Aquilo pegou muito mal entre a gente. Ninguém entendeu nada!

Já nervoso após lembrar um dos episódios mais revoltantes da sua carreira, o craque chutou o balde ao ser perguntado sobre a polêmica de que os jogadores do passado não teriam vaga hoje em dia:

– Se a gente não jogaria hoje, eles (jogadores atuais) não teriam condição nem de entrar no nosso vestiário. Eu era forte, batia bem na bola… Duvido alguém correr 100m em 11 segundos como eu fazia!

A resenha só teve fim porque ia rolar a festa de aniversário do Fluminense, com grandes ídolos do clube, e o artilheiro não poderia ficar de fora dessa. A equipe do Museu da Pelada também não!


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