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A LIGAÇÃO DE MANGA

5 / junho / 2020

por Paulo Escobar


Em dezembro de 2019 estava pegando um ônibus na avenida Millán em Montevidéu, cidade do meu segundo nascimento, estava a caminho de encontrar uma lenda, um ídolo, que até aquele momento estava em algum lugar. Esquecido pelos clubes por onde passou e encontrado por torcedores no Uruguai que o ajudaram.

Ao descer no ponto próximo aquela vendinha, com o prédio em cima, entro e subo com minha câmera e tripé, para encontrar Manga.

Ao abrir a porta com um misto de espanhol e português na língua, aperto aquelas mãos marcadas pelo futebol. Aquele futebol sem luvas, aquele que não tinha tempo ruim, das lendas, dos ídolos, dos bairros, das terras.

Sentamos pra conversar sobre a vida, sobre a bola, sobre o futebol. Aquele jogos tão cheios de amores e dores, tão parecido com a vida e por vezes tão carregado de injustiça.

Ali naquela entrevista (para o Museu da Pelada), Manga me fala que o último sonho que ele tinha antes de partir, seria pisar em um jogo do Botafogo de novo. De entrar no Maracanã de pisar o Rio de Janeiro.

Saí dali com o coração pesado e com lágrimas nos olhos, pensando em como este país é ingrato com muitos ex jogadores e ídolos, que ficaram relegados muitas vezes ao esquecimento.


Peguei o celular e comecei a ir atrás de contatos, mandando o vídeo pensando em como ajudar.

Ali apareceu Marcelo Gomes e Helvidio Mattos, com a ideia de ir atrás dele e trazê-lo de novo a um jogo no Rio de Janeiro. E assim foi o resto da história.

Manga no Rio de novo num jogo do Botafogo sentindo o carinho da torcida e realizando um último desejo talvez. E o outro sonho que ele nem sabia que viria a rolar, graças a uma correria do Gomes, era um canto para ele morar com sua companheira.

Na semana passada, ele ligou do Retiro dos Artistas, com um sorriso para me perguntar se eu estou bem e como estão as coisas. Me conta que está feliz, que hoje ele tem seu canto, me convida para ir visitá-lo, que ele está me esperando.

Disse a ele que quando isso passar irei vê-lo e que fiquei feliz que aquilo que começou em Montevidéu tenha terminado bem. Falei que me sentia feliz com ele e sua companheira felizes.

E assim em dias de dores, Manga me deixou feliz com sua ligação e ao desligar com uma lágrima no rosto agradeci ao futebol.

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