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A BICICLETA (IM)PERFEITA DE PELÉ

22 / fevereiro / 2023

por José Carlos Faria

A bicicleta é perfeita, congelada na fotografia, mas imperfeita na conclusão da jogada.

Esta é uma das mais famosas fotos do “Atleta do Século”, clicada pelo magistral Alberto Ferreira, para o Jornal do Brasil. É um dos ícones do jornalismo esportivo, em lance que Pelé parece flutuar, enquanto mantém os olhos fixos na bola. Mostra a beleza plástica do movimento do craque, o corpo paralelo ao gramado, a posição vertical da perna direita esticada após o chute, e de servir de apoio ao salto acrobático.

O jogo foi Brasil x Bélgica, realizado em 2 de junho de 1965, no Maracanã, numa quarta-feira à noite, com público de mais de 100 mil pagantes. A seleção brasileira venceu por 5×0, vingando-se da derrota vergonhosa por 5×1, imposta dois anos antes, em Bruxelas, pelos “belgicanos”. Assim se referiu aos nossos adversários, Mendonça Falcão, o folclórico presidente da Federação Paulista e chefe da delegação brasileira naquela excursão à Europa.

Estive presente no jogo, do qual só assisti ao segundo tempo. Eu e meus colegas do colégio ficamos presos num engarrafamento gigantesco e só conseguimos entrar no estádio, no intervalo da partida. Pelo menos não perdemos nenhum gol. Os três de Pelé, um de Flávio Minuano e outro de Rinaldo foram assinalados na segunda etapa.

Fui testemunha ocular da história de momentos marcantes da carreira do “Rei do Futebol”, no Maracanã – o “gol mil” contra o Vasco, em 1969, a sua despedida da seleção brasileira, em 1971, contra a Iugoslávia, assim como de gols antológicos. Em 1970, contra a Argentina, Brasil 2×1, cercado na meia-lua da grande área, ele encobriu o goleiro Cejas, adiantado na marca do pênalti, com um toque magistral. O gol único contra o Paraguai, que garantiu a ida ao México, para a conquista do tricampeonato, em jogo de maior público registrado no estádio (mais de 180 mil pagantes).

A imagem estilizada da bicicleta de Pelé foi reproduzida em adesivo de propaganda da Shell. No verso constava a assinatura de todas as “feras do Saldanha”, jogadores convocados para as eliminatórias da Copa de 1970.

A mesma imagem foi adotada como logomarca do Museu Pelé, inaugurado em Santos, em 2018. Na publicação do Facebook da instituição, consta: “A jogada registrada pelo fotógrafo Alberto Ferreira não resultou em gol, mas ficou conhecida como a ‘bicicleta perfeita’, um dos lances mais bonitos da história do futebol.

Pesquisei na internet imagens sobre o jogo e encontrei vídeo de pouco mais de dois minutos intitulado “Brasil 5×0 Bélgica – 02/06/1965 – O movimento da bicicleta perfeita”. Lá estava a jogada após o primeiro gol do Brasil. Pelé conduz a bola em direção à meia-lua da grande área e abre na ponta para Garrincha, que dribla o seu marcador para o fundo do campo e cruza para o meio da área. O Rei, situado próximo à marca do pênalti, se antecipa a Flavio Minuano, que ia matar a bola no peito. Pelé faz, então, como o título do vídeo, “o movimento da bicicleta perfeita”.

A finalização do lance, entretanto, é decepcionante. Pelé não pega bem na bola, que, em vez de ir em direção ao gol, sai paralela à linha da pequena área e é recolhida, com facilidade, por um zagueiro belga que sai jogando. A bicicleta é perfeita, portanto, estaticamente, congelada na fotografia, mas imperfeita na conclusão da jogada, que não apresentou perigo de gol.

1 Comentário

  1. Patrícia Rozencwaig

    Grande crônica de José Carlos Faria!
    Rende homenagem ao rei Pelé, as suas lindas jogadas no futebol brasileiro.
    Tornando uma jogada imperfeita tecnicamente, aos olhos dos seus admiradores perfeita plasticamente! Parabéns

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