por Elso Venâncio
Homenagem ao jornalista e escritor Péris Ribeiro, que, com crônicas de um verdadeiro craque, sempre lembrava o aniversário do eterno ídolo por ele biografado.

Waldir Pereira, o inesquecível Didi, marcou o primeiro gol da história do Maracanã. Foi em uma cobrança de falta num amistoso entre as seleções de novos do Rio e de São Paulo, minutos após o presidente Dutra cortar a fita inaugural do estádio e a uma semana do início da Copa do Mundo de 1950. Ainda não seria aquela cobrança que o tornaria famoso. O estilo de chutar a bola foi aprimorado com o tempo, resultando na famosa e inigualável Folha Seca, que tanto atordoou goleiros mundo afora.
Eleito o melhor jogador da Copa do Mundo de 1958, Didi se tornou o primeiro negro a atuar no Real Madrid. O visionário dirigente Santiago Bernabéu, que transformou o clube merengue na marca mais valiosa do futebol do planeta, se encantou com o craque no Mundial da Suécia e decidiu contratá-lo para o time, que já contava com o argentino Di Stéfano e o húngaro Puskas. A estreia de Didi aconteceu em agosto de 1959, com 30 anos, no tradicional Troféu Ramón de Carranza, em Cádiz. Para variar, o Real Madrid sagrou-se campeão, com Didi sendo o maestro do maior time europeu da história. Marcou três gols na estreia, contra o Milan, e deu uma assistência para Puskás na final, contra o Barcelona, o que teria incomodado Di Stéfano.
Biógrafo de Didi, o jornalista e escritor Péris Ribeiro nunca concordou que Di Stéfano tenha boicotado o brasileiro. “Didi me disse que era normal o dono do terreiro, que chegou em 1953, ser o astro daquele esquadrão”, afirmava Péris, completando: “Todos o respeitavam, e não sofreu racismo, como alguns afirmam”.
Muito antes de chegar ao Real Madrid, Didi iniciou a carreira aos 16 anos, no Americano de Campos, sua terra natal. Dirigentes do Madureira viajaram à cidade para levar o atacante Dodô, mas se surpreenderam com uma inesperada resposta: “Só vou se meu irmão Didi, que joga muita bola, for contratado”.
Dali em diante, o desenrolar da história foi uma carreira de enorme sucesso. Depois do Madureira, Didi defendeu o Fluminense, onde foi campeão carioca em 1951. De lá seguiu para o Botafogo, clube do seu coração, conquistando o Carioca de 1957. No Real Madrid, fez parte da conquista da Liga dos Campeões da Europa de 1959. Voltaria ao Botafogo após o período na Espanha, desta vez celebrando os Cariocas de 1961 e 1962, além do Torneio Rio-São Paulo de 62. Também defendeu o Sporting Cristal, do Peru, e o Veracruz, do México, encerrando a trajetória de atleta no São Paulo. Pela Seleção Brasileira, sagrou-se bicampeão mundial, em 1958 e 1962, entre outros títulos.
Como técnico, Didi treinou vários times e seleções pelo mundo. No comando da Seleção Peruana, impediu que a Argentina disputasse a Copa do Mundo de 1970. Os hermanos precisavam vencer e acabaram empatando por 2 a 2, dentro da Bombonera, no jogo decisivo pelas Eliminatórias. O Mestre Didi não realizou o sonho de treinar a Seleção Brasileira. Lamentava ter mais reconhecimento no exterior, sendo chamado pela imprensa europeia de Mr. Football — Senhor Futebol.
Neste dia 8 de outubro, Mestre Didi completaria 97 anos. Faleceu em 12 de maio de 2001, com problemas intestinais e complicações de uma pneumonia, no Hospital Pedro Ernesto, em Vila Isabel (Rio de Janeiro).
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