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JUIZ DO CANGAÇO

1 / julho / 2016

por Victor Kingma

Invicta há vários anos, a equipe formada pelos jagunços bons de bola (e de peixeira), do agreste pernambucano, era o orgulho do seu velho e temido presidente cangaceiro, figura lendária e temida em todo o nordeste. Nenhum time conseguia (ou ousava) derrotá-la. Afinal, os métodos empregados nem sempre eram muito esportivos. Muitas vezes, para intimidar adversários e arbitragem, a peixeira substituía a bola em caso de dificuldades em alguma partida.

 Já velho e sem enxergar direito, o patrono do time não ia mais aos jogos. Todo domingo à tarde ficava na fazenda esperando a rapaziada para mais um churrasco de comemoração. Terminada cada partida, o foguetório no caminho de volta indicava ao “chefe” sobre mais uma vitória. Esta era a rotina dominical. Já se tornara folclore em toda a região.

 Mas, naquele domingo, entretanto, alguma coisa errada tinha acontecido. O silêncio dominava o povoado e ninguém ouvia os gritos de euforia e o barulho dos foguetes no caminho de volta.

Cabisbaixos, os atletas e o técnico vão se aproximando da fazenda, tendo à frente o capitão Carranca, um misto de zagueiro e cangaceiro, atleta muito conhecido na região, não pela habilidade que tinha com a bola, mas pela voracidade que atingia a canela dos adversários.

Na sacada da fazenda, impaciente, o velho cangaceiro ansiava por uma explicação:

 – E aí? O que aconteceu?

– Perdemos! Com aquele juiz não tinha jeito! – Desabafa desolado o truculento zagueiro.

 – E que juiz ousou nos desafiar? Traga-o imediatamente até aqui!

 –  Melhor deixar pra lá, chefe.

 – Quem é o juiz?  – Grita furibundo, já de pé sob a sacada.

 – LAMPIÃO, chefe!

 O velho cartola cangaceiro coça o cavanhaque, tira o chapéu, e arremata:

–  Pensando bem, “cabra macho” de verdade tem que saber a hora certa de perder…

 –  Vamos ao churrasco pessoal!


Charge de Eklisleno Ximenes.

 

 

 

 

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