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Marcelo Mendez

A BOLA E O RÁDIO, ROBERTO QUEIROZ

por Marcelo Mendez


Roberto Queiroz

A coluna “A Bola e o Rádio” de hoje sobe até o Pernambuco para trazer um narrador lendário.

Locutor da Rádio Clube de Pernambuco, Roberto Queiroz é o homenageado da semana e a narração é de um momento épico da história do Sport.

Era o bagunçado ano de 1987.

O futebol brasileiro, que andava uma zona, teve lá uma reformulação partindo da elite, pelo tal do Clube dos 13, organizando o futebol em dois módulos; Módulo Verde, onde jogavam 16 clubes grandes e, módulo amarelo, onde jogavam os 16 que seriam uma espécie de segunda divisão.


Zé do Rádio, torcedor símbolo do Sport

E tudo isso junto era a Copa União daquele ano.

O torneio substituia o combalido e bagunçado Campeonato Brasileiro. Ficou acordado, no entanto, que ao término dos módulos haveria um cruzamento entre os dois melhores de cada módulo para que tivéssemos os representantes do Brasil na Libertadores e o campeão definitivo da papagaiada toda.

Mas esse cruzamento não rolou. Os motivos são para outro dia e outro momento. Não os discutirei aqui.

Agora vamos homenagear esse homem, o grande Roberto Queiroz.

Ao lado de seu irmão Mané Queiroz, no plantão, e de Ralph de Carvalho, nos comentários, Roberto botava as arquibancadas de Pernambuco para balançar!

Segue aqui sua narração para o gol de Marco Antonio contra o Guarani, o gol que deu o título ao time da Ilha do Retiro.

Todo resto não vale muito, perto da voz poderosa de Roberto Queiroz…

 

ELSON E SEU GOL DE BICICLETA NA VÁRZEA

texto: Marcelo Mendez | fotos: Fabiano Ibidi


Marcelo Mendez

Era uma manhã chuvosa na várzea…

Uma manhã de chuviscos e ventos, aquela hora do dia que Chico escolheu para cantar que “Eu faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã”. Aquele dia em que o barulhinho dos pingos da chuva respinga em sua janela, criando assim uma sonata pra te acordar e depois vai embora.

Por capricho aparece, por magia se vai. E o dia começa. No piso que outrora foi árido, seco e duro, por esses dias, molhados pela chuva dengosa, tornam-se fofos, um tanto escorregadios e em algumas partes, pesado. Por alguns cantos da cancha, poças são espelhos a refletir narcisos que o habitam munidos por chuteiras coloridas que dentro em breve, marrom serão.

O torcedor na arquibancada improvisada, esta atento. Olhos e guarda chuva apostos para qualquer eventualidade e a bola adentra para ficar lindamente suja.

Era esse o cenário do no campo do DER em São Bernardo onde o time da casa enfrentava o Nacional da Vila Vivaldi. As coisas seguiam dentro de uma normalidade corriqueira até em determinado momento, uma bola foi chutada para o alto. Eram jogados alguns minutos não se sabe quantos…

O tempo na várzea é o que define o espaço necessário para que se crie o verso.

São muitas as coisas que acontecem enquanto a bola viaja pelo céu que cobre o futebol que se joga pelos terrões dos arrabaldes do Brasil. Sonhos, visões, aspirações, um gole de cerveja, da tempo de muita coisa enquanto a bola marrom faz seu vôo. Na viagem que aquela bola fez pelo céu do DER, tudo isso aconteceu e o seu pouso não podia ter uma sorte melhor…

Acomodada por um peito que, muito mais que um conforto, lhe fez um afago, a bola marrom encontrou Elson e sua camisa 11 do DER. Acarinhada como a amante que surge na tarde vazia que antes era só solidão, a pelota se sente em paz, feliz, realizada. Ela então se ajeita para ajudar o atacante que tão bem lhe quer. O zagueiro do Nacional olha, tenta fazer algo, afinal está ali para ser o vilão da cena. Mas meio que hipnotizado pelo que a arte reservava para o episódio, pouco faz e então, com a leveza de um bailarino, Elson joga as pernas para o alto e mete uma bicicleta, mandando a bola pra o fundo das redes do Nacional. Que golaço!

O estádio em festa, os copos de cerveja pra o alto, os instrumentos de samba em fúria, a torcida em êxtase, o cronista feliz; Tínhamos então um gol de bicicleta! Depois disso, tivemos um segundo tempo bom, bem jogado, disputado, o Nacional fez boa figura, tentou uma sorte melhor, mas não se falava de outra coisa na manhã de chuviscos em São Bernardo:

Teve um gol de Bicicleta!

Caros amigos leitores, eu entendo… Respeito os que preferem as pinturas de Goya, a força neo-realista do cinema de Michelangelo Antonioni em seu ótimo filme “A Noite”. Mas os afirmo sem medo de errar, que, perto de um gol de bicicleta na várzea todas essas coisas nada mais são do que pastiche! Nada… Nem Antonioni é maior que o gol de bicicleta marcado por Elson na várzea. Elson nosso herói, portanto!

A BOLA E O RÁDIO, ARMINDO RANZOLIN


(Foto: Luis Fernando/Agência RBS)

“O estado inteiro fervia de expectativa para aquele Gre-Nal da semifinal do Brasileiro. No primeiro tempo, o Grêmio colocou o Inter na roda, e o lateral Casemiro ainda foi expulso. O Abelão (Abel Braga) recém começava e já tinha uma coragem demente, então tirou o volante Leomir e colocou o Diego Aguirre e manteve o Edu para fazer ponta e lateral-esquerda ao mesmo tempo. No segundo tempo o Inter promoveu a maior virada de sua história. Jogou muito e desceu a lenha mais ainda. O Beira-Rio foi tomado de uma loucura quase selvagem, tinha umas 80 mil pessoas. Este era o “quadro indescritível que a gente vê no Beira-Rio”, que o Ranzolin observa nesta narração maravilhosa do segundo gol do Nílson, com direito a Kenny Braga chorando alucinado ao microfone.” (Douglas Ceconello, Jornalista, Escritor, amigo e Colorado)

por Marcelo Mendez

Hoje a coluna “A BOLA E O RÁDIO” poderia parar aí, nesse depoimento lindo do meu amigo, jornalista o qual sou fã, Douglas Ceconello, sobre o homenageado da vez e sobre o que aconteceu naquele Gre-Nal.

Mas va… Vamos dar uma descida lá pro sul do Brasil para falar de um cara que eternizou esse Gre-Nal como “O Gre-Nal do Século”…

Eram jogados 26 minutos do segundo tempo, o Internacional com um jogador a menos, mas com toda a valentia de jogadores como Luiz Carlos Wink, Mauricio e o herói da coisa toda; Nilson…

Quando Mauricio bateu a bola do lado direito do campo, para o camisa 9 empurrar para as redes, o rádio esportivo do Brasil conheceria então uma de suas mais lendárias narrações e hoje, vamos falar dele, o dono da voz:

Armindo Ranzolin, em “A Bola e o Rádio”…


Nascido em Caxias do Sul, mudou-se para Lajes com um ano de idade e por lá começou seus trabalhos como radialista em 1956. Perambulou por alguns lugares até que em 1961, pelo microfone da Radio Difusora, narrou seu primeiro Gre-Nal em 1961. Saiu da empresa por conta de pressões do Regime Militar instaurado em 1964.

Depois desse episódio, vai trabalhar na Radio Farroupilha e nos anos 70 na Rádio Guaíba. Fez por lá sua primeira Copa em 1974 e permaneceu até 1984, quando se transferiu para a Radio Gaúcha, de onde vem a narração escolhida de hoje.

Não dá para falar, tem que sentir.

“O relato do Ranzolin é a tradução perfeita da insanidade que foi aquele jogo, que até pôster em jornal rendeu e até hoje é um dos maiores orgulhos dos colorados. É talvez minha lembrança mais forte do futebol e era o maior jogo da história do Inter, talvez do futebol, para aquele guri de nove anos. Até porque eu não estava no estádio, então precisei construir na imaginação o cenário insano que o Ranzolin narrou, e neste aspecto o rádio é absolutamente imbatível” – Douglas Ceconello

A narração do segundo gol do Internacional em 1989 no Gre-Nal do século, sem a menor sombra de dúvidas, é uma das maiores locuções esportivas de todos os tempos. E ainda vem com o plus do comentário de Kenny Braga, lendário Colorado, em prantos!

 

O ATLETIBA E O SONO TRANQUILO DO UTOPISTA DE BERMUDAS

 

por Marcelo Mendez


(Foto: Reprodução)

“Mulherada problema: Lugar de mulher é onde ela quer”.

O jogo entre Atlético Paranaense x Coritiba já começou lendário:

Na partida que vai entrar para história das comunicações no Brasil, como o mais importante, como o divisor de águas, como o primeiro a ameaçar o monopólio, de cara, na transmissão via Youtube, a torcedora do Atlético Paranaense, tinha essa frase escrita em seu cachecol na arquibancada.

Algo impensável de se ver nas transmissões esportivas no Brasil, porque a dona do esporte via televisão não compactua com essas manifestações, livres, civilizadas, democráticas, não; Faz o contrário…

Em um universo elitista, onde cada vez menos o povo pode freqüentar estádios, onde cada vez mais a repressão o amassa, autoridades tolhem, pisam em cima e sufocam o direito do cidadão se manifestar. A dona do esporte no país faz coro com isso.

Corta, edita, não mostra, finge que não viu… Não importa para um monopólio qualquer tipo de manifestação que agrida o pote de ouro. “Venham quem puder e quem não puder dentro dos preceitos monopólatras, que ligue a TV, que se enterre no sofá, que veja o jogo como nós aqui, os donos, queremos que seja visto.”

Ontem foi diferente.

A partir das 20h, o Brasil pode acompanhar um jogo de futebol sem nenhum tipo de chancela das Organizações Globo de televisão. Atlético-PR e Coritiba fizeram seus corres para transmitir cada qual em seu canal via Youtube, como aliás já deveria ter acontecido no ultimo dia 19 de fevereiro. Dessa vez não teve como ter nenhum tipo de estratagema, não teve carteirinhas proibidas, nada. O jogo aconteceu.

Sei que nada disso talvez tenha acontecido por uma postura de rebeldia, por pensar no povo que torce, que um desacordo entre clubes e Rede Globo por uns milhões a mais, permitiu que se abrisse esse precedente. Mas é um grande precedente na luta que virá pela frente.

Afinal, não são poucas as ameaças contra a liberdade de informação. São várias as tentativas de taxação.

Netflix, Youtube e todas as outras plataformas de streaming estão na mira do governo. Lutar contra o que esses clubes começaram a incomodar é uma tarefa inglória, mas pelo menos por enquanto, quero aqui comemorar.

Pelo menos por 90 minutos eu pude ver o monopólio perder. E isso fez meu sono muito mais tranqüilo.

Pelo menos ontem…

DOMINGO DE CLÁSSICO NO ABCD

O futebol tem vida no ABCD. Muito se lê sobre jogadores e técnicos dos times da Região, os gols são mostrados na televisão, mas e os torcedores? Aqui, o fanático pelo seu clube também não dorme na noite de véspera de um jogo importante, deixa de comer e ignora até a idade avançada para acompanhar sua equipe de coração no campo.


Com o intuito de contar histórias desse público que dá alegria ao futebol, o repórter Marcelo Mendez e o cinegrafista Alex Rupp foram ao estádio Bruno José Daniel, onde fizeram cobertura especial do clássico entre Santo André e São Bernardo – realizado no último domingo de manhã (19/02). A partida, com toda rivalidade, provocação e amor dos torcedores, é registrada de uma maneira diferente.

Matéria publicada originalmente no site www.abcdmaior.com.br no dia 23 de fevereiro de 2017