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PÓ DE ARROZ, A VERDADE

por Idel Halfen


O primeiro artigo de 2022 abordará dois temas bem atuais: a diversidade e as fake news, para isso utilizaremos como ilustração o esporte num contexto histórico.

Uma pergunta sumariza bem o que será narrado: por que o pó de arroz foi associado ao Fluminense?

Nossa história começa em 1914, quando o jogador Carlos Alberto, que tinha o hábito de passar pó de arroz em sua pele. passou a fazer parte do elenco tricolor. Todavia, o fato foi deturpado sob a alegação de que o Fluminense não permitia negros em sua equipe e, através do pó de arroz, encontrava uma forma de disfarçar a cor da pele de seus atletas.

Suposição canalha e mentirosa, além de insustentável, para isso basta lembrar que: (i) desde os tempos em que o Carlos Alberto jogava no América, ele já usava o produto como um cosmético pós-barba; (ii) antes disso, em 1910, o Fluminense tinha em sua equipe o jogador Alfredo Guimarães que era negro – e nunca usou pó de arroz.

O que se tira desta história é que a propagação de mentiras não é uma questão de época ou de geração. Hoje o termo “fake news” parece agora mais popular pelo fato de as mídias sociais terem uma maior capacidade de reverberação, porém, a origem do mal não é a plataforma de divulgação e sim a falta de caráter daqueles que, para atacarem algo ou alguém, apelam para a invenção e/ou distorção de acontecimentos.

Coibir tais práticas através de mecanismos que evitem a divulgação massiva das mentiras é apenas um paliativo que, em termos concretos, não acaba com o problema. O cerceamento às redes também não parece fazer muito sentido, ao contrário, a existência delas é um fator de extrema importância para se rastrear os criadores e divulgadores de informações falsas.


A solução, segundo alguns, passa pela educação, ao defenderem que quanto mais educada a população menos mentiras existirão, o que faz até algum sentido no que diz respeito à reverberação, já que as pessoas mais educadas, em tese, desconfiarão do que estão recebendo e pesquisarão antes de repassar qualquer informação suspeita. Reside aqui, no entanto, um erro crasso: reduzir o conceito educação à mera formação através dos bancos escolares, abdicando da importância dos princípios e dos valores que deveriam ter origem no lar, independentemente de classe social.

Corrobora para essa dedução, a significativa quantidade de pessoas que toleram e defendem as fake news, quando essas o favorecem, é claro.

Diante dessa complexidade relativa à educação, é provável que, no curto prazo, as punições venham a ser a melhor forma de combater a proliferação de mentiras, o que é lamentável, mas, pelo menos pode ser uma forma de preservar a honra de pessoas e instituições inocentes.

O caso do pó de arroz, ao envolver uma acusação de racismo, prática abominável sob todos os sentidos, é apenas um exemplo de como uma mentira irresponsável pode trazer consequências na vida das pessoas e das instituições e, como tal, não deve ser tolerada.

TORCIDAS E RECEITAS

por Idel Halfen


O desequilíbrio pelo qual passa o futebol brasileiro tem origem basicamente em dois focos: as gestões dos clubes e a desproporcional distribuição das receitas de transmissão que perdurou por anos.

Os que defendem a desproporcionalidade mencionada alegam que seria injusto um time com mais torcida receber o mesmo montante do que outro com torcida menor, argumento que até tem sua dose de coerência, mas que perde força ao ser confrontado com o modelo das ligas norte-americanas, no qual a competitividade é privilegiada sob a alegação de que ela é fundamental para o incremento do faturamento, fazendo assim com que todos recebam mais.

Embora eu tenda a preferir os modelos que favoreçam o “equilíbrio” deixando para a gestão a busca por melhores desempenhos tanto operacionais como esportivos e consequentemente faturar mais, não dedicarei mais linhas a respeito no presente artigo, voltando à análise para a correlação “tamanho de torcida vs. receitas”, valendo lembrar, a título de provocação, que o tamanho de população de um país não se reflete perfeitamente no seu PIB.

Passemos então para as pesquisas relativas aos tamanhos das torcidas, as quais reputo como questionáveis em função do dimensionamento da amostra e da metodologia utilizada que, entre outras falhas, não consegue com a devida assertividade segmentar o torcedor por níveis de engajamento, ou seja, não identifica o potencial de propensão a consumir produtos do clube. A divergência de resultados entre os diversos institutos corroboram para essa crítica.

Não podemos também desprezar que o fator globalização se torna um problema, pois o universo das pesquisas costuma contemplar o país onde ela está sendo realizada, ignorando assim os potencias “consumidores” residentes em outros países, visto ser cada vez mais factível que estrangeiros venham a ser simpatizantes de equipes de outros países. Peguemos aqui o exemplo do Real Madrid, cuja torcida na Espanha tem algo entre sete e oito milhões de torcedores, cerca de 30% da população “torcedora” do país, entretanto, só no Facebook são mais de 100 milhões de seguidores. Ao confrontarmos esses números com o vice-campeão da Libertadores de 2021, vemos pesquisas apontando para uma torcida na faixa de 40 milhões e o número de seguidores na mesma plataforma não chegando a 15 milhões.


Claro que basear a análise simplesmente nos números de seguidores nas redes sociais oferece falhas, visto depender dos respectivos graus de atratividade do conteúdo, além de não permitir estabelecer se há algum tipo de impulsionamento. Acrescente-se a essas condições, o fato de não conseguir precisar quais “seguidores” são “torcedores” e com que grau de engajamento.

Diante da complexidade da apuração desses números, fizemos um exercício que permitiu confrontar o tamanho das torcidas brasileiras, através de média aritmética entre os números do Datafolha e os da Pluri, com as receitas recorrentes destes clubes (direitos de transmissão, marketing e bilheteria, aqui incluído o sócio-torcedor), conforme pode ser visto no quadro acima, onde se percebe que entre os catorze clubes avaliados há quase uma inversão total no rankeamento dessas duas variáveis, isto é, o clube com menos torcedores é o que consegue a maior receita per capita.


Todavia, como as receitas dos direitos de transmissão carregam componentes ligados ao desempenho do time e ao número de jogos transmitidos – o que pouco está ligado ao tamanho da torcida -, optamos por acrescentar outro comparativo expurgando os direitos de transmissão das receitas recorrentes, ou seja, consideramos apenas bilheteria e marketing que, em tese, deveriam ser influenciados pelo número de torcedores.

Sob essa última ótica, ainda que pareça menos enviesada, o rankeamento pouco se altera.

Tais números nos permitem supor três causas, além, evidentemente, das consequentes interseções entre elas:

1 – quanto maior o tamanho da torcida, maior o desequilíbrio no que diz respeito ao poder aquisitivo dos torcedores;

2 – por não identificarem o grau de engajamento dos torcedores, a quantidade destes tem pouca influência no faturamento, visto muitos que se declaram fãs de algum time, na verdade não consomem e não contribuem para a arrecadação.

3 – as pesquisas, mesmo no que tange à parte quantitativa, não são adequadas à mensuração do tamanho das torcidas.

Tendo a acreditar que seja um mix destas causas, o que não tira a crítica em relação à distribuição errada do passado, a qual traz sequelas que talvez durem para sempre.

Como corrigir? A criação de uma liga que pensasse no coletivo poderia ser uma solução, porém sua viabilidade dependeria, sobremaneira, da gestão dos clubes, não sendo sequer admitida a possibilidade de as organizações terem à frente gestores da mesma estirpe dos que aumentaram exponencialmente seus passivos e/ou que não entendam a importância da sustentabilidade da indústria.

A TV ABERTA É O FUTURO?

por Idel Halfen


Sim, o título é polêmico. Vai contra todas as previsões de mudança no mundo das transmissões, no qual as TV’s por assinatura já fazem parte da realidade, o pay-per-view vai sendo absorvido e o streaming, assim que se ajuste, será incorporado ao universo de parte significativa da população.

Diante dessa constatação, o que motiva alguém a colocar um título tão desconexo da realidade?
Pois bem, o futuro a que se refere o título diz respeito à categoria futebol nacional e à formação de torcedores.

Por mais que a quantidade de opções de conteúdo aumente de forma exponencial, assistir aos jogos de futebol em companhia dos familiares e amigos ainda é uma forma de resgatar a coletividade tão abalada pelas telas individuais.

Sem tais eventos, principalmente em um cenário onde a ida aos estádios ainda não está tão fácil, a formação do novo torcedor fica prejudicada. As crianças ficam sem a oportunidade de ver os pais se “emocionarem” diante da TV, o que, de alguma forma, influencia na opção de seguir aquele esporte e o time da família.

Sem a TV aberta, os pais muito provavelmente optarão por algumas das milhares de alternativas de entretenimento, o mesmo acontecendo com o filho.

Ah, mas torcedor que é torcedor vai assinar os pacotes que contemplam os jogos dos seus times, poderão argumentar os que são contrário ao racional do presente artigo. Ainda que o raciocínio seja coerente, não se pode ignorar que mais uma despesa pode não ser economicamente viável para muitas famílias.

Isso sem contar que o momento do time é um forte fator de fidelização do pay-per-view, o que, aliás, também acontece com o sócio futebol.
Não cabe discutir aqui o fato de que os torcedores são parte das fontes de receitas dos clubes, isso é óbvio, porém, não se deve desprezar a discussão acerca do grau de “fidelidade” do torcedor do amanhã.
A infinidade de opções de séries, demais competições esportivas e games, entre outros, pode estar afastando de forma irreversível o futuro fã, até porque a própria TV aberta deu um tiro no pé quando adotou critérios de divisões de receitas que foram co-responsáveis pelo desequilíbrio que vemos no futebol brasileiro.
Pensar no futuro, se antecipando aos possíveis cenários é um dos skillsque separam um bom gestor de um medíocre, nesse contexto, trabalhar a formação de futuros clientes é uma garantia de que as marcas não se acabarão junto às próximas gerações.
Portanto, creio ser de fundamental importância que se avalie a que grau está a fidelidade dos mais jovens em relação a seus times e ao futebol, para daí tomar medidas aparentemente retrógradas

MARCAS ESPORTIVAS NO FUTEBOL EM 2021-2022

por Idel Halfen


Como vem sendo feito anualmente desde 2014, a Jambo Sport Business acaba de publicar um estudo acerca das marcas que vestem os clubes da 1ª divisão dos 20 principais países na temporada 2021/22. Em virtude da extensa quantidade de dados e informações ali dispostos, elencaremos aqui apenas os pontos que consideramos mais interessantes, recomendando, porém, o acesso ao trabalho através do link https://www.linkedin.com/posts/halfen_marcas-esportivas-nas-20-ligas-mais-valiosas-activity-6852310070219337729-m7oJ

Ao todo foram analisados 381 times, seis a mais do que na temporada anterior, pois houve alterações no número de participantes dos seguintes campeonatos.

Além das costumeiras mudanças ocorridas em função de acessos e descensos, aconteceram 46 mudanças de fornecedores. A Puma foi a marca que mais incorporou equipes ao seu portfólio, foram nove, o que a deixa com um saldo positivo de cinco sob esse prisma, já que quatro dos clubes que vestia na temporada 2020/21 passaram a vestir uniformes de outras marcas. Por outro lado, a Nike foi a que perdeu mais equipes (dez), tendo ganho apenas cinco, fato que não lhe tira a liderança que ocupa desde que o estudo é realizado (2014-15).


As mudanças de fornecedores que mais chamaram atenção foram as que ocorreram na Roma (de Nike para New Balance), no Napoli (de Kappa para Armani), no Newcastle (de Puma para Castore), no Sporting (de Macron para Nike), no Shakhtar Donetsk (de Nike para Puma) e no Fenerbahçe (de Adidas para Puma), a propósito, a Turquia foi o país onde mais trocas ocorreram (sete).

Cumpre relatar que, excetuando a China e o EUA, cujos times vestem as marcas negociadas pelas ligas que regem seus campeonatos, o Brasil foi o único país que nenhum time da Série A trocou de fornecedor. Ressalve-se que para efeito do estudo, consideram-se como mudanças os times que não foram impactados pelos acessos ou rebaixamentos, isto é, se um time estava na 2ª divisão e trocou de marca ao ser promovido, essa substituição não é computada.

Voltando ao ranking das marcas, temos a Adidas se mantendo na vice-liderança, seguida pela Puma que vem apresentando uma considerável evolução.

Completam a relação das TOP10: Macron, Kappa, Umbro, Joma (cuja queda é digna de destaque), Kelme, New Balance e Jako.


No estudo desse ano foi possível notar que o somatório das três principais marcas globais – Nike, Adidas e Puma – ficou com uma participação menor do que na temporada anterior, o que denota a tendência de “investimentos mais criteriosos”, principalmente pelas duas primeiras. Essa suposição ganha ainda mais força quando analisamos os 30 clubes mais ricos, segundo o ranking da Deloitte, onde as TOP 3 somadas têm 83,7% de participação (não chegavam a 50% em 2015-16), sendo que no somatório dos 381 times da amostra o trio chegou a 45,8%.

Para efeito do cálculo do número de marcas presentes, consolidamos as cinco marcas próprias como uma, dessa forma chegamos ao total de 61 fornecedores na temporada atual, quatro a mais do que na anterior.

O estudo, além de detalhar as informações aqui apresentadas, analisa os seguintes pontos: o desempenho das principais marcas e respectivos posicionamentos, os vinte campeonatos da amostra de forma individual, marcas próprias, marcas regionais, marcas brasileiras e o fornecimento às seleções.

CONFLITOS INTERNOS

por Idel Halfen


A queda para a Série B do Campeonato Brasileiro de futebol e a consequente redução nas receitas, tem feito com que os clubes rebaixados readequem seus orçamentos, o que redunda fatalmente em cortes de custos para que os resultados operacionais sejam menos impactados.

Alguns clubes decidiram, entre outras medidas, a extinção de algumas modalidades olímpicas, o que foi alvo de críticas.
Embora eu seja um defensor ferrenho dos esportes olímpicos, seria um pouco irresponsável julgar tal decisão sem estar a par da real situação financeira dos clubes e dos seus objetivos estratégicos. Além do que, é preciso conhecer a estrutura das instituições para entender seus conflitos internos. Os clubes de futebol, por terem um percentual extremamente significativo de suas receitas advindo desta modalidade, a qual também é responsável pela maior, se não totalidade, da torcida (potenciais consumidores), sofrem com a forte pressão por melhores desempenhos esportivos. Tal cenário faz com que os esportes olímpicos e a parte social fiquem em notória inferioridade nas decisões orçamentárias, principalmente quando faltam recursos e performance.

Esses “conflitos internos” não são exclusividade dos clubes de futebol, ainda que a exposição e a pressão sejam maiores em função do tamanho desse mercado. Os clubes ditos sociais, pegando aqui a título de ilustração o Esporte Clube Pinheiros de São Paulo e o Minas Tênis Clube do estado homônimo, também padecem com as reclamações dos sócios em relação à “divisão” de espaço com as atividades relacionadas aos esportes olímpicos.

Assim como os torcedores de futebol não conseguem entender que os esportes olímpicos são importantes para o fortalecimento da marca e até na atração de simpatizantes, os sócios dos clubes citados acima não enxergam que a valorização da marca e do título patrimonial do clube pode ser aditivada pelos esportes olímpicos.

Ressalte-se que no caso dos clubes de futebol, em função das difíceis situações financeiras, as necessidades de caixa no curto prazo exigem soluções radicais mais rápidas.

Por outro lado, uma possível saída dos clubes das modalidades olímpicas pode ser de extrema gravidade para o Brasil, que tem seu sistema esportivo fortemente baseado nessas organizações. Mas como mantê-las em um cenário onde as organizações precisam de dinheiro para sobreviver? A solução de dedicar uma parte das receitas aos olímpicos é fácil no discurso, mas podem comprometer a estrutura e fazer com que ela toda acabe, prejudicando as três unidades: futebol, esportes olímpicos e social.

Dessa forma, creio que devam ser buscadas saídas que incluam mandatoriamente a modelagem do sistema esportivo brasileiro, não deixando-o tão dependente dos clubes, mas também criando recursos para que esses continuem contemplando-os em suas estruturas