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GERAL, MEU AMOR

por Marcelo Carrara


Foto do Jornal dos Sports com Loureiro Neto

Foto do Jornal dos Sports com Loureiro Neto

Em tempos de estádios vazios e futebol cada vez mais pobre, encontrei uma relíquia que me fez viajar no tempo, trazendo lembranças que ainda estão muito vivas na minha memória. Tenho muitas recordações do Maracanã, cada uma mais hilária que a outra. Imagina um mineiro com 15 anos, recém chegado no Rio e frequentando a geral do Maraca? Na foto, é possível me ver na geral no clássico Vasco x Flu, em 1982.

Tenho inúmeras histórias engraçadas para contar, não sei se consigo passar para o papel, mas posso tentar. Uma das mais engraçadas vou contar agora. Logo quando fui morar no Rio, em 1980, ficava encantado em ver pela TV aquela festa de papel picado e papel higiênico nas arquibancadas. Pedi minha mãe para fazer uma bandeira, levei uma antena de carro para estendê-la, comprei papel higiênico, fiz muito papel picado, coloquei tudo dentro de uma bolsa de viagem da SOLETUR e fui feliz da vida para o Maracanã ver o meu primeiro Vasco x Flamengo.

Por um erro de logística, logo depois de subir a rampa da UERJ, ao invés de quebrar a direita, fui para esquerda. Percebi que do meu lado só tinha flamenguista, e eu com a bandeira do Vasco dentro da bolsa. Ao perceber meu erro, discretamente fui voltando em direção à torcida do Vasco, mas passei um aperto do cão! Parecia que na minha cara estava escrito que eu era Vasco da Gama e seria linchado no anel do Maracanã. Por sorte nada aconteceu e pude fazer a festa no estádio!

VOZES DA BOLA: ENTREVISTA DJALMINHA


D de dado, dedicado, desenrolado, desembaraçado, decente, decidido, desenrascado, destemido, deslumbrante, desejável, desenvolvido, desenvencilhado e despachado. D de divertido, digno, distinto, direito, disponível, dinâmico, disposto, discreto e dileto. D de doce, dosado, dócil e dotado. D de Djalma Dias. D de Djalminha. D de diferenciado.

De tantos ‘dês’ em qualidades e defeitos que carregam num só CPF, Djalma Feitosa Dias fez história como um dos jogadores mais habilidosos do futebol brasileiro de todos os tempos.

Formado nas divisões de base do Flamengo, do primeiro jogo entre os profissionais, em uma partida contra o América-RJ, válida pelo Campeonato Carioca de 1989, ao se desentender numa noite de 13 de julho de 1993, em um Fla-Flu, no Caio Martins, em Niterói, o camisa 10 foi personagem de uma discussão que decretou o fim de sua passagem pela Gávea, ao trocar empurrões com Renato Gaúcho. Diante de um problema, veio a guinada na carreira.

A começar pelo Guarani, cujo estádio chama-se Brinco de Ouro da Princesa, onde o príncipe Djalma colocou todo o seu potencial para aqueles verem a perda da dispensa no Flamengo. Ouro tratado como pedra onde passou maior parte da infância, adolescência e início da fase adulta. Foi eleito um dos melhores jogadores do Campeonato Brasileiro de 1993, que lhe deu passaporte para jogar no Japão, antes do Palmeiras repatriá-lo, para novamente, com uma camisa verde, fazer história. Sob o comando de Vanderlei Luxemburgo e um celestial time, o clube alviverde atropelou seus adversários no Campeonato Paulista de 1996 e alcançou o recorde de 102 gols na campanha campeã.

Ao fazer história no La Coruña, o ‘Rei da Galícia’ trouxe a ‘cavadinha’ à tona, cobrança de penalti realizada pela primeira vez pelo jogador tcheco, Antonín Panenka. Ele cobrou desta forma, que desestabiliza qualquer goleiro, na final do Campeonato Europeu, em 1976, quando surpreendeu Sepp Maier na cobrança que deu o título à Seleção da Tchecoslováquia.

Daqueles pés mágicos pintaram dribles desconcertantes, realizaram lançamentos extensos com a precisão de quem usa uma lente de grau na chuteira esquerda. Foi herói e levou os ‘Branquiazuis’ à loucura com os títulos da La Liga em 1999/2000,

Supercopa da Espanha, em 2000 e 2002, e Copa do Rei, em 2002. Teve seu dia de vilão após a cabeçada que desferiu no treinador do La Coruña, Javier Irureta, durante um treinamento da equipe espanhola que ‘maravilhava’ o Velho Continente.

Da lambreta em quatro jogadores adversários, que virou passe para o companheiro, e foi noticiada no mundo todo após a vitória por 5 a 2 sobre o Real Madrid, na temporada de 1999/2000 do Campeonato Espanhol, fez virar cartão postal para os torcedores que lembram da jogada no Estádio Municipal de Riazor apesar de não ter saído o gol na conclusão de Victor que foi interceptada por Roberto Carlos.

Quando estava no América do México, Djalminha sofreu com lesões e resolveu aposentar sua arte de jogar futebol aos 34 anos. Tristeza? Talvez não disputar uma Copa do Mundo. No entanto, nada supera a saudade de seu pai Djalma Dias, falecido no dia 2 de maio de 1990, no Rio de Janeiro, vítima de uma parada cardiorrespiratória, que não teve tempo de ver um dos meias mais geniais do futebol de todos os tempos.

O Museu da Pelada traz a magia de Djalminha, que é o nosso 35° personagem do ‘Vozes da Bola’.

*Por Marcos Vinicius Cabral*

*Edição: Fabio Lacerda*

Como foi a infância de Djalma Feitosa Dias, no Rio de Janeiro?

Maravilhosa. Fui criado no bairro de São Cristóvão, onde jogava minhas peladas. Certa vez, me viram jogando na rua e me convidaram para ir treinar no futebol de salão do São Cristóvão. Ali dei o pontapé inicial e, definitivamente, comecei a rodar em times de salão. Depois fui para o Flamengo.

Como foi sua chegada ao Flamengo? É verdade que você veio do futebol de salão?

Verdade. Joguei dois anos no São Cristóvão, um no Grajaú Country e mais um no Bradesco. Em 1985, fui fazer um teste no infantil do Flamengo, acabei aprovado e aí começou toda a minha trajetória no clube. Foram oito anos muito felizes, com títulos, vitórias, muitas amizades e momentos inesquecíveis. Somando a base até os profissionais, tenho uma gratidão enorme pelo Flamengo que me projetou para o futebol.

Como foi seu jogo de estreia nos profissionais numa partida contra o América-RJ válida pelo Campeonato Carioca de 1989?

Todo jogador de futebol não esquece o jogo de estreia e comigo não seria diferente. Eu estava no banco de reservas com o mestre e saudoso Telê Santana que me deu a oportunidade de estrear. Lembro que entrei faltando pouco minutos e ainda tive o prazer de jogar por pouco tempo com Bebeto que era um dos caras que eu admirava muito. E falar da minha estreia é muito legal, pois era o clube do meu coração, o que comecei e que abriu as portas para eu jogar mais vezes no profissional.

Em 1990, você fez parte do elenco vencedor da Copa do Brasil juntamente com companheiros dos juniores vencedores da Copa São Paulo do mesmo ano. Como foi a experiência de conquistar dois títulos tão importantes?

Maravilhosa. Uma experiência extremamente enriquecedora. Esse ano de 90 foi muito importante para mim e ao mesmo tempo difícil pelo que enfrentei. O Jair Pereira me deu a chance de jogar a Copa do Brasil, e essa competição, que era a minha maior alegria, acabou contrastando com a perda do meu pai que veio a falecer. Foi ali, entre os extremos da vida pessoal e da profissional, que as coisas começaram a mudar de verdade na minha carreira. Essa campanha que culminou nos títulos acabaram sendo relevantes demais para um jovem recém promovido ao profissional. A confiança começou a ser conjugada por aqueles jovens que haviam subido ao profissional, e por mim também, já que joguei praticamente todos os jogos, exceto o segundo jogo da final contra o Goiás, no Serra Dourada, em que fiquei no banco de reservas naquele empate sem gols. Mas como a gente havia ganhado o primeiro jogo por 1 a 0, o Jair optou por um time mais experiente. Deu certo. Mas lembro desse ano com saudades, pois foi o meu primeiro título como atleta profissional.

Seu pai, Djalma Dias (1939-1990), ex-jogador da Seleção Brasileira, não teve a chance de te ver brilhar com as camisas do Flamengo, Guarani, Palmeiras, La Coruña e Seleção Brasileira, pois em 1990 (ano de morte dele) sua carreira estava apenas começando. O fato de seu pai não ter visto o grande jogador que você se tornou é o seu maior arrependimento do futebol?


A morte do meu pai foi a maior tristeza que tive na vida, pois ele não pôde acompanhar a minha vida, e principalmente, a minha carreira. Tenho certeza que ele estaria acompanhando e estaria orgulhoso de mim. Ele sempre me dava broncas, conselhos, pontuando o que eu deveria melhorar. Isso era muito bom e me fazia crescer. Mas foi sem dúvida alguma uma perda difícil de superar que ao mesmo tempo me fortaleceu. A maturidade veio e transformou um menino em um homem. Passei a pensar na carreira de forma profissional, e se teve algo de positivo com a morte do meu pai, se assim posso dizer, foi exatamente isso. Passei a ter maturidade antes da hora e sei que meu pai tinha orgulho de ouvir pessoas próximas falando bem de mim. Isso o deixava extremamente feliz. Mas o que me conforta é saber que ele está em algum lugar e feliz com o homem e profissional que acabei me tornando.

Como foi jogar com Fabinho, Júnior Baiano, Piá, Nélio, Paulo Nunes, Marcelinho Carioca e Zinho, pratas da casa, e os consagrados Gilmar, Wilson Gottardo, Júnior e Gaúcho, no pentacampeonato brasileiro, sobre o Botafogo em 1992?

Aquele grupo de 92 e que acabou se sagrando campeão brasileiro, realmente, foi maravilhoso. Havia muita gente da minha geração. Eram jogadores jovens e com uma fome muito grande em crescer. Não bastasse, junto com essa molecada, vamos dizer assim, haviam jogadores muito experientes que eram próximos da nossa geração. O grupo merecia conquistar aquele campeonato. Era muito unido e não foi um campeonato fácil de ganhar, não! Lembro que não éramos favoritos, haviam equipes melhores do que a nossa, no papel, mas quando nos classificamos, ninguém segurou. No mais, foi um prazer jogar com esses atletas e conquistar um título importantíssimo como o Brasileiro daquele ano.

Passados quase 28 anos, como encara aquela discussão com Renato Gaúcho, que acabou culminando na sua saída do clube? Quem errou mais naquela noite de 26 de junho de 1993, no Caio Martins, em Niterói, partida contra o Fluminense pelo Torneio Rio-São Paulo: você, Renato Gaúcho ou o Flamengo?

Em relação ao Renato, acho que naquele episódio os dois erraram. Isso é fato. Mas sinceramente, eu acho que o erro maior foi da diretoria do Flamengo em tomar a decisão de me emprestar. Porque eu era um jogador que estava começando, todos sabiam do meu potencial naquela época. Era um jogador promissor, e o Renato, apesar do ‘cracaço’ que foi, estava no final da carreira e continuou no clube. Mas acabou que a minha carreira seguiu, fui ser feliz em outros clubes e consegui mostrar o meu valor longe do meu clube de coração. Mas entre nós, eu e o Renato, continuou tudo numa boa, até porque foi um lance ocasionado do jogo, e até hoje, a nossa amizade é ótima. E vou te confessar uma coisa: essa desavença com o Renato acabou nos fortalecendo como amigos e analisando tantos anos depois da briga, o erro não foi nem meu e nem do Renato, mas de quem estava dirigindo o clube naquele momento.

E sua passagem pelo Guarani, jogando com Amoroso e Luizão, como avalia?

Foi uma belíssima passagem que tive no Guarani, onde tive a oportunidade de deslanchar no futebol brasileiro e dizer para todos quem era o Djalminha. No primeiro ano, ganhei a Bola de Prata, prêmio conceituadíssimo concedido pela revista Placar. Fiz um excelente Campeonato Brasileiro. Depois de jogar naquele timaço com o Fábio Augusto, o Robert, o Marcinho, que era um baita lateral-esquerdo, o zagueiro Cláudio, o Narciso, que pegava muito no gol, o volante Fernando, e sem falar no Luizão, matador e campeão do mundo pelo Brasil, e o Amoroso, que por onde passou foi artilheiro. Então, falar desse Guarani é emocionante, pois foi bom jogar com eles e desfrutar de bons momentos também fora de campo.

Qual motivo fez você ficar pouco tempo na Terra do Sol Nascente jogando pelo Shimizu S- Pulse? Qual foi a maior dificuldade para não ficar um ano sequer no Japão?

Na verdade, não houve dificuldade maior ou menor, e sim o cumprimento de um contrato de seis meses. Terminou o contrato, resolvi voltar ao Brasil.

Seria injusto afirmar que os times do Palmeiras de 1995 e 1996 foram os melhores em que você jogou?

Eu sempre falei e reafirmo para os leitores do Museu da Pelada que o Palmeiras de 96 foi o melhor time que eu joguei em toda minha carreira. Esse time jogava por prazer, entrava em campo para vencer, jogava para frente, dar goleada, ou seja, no ditado popular, aquela equipe ‘jogava por música’. Apesar de ter jogado no grande Flamengo de 92, que foi campeão brasileiro, e no La Coruña, campeão espanhol em 99, mas o Palmeiras de 96 era diferenciado.

Como foi receber a Bola de Prata em 1993, e a Bola de Ouro em 1996, ambas da Revista Placar?

É lógico que a Bola de Ouro, consagração para qualquer atleta, e que eu ganhei naquele belíssimo time do Palmeiras como o melhor jogador do Campeonato Brasileiro, em 1996, mas aquela Bola de Prata, em 93, foi fundamental para a minha carreira chegar ao nível que chegou. Foi em 93, jogando pelo Guarani, uma equipe do interior paulista, o que torna o feito mais difícil ainda, e ao sair do Flamengo da forma que foi, eu tive que mostrar o meu valor para o cenário futebolístico. Então aquela Bola de Prata está guardada aqui em casa com um carinho muito especial, e três anos depois, em 96, consegui a Bola de Ouro no Palmeiras, numa época em que grandes jogadores estavam em atividade no país. Ganhar as Bolas de Ouro e de Prata é algo para marcar a carreira de todo jogador.

Um ano depois, em 1997, você atinge o ápice da carreira e conquista a Copa América com a seleção brasileira. Como foi fazer parte daquele plantel?

Foi espetacular, mas a campanha de 96 no Palmeiras, e a consequente conquista da Bola de Ouro, fizeram com que eu chegasse à seleção em condições de disputar a Copa América daquele ano e me sagrar campeão. Foi maravilhoso participar daquele grupo e ter a oportunidade de conviver com jogadores que eram referências como Taffarel, Aldair, Romário, Ronaldo, que era mais novo, mas sem dúvida, foi um prazer imenso ter jogado ao lado. Mauro Silva, o nosso capitão Dunga, e o pessoal da minha geração como Edmundo, Paulo Nunes, o César Sampaio, que inclusive, foi meu companheiro de quarto, foram outros jogadores exponenciais. Conviver com essa galera foi uma experiência fantástica, única e que jamais vou esquecer.

Em seis anos na Espanha, jogando pelo La Coruña de 1997 a 2002, você ficou marcado pelo bom futebol e títulos conquistados na terra da Torre de Hércules, construída no século I. Quando Djalminha pisa na Galícia, estendem o tapete vermelho para você? Como é a receptividade 21 anos após o épico título?

E a festa pelo título espanhol como os brasileiros Donato, Mauro Silva e Flávio Conceição? Você não guarda dinheiro, não vai guardar segredo! Como foi a noite após o inédito título para o Deportivo?

Foi uma festa muito legal, já que todos os jogadores e seus familiares foram comemorar esse título no restaurante Playa Club, que à noite, se transformava em uma boate, em frente ao estádio do La Coruña, o Municipal de Riazor. Esse título, obviamente, foi muito comemorado, já que foi uma conquista inédita na história do clube. Foi inesquecível.


Você se considera uma peça fundamental para a elevação do La Coruña no cenário espanhol e europeu? Afinal, você conseguiu ser campeão espanhol, o único título do clube da Galícia, duas vezes campeão da Supercopa da Espanha (2000 e 2002) e Copa do Rei (2002)?

Fomos peças de uma engrenagem que fez o La Coruña funcionar muito bem. Acho que não sou o único, mas teve o Bebeto e Mauro Silva, que chegaram aqui antes e foram fundamentais para elevar o nome do clube. Em seguida, tivemos jogadores que ajudaram a construir essa história como o Rivaldo, o Flávio Conceição, o Luizão, e o Donato, que sem dúvida alguma, deram sua contribuição para colocar o clube no cenário europeu e até mundial.

Se arrepende em ter dado uma cabeçada no treinador Javier Irureta em um treino do La Coruña? Depois desse episódio, esteve com ele e houve um pedido de desculpas?

Em relação a essa tão famosa cabeçada, eu já falei sobre isso e não tenho nenhum arrependimento, até porque fui eu quem dei a cabeçada no momento em que fui xingado. Não gostei, agi daquela forma, e não chegou a ser uma cabeçada tão forte assim. Mas, sinceramente, não me arrependo, e se foi por este motivo a minha ausência no grupo de jogadores da Copa do Mundo em 2002, isso não me importa. A minha atitude foi aquela, e se fui condenado por isso, cumpri minha pena e tudo certo. A vida seguiu.

Acha que o episódio foi o motivo que o tirou da Copa do Mundo de 2002?

Eu não posso saber se esse episódio foi o motivo que me tirou da Copa do Mundo de 2002, mas acho que o Felipão seria a melhor pessoa para responder isso. Ele já falou algumas vezes, em entrevistas, que isso teve influência. Eu não guardo nenhuma mágoa, vida que segue. É lógico que gostaria de ter disputado um Mundial, mas não foi possível e não é por isso que eu vou ficar decepcionado com minha carreira e nem com tudo o que produzi dentro de campo.

Com destaque no Flamengo, Guarani, Palmeiras e La Coruña, seu futebol teve poucas oportunidades na seleção brasileira, onde atuou apenas em 14 oportunidades, fez cinco gols e conquistou a Copa América de 1997. O que você atribuiu esse insucesso com a amarelinha?

O fato em ter jogado pouco na seleção, até hoje, não sei o motivo, apesar de achar que eu tinha condições em ter participado muito mais. Insucesso? Não considero, porque eu tenho um respeito grande pelos jogadores da época que eram chamados e que eram de muita qualidade também. Mas outros grandes jogadores com qualidade acabaram ficando de fora. O mais importante, não foi ter jogado muito ou pouco na seleção, mas sim em ter jogado bem nas vezes em que vesti a camisa do Brasil. Não me lembro em ter feito nenhum jogo aquém das minhas condições físicas e técnicas. Mas a concorrência era grande, as oportunidades surgiam para cada um e era agarrar aquela chance. Às vezes, eu penso que o fato de ter ido para o La Coruña, que na época não era um clube muito visto como o Real Madrid e o Barcelona, por exemplo, atrapalhou um pouco. Mas depois que fui para a Espanha em 1997, só voltei à seleção em 2000, quando fomos campeões espanhóis e era uma obrigação me convocarem.

A cavadinha foi inventada pelo theco Antonín Panenka, em 1976, porém, você foi o primeiro a cobrar da mesma forma no Brasil. Como surgiu a ideia e como eram os treinamentos para executar isso com tanta perfeição?

Eu não sabia que o Panenka tinha inventado a cavadinha em 1976. Quando eu fui jogar na Europa, bati a primeira vez, e todos comentaram que eu havia cobrado o pênalti estilo à lá Panenka. Aí fui ver a cobrança desse tcheco que é considerado o criador da cavadinha. Mas se eu não me engano, a primeira vez eu vi alguém cobrando dessa forma foi o Gianluca Vialli quando jogava na Juventus da Itália. Eu achei interessante a cobrança e comecei a treinar para me aperfeiçoar e fui pegando experiência e ganhando confiança. A primeira vez que tentei, logo de cara, deu certo. Foi contra o Internacional, e o goleiro era o argentino Goycochea. E aí isso acabou virando uma forma de obter mais recursos na hora de bater o pênalti, ora no canto, ora no outro, ora de cavadinha no centro do gol. Tudo era feito para ludibriar o goleiro.

Certa vez, em entrevista ao programa Bem, Amigos, o ex-lateral-direito Cafu, que jogou quatro Copas do Mundo pela Seleção Brasileira e com diversos craques, tanto pelo país quanto por grandes clubes europeus, afirmou que você foi o jogador mais habilidoso que ele já viu jogar. Concorda ou não?

Se ele está falando, já que jogou com tantos craques do futebol na carreira, quem sou eu para discordar do Cafu, não é mesmo? Fico feliz com esse comentário, pois tive a oportunidade de jogar ao seu lado no setor que ele atuava, que era o lado direito. Era muito fácil jogar com esse camisa 2. O Cafu desempenhava muito bem a lateral e a ponta, duas funções extremamente difíceis como poucas vezes eu vi no futebol. Para mim, isso foi muito bom, já que eu não precisava nem cair muito pelo lado, porque ele dava conta de duas posições, ou seja, defendia e atacava com a mesma intensidade e qualidade. Meu trabalho era enfiar as bolas para ele fazer os cruzamentos, tabelar e fazer as triangulações com quem caia por ali. Mas eu fico feliz com essa declaração dele que corrobora com o que outros jogadores que jogaram comigo também falaram. Porque realmente era uma qualidade minha, essa questão da habilidade, da visão de jogo, e de tentar as jogadas mais difíceis. Os caras que conviveram comigo no dia a dia sabiam do meu potencial. Às vezes, você assiste uma partida de futebol pela televisão é uma coisa, e estando dentro do campo, é outra completamente diferente.


Como tem sido ser comentarista dos canais ESPN Brasil? E na sua opinião: Djalminha é craque ou perna de pau com o microfone nas mãos?

Olha, em relação a ser craque ou perna de pau com o microfone nas mãos é muito difícil responder. Mas uma coisa eu tenho certeza: no campo eu me sentia mais à vontade (risos). Entretanto, com o passar dos anos, eu me sinto muito tranquilo e feliz, principalmente, trabalhando na emissora em que trabalho que é a ESPN, com pessoas extraordinários, profissionalmente falando, e fazendo os programas que eu faço. Confesso que fazer outros programas dentro da emissora é algo bacana, mas fazer o Resenha é muito prazeroso, é um entretenimento diferenciado em que entrevistamos treinadores, ex-jogadores e celebridades do futebol. Batemos um papo bem descontraído que acaba se tornando o mais legal disso tudo. Sem falar que essa descontração me faz lembrar o Djalminha dentro de campo.

Como tem enfrentado esses dias de isolamento social devido ao coronavírus?

Estamos passando por momentos difíceis. A toda hora é uma notícia triste envolvendo familiares, amigos e pessoas conhecidas próximas de você. Este distanciamento é necessário, álcool em gel e máscara também, e mesmo a gente não gostando pelo fato de estar isolado e longe das pessoas, é necessário. Vamos torcer para isso possa passar o mais rápido possível. Eu espero que todas as pessoas possam se vacinar e que seja o primeiro passo para vencer essa doença.

Defina Djalminha em uma única palavra?

Bom, se definir já é difícil, imagina em uma única palavra? Mas esse Djalminha que é mais conhecido publicamente não é o mesmo que o Djalma, o Dija, o Neném, para família, o Tostão para os amigos da infância, pois são pessoas diferentes dentro e fora de campo. No entanto, se fosse para definir o Djalminha em uma única palavra essa palavra seria irreverência.

N’GOLO KANTÉ CONTRA OS BOLEIROS DE PLÁSTICO

por Marcelo Mendez


Sou de um tempo que o Brasil produzia jogadores de futebol.

Eu bem sei da mudança dos tempos, das benesses, ônus e bônus disso, entendo como necessária essas mudanças de ventos, mas no caso que trato aqui, preciso afirmar que, sou de um tempo que o Brasil produzia jogadores de futebol.

Nesses tempos de agora, porém, não sei o que se produz.

O Brasil não quis mais o futebol de suas periferias. Os campos de terra da várzea, as crias dos arrabaldes, as idiossincrasias de um esporte que se fez Brasileiro em sua essência, tudo isso foi sumariamente excluído para dar vez a coisas bem estranhas.

High School Training, Campus Party, Escolinhas de futebol tocadas por coaching’s (?!) e mais outras pataquadas mudaram completamente a formação do jogador de futebol no Brasil.

Nesse contexto jamais se acharia um jogador como N’Golo Kanté.

O camisa 7 do Chelsea, Campeão do Mundo pela França, Campeão da Premier pelo Leicester, dono da final da Champions desse 2021 pelo Chelsea não é um jogador desse tempo. Ele não usa chuteira de 8 cores. Não enche o saco do árbitro, não fica falando besteira no Twitter, está pouco se importando em ter milhões de seguidores no Instagram porque não trata o público como peça de mercado.

Kanté é real.

Num universo empesteado por canais de besteragens, campeonatos de chutar bola na trave, resenhas furadas e forçadas, negociatas que tornam o jogo em si o último plano, Kanté ousa ser de verdade.

De verdade, contra o Bolerismo babaca, Kanté acabou com o jogo na final da Champions. Que bom que ele existe.

Tenho certeza absoluta que jamais o verei tentando acertar um chute num balde…

O CRAQUE DO BRASIL EM 1989

por Luis Filipe Chateaubriand


José Roberto Gama de Oliveira, o Bebeto, já se destacava no futebol desde 1983.

No entanto, foi em 1989 que o baiano de Salvador teve seu “ano de ouro” até então.

No primeiro semestre, foi muito bem, jogando pelo Flamengo, apesar do clube ter perdido a decisão do título estadual para o Botafogo.

Veio, então, a transação que abalaria todos os alicerces do futebol brasileiro.

Argumentando que “o Bebeto não está com esta bola toda”, o presidente do Flamengo de então não chegou a acordo para renovar contrato com o craque, e fixou o valor do passe na Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), cerca de dois milhões de dólares.

O Vasco da Gama, que estava com os “cofres abarrotados” com as vendas de Romário para a Holanda e de Geovani para a Itália, depositou o valor devido na Federação e arrebatou o ídolo do rival.

Bebeto era o novo ídolo do cruz maltino!

E, no segundo semestre, Bebeto se revezou entre contusões e momentos de intenso brilho.

Fez os dois gols, contra o Internacional de Porto Alegre, que colocaram o Almirante na final, que ganharia com galhardia.

E não foi só.

Na Seleção Brasileira, também brilhou, sendo eleito o melhor jogador da Copa América jogada aqui no Brasil, e vencida pelo Brasil, e tendo boa participação nas Eliminatórias da Copa do Mundo de 1990.

Não bastasse isso, fez o gol do ano: em jogo contra a Argentina, no Maracanã, pela Copa América, recebeu a bola de Romário e mandou um voleio “lá onde a coruja dorme”, um golaço com pouco se vê.

É… ao contrário do que o presidente achava, o homem da boa terra estava com a bola toda!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

DURA E REPREENSÃO DE GARRINCHA EM PARINTINS

por Antonio Carlos Meninéa


Figura 1 Mané com camisa do Amazonas e bem acompanhado. Acervo José Brilhante

Figura 1 Mané com camisa do Amazonas e bem acompanhado. Acervo José Brilhante

Motivado pela matéria do Museu da Pelada, sobre Maria Cecília, filha de Garrincha, resolvi contar essa história da qual o “Anjo das Pernas Tortas” foi ator principal. Trata-se de uma curiosa história que consta no livro “Futebol Parintinense – do sucesso ao fracasso”, do jornalista José Brilhante.

Em 1973, mesmo aposentado e meio fora de forma, mas defendendo um troco, o “Anjo das Pernas Tortas” aceitou um convite para jogar na cidade de Parintins, Estado do Amazonas. Jogo entre os maiores rivais da cidade, Amazonas e Sul América. Um tempo em cada time. 

A atmosfera na cidade era festiva, euforia total. E não podia ser diferente, pois veriam Garrincha em carne e osso, bem diferente de vê-lo nos cinemas, jornais ou revistas. 

Uma multidão se acotovelava no cais do porto para receber o bicampeão mundial, monstro sagrado do Botafogo, Estrela Solitária. Ao chegar foi literalmente carregado no colo até o hotel. Um frenesi, catarse total nunca visto na cidade de Parintins.


Figura 2 Fabi em círculo e Garrincha agachado terceiro esquerda para direita - (acervo José Brilhante)

Figura 2 Fabi em círculo e Garrincha agachado terceiro esquerda para direita – (acervo José Brilhante)

Confesso, no entanto, que até eu estaria nesse transe se lá estivesse. Pois Garrincha não era humano, e sim, um ser espacial que todos queriam tocar, abraçar, fotografar, pegar autógrafo. Queriam ver se ele era de verdade.

Na tarde de sábado, 2 de junho de 1973, uma lenda, um Deus, adentra o estádio Tupy Catanhede. Gente saindo pelo ladrão, lembrando um pouco o saudoso Maracanã em dia de clássico, quando ficávamos espremidos entre um torcedor e outro, sem poder ir ao banheiro. Dessa festa histórica e mítica, dois fatos pitorescos ocorreram durante a partida e se eternizaram para sempre.

O primeiro foi nos 45 iniciais, quando Mané atuou pelo Amazonas. Francisco Batista, mais conhecido como “Fabi”, contava com apenas 16 anos de idade no dia desse jogo, e atuava pelo Amazonas, time que Garrincha jogou na primeira etapa.


Figura 3 Fabi nos dias atuais (acervo José Brilhante)

Figura 3 Fabi nos dias atuais (acervo José Brilhante)

Fabi relatou que levou uma dura, um esporro do Garrincha, devido ao fato dele tocar toda bola que recebia para o Mané.

–  Vem cá garoto! Ta querendo me queimar, é? Porque parece que você só está vendo eu em campo, só toca a bola pra mim!

–  Não quero te queimar. Estou fazendo isso, porque essa multidão que está na arquibancada veio ver o senhor fazer seus dribles – respondeu Fabi, um tanto quanto nervoso, pois, estava pertinho de um ídolo mundial. 

Após a bronca, o jovem ficou feliz da vida, pois apesar da dura que levou, ficou frente a frente com um dos maiores craques do futebol mundial, coisa que jamais sonhou que aconteceria em sua vida.

O outro ocorrido se deu no segundo tempo, e Mané já estava pelo Sul América. Nilo Gama, craque desse time, participou de algumas jogadas com Mané. Quando o “Anjo das Pernas Torntas” tocava de calcanhar, Nilo Gama, rapidamente jogava por cima de seu marcador indo concluir a jogada lá na frente. Foi quando Garrincha se aproximou e perguntou:


Figura 4 Time Sul América - (acervo José Brilhante)

Figura 4 Time Sul América – (acervo José Brilhante)

– Baixinho, onde você aprendeu essa jogada?

– Meu treinador foi no Rio de janeiro e viu a tua jogada com Djalma Santos e me ensinou.


Figura 5 Nilo Gama dias atuais (acervo José Brilhante)

Figura 5 Nilo Gama dias atuais (acervo José Brilhante)

–  Olha, teve só um lateral que fazia essa jogada que é o Djalma. 

A conversa encerrou, Nilo Gama, nunca soube se aquilo foi uma espécie de elogio ou repreensão, mas também se sentiu honrado por esse episódio.  

Enquanto permaneceu na cidade de Parintins, Garrincha foi homenageado e frequentou muitas festinhas se refrescando à beira do Rio.