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SÓCRATES, O MAGRO DA BOLA

por Serginho 5Bocas


Brasileiro até no nome, Sócrates nasceu em 1954 e faleceu em 2011. Deixou para seus fãs, neste curto período de vida, uma enorme saudade e um imenso legado, construído com gols, passes, jogadas de calcanhar, muita inteligência dentro e fora dos gramados, entre outras virtudes desta figura imortal do futebol brasileiro.

Sócrates foi, sem dúvida nenhuma, um dos mais genuínos exemplos de que o futebol é um dos únicos esportes que não se exige um biótipo único e definitivo para se sobressair, lugar comum na maioria das outras modalidades esportivas. Magríssimo e com pés pequenos, ainda assim conseguia sobressair em um esporte de forte contato físico, com toques de primeira, dribles, gols e muita inteligência. 

Começou a carreira em Ribeirão Preto, no Botafogo local, onde muito jovem e escondido de seu pai, já exibia toda a sua arte, apesar de seu físico impensável para a pratica do futebol e das aulas da faculdade de medicina, que quase sempre impediam que ele pudesse conciliar com os treinos e os jogos do campeonato.

Logo cedo ganhou a alcunha de doutor, uma alusão a um misto de sua escolha em estudar a faculdade de medicina somada a sua ótima técnica e habilidade num campo de futebol que o distinguia dos seus companheiros. No Botafogo de Ribeirão Preto, foi monstro, dando inúmeras assistências ao grande parceiro Geraldão, que foi o artilheiro na campanha do Paulista de 1974, e sendo ele próprio o artilheiro do Campeonato Paulista de 1976. Também foi campeão do primeiro turno do Paulista de 1977, mesmo treinando pouco, mas sempre jogando muito, era como se ele fosse um motor de Ferrari num fusquinha, tal a sua extrema qualidade para um clube tão modesto. 


Jogou muita bola no Corinthians, onde foi um dos maiores ídolos e viveu sua melhor fase, conquistando três títulos paulistas. Também jogou na Fiorentina, no Flamengo, no Santos e na seleção brasileira, confirmando o que se esperava dele. Fez história com a camisa amarela pela sua inteligência dentro de campo e pela liderança que o tornou capitão da fantástica seleção brasileira da Copa de 1982. 

Não foi “só” isso que o Magrão fez, ele reinventou a jogada de calcanhar no futebol. Nunca antes, nem depois alguém foi capaz de reproduzir com tanta maestria esta jogada. De calcanhar, ele deu passes maravilhosos e inesperados, fez gols e deixou sua marca indelével.

O treinador Claudio Coutinho não quis saber dele em 1978, mas voltou atrás nas convocações de 1979 e logo viu o tamanho da burrada de não tê-lo levado. Com a sequência de jogos com a amarelinha, perceberam que tinha muita qualidade para jogar “parado” como centroavante, tinha talento demais reprimido para entregar no campo todo e foi deslocado para a parte cerebral da cancha, o meio dd campo. Sábia decisão, pois assim foi possível usufruir de todo o talento daquele fenômeno.


Impossível esquecer seu gol de empate contra a U.R.S.S. na estreia do Brasil na Copa do Mundo de 1982, ou ainda do primeiro gol do Brasil contra a Itália naquela fatídica partida desta mesma Copa, que nos eliminou tragicamente. Vale ressaltar a frieza e a categoria para escolher o canto entre Zoff e a trave, tendo a capacidade de bater na bola sem dar a mínima chance de defesa para o goleiro italiano.

No entanto e apesar de toda a bola que ele jogava, deixou uma lacuna em sua carreira que foi não ter conseguido se sagrar campeão do mundo, seguindo os passos de sua geração.

Talvez os mais jovens, ao assistirem os jogos reprisados daquela época, imaginem que ele era fácil de ser marcado em razão de seu frágil físico e de sua pouca velocidade. Ocorre que ele compensava essas deficiências usando a inteligência que lhe era peculiar, tocando a bola de primeira, evitando choques com zagueiros mais fortes, chutando e cabeceando com extrema categoria e qualidade, antevendo as jogadas.

Digo e repito sem sombra de dúvidas que, apesar de não cuidar do corpo, de abusar do cigarro e da bebida, foi um dos maiores jogadores brasileiros (e mundiais) de todos os tempos, pois na sua época, muita gente boa não teve a menor chance de jogar na seleção, pelo simples fato de que havia um Doutor dono daquela camisa oito amarela. 

Quantas saudades do Magrão, fique com a luz de Deus meu ídolo. 

 

 

Um forte abraço

Serginho5bocas

 

A ARTE DE ZINEDINE ZIDANE

por Luis Filipe Chateaubriand


Até marcar dois gols na final da Copa do Mundo de 1998 da França, contra o Brasil, levando a Seleção Francesa ao título mundial, Zinedine Zidane era pouco falado no futebol mundial.

Uma injustiça, pois já vinha exibindo seu talento anteriormente, seja na Juventus de Turim, seja na Seleção Francesa.

O futebol de Zidane era composto de três ingredientes preciosos.

O primeiro ingrediente era a visão de jogo, o que fazia com que seu posicionamento em campo sempre fosse o mais apropriado para o time que defendia, estava sempre no lugar certo, na hora certa.

O segundo ingrediente era o passe, fosse curto, fosse longo, era quase sempre exato, achava o companheiro de time bem colocado, aquele companheiro que estivesse a postos para decidir.

O terceiro ingrediente era o drible, estava sempre apto para passar por adversários com extrema facilidade e leveza e, aí, inclui-se lençóis, ou balões, que eram dados com extrema naturalidade e, assim, adiantavam o jogo do time ao qual pertencia.

Por essas e outras, é possível afirmar: Zinedine Zidane é um dos dez maiores jogadores de todos os tempos!

ETERNOS CANHOTEIROS

por Rubens Lemos


Há uma vasta legião de nostálgicos que juram sem fazer figa: Canhoteiro, ponta-esquerda do São Paulo na década de 1950, foi o Garrincha da canhota. A biografia dele é um espetáculo de tão bem feita pelo escritor e jornalista Renato Pompeu. Canhoteiro disputava com Pepe em talento e os dois perdiam em sorte para Zagallo.

Chico Buarque, dono do time de peladas Politheama, já havia homenageado o ídolo rebelde na música Futebol, escalando uma linha de ataque sensacional, ritmada pela magia dos seus versos: “Para Mané, para Didi, para Pagão, para Pelé e Canhoteiro. Pagão é o maior ídolo de Chico. Até hoje é o artilheiro do seu time de futebol de botão, matador na proporção do dueto com Pelé ainda menino.

Mas Canhoteiro é a graça nunca alcançada. O toque de melancolia naqueles que voltam no tempo e o enxergam de novo costurando defesas pela extrema esquerda. Virou sinônimo de injustiça, de jogador que deveria ter ido mas não foi a uma Copa do Mundo. Jogava aberto, ofensivamente, driblando,

O MAIS POLÊMICO DOS JORNALISTAS ESPORTIVOS BRASILEIROS

por Luis Filipe Chateaubriand


Mauro Cezar Pereira nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, e em terras fluminenses deu os seus primeiros passos no jornalismo esportivo.

Mais tarde, transferiu-se para São Paulo, onde exerce seu ofício atualmente.

Tornou-se conhecido nacionalmente a partir de seu trabalho nos canais ESPN, de onde saiu recentemente.

Atualmente, desenvolve seu próprio canal no YouTube e demais redes sociais, é colaborador do UOL e faz comentários de jogos nos Sistema Brasileiro de Televisão.

Muitos odeiam Mauro Cezar.

Acham-no chato, ranzinza, implicante.

Outros, muitos mais, apreciam o seu trabalho.

Acham-no preciso, cirúrgico, essencial.

Este escriba é profundo admirador de Mauro.

Acredita que ele “põe o dedo na ferida”, faz a crítica certa, no molde certo, no tempo certo, que o futebol brasileiro precisa.

O futebol brasileiro não é um oásis de perfeição, onde tudo corre às mil maravilhas e se tem o melhor dos mundos.

Bem ao contrário, as mazelas de nosso futebol têm uma imposição colossal sobre a realidade, constituindo um lamentável corolário de infelicidades e vicissitudes.

Mauro mostra tudo, expõe as mazelas, deixa claras as contrariedades, denuncia os malfeitos.

Com isso, faz um ótimo trabalho de purificação de nosso futebol.

Portanto, é justo, necessário e primordial, dizer: Ave, Mauro Cezar Pereira!

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

VASCO E AMÉRICA: A HISTÓRIA DO CLÁSSICO DA PAZ

por André Luiz Pereira Nunes


Em 1937, o futebol carioca se encontrava inteiramente dividido. De um lado, havia a Liga Carioca de Football (LCF), chamada “Facção das Especializadas” por reunir as agremiações de elite. Eram membros Flamengo, Fluminense, America, Bangu, Bonsucesso e Portuguesa. De outro, a Federação Metropolitana de Desportos (FMD) que agrupava Botafogo, Vasco, São Cristóvão, Madureira, Olaria e Andaraí.

A separação era absoluta e cada entidade vivia para o seu lado sem que houvesse qualquer possibilidade de reunificação. Eis, que de surpresa, no princípio do mês de julho, começaram a surgir rumores de que se trabalhava um movimento pacificador no futebol do Rio.


Vasco e America foram os grandes artífices da concórdia e da reunificação. Seus presidentes Pedro Novais e Pedro Magalhães Corrêa, de livre e espontânea vontade, se reuniram e traçaram planos para resolver a árdua questão. E, no dia 29 de julho, numa memorável sessão levada a efeito no antigo salão nobre da Associação dos Empregados do Comércio, nasceria a Liga de Football do Rio de Janeiro (LFRJ), reunindo em uma só divisão os doze clubes que pertenciam a uma e a outra das entidades que até então se achavam separadas. Pioneiros na pacificação, Vasco e America resolveram, portanto, promover um marco a essa colaboração: a disputa de um troféu em melhor de três. O primeiro jogo ocorreu na noite de 31 de julho, no estádio de São Januário. Foi uma noite de gala. Preliminarmente se exibiram dois times vascaínos de rúgbi, além de motociclistas da Polícia Especial, que fizeram um desfile magnífico com a apresentação de números de arrojo, equilíbrio e beleza. Depois, os times do Vasco e do America entraram juntos em campo com bandeiras entrelaçadas. O primeiro jogo da paz encerrou-se com a vitória do Vasco por 3 a 2 e foi dirigido pelo juiz argentino Sanchez Dias. Nelson e Carola marcaram para o America e Raul e Lindo (2) assinalaram para o Gigante da Colina.

Infelizmente, em 1937, dois acontecimentos desagradáveis se sucederam. Andaraí, Portuguesa e Olaria foram degolados após o certame. O Andaraí, acometido por essa primeira e grave apunhalada, não mais retornaria à primeira divisão, apesar dos enormes esforços de seus dirigentes. A Portuguesa, somente em 1953, conseguiu retomar seu lugar na elite do futebol carioca, mais por conta dos padrinhos na Federação Metropolitana de Futebol (FMF), em especial Lulu Murgel, Zé Alves Morais e Maninho, do que por méritos esportivos. A Lusa, na ocasião, havia abandonado o futebol e vinha se dedicando somente ao ciclismo e ao recreativismo. O Oriente, de Santa Cruz, então bicampeão do Departamento Autônomo (DA), pleiteava a vaga e foi preterido, a exemplo do Andaraí, o qual era também outro postulante e se baseava na tradição para conseguir o seu intento.


O último evento desagradável se deu com o São Cristóvão. O Clube Cadete disputava e liderava, sem poder ser mais alcançado, o campeonato da Federação Metropolitana de Desportos (FMD), o qual acabou interrompido no momento da reunificação das ligas. Antes de ser extinta, a FMD proclamou o São Cristóvão campeão, mas esse título até os dias de hoje ainda não foi reconhecido oficialmente como o de campeão carioca de 1937. Estou, particularmente, trabalhando em conjunto com o clube de Figueira de Melo na tentativa de produzir um dossiê totalmente documentado para ser entregue ao Tribunal de Justiça Desportiva (TJD), vinculado à Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), para que essa injustiça seja finalmente sanada.