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O PIONEIRISMO DO VASCO EM FAVOR DOS PEQUENOS CLUBES

por André Luiz Pereira Nunes


A Liga Metropolitana de Desportos Terrestres (LMDT), em 1923, não permitia a inscrição de jogadores que exercessem outra função que não fosse a de atletas de times de futebol e isso incluía até mesmo os que recebessem gorjetas ou fossem praças de pré. Para quem não sabe, um praça de pré, referido ocasionalmente pelo termo arcaico praça de pret, ou simplesmente praça, era um militar pertencente à categoria inferior da hierarquia, como soldados ou cabos.

Os empregados de bares ou restaurantes, barbeiros e demais profissões remuneradas não podiam ser inscritos, de modo algum, como jogadores no ambiente da aristocracia da Liga da Primeira Divisão.

A primeira partida disputada pelo Vasco, na Série A da Primeira Divisão da Liga Metropolitana, foi contra o Andaraí, no campo do Botafogo, havendo empate em 1 a 1. Em 1923, a Guarda Civil era uma corporação de elite, a qual prestava serviços até ao Palácio do Catete. E na ponta-direita do Andaraí atuava um guarda civil conhecido como Tupi. O Vasco, no entanto, nada reclamou com relação ao resultado da partida.

Contudo, na reunião para aprovação das partidas, um dos membros do Conselho Divisional da Série B apontou Tupi como praça de pré. Em face da denúncia, foi aberto um inquérito na Liga Metropolitana que atestou a verdade. Tupi foi afastado pela entidade e o Vasco ganhou o outro ponto do empate.

No mesmo ano o Vasco sagrou-se campeão com 24 pontos e o Flamengo vice com 18, cabendo o último lugar ao Botafogo, que marcou apenas 4 pontos, e foi obrigado a jogar uma repescagem contra o Vila Isabel, vencedor da Série B. Saiu-se, entretanto, vencedor o Botafogo pela contagem de 3 a 1.

O time campeão do Vasco era composto por jogadores de origem muito modesta como Nélson da Conceição, oriundo do Engenho de Dentro, Albanito Nascimento (Leitão), procedente do Bangu, Domingos Passinio (Mingote), vindo do Pereira Passos, da Saúde, Claudionor Corrêa (Bolão), centroavante do Bangu, que no Vasco jogou de centro-médio, Artur, oriundo do Helênico, Nicolino, meia que veio do Andaraí, Pascoal Cinelli, ponta-esquerda do Rio de Janeiro FC, que no Vasco jogou na ponta-direita, Torterolli, vindo do Engenho de Dentro, e Arlindo Pacheco, o Lindinho, irmão de Sílvio Pacheco, jogador do Vila Isabel e do America, na ponta-esquerda e das Seleções Carioca e Brasileira. Arlindo, durante um jogo com a Seleção Paulista, no campo do Independência, chocou-se violentamente, na cabeça, com o meia Ítalo, saindo ambos desacordados do gramado. Ele deixou de jogar durante anos até que, em 1923, foi convidado por Antônio Campos para ingressar no Vasco, no qual atuou como centroavante, se tornando um dos maiores goleadores do time.


A partir da queda de produção dos chamados grandes clubes e a evolução dos pequenos, as agremiações aristocráticas pretenderam classificar de profissionais os jogadores dos chamados clubes modestos. Os considerados grandes foram derrotados na Assembléia Geral da Liga Metropolitana graças à habilidade política do representante do SC Mackenzie, Barbosa Júnior, funcionário da antiga Estrada de Ferro Central do Brasil, que provou estarem os chamados grandes fazendo uma campanha racista, pois os jogadores ameaçados de afastamento eram quase todos negros, assim como Tupi. A sindicância sobre a situação social dos jogadores dos pequenos clubes coube a Samuel de Oliveira, do Botafogo.

O fato é que o mal-estar gerou uma cisão no futebol carioca. Ficaram na Série A da Liga Metropolitana os seguintes clubes: Vasco, Andaraí, Ríver, Vila Isabel, Mackenzie, Carioca, Mangueira e Palmeiras de São Cristóvão. Os dissidentes, que formaram a Associação Metropolitana de Esportes Atléticos (AMEA), foram Flamengo, Fluminense, São Cristóvão, Botafogo, Bangu, America, Helênico e Sport Club Brasil.

Foi daí que surgiu a fama do Vasco da Gama em relação à luta contra o racismo. Na realidade, a luta era em favor dos clubes modestos poderem inscrever jogadores que trabalhassem em outros ramos de atividade para poder complementar o orçamento familiar.

O CRAQUE DO BRASIL EM 1991

por Luis Filipe Chateaubriand


O ano de 1991 via o surgimento do grande São Paulo de Telê Santana – um dos maiores São Paulo de todos os tempos, se não o maior.

Comandando o time, com a camisa 10, Raí, o irmão mais novo de Sócrates, bom de bola como o mano mais velho.

Raí chutava muito bem, especialmente de longa distância, seja com a bola rolando, seja com a bola parada – batia faltas e pênaltis de forma magistral.

Raí tinha leitura de jogo apurada, sabia o que fazer em campo a partir de como seu time jogava e como o adversário jogava, inteligência admirável.

Raí era líder, orientava os companheiros, dando-lhes aconselhamentos sobre posicionamento em campo e jogadas a executar.

Isso tudo estava latente em 1991, e o resultado foi o título de campeão brasileiro, conquistado pelo São Paulo.

Que teve dois artífices.

Telê Santana, fora de campo.

E Raí, dentro de campo.

E foi assim que Raí se tornou o craque do Brasil em 1991.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

DESCULPE, PREFIRO NÃO APARECER

por Idel Halfen


Com a confirmação da Copa América no Brasil, um forte movimento se colocou contra o evento tendo como principais alegações: a pandemia e a insegurança em relação a novas ondas de contaminação.

Discutir se deveria haver o evento ou não, poderia derivar para discussões políticas, as quais certamente embasadas por fake news de ambos os lados, ou pior, por comparações rasas com outras competições que estão ocorrendo no país, ignorando variáveis como planejamento e valores envolvidos.

Assim, preferimos não fugir do objeto do blog, que é discutir marketing e gestão, e analisar a decisão de alguns patrocinadores que optaram por não terem suas marcas na competição, sem que isso interfira nos valores contratados.

Trata-se de uma decisão que deve ter deixado felizes todos os gestores de marketing, ou melhor, todos os gestores que efetivamente sabem o que é marketing e não compreendem o patrocínio como uma mera iniciativa de exposição de sua marca. Ao perceberem que esse tipo de operação visa também a associação entre as marcas, os responsáveis pela Mastercard, Ambev e Diageo, entenderam que não seria benéfico estar junto a um evento tão discutido, ainda mais em uma época em que o mercado encara os consumidores como seres humanos plenos, com mente, coração e espírito.

Antes que acusem os gestores das citadas empresas de “comunistas”, como virou praxe entre os que defendem incondicionalmente o presidente da república, convém elucidar que corporações deste porte baseiam suas decisões em pesquisas e estudos, ou seja, muito provavelmente avaliaram o cenário em termos de repercussão nas redes sociais e concluíram que o dano à imagem seria maior do que o prejuízo de pagar por algo que não irão usufruir, no caso, a aparição nas peças da competição.


É importante mais uma vez frisar que, por mais que um gestor tenha posicionamento ou preferência política, sua posição executiva não permite que as mesmas influenciem suas tomadas de decisões.

Pelo lado dos patrocinados, o prejuízo, como já foi dito, não se dá no âmbito financeiro de curto prazo, porém, há que se considerar que a ausência de marcas tão fortes pode gerar uma reação em cadeia dos outros patrocinadores, além de enfraquecer o conceito do co-branding, onde a marca agrega valor por estar associada à outra, isto sem falar de uma eventual não renovação de patrocínio.

O lamentável disso tudo é ver o esporte sofrer as consequências da política, o que faz com que a opinião quanto à realização ou não da competição fique restrita ao que o seu político preferido apoia, ao invés de se analisar a viabilidade de se executar algo sem o devido planejamento.

Outra opção dos “especialistas em tudo” seria não emitir opinião definitiva sobre algo que não dominam

BETO PUPUNHA, UM BOLEIRO PARA CHAMAR DE SEU

por Antonio Meninéa


Hoje vamos falar sobre Pupunha. Mas não qualquer Pupunha (Árvore nativa da Amazônia), e sim de Roberto Azevedo da Gama, mais conhecido como “Beto Pupunha”. 

Filho de Parintins/AM, Beto nasceu e foi criado na terra dos bois Garantido e Caprichoso. Dessa ilha, onde até hoje o futebol é amador, saíram grandes boleiros para o futebol profissional brasileiro e até internacional.

Gerado em família de boleiros, foi o único a se profissionalizar, e olha que o tio dele, Nilo da Gama, foi fera e jogou contra e a favor de Mané Garrincha, em 1973.

Em Parintins, iniciou trajetória jogando no Futebol de Salão da Jumac e no Juvenil do Sul América.

De férias em Manaus, jogou no amador do Atlético Pipoca, do São José 1.

Como fazia muitos gols, foi convidado pelo amigo Marcelo, meia direita do Rio Negro, para um teste no Clube da Praça da Saudade, sendo aprovado pelo técnico Lula e o supervisor Carlos Souza.


No Campeonato Amazonense de Juniores, em 1995, marcou 8 gols. Com suas atuações, em 1996, um ano após sua chegada ao clube, já era forte candidato a uma vaga no time principal profissional

Aos 17 anos de idade, em 1996, se profissionalizou. A partir daí, se tornou um dos nomes mais respeitados do futebol Amazonense e Região Norte.

Em 1997, emprestado ao São Raimundo, chamou atenção do mestre Aderbal Lana. Nesse mesmo ano, fez parte do elenco Campeão Amazonense pelo Tufão da Colina. 

De volta ao Galo Carijó em 1998, foi Vice-Campeão Amazonense.

No ano de 2000, atuando pelo Libermorro, ajudou a quebrar a invencibilidade do poderoso São Raimundo em pleno estádio da Colina. Fazia 5 anos que não perdiam em casa.

Beto Pupunha ainda foi campeão roraimense pelo Rio Negro em 2000, e tricampeão pelo Atlético Roraima nos anos de 2001, 2002 e 2003.

Além dos títulos conquistados, jogou na Série C do Brasileiro e também na Copa do Brasil. 


E não parou por aí. Ao participar de uma peneira com mais de 80 atletas, consagrou-se como primeiro Parintinense a jogar no Japão, pelo Arte Takasaki. Sem dúvidas, sua mais rica experiência de vida profissional. 

Após encerrar carreira em Manaus, se tornou técnico de futebol e comanda a escolinha Show de Bola, em Parintins, revelando e encaminhando jovens talentos para os grandes clubes de Manaus.

E essa é a história de Beto Pupunha, um boleiro para chamar de seu!

MENOS, CLAUDINHO

por Zé Roberto Padilha


Você não sabe, menino, o tamanho do vazio que a camisa 10, e seus protagonistas, deixaram no imaginário da gente.

No auge do futebol-arte, nas décadas em que o mundo se colocava aos nossos pés, só tinha direito de vestir a camisa com o mesmo número de sua majestade quem era diferenciado.

Goleiros defendiam, zagueiros marcavam, o cabeça de área protegia, pontas abriam e os centroavantes definiam. Era sempre assim.

Mas quando a bola alcançava os pés do Zico, do Eduzinho, Falcão, Ademir da Guia, Roberto Rivelino, Tostão, até alcançar Ronaldinho Gaúcho, a magia surgia daquela vestimenta sagrada.

Tiravam da cartola uma cavadinha, um elástico, uma caneta, uma paradinha na cobrança do pênalti e até bicicletas. Eles garantiam as nossas gratificações porque atraiam às bilheterias milhares de torcedores.

Bons jogadores como eu, Mario Marques, Arthurzinho, Paulinho, até o Zinho, que éramos 11 ou 8, só tínhamos direito a colocar a 10 nas equipes que defenderíamos no final da carreira.

De repente, em meio à escassez, que possibilitou aos repatriados Diego, Hernandez e Nenê voltarem a vesti-la, quando desembarcaram de volta sonhando com a 8 ou 16, surge no Bragantino uma revelação.

E todos nós, as viúvas saudosas, viramos nosso olhar ansioso para vê-lo jogar. Contra o Fluminense, ajeitamos a poltrona, colocamos vinho na taça e nos preparamos para apreciar sua genialidade.

Na minha opinião, você merecia era uma coça. Se seu treinador fosse cascudo, não um inseguro Barbieri, você nem voltaria para o segundo tempo. Enquanto seus companheiros se matavam, você dava uma letra e errava. E mesmo não acertando nenhuma, dava outra letra e errava.

E aos 43 do segundo tempo, em meio a busca desesperada do Fluminense pelo empate, fez outra gracinha no meio campo, roubaram sua bola e igualaram a partida dentro de sua casa.

Menos, Claudinho, filigranas inúteis e mais jogadas talentosas eficientes à frente. E respeito pela entrega dos seus companheiros.

Palavras de quem torce para que você jogue tudo o que disseram. Palavras de quem jogou ao lado do Gerson, do Zico e do Rivelino e aprendeu de perto uma máxima:

A arte é tão simples quanto sublime. Mas a ela só terão acesso os humildes.