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PC E A ARTE DA PALAVRA

por Rubens Lemos


O melhor texto do jornalismo esportivo nacional é de Paulo Cézar Lima, o PC Caju, tricampeão do mundo. Sua pena segue o estilo polêmico, debochado e verdadeiro dos tempos em que perfilava zagueiros para driblá-los. PC, quando menino ainda, veio a Natal em 1970, ano em que nasci, depois da Copa do Mundo do México. Amistoso contra o ABC no velho Estádio Juvenal Lamartine.

PC Caju aplicou tanta finta no pobre lateral-direito Preta que a torcida queria agredi-lo no estacionamento da Avenida Hermes da Fonseca, que ficava interditada aos domingos para o povão chegar no teatrinho de arena da bola potiguar.

PC abusou que perdeu um pênalti, defendido pelo falecido baixinho Erivan, um dos principais goleiros da história do ABC. PC fez Preta cair de testa no chão ao tentar acertar-lhe um pontapé. PC riu e as arquibancadas ficaram furiosas.

Mas, hoje, maduro, depois de conseguir dar canetas e toques de curva no destino que apagou suas luzes para ele, durante longo período, contado em belo livro: Dei a Volta na Vida, PC brinda os viciados no bem escrever com palavras bem colocadas, certeiras iguais aos seus lançamentos de três-dedos para Jairzinho, no auge do Botafogo glorioso e não o lixo atual, da mesma lata onde está jogado o Vasco.

PC Caju tecla verdades em seu computador e a última delas é clara: a atual seleção brasileira não tem sintonia com a torcida. É o que eu procurava expressar e não conseguia.

O time de Tite é desconectado do povão. Do povão não, esse, coitado, está banido do esporte luxuoso de arenas reluzentes e pernas de pau decadentes. PC é da turma que fazia o país parar por conta de jogo do Brasil.

Viveu a Era Pelé, com Gerson, Rivelino, o citado Jairzinho, Tostão, Clodoaldo, Marinho Chagas, Dirceu Lopes, Nei Conceição, Ademir da Guia, Silva Batuta e Zanata e brilhou também na fase em que Zico assumia o cetro da bola das mãos (ou da canhota?) de Rivelino.

A ausência de PC foi fundamental para que a seleção brasileira ostentasse o título de “Campeã Moral” de 1978, invicta e em terceiro lugar, com um quarto-zagueiro de lateral-esquerdo (Edinho), um brutamontes (Chicão) em lugar de um nobre (Falcão) e ninguém da estirpe malandra de PC para temperar a partida nos momentos quentes, ele que havia sido fundamental nas Eliminatórias.

Todo redator, repórter, colunista, cronista, colaborador, metido a entender de futebol deveria usar PC como leitura obrigatória. O parágrafo dele é curto e esclarecedor, instigante, provocador.

O texto de PC é o próprio. Sincero e até antipático, problema do interlocutor ou do leitor. Como era transtorno para laterais, fossem da qualidade de Carlos Alberto Torres e Nelinho, fossem limitados como o humilde Preta do baile mais para o tripudiar do que para o empolgar aqui em Natal.

Experimente ler seus artigos e depois ligue a TV no SBT para assistir ao time de Tite. A Lucas Paquetá sendo guindado à referência de uma seleção que assombrava como um tigre e agora não mete medo em combinado de Trinidad e Tobago. Um time em que Neymar vai se esgotando, perdendo o gás, o tesão que nunca teve, a condição física de carregar outros dez marmanjos nas costas.

Jornalista – assim me ensinaram – é para transmitir tudo em linguagem simples. Os experts (os de TV por assinatura mais ainda), conjugam o Titês das linhas altas e baixas, da transição, do jogador de beirada (simplesmente o velho ponta-direita), da contenção e da assistência famigerada em lugar do velho, bom e natural passe. Esses caras não amarram os dedos de PC Caju. Se era uma maravilha vê-lo jogar, é uma delícia saborear suas palavras.

COPA AMÉRICA E EUROCOPA: O ABISMO ENTRE DUAS REALIDADES

por André Luiz Pereira Nunes


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A partir do momento em que a Conmebol decidiu unir o seu calendário ao da Uefa para que os torneios entre suas seleções fossem disputados ao mesmo tempo, as comparações obviamente passaram a ser inevitáveis. É certo que ninguém imaginaria que isso aconteceria justamente durante uma pandemia de dimensão mundial, mas ainda assim, fica muito claro que existe um abismo entre o futebol praticado na Europa e na América do Sul.

Enquanto a Eurocopa é tratada por torcedores, dirigentes e atletas como uma Mini Copa do Mundo, o torneio sul americano é visto apenas como um evento protocolar e obrigatório, sobretudo para os jogadores que preferiam estar de férias. O fato também da pandemia ainda estar em níveis alarmantes no continente e, em especial no Brasil, enterra qualquer crença de que o evento tenha alguma grande importância. Para os treinadores é apenas uma oportunidade para preparar seus elencos para o restante das Eliminatórias para a Copa do Mundo.

Em se tratando da Copa América, não há muitas surpresas. Mesmo sem empolgar, o Brasil passou sem maiores dificuldades por seus adversários. Já Uruguai e Paraguai decepcionaram ao capitularem, respectivamente, diante de Colômbia e Peru. Os argentinos, por seu turno, parecem vivenciar uma entressafra de atletas. Dependem tanto dos lampejos de Messi, como o Brasil precisa de Neymar.

No Velho Mundo as coisas transcorrem de forma bem diferente. A Itália provavelmente não apresentava um futebol tão envolvente há muito tempo. O seu tradicional e irritante defensivismo deu lugar a um padrão bem mais agressivo. A Inglaterra também voltou a figurar no rol das grandes seleções mundiais, relembrando a ótima fase de 1990. A Dinamarca volta a figurar como grande surpresa após participações pífias nos últimos eventos.

Porém, é importante ressaltar que alguns selecionados decepcionaram inteiramente. A Bélgica, primeira colocada no Ranking da Fifa, ficou pelo caminho mais uma vez. Seu padrão desempenhado por essa talentosa geração, nem de longe recorda o praticado pelo excelente plantel, capitaneado por Enzo Scifo, que disputou com grande êxito a Copa de 1986, no México.

Por sua vez, a Holanda, mais uma vez decepcionou torcedores e analistas ao ser despachada pela apenas regular República Tcheca. Portugal, apesar do talento indiscutível de Cristiano Ronaldo, precisa de muito mais para suplantar seus adversários e atingir o topo.

Todavia, quem ainda merece algum reconhecimento é a Suíça por ter conseguido eliminar de forma surpreendente, ainda que nos pênaltis, os franceses. Afinal, trata-se da seleção, não só vencedora da última Euro, como também da Copa do Mundo. Apesar desse surpreendente revés, permanece a sensação de que poderia ter chegado mais longe e, mesmo assim, ainda é forte postulante ao título mundial. A Espanha, embora distante de seu apogeu, também não deve ser desprezada.

Portanto, não há como comparar a qualidade dessas equipes com a desempenhada por Colômbia, Equador, Peru, Brasil, Uruguai, Paraguai ou Argentina.

Não é necessário ser nenhuma pitonisa, oráculo, ou mesmo muito entendido para prever que o vencedor do Mundial do Qatar, em 2022, pertencerá ao continente que hoje pratica o melhor futebol.

O CRAQUE DO ANO DE 1993

por Luis Filipe Chateaubriand


Em 1992, Edmundo fazia a sua primeira temporada como jogador de futebol profissional, jogando pelo Vasco da Gama.

Jogou excepcionalmente bem, e logo se transferiu, por uma pequena fortuna, para o Palmeiras.

Então, em 1993, vestindo a camisa do alviverde imponente, Edmundo jogou ainda mais, jogou de forma assombrosa.

Os jogos do Campeonato Paulista eram transmitidos pela TV Manchete, e Osmar Santos, o narrador, sempre escolhia o “animal” do jogo.

Quando o jogo transmitido era do Palmeiras, quase sempre o “animal” escolhido era Edmundo.

O narrador incorporou isso ao personagem e passou a chamá-lo de “Edmundo, o animal”.

No que foi apoiado pela torcida palmeirense, que repetia em coro que “au, au, au, Edmundo é animal!”.

Naquele ano, o Palmeiras foi campeão paulista, interrompendo uma fila de 17 anos, e, de quebra, foi campeão brasileiro.

O destaque?

O jovem Edmundo, o animal, que fez a diferença e foi, assim, o craque do ano.

Luis Filipe Chateaubriand é Museu da Pelada!

115 ANOS DE FUNDAÇÃO DO SPORTING CLUBE DE PORTUGAL

por Sergio Rodrigues de Frias e Adílio Jorge Marques, confrades do Grupo Carioca Leonino Amigos do Sporting


No dia em que todos nós comemoramos os 115 anos de fundação do nosso grande Clube, queremos expressar todo o orgulho que sentimos em sermos adeptos, sócios e fãs do Sporting Clube de Portugal, um Clube que tem na sua vocação o compromisso com o desenvolvimento e crescimento do esporte de forma ética, saudável e com muita dignidade desportiva.

Emblema de luz e glórias, leão dourado, rampante e corajoso desde a sua fundação em 1906! Leonino desbravador dos verdes campos da esperança e da alva paz, como alvas eram as intenções desde os seus fundadores em prol do bem para todos os povos.

Listras no escudo que nos remetem à camisola do Clube e às suas muitas conquistas esportivas. Eis, aí, o Sporting Clube de Portugal – palavras escritas por extenso no escudo a representar o povo de Camões e de Fernando Pessoa.

Nessa data especial queremos expressar a nossa gratidão por todos aqueles que de alguma forma impulsionaram a criação do Clube e os seus fundadores, dentre os quais destacamos: José Alfredo Holtreman Roquette (o jovem idealista José Alvalade), José Maria da Ponte e Horta Gavazzo, Alfredo Augusto das Neves Holtreman (o Visconde de Alvalade), Francisco Stromp, António Stromp, Francisco da Ponte e Horta Gavazzo. O nosso agradecimento também a todos os atletas, treinadores, presidentes, diretores, funcionários, sócios, núcleos e claques que ao longo da trajetória desses 115 anos dignificaram e honraram o altaneiro lema “Esforço, Dedicação, Devoção e Glória”, a relembrar o passado de glórias ao nível de quase todos os desportos, somente possíveis graças ao empenho de todos os que estiveram intimamente ligados com o Sporting durante os longos anos da sua existência. Exatamente como planejou José Alvalade: “Queremos que o Sporting seja um grande Clube, tão grande como os maiores da Europa”. E assim o fizeram ao longo dos anos.

Um Clube que possui verdadeiramente o espírito olímpico tendo na sua imensa galeria de troféus que estão no acervo do Museu Sporting, inúmeras conquistas nacionais e internacionais, dentre elas 39 Taças Europeias conquistadas em sete modalidades esportivas distintas, sendo: 1 no Futebol, 20 no Atletismo, 2 no Andebol, 9 no Hóquei em Patins, 2 no Futsal, 2 no Judô, 3 no Goalball.

Atualmente o Sporting mantém viva a chama de seu lema nos corações juvenis e podemos afirmar que “Enquanto houver um infante coração o Sporting será eterno”, pois eterna é a chama dos jovens que têm pela frente toda uma vida. E este é o caso, pois o Sporting Clube de Portugal traz consigo a bandeira dos novos tempos sem abrir mão da tradição lusitana. Clube sempre jovem em suas metas neste novo milênio!

Hoje, dia 1 de julho de 2021, o Grupo Carioca Leonino Amigos do Sporting parabeniza o Sporting Clube de Portugal pelos seus 115 anos de glórias, mais de um século, efeméride de gala para qualquer entidade mundial e desejamos novas grandes conquistas sociais, culturais e esportivas ao nosso amado Clube.

Viva o Sporting Clube de Portugal hoje, amanhã e eternamente! Saudações leoninas!

ATANÁSIO E CABO-FRIO, UMA DUPLA INFERNAL

por Mauricio Marzano


Princípios dos anos 60. O Santos, ou melhor, o Brasil tinha uma dupla de área da pesada, Pelé e Coutinho. O Meridional, ou melhor, a cidade de Lafaiete também tinha uma dupla igualmente pesada, Atanásio e Cabo-Frio. Só que para os lafaietenses e torcedores mais radicais, Atanásio e Cabo-Frio deixavam Pelé e Coutinho no chinelo. Eles eram muito, mas muito melhores, diziam em alto e bom som.

Soube da existência deles pelo entusiasmo do Tio Décio em visita a Belo Horizonte. São dois craques totais, dizia-nos ele, e vou levá-los para vê-los jogar amanhã contra o Sete de Setembro lá no Estádio da Colina de Lourdes. E naquele dia, lá fomos nós – tio Décio, o primo Chico Penna e eu – para vermos Atanásio e Cabo-Frio e acabamos vendo o Meridional ser derrotado pelo Sete de Setembro por 2 a 1, com fraquíssimas atuações da dupla infernal, assim apelidada pela Rádio Carijós de Lafaiete em suas transmissões esportivas. O desastre foi tão grande que culminou com Atanásio perdendo o pênalti que daria o empate para o Meridional e cair ajoelhado na grande área a gritar, desesperado, um chorado e sonoro “puta-que-o-pariu” que atravessou toda a Colina de Lourdes e ecoou por metade de Belo Horizonte. Neste jogo, definitivamente, Atanásio e Cabo-Frio não me pareceram os craques de ouro tão elogiados e descantados pelo Tio Décio. Isto tudo para alegria do primo Chico Penna, torcedor fanático do Guarany e inimigo jurado do Meridional.

Nunca mais soube dos dois craques. Mas os nomes eu não podia esquecer. Porque um nome tão estranho como Cabo-Frio? Diziam que ele tinha vindo daquela cidade a beira-mar para Lafaiete. Será? Quem o teria trazido? Se for verdade, deve ter levado umas duas semanas viajando não sei por que rotas para sair das dunas de Cabo Frio e chegar às montanhas de Lafaiete. Coisa de um quase-bandeirante. O nome, ou melhor, o apelido soava um pouco exótico. Mas não mais exótico do que Kafunga, Garrincha, Tostão, entre outros. 

Mas minha dificuldade maior era com o Atanásio. Jogador de futebol quando não tem um apelido imponente, tem que ter um nome adequado. Dario podia ser o Peito-de-Aço ou o rei persa. Leônidas podia ser o Diamante-Negro ou o general grego que preferia lutar à sombra. Mas Atanásio não. Atanásio não é e nem nunca foi nome de jogador de futebol, de rei ou de general. É nome de muitos dos primeiros padres da Igreja, de teólogos renomados, de bispos, patriarcas, santos, etc. Hoje com o Google é só digitar Atanásio e ver a quantidade de homens de Deus que vão aparecer, começando por Santo Atanásio de Alexandria, o homem que apresentou à cristandade o Credo de Nicéia. Embora Nelson Rodrigues, sempre o grande Nelson, tenha comparado Garrincha a São Francisco de Assis, quando de sua expulsão no jogo Brasil e Chile de 62, jogador de futebol, no calor da disputa, é tudo, menos um santo. Um Atanásio, qualquer um que fosse ele, no comando do ataque do Meridional ou de qualquer outro time, sempre me pareceu algo meio herético, meio sacrílego, quase blasfemo. Como um Atanásio, qualquer um, pode por a mão na cabeça, após errar uma jogada, como no caso do pênalti perdido que presenciei, e gritar um “puta-que-o-pariu” do fundo de sua alma? Ou após uma botinada de um beque adversário xingar o adversário com toda a ênfase futebolística chamando-o de um alto e clamoroso “filho-da-puta”. Atanásios são, segundo o Google, pessoas preocupadas em entender as nuances bíblicas, discutir a estrutura do Credo, especular sobre as naturezas de Jesus Cristo e as pessoas da Trindade Santa, conceituar heresias, definir ortodoxias, mas jamais ficar gritando palavrões em público, pois são antes de tudo homens santos e preocupados com a transcendência divina. Mas o Atanásio do Meridional, na sua luta dentro das quatro linhas do tapete verde, parecia querer desfazer esta fama dos bem-aventurados Atanásios que o precederam. 

Esta dúvida e o incômodo dela derivado, felizmente, acabaram. Leio no Facebook que alguém viu outro dia o Atanásio, já velhinho, muito compenetrado, assistindo a uma missa na Matriz de Nossa Senhora da Conceição. A mesma fonte atestou que ele estava rezando com o fervor superlativo e a fé inquebrantável normalmente associada aos Atanásios, a qualquer Atanásio, e suas orações vinham carregadas de fé, esperança e amor. A mesma fé e a mesma esperança que o então jovem Atanásio tinha sempre na vitória do Meridional. E o mesmo amor que tinha pela bola e pelo esporte ao qual deu muito de seu suor. 

Ou seja, depois de passar pelos gramados, de forma meio heterodoxa para um Atanásio, o nosso Atanásio voltou para a sua vocação natural: compreender a presença de Deus entre as gentes. E rogar por nós, pecadores, na presença divina tão familiar aos Atanásios, pedindo a compreensão dos Céus pelos nossos desvios nos gramados, nas arquibancadas e, principalmente, fora delas, nas ruas e na vida. Este sim, é o grande Atanásio da dupla com Cabo-Frio. E não é mais uma dupla infernal. É uma dupla celestial. Amém.