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A PELADA ORIGINAL

por André Felipe de Lima


O jornalista Paulo Varzea — antes mesmo de Tomás Mazzoni, o “Olimpicus” — identificara (ou especulara?) que o futebol no Brasil surgira antes de 1895, quando rolou oficialmente, e sob regras primevas, a primeira partida de futebol organizada por Charles Miller, o aniversariante do dia. Assim escreveu Varzea no jornal Gazeta Esportiva, em maio de 1942: “O futebol teria sido exibido na Argentina e no Brasil por volta de 1864, por marinheiros dos barcos mercantes e de guerra estrangeiros, particularmente ingleses. Na Argentina, porém, sua verdadeira prática pelos nacionais data de 1865, entre os sócios do B. Aires Cricket Club, sendo que no Uruguai apareceu por volta de 1880, entre os marinheiros, ali por Punta Carreta. Mas só passou a ser divulgado entre os orientais e argentinos depois que se divulgou nas escolas, por iniciativa de Watson Hutton, na Argentina, e Henry Castle, no Uruguai. No Brasil foi trazido também pelos marujos britânicos, que efetuaram as suas primeiras práticas nos capinzais desertos do litoral norte e sul do país, nos tempos coloniais, do fim do Império e da guerra do Paraguai”.

Varzea — como o cita Mazzoni no célebre “História do futebol no Brasil”, de 1950 — afirmara, com base em jornais da época, que em 1874 a praia da Glória, no Rio, abrigara uma empolgante pelada de marujos ingleses. Houve outra registrada em 1878, quando os marinheiros do navio Criméia se esbaldaram num capinzal entre as ruas Paissandu e a antiga Roso em frente ao antigo palácio em que morava a Princesa Isabel e hoje é conhecido como Palácio da Guanabara, “casa” dos governadores do estado. Pena os marinheiros terem levado o futebol de volta com eles no navio. Mas a alma do novo esporte bretão permanecera no local. Tanto é verdade que ali, naquele território, divisa entre os bairros do Flamengo e das Laranjeiras, brotaria futebol pela primeira vez em solo carioca poucos anos após a pelada dos marujos ingleses.


Entre 1875 e 76, segundo Varzea e Mazzoni, um tal “Mr. John” organizara uma pelada no mesmo local em que seria realizada a “pelada” de 1878. O britânico mobilizou vários funcionários (ingleses e brasileiros) das companhias de navegação inglesas, de bancos, docas, cabos submarinos e da The Leopoldina Railway Company, a ferropvia carioca.

Salomão Scliar e Marco Aurélio de Oliveira Ribeiro Cattani, dois pesquisadores do futebol brasileiro, lançaram, em 1968, e em quatro volumes, a obra a “História Ilustrada do Futebol Brasileiro”. Nela, eles narram que marujos ingleses e holandeses promoveram peladas com a população nativa. Isso em 1878. Não se sabe ao certo em que parte do litoral nordestino as tais peladas aconteceram.

Em São Paulo teria acontecido um pouco antes. Testemunhas oculares da história contaram ao Varzea que as primeiras peladas em território paulista ocorreram entre 1872 e 73 no Colégio S. Luiz, de Itu. Não teria sido propriamente, como descrevera Varzea, uma pelada como a dos marujos no Rio. Na verdade, um padre professor vivia chutando um balão contra o muro, igualmente ao que os jovens ingleses faziam no tradicional Eton College, na Inglaterra.

Varzea era um farejador de informações. Ótimo repórter. Um dos melhores cronistas eportivos de seu tempo. O cara descobriu também, e Mazzoni endossou o fato em sua obra, que houve outro indício de que o futebol já era praticado por aqui antes de 1894. O episódio foi registrado em 1882, em Jundiaí, quando um camarada conhecido como “Mr. Hugh” promoveu uma pelada entre brasileiros e ingleses, todos operários da antiga The São Paulo Railway Company, a ferrovia paulista.


Eis, portanto, fatos (ou seriam lendas peladeiras?) que marcaram a chegada do futebol Brasil. É possível que todas essas peladas, inclusive ocorridas em estados do Norte, do Nordeste e do Sul, tenham realmente acontecido. Mas a bola rolou oficialmente, com base nas regras trazidas da Inglaterra por Miller, em 1895. Mas, parafraseando o “profeta” Nelson Rodrigues, “estava escrito há mil anos” que o futebol brasileiro nasceria no cabalístico 1895. E isso graças ao Miller.

Segundo filho do escocês John Miller, engenheiro transferido para o Brasil para a São Paulo Railway Company, e da brasileira descendente de ingleses Carlota Alexandra Fox, e sócio do São Paulo Athletic Club [SPAC]), Charles Miller foi estudar, em 1884, na Bannister Court School, em Southampton, na Inglaterra. Esse menino tinha nove anos e chamava-se Charles William Miller. O velho John Miller enviou para terra da rainha o garoto, o irmão mais velho dele, John, e o primo de ambos, William Fox Rule. Os três desembarcaram em Southampton no dia 29 de julho.

Charles chegou a defender o selecionado de seu condado, o Hampshire. Disputou jogos contra o Corinthians F.C., que mais tarde viria ao Brasil e inspiraria jovens para a criação da versão paulistana do time inglês, e defendeu o St.Mary’s, que mudaria de nome, tempos depois, para Southampton F.C.. Aos 17 anos, destacava-se na escola, mas com a bola e com o críquete. Chegou a enfrentar o time do Exército da Divisão de Aldershot. Perdeu o jogo [3 a 1], mas foi o autor do gol do St. Mary’s.


Charles Miller com a bola

Na temporada de 1893-94, Charles Miller disputou 34 jogos pela Banister School, marcando 51 gols, com a média de 1,59. Na edição de Natal da revista da escola em que estudava, foi publicado o seguinte comentário: “Charles W. Miller é o nosso melhor atacante. Seu drible é como uma fagulha e seu chute, devastador. Poderia ser mais esforçado, mas, mesmo assim, trata-se de um goleador incorrigível”. Sempre atuando como left-winger, ou simplesmente ponta-esquerda.

Pelo St. Mary’s, Charles disputou 13 partidas e fez três gols, pelo Condado de Hampshire marcou o mesmo número de gols só que em seis partidas.
Retornou ao Brasil em 18 de fevereiro de 1894, com um par de bolas de capão e um livro de regras do association football, que conheceu por aquelas bandas frias, no colégio em que estudava.

A rapaziada, a maioria inglesa, da The Gaz Co. (fornecedora de gás da capital), da São Paulo Railway Company [SPR] e do London Bank, organizaram uma peleja em 14 de abril de 1895 na Várzea do Gasômetro, na Chácara Dulley, situada entre os bairros da Luz e do Bom Retiro. O jogo colocou frente a frente o time da SPR e o da The Gaz Co. A primeira partida (em tese) oficial disputada no Brasil terminou 4 a 2 para a SPR, com dois gols de Charles Miller. O SPAC foi depois o primeiro tricampeão da Liga Paulista de Futebol, fundada em 19 de dezembro de 1901, vencendo os certames de 1902, 03 e 04. Charles Miller foi artilheiro em 1902, com 10 gols, e em 1904, com nove.

O alemão Hans Nobiling, que tinha uma enorme paixão pelo futebol, foi um grande incentivador do esporte bretão, ao lado de Charles Miller. Nobiling chegou de Hamburgo, no dia 13 de fevereiro de 1896. Trouxe na maleta uma bola e os estatutos da Deutschland S. V..


Em 1898, os estudantes do Mackenzie College fundaram a Associação Atlética Mackenzie College e, no ano seguinte, a colônia alemã, com Nobiling a frente, fundou o Germânia [atual E.C.Pinheiros].

Charles Miller e Oscar Cox, que havia voltado da Suíça para o Rio de Janeiro, organizaram os primeiros jogos entre Rio e São Paulo. Em 1º de agosto de 1901, no campo do Rio Cricket, brasileiros enfrentaram membros da colônia inglesa. Apenas 15 pessoas presenciaram a partida.

Cox trocava cartas com Renê Vanorden, um dos fundadores do Sport Club Internacional de São Paulo, Charles Miller e Antonio Casemiro da Costa, este fundador e primeiro presidente da Liga Paulista de Foot-Ball, no dia 14 de dezembro de 1901, na Rua São Bento, nº 3, sala 1, no centro paulistano. Cox queria agendar o primeiro jogo “pra valer” entre cariocas e paulistas, sem a escalação de ingleses. E o primeiro confronto aconteceu em 19 de outubro de 1901, no campo do São Paulo Athletic Club.

Engana-se, contudo, quem pensa que os primeiros jogadores de futebol eram tratados com regalias. Cox estava sem dinheiro para levar a moçada do Rio para o “match” em São Paulo. Pediu à companhia do trem cortesia para as passagens de todos ou, no mínimo, um desconto. Recebeu um sonoro não para os dois pedidos e teve de ouvir do representante da Estrada de Ferro que o trem não era local para passeio de “malandros” e “desocupados”.

Mas Cox conseguiu — não se sabe como — embarcar os jovens pioneiros da bola.


O primeiro e o segundo jogo terminaram empatados, em 1 a 1 e 2 a 2, respectivamente. Logo após o “match” derradeiro, os paulistas ofereceram um banquete na Rotisserie Sport. Oscar Cox e Charles Miller falaram a todos os jogadores sobre a importância da alvorada do futebol no Brasil.

A imprensa acompanhou a jornada dos altivos jovens futebolistas.

O Jornal do Brasil, de 21 de outubro, anunciava que “O match de foot-ball ficou empatado novamente, sem que nenhum dos lados fizesse ponto algum” e o jornal O Comercio, do dia 17, que “No sábado à tarde, 19, e no domingo de manhã, se realizarão dois matchs nesta cidade, entre rapazes dos clubes daqui e os do Rio, que para esse fim vieram a esta capital especialmente […] Esta é a primeira vez no Brasil que se joga um match deste interessante sport entre dois Estados, e se acrescentarmos que são brasileiros os rapazes que, na maior parte, vem do Rio disputar o campeonato Brasil-1901, há um justo motivo de nos regozijarmos, porque finalmente a nossa gente começa a se dedicar com afinco a estes utilíssimos exercícios, cujos benefícios para nossa futura geração, se hão de patentear na sua robusta physica, condição essencial em todos os ramos do labor humano. Aos nossos leitores, que aconselhamos não perderem um minuto deste interessante encontro, prometemos todos os pormenores que se possa guiar e conduzir nessa curiosa prova de foot Ball.”

Miller amava o futebol, mas era, antes de tudo, um exemplo de desportista. Na Inglaterra, jogou críquete, rúgbi, tênis e futebol. Foi fundador da Associação Paulista de Tênis. Quando abandonou a carreira futebolística, tornou-se árbitro e dirigente esportivo.

O inventor da “charles” ou “chaleira”, jogada em que o jogador passa bola por trás do pé, tocando-a de calcanhar, nasceu no dia 24 de novembro de 1874, no bairro paulistano do Brás, na rua Monsenhor Andrade. Nos dias que antecederam o jogo entre cariocas e paulistanos, em 1901, procurou insistentemente os jornais de São Paulo para que anunciassem o marco esportivo que aquela partida representaria para o País. Ouviu o seguinte da maioria dos redatores: “Não nos interessa semelhante assunto!”. À Gazeta Esportiva de 1944, ele comentou: “E hoje em dia como é diferente…”

Se há um “pai” da bola no futebol brasileiro, este é Charles Miller.

CHAMPIONS LIGAY

A equipe do Museu da Pelada marcou presença no animado sorteio dos grupos da 1ª edição da Champions Ligay, o inédito Campeonato Brasileiro de Futebol Gay, que acontece amanhã, no Complexo Esportivo Rio Sport Center, na Barra da Tijuca. Quem nos ajudou a contar essa história foi Bárvarah Pah, a mestre de cerimônia e nossa repórter por um dia.


Tudo começou em maio deste ano com uma pelada no Só 5 – Futebol Sem Parar, em Botafogo. A cada semana, o grupo dobrava e o organizador André Machado, do BeesCats, viu que era a hora de promover um torneio.

– O nosso grupo é bem heterogêneo e o mais importante é o respeito que temos um pelo outro. Tem um pessoal que não gosta de jogar, mas está sempre aqui assistindo. É proibido brigar – explicou o “capitão” André Machado. 

Com o intuito de quebrar preconceitos e mostrar que não há distinção para a prática do esporte mais popular do Brasil, a competição vai das 13h às 19h e vai reunir oito times de diferentes cidades: Beescats e Alligaytors (RJ), Futeboys e Unicorns (SP), Bharbixas (BH), Bravus (DF), Magia (RS) e Sereyos (SC). A expectativa é que 600 pessoas compareçam ao torneio e assistam ao campeonato.


Vale destacar que depois das partidas haverá uma premiação e os organizadores vão promover uma grande festa, a partir das 20h, com direito a show do grupo Candybloco, praça de alimentação, pista de dança, performances musicais de drag queens, DJs, entre outras atrações.

O ingresso para a festa de encerramento custa R$ 30,00 e deve ser adquirido pelo site https://goo.gl/tV1NVM ou pelo telefone e Whatsapp (21) 99801-2211. 

– Apesar de ser um campeonato de futebol envolvendo times gays, o evento é para todos, sem distinção! – ressaltou André Machado.

SERVIÇO

Champions LiGay – 1ª Edição

Quando: 25 de novembro de 2017


Horário: Campeonato das 13h às 19h. Festa das 19h à 1h

Onde: Rio Sport – Av. Ayrton Senna, 2541 – Barra da Tijuca, Rio de Janeiro

Ingressos: Gratuita entrada para o campeonato das 12 hs às 19hs. 
Festa de encerramento: a partir das 20 hs, valor inicial de R$30,00 (1º lote). R$40,00 (2º lote) e R$50,00 (no dia)

Redes sociais: @ligaybr e https://www.facebook.com/events/114852155891744/?ti=cl

 

GEOVANI E ADÍLIO

por Rubens Lemos


Quando o tema é meio-campo, nem pensar em meio-termo. Os retranqueiros do Brasil assassinaram o sarau literário de um time de futebol. A estrada por onde enchemos os olhos do mundo com luminosos craques e arquitetos, planejadores e cérebros de uma partida de futebol.

Me causa tanto desânimo o futebol patropi que voltei ao redemoinho dos anos 1980. Da minha década. Do meu tempo. Do brilho dos jogos a cada trama de categoria e talento criativo. Fixei minha saudade em dois exemplares preciosos do dom de fazer feliz um amante da arte sepultada: Geovani, camisa 8 do Vasco, Adílio, camisa 8 do Flamengo.

Geovani e Adílio nunca disputaram Copas do Mundo. São dois injustiçados incríveis. Geovani poderia ter ido em 1986 e em seu lugar jogou Alemão. Geovani seria o titular mais aclamado em 1990, na insossa equipe de Sebastião Lazaroni e não viajou para a Itália. Alemão novamente, com Tita aos pedaços na reserva, foram convocados.


Adílio surgiu com a morte de outro solista, Geraldo Assobiador, de choque anafilático em operação para retirada de amígdalas. Adílio, juvenil nascido na Cruzada São Sebastião, conjunto de apartamentos para pobres, criado por Dom Hélder Câmara em plena área nobre do Rio de Janeiro, foi o companheiro perfeito de Zico.

Adílio de Oliveira Gonçalves era o típico carioca de morro. Negro, pernas arqueadas, andar gingado, malabarista com a bola. Criava no meio-campo e, se o treinador quisesse, driblava até a sombra de Nelson Rodrigues, deslocado para a ponta-esquerda. Teria vaga em 1978, seguiram Chicão e Batista, em 1982, na vaga de Renato Pé-Murcho, do São Paulo. Adílio jogou uma só partida pela seleção brasileira, em março de 1982 e foi excepcional diante de 150.289 pagantes.

Deu o passe medido para Júnior fazer o gol da vitória de 1×0 sobre a Alemanha Ocidental. É ela sim, a Alemanha que hoje põe na roda os pernas-de-pau de camisa amarela. Recebeu nota 10 da imprensa e Telê Santana o preteriu. Adílio também tinha vaga em 1986, Copa do Mundo em que foram passear Valdo e o falecido Edivaldo.


Geovani ganhou o Mundial de Juniores de 1983 pela seleção brasileira sub-20. Foi artilheiro e melhor jogador. Nasceu no tempo errado. Deveria ter surgido antes. A síndrome dos brucutus se alastrava e o seu estilo elegante, cadenciado, imperial na armação de jogadas era considerado lento e em desuso.

Geovani foi o jogador que conquistou o maior número de títulos cariocas pelo Vasco juntamente com Roberto Dinamite: Foram cinco, todos vencendo ao Flamengo. Geovani foi o melhor jogador das Olimpíadas de Seul em 1988. Tomou um cartão amarelo na semifinal contra a Alemanha (coincidência lamentável) e o Brasil perdeu a final contra a URSS. Neto ocupou o seu lugar e nada fez.

O capixaba Geovani foi o melhor jogador da América do Sul em 1988 e em 1989, venceu a Copa América pela seleção de Lazaroni, já na reserva, vítima do esquema de cinco zagueiros e menos um inteligente no meio e sobrou da lista porque Lazaroni tinha um compromisso de camaradagem com o seu “compadre” Tita.


Nos jogos entre Vasco e Flamengo na década de 1980, Geovani e Adílio coadjuvavam, ainda que tão brilhantes quanto às estrelas. A Geovani, Romário deve muitos dos seus gols, recebendo livre na área lançamentos de 40 metros, fita métrica na chuteira do Pequeno Príncipe, assim batizado o regente cruzmaltino.

Adílio destruía adversários quando Zico era anulado por três marcadores. Até dois ele resolvia fácil, fácil. Adílio, tendo mais atrás Andrade, ritmava o sensacional Flamengo campeão da Libertadores e do Mundial Interclubes de 1981.

Geovani e Adílio se respeitavam. Geovani, embora mais novo, aparentava a maturidade de um Gerson, mais toque e passes longos do que rapidez. Raciocínio genial na antevisão dos lances. Adílio, manhoso, balançava o corpo e se sobrepunha a qualquer marcador, desnorteado com tanta beleza afro-carioca.

Geovani e Adílio, observando emocionado o velho jogo – tenho muitos no acervo para me encantar mais adiante , pouco se encontravam, nunca trombavam um no outro. Eram clássicos, sutis, desconcertantes. Eles pensavam, traziam do ventre de suas mães, a intelectualidade boleira que desapareceu para sempre.

Geovani e Adílio jogavam num tempo de sábios: Havia Sócrates, Pita, Zenon, Delei, Silas, Mário Sérgio em fase vinho puro, Raí começando. Sobravam virtudes.

Lamentáveis do baixo nível atual, naquele tempo, com muito esforço, disputariam a quarta divisão de Ariquemes em Rondônia. Meninos de hoje, se vocês tivessem visto Geovani e Adílio, falar em Renato Augusto, Lucas Lima, seria blasfêmia. Penso em Geovani e Adílio. Com saudade e revanche.

NANÃ É ZAGUEIRÃO E ANTI-HERÓI É O DIABO!

por Marcelo Mendez


A várzea da vez em Mauá…

Para mim a ida até essa cidade sempre tem um charme, um elã de algo muito especial que me acomete quando saio da redação do jornal rumo aos bons terrões de lá. Uma sensação muito boa, gostosa, me sinto muito bem.

Da janela do carro vejo seus muitos bairros, suas pessoas, sua peculiar alegria que acomete a cidade nos domingos pela manhã. Fecho os olhos, sinto o vento quente da manhã de verão de encontro a meu rosto, penso no Mississipi; O verão de lá do sul…

Com um milhão de blues cantados por Johnny Shines, encho meu coração de poesia para mais um relato que não há como ser menos épico. Não se tem uma verdade inexorável, intrínseca e inconteste para tal. São várias as formas de se ver a coisa, mas não sei. Para mim, Mauá é muito de verdade, muito intensa, muito autêntica.

Trata-se de uma cidade que se assume como tal. Popular, alegre, bem resolvida com o que há de mais prazeroso, eu diria que Mauá é a cidade hedonista da região. A Cidade que melhor se diverte. Sua várzea não poderia ser diferente.

Espalhados em varias divisões, seus times são todos formados por comunidades comprometidas e torcedores apaixonados. Em um mundo que muda a cada minuto, com as exigências do futebol elitizado batendo na porta da várzea, pode-se dizer que Mauá resiste aos profissionais e o espírito da velha tradição do futebol amador se mantém em suas canchas. Domingo último, pela final da Copa Lourencini, tive contato com um desses que sem dúvida, personifica esse espírito varzeano.

Falo de Nanã, zagueiro do Hélida Mauá.

Em uma bola que o time do Santa Rosa atacava com seu camisa 10, o craque Camisinha, tivemos o embate. Camisinha vinha com toda a sanha de pernas e requebrados pra cima do zagueiro. Este por sua vez, não piscava o olho, mantinha-se atento a tudo e tal e qual o “Homem que Matou o Facínora” do filme de John Ford, esperou o momento certo para dar o bote; Preciso, firme, na bola.

Em outro lance, o atacante veio pra dividir com tudo e Nanã, deu-lhe uma escorada no ombro mandando longe de sua área qualquer tipo de problema que o 9 adversário causasse. Olhei para ele.

Pouco riso, fala nenhuma e ar contrito. Mas esse negócio de “Contrito” para a várzea num serve. Aqui o nome é cara feia, mesmo! Nanã é o zagueirão cara de mal típico. Não fica de risinho, não gosta de gracinha, não perde tempo, não inventa moda, não perde bola para atacante, nem tempo.

Zagueiro de várzea num é dado a frescuradas. Chega quebrando mesmo. E tem que chegar…

Diria um outro que o visse que, “não se trata de um zagueiro clássico”. Eu digo que se trata de um zagueiro digno. Um homem honesto e verdadeiro, que, sabedor de seu papel de anti herói, o faz com uma dignidade comovente. Emocionante vê-lo como o que para muitos seria um vilão. Não, Nanã é muito mais que isso.

Sabedor da responsabilidade que carrega no bico de suas chuteiras cor de laranja, o zagueiro não foge as suas origens, as suas crenças, a sua gente. Com a camisa do Hélida, o zagueiro defende os amores todos de uma comunidade que luta para viver, que aguenta a dureza do dia a dia e que precisa ao menos aos domingos pela manhã, de um réquiem de paz e alegria.

Defendendo a meta do Hélida, Nanã defende o sonho dessa gente toda e eles lhe são muito gratos por isso. Ao término do match, o Santa Rosa venceu o Hélida, mas Nanã não perdeu.

Saiu de campo vitorioso, porque sua existência enquanto zagueiro varzeano é por si só, grandiosa.

Nanã, o Grande!

DE OLHO NA TELA


O CINEFOOT-FESTIVAL DE CINEMA DE FUTEBOL dá o pontapé inicial da sua oitava edição no Rio de Janeiro apresentando uma programação de 42 filmes, com entrada franca em quatro salas, entre os dias 23 de novembro e 3 de dezembro.

São 17 filmes brasileiros e 22 internacionais oriundos da França, Grécia, Rússia, Islândia, Itália, México, Argentina, Inglaterra, Uruguai, Equador e Alemanha; além de três co-produções: Brasil/Inglaterra, Alemanha/Irã e Líbano/USA.

Em 2017, além das tradicionais mostras competitivas de curtas e longas-metragens que ocorrem no Espaço Itaú de Cinema (Praia de Botafogo), o CINEFOOT chega pela primeira vez em Niterói, no Cine Arte UFF.

O CCBB-Centro Cultural Banco do Brasil recebe a nova mostra especial criada pela organização do CINEFOOT batizada de “GERALDINOS & ARQUIBALDOS“ e a já consagrada MOSTRA DENTE DE LEITE, voltada para o público infantojuvenil.

O CCJF-Centro Cultural Justiça Federal apresenta a “PRORROGAÇÃO“ do CINEFOOT, de 30/11 a 3/12.

AS MOSTRAS COMPETITIVAS DE CURTAS E LONGAS-METRAGENS.

Local: Espaço Itaú de Cinema (Praia de Botafogo).

De: 23 a 28 de Novembro

Para a MOSTRA COMPETITIVA DE LONGAS-METRAGENS, o CINEFOOT reúne sete filmes, seis deles inéditos no Brasil.

São eles:

FORA DE CAMPO, Itália, Dir. Collettivo MELKANAA, DOC.

ALEX CAMERA 10 – TURQUIA AO BRASIL – DESPEDIDA DO FUTEBOL, Brasil, Dir. Caue Serur, DOC.

EL ZURDO,  A VINGANÇA DO IGNORADO, Argentina, Dir. Roberto Cox, DOC.

CAMPINHO, Rússia, Dir. Eduard Bordukov, FIC.

YOU’LL NEVER WALK ALONE, Alemanha, Dir. André Schäfer, DOC.

LISTRAS PRETAS E BRANCAS: A HISTÓRIA DA JUVENTUS, Itália, Dir. Marco La Villa, Mauro La Villa, DOC.


1976-O ANO DA INVASÃO CORINTHIANA, Brasil, Dir. Ricardo Aidar e Alexandre Boechat, DOC.

O CINEFOOT premiará o melhor filme de longa-metragem exclusivamente através do voto popular.

Para a MOSTRA COMPETITIVA DE CURTAS-METRAGENS, o CINEFOOT selecionou 13 filmes, sendo 12 inéditos no Brasil.

São eles:

PENALTY, Itália, Dir. Aldo Iuliano, FIC.

QUE NEM MEU PAI, Brasil, Dir. Pedro Murad, DOC.

BRAZUCA, Grécia, Dir. Faidon Gkretsikos, FIC.

LÍBANO GANHA A COPA DO MUNDO, Líbano/USA, Dir. Tony ElKhoury, Anthony Lappé, DOC.

INTERVALO, França, Dir. Arnaud Pelca, FIC.

O ROUPEIRO, Equador, Dir. Andres Cornejo, DOC.

MANN OF THE MATCH, Brasil/Inglaterra, Dir. Karin Duarte, DOC.

DOMINGO, México, Dir. Raúl Lopez Echeverría, FIC.

SATURDAY, Inglaterra, Dir. Mike Forshaw, FIC.

MARACANAZO, Argentina, Dir. Alejandro Zambianchi, FIC.

TEERÃ DERBY, Alemanha/Irã, Dir. Simon Ostermann, DOC.

BONIEK & PLATINI, França, Dir. Jérémie Laurent, FIC.

BOCA DE FOGO, Brasil, Dir. Luciano Pérez Fernández, DOC.

O CINEFOOT premiará o melhor filme de curta-metragem exclusivamente através do voto popular.

CINEFOOT EM NITERÓI / ESTREIA NA CIDADE

Local: Cine Arte UFF

De: 24 e 29 de Novembro

 O CINE ARTE UFF recebe o CINEFOOT na sua edição inaugural em Niterói, contribuindo para a ampliação do leque de admiradores do cinema de futebol.

O CINE ARTE UFF é o espaço ideal para a bola rolar, desfilando produções brasileiras e internacionais oriundas da Alemanha, Itália, Inglaterra, Espanha e Uruguai. Um time com 11 filmes de diversos formatos, entre curtas e longas-metragens documentais e ficcionais.

Niterói possui tradição nas cenas futebolística e cinematográfica, sendo palco de momentos marcantes na história. A união destas artes centenárias em torno de um festival de cinema singular e irreverente, gera um ambiente propício para o fortalecimento da identidade e promoção dos valores mais preciosos do futebol e do cinema na cidade.

PARTIDA INTERNACIONAL, Alemanha, Dir. Nadine Schrader, Sven Schrader, FIC.

DEMOCRACIA EM PRETO E BRANCO, Brasil, Dir. Pedro Asbeg, DOC.

DOIS PÉS ESQUERDOS, Itália, Dir. Isabella Salvetti, FIC.

O PRÓXIMO GOL LEVA, Inglaterra, Dir. Mike Brett, Steve Jamison, DOC.

PORQUE HÁ COISAS QUE NUNCA SÃO ESQUECIDAS, Itália, Dir. Lucas Figueroa, DOC.

MARACANÃ, Uruguai, Dir. Sebastián Bednarik e Andrés Varela, DOC.

A CULPA É DO NEYMAR, Brasil, Dir. João Ademir, FIC.

JOÃO SALDANHA, Brasil, Dir. André Iki Siqueira e Beto Macedo, DOC.

BARBA, CABELO & BIGODE, Brasil, Dir. Lucio Branco, DOC.

BOCA DE FOGO, Brasil, Dir. Luciano Pérez Fernández, DOC.


GERALDINOS, Brasil, Dir. Pedro Asbeg, Renato Martins, DOC.

A MOSTRA ESPECIAL “GERALDINOS & ARQUIBALDOS“

Local: CCBB-Centro Cultural Banco do Brasil

De: 24 a 27 de Novembro

Foram selecionados sete filmes que envolvem na sua narrativa identidade, memória e direitos humanos no futebol.

São eles:

PENALTY, Itália, Dir. Aldo Iuliano, FIC. (tema central: refugiados)

FOME DE BOLA, Brasil, Dir. Sidney Garambone, DOC. (tema central: refugiados)

A COPA DOS REFUGIADOS, Brasil, Dir. Luciano Pérez Fernández, DOC. (tema central: refugiados)

SEGUNDA PELE FUTEBOL CLUBE, Brasil, Dir. Filipe Mostaro, DOC. (tema central: identidade/colecionadores de camisas)

BONIEK & PLATINI, França, Dir. Jérémie Laurent, FIC. (tema central: política/democracia)

LÍBANO GANHA A COPA DO MUNDO, Líbano/USA, Dir. Tony ElKhoury, Anthony Lappé, DOC. (tema central: política/conflitos internos)

MAIS TRISTE QUE CHUVA NUM RECREIO DE COLÉGIO, Brasil, Dir. Lobo Mauro, DOC. (tema central: política/democracia)

A MOSTRA ESPECIAL “DENTE DE LEITE“

Local: CCBB-Centro Cultural Banco do Brasil

De: 24 e 27 de Novembro

Realizada pelo oitavo ano consecutivo, a MOSTRA DENTE DE LEITE busca contribuir para o processo de formação de especatdores, apresentando uma rica e variada seleção de curtas-metragens futebolísticos.

A RUA É PÚBLICA, Brasil, Dir. Anderson Lima, FIC.

O PRIMEIRO JOÃO, Brasil, Dir. André Castelão, ANIMA.

GAÚCHOS CANARINHOS, Brasil, Dir. Renê Goya Filho, DOC.

A CULPA É DO NEYMAR, Brasil, Dir. João Ademir, FIC.

TAPETE VERDE, Brasil, Dir. Angelo Martin, DOC.

DOIS PÉS ESQUERDOS, Itália, Dir. Isabella Salvetti, FIC.

A MOSTRA ESPECIAL “PRORROGAÇÃO“

Local: CCJF-Centro Cultural Justiça Federal

De: 30 de Novembro a 3 de Dezembro

Tradicionalmente realizada logo após o encerramento das competições do CINEFOOT, a MOSTRA PRORROGAÇÃO oferece a oportunidade de reprisar alguns filmes, oferecendo uma chance extra para o público.

EL ZURDO,  A VINGANÇA DO IGNORADO, Argentina, Dir. Roberto Cox, DOC.

O PRÓXIMO GOL LEVA, Inglaterra, Dir. Mike Brett, Steve Jamison, DOC.

1976-O ANO DA INVASÃO CORINTHIANA, Brasil, Dir. Ricardo Aidar e Alexandre Boechat, DOC.

DOMINGO, México, Dir. Raúl Lopez Echeverría, FIC.

PENALTY, Itália, Dir. Aldo Iuliano, FIC.

O ROUPEIRO, Equador, Dir. Andres Cornejo, DOC.

CINEFOOT / RIO DE JANEIRO / SESSÃO ESPECIAL DE ABERTURA:

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA

23/11, QUINTA-FEIRA, ÀS 20h30, ENTRADA FRANCA (Sujeita à Lotação da Sala)


A sessão especial de abertura do CINEFOOT no Rio de Janeiro, contará com a première no Brasil do documentário DENTRO DE UM VULCÃO – A ASCENSÃO DO FUTEBOL ISLANDÊS, Direção de Saevar Gudmundsson.

Esta é a incrível história da geração dourada do futebol da Islândia. Uma visão pessoal de uma equipe que fez o mundo virar o olhar em sua direção, quando se tornou o menor país do mundo a alcançar a fase final da EuroCopa.

O Diretor, Saevar Gudmunsson, teve acesso total à equipe e revela a intimidade de um grupo de jovens que cresceu ouvindo que sua paixão, o futebol, nunca alcançaria dias de glória no seu país. E tudo transbordou para as arquibancadas, onde o grito viking dos torcedores marcou a competição.

CINEFOOT / RIO DE JANEIRO / SESSÃO ESPECIAL DE HOMENAGEM: JOÃO SALDANHA.

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA

25/11, SÁBADO, ÀS 21h, ENTRADA FRANCA (Sujeita à Lotação da Sala)

A homenagem central do 8˚CINEFOOT é voltada para o centenário de João Saldanha.

Na sessão das 21h do dia 25/11, será exibido o documentário JOÃO SALDANHA, de André Iki Siqueira e Beto Macedo, que reconstrói a história do jogador, técnico, cronista, imprevisível, polêmico e irreverente João Saldanha (1917-1990), que ficou conhecido como o comentarista que o Brasil inteiro consagrou. O longa traz imagens inéditas da época de ouro do futebol brasileiro, todas registradas em 35mm. São cenas que vão desde um Maracanã enlouquecido em preto-e-branco em 1957 até os preparativos da inesquecível seleção de 70. Curiosidades e casos divertidos da vida do comentarista são revelado através de depoimentos da família Saldanha, de ex-jogadores de futebol, de jornalistas esportivos e de amigos.

Para a homenagem, o CINEFOOT recebe familares e amigos de João Saldanha, além do Co-Diretor do filme, Iki Siqueira.


CINEFOOT / RIO DE JANEIRO / SESSÃO ESPECIAL DE ENCERRAMENTO E PREMIAÇÃO:

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA

28/11, TERÇA-FEIRA, ÀS 20h30, ENTRADA FRANCA

O programa da sessão de encerramento e premiação do CINEFOOT no Rio de Janeiro, apresenta première no Brasil do filme PERGUNTE QUEM ERA FALCÃO, Direção de David Rossi.

10 de agosto de 1980. O dia que muda a história de AS Roma. O dia em que Paulo Roberto Falcão vai para Roma. As Copas italianas, o título. Tudo começa com ele, mudando a mentalidade da AS Roma que começa a pensar grande. Esta é a história do oitavo Rei de Roma, uma viagem de ida e volta da Itália ao Brasil para explicar “Quem era Falcao”.

Nesta sessão está programada a realização da segunda edição do “REDAÇÃO AM NO CINEFOOT“, uma divertida premiação da melhor narração do quadro REDAÇÃO AM do programa REDAÇÃO SPORTV apontada pelo público presente no cinema.

Serão entregues as Taças de Melhor Curta e Melhor Longa do 8˚CINEFOOT, e o Troféu João Saldanha, destinado ao filme que melhor expressar as facetas humanas, democráticas e libertárias do futebol.

O CINEFOOT mantém parceria com a FICTS- Federation Internationale Cinema Television Sportifs. Esta tradicional federação italiana, sediada em Milão, reúne os 16 mais prestigiosos festivais de cinema esportivo do mundo, sendo o CINEFOOT um dos eventos integrantes deste seleto circuito internacional.

DATAS / LOCAIS:

CINEFOOT RIO DE JANEIRO

De: 23 a 28 de Novembro

ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA / PRAIA DE BOTAFOGO, 316

De: 24 e 29 de Novembro

CINE ARTE UFF / R. MIGUEL DE FRIAS, 9 – ICARAÍ, NITERÓI

De: 24 a 27 de Novembro

CCBB-CENTRO CULTURAL BANCO DO BRASIL / RUA PRIMEIRO DE MARÇO, 66 – CENTRO

De: 30 de Novembro a 3 de Dezembro

CCJF-CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL / AV.RIO BRANCO, 241 – CENTRO

Entrada franca.

www.cinefoot.org