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TARCISO, O DA PREVISÃO CERTEIRA DO SALDANHA

por André Felipe de Lima


O jovem mineiro José Tarciso de Sousa tinha um sonho: jogar futebol no Rio de Janeiro. O amigo Reis, conterrâneo dele, realizou o sonho do rapaz e o levou para jogar no América. Foi devagarinho. Isso lá por volta de 1969. Começou no infanto-juvenil e foi logo mostrando que era bom de bola… e de gol. Foi o artilheiro do time, com 20 gols, no campeonato carioca da categoria. Oto Glória era o treinador do time de cima. Viu o potencial do menino Tarciso e decidiu lançá-lo contra o Botafogo. E que estrela! Havia sete anos que o América não colocava o Alvinegro na lona. E, naquela tarde, com Tarciso em campo, colocou.

Foi Oto quem decidiu que o mineirinho não mais seria meia-atacante. Experimentou-o na ponta-direita de onde Tarciso muito raramente sairia. Antunes é quem sofreu com a concorrência: “Agora, se o Antunes quiser voltar, vai ter que rebolar bastante”, brincava Tarciso, ainda muito jovem, daqueles sem papas na língua e, vá lá, meio donos da verdade. Era altivo, mas um menino que levava a sério a carreira. “Aquela cor vermelha é um coisa muito séria. Vestir a camisa do América é virar fera, é querer ganhar o jogo de qualquer maneira. É lutar 90 minutos sem desfalecimento”.

Pois é, Tarciso levou todo esse furor futebolístico para os pampas. Em 1973, o Grêmio o contratou. A cor vermelha dera lugar ao azul, ao branco e ao preto em sua vida. “Quando saí do Rio, João Saldanha falou que eu era o único jogador de lá com chances de vencer no futebol europeu do sul. João é um bom profeta.”

Sim, Tarciso tornou-se o Grêmio, e o Grêmio, o Tarciso. Juntos, mesclados na entranha da alma, pareciam-se como uma única entidade. E escrevo “entidade” sem receios. Tarciso, vestindo tricolor, era idolatrado pelos torcedores gremistas como pouco se vê em todas as torcidas de todos os clubes, sobretudo hoje em dia. A festa constante para ele não era para menos. Afinal, entre 1973 e 85, marcou 222 gols com o manto tricolor. Só fica atrás do Alcindo, com 264. Dificilmente será ultrapassado. Inclusive no quesito “jogador que mais vestiu a camisa gremista”. Foram 721 jogos com Tarciso em campo. Nenhum outro foi mais vezes tricolor no gramado que ele.


Como não recordar o “milagre” de 1977, quando o Grêmio, com Tarciso perdendo penal, desbancou o todo-poderoso Inter de Falcão, na final do campeonato estadual? E quem ousaria colocar à prova a capacidade do cabisbaixo ídolo, consolado por companheiros e até rivais naquela tarde ensolarada em Porto Alegre? Tarciso era uma referência para todos.

Foi, indiretamente, vítima de uma injustiça, em 1990. Um casal esquisito, que certamente abomina futebol ou, na pior das hipóteses, parece não ter tido infância, chamou a polícia para prender meninos que jogavam uma despretensiosa pelada próximo ao portão da casa onde moravam os intolerantes. O endereço (vejam vocês) era na rua que leva o nome de ninguém menos que Eurico Lara, o maior goleiro da história do Grêmio. A polícia chegou e prendeu alguns garotos. Outros conseguiram fugir da insana ação dos policiais. Um dos que escaparam foi Marcelo, então om 12 anos, filho do Tarciso, que logo mostrou o espírito mobilizador que sempre o caracterizou. Foi ao Juizado de Menores, liderando um grupo de pais, e ouviu um respeitoso pedido de desculpas do juiz Renato Kraemer Peixoto, que condenou veementemente a prisão dos menores por causa de uma pelada.


Marcelo, o filho amado do Tarciso, era um talismã. O garoto nasceu exatamente no dia 25 de agosto de 1977, para quem não recorda a data, vamos lá: Naquele dia em que o Marcelo nasceu, o Grêmio destronou o Inter. Talvez por isso Tarciso estivesse tão tenso naquela tarde a ponto de perder um penal. Aí a justificativa para quem ainda, mesmo que silenciosamente, o critica.

Mas Tarciso sempre foi respeitado. No campo de futebol, um campeão mundial com o Grêmio, em 83. Na vida pública, idem, também um campeão. Tornou-se político, e assim se manteve, ilibadamente, até o seu último ar, neste triste e menos branco, preto e azul dia 5 de dezembro de 2018.

Adeus, ídolo.

ASCENSÃO E QUEDA DE UM CANHOTINHO

por Zé Roberto Padilha


Ser canhoto deveria ser uma anomalia. Melhor, uma heresia. Motivo de preocupações no desenvolvimento do Robertinho que certamente encontraria, no Colégio Entre-Rios, poucas carteiras disponíveis para escrever ao contrário da maioria. Só isto explicaria uma pessoa tão doce e católica como minha avó, América Fernandes Padilha, ter amarrado a mão esquerda do seu netinho durante as refeições. Um ato de extrema correção. Acho que deveria até ter vaga disponível e prioridade nos bancos e correios para quem nascesse escrevendo desse jeito.

Sorte a minha que ela não me viu jogar. Porque quem chegava na peneira batendo na bola ao contrário, tinha uma concorrência menor. De cada dez pontas que se apresentavam, sete eram destros. E fui aproveitando minha cota canhota e fui ficando na ponta esquerda, sendo aprovado e subindo de divisões, até estar concentrado, aos 19 anos, no Paraguai para enfrentar a Argentina.

A base da seleção brasileira para o Sul Americano sub-20, de 1971, era do Fluminense. E às vésperas do maior clássico sul-americano eu e o Marinho, nosso quarto-zagueiro, éramos dúvidas para a partida e dividíamos o quarto e as dores nos tornozelos. Muito inchados, passaríamos a noite fazendo tratamento e a palavra final sairia na revisão pela manhã do médico do Botafogo.


O massagista preparou os baldes de contrastes, um com água quente e outro com água congelada. Era o chamado tratamento de choque térmico. Iniciávamos pelo gelo e quando não suportávamos mais, aliviamos com a água quente e assim, sucessivamente, um balde amenizava a temperatura do outro até que ambos perdessem sua intensidade. Ao final, que terminava no quente já morno, passávamos Bálsamo Bengué, enrolávamos uma atadura de crepe e íamos dormir com a esperança de vê-los despertar desinchados.

Pela manhã, o médico chegou para a revisão e acabou vetando o Marinho e me liberando para a partida. O milagre só acontecera para o meu lado. Quase em êxtase por não perder aquela partida, levantei para comemorar e senti fortes dores no tornozelo. Ao me reexaminar, o doutor descobriu a razão: passara noite inteira tratando o tornozelo errado. A contusão era no direito, mas quando da contagem regressiva e aflitiva para enfiar o pé no balde congelado, a mente congelou junto e taquei o pé esquerdo como de hábito fazia com a bola e com tudo que não suportava. Além de não melhorar o tornozelo machucado, acabei queimando a pele do sadio.

Vetados, assistimos nossa derrota por 2×0 das arquibancadas do Estádio Centenário. E naquele instante só lembrava da minha vó querida e “terrorista”. E se ele tivesse amarrado os meus pés também? Daí seria uma outra história, daquelas que teriam um final feliz desde que ….tivessem começo. Pois jogando na ponta direita quem diria que fosse tão longe para fazer uma burrada dessas?

COLETIVIDADE ESPORTIVA: ILUSÃO OU REALIDADE?

por Eliezer Cunha


Esportes coletivos nos submetem ao raciocínio de uma alta dependência do exercício e desempenho da excelência da coletividade. Futebol, basquete, vôlei entre outros. Realidade ou ilusão? Bem, vamos aos fatos. Jogo decisivo, bola nos pés de um atacante, ponta, ala, etc. Oportunidade clara de gol, cesta de três pontos ou uma cravada de uma bola na quadra adversária, criada pelo coletivo, time ou equipe: Realidade.

Porém, alguém precisa decidir, definir e concluir a finalização com êxito. Está aí a grande oportunidade de glória de uma equipe ou atleta. Porém, nos pés ou mãos de apenas um, um. Como lhe dar com isso, louvando ou punindo, afinal foi o destino esportivo que o escolheu para tal e aí a expressão “E SE….” volta a atacar friamente. Vejamos a história: Copa de 82, Cerezo. Copa de 86, Zico. Copa de 90, Alemão. E por aí vai….

No Campeonato Brasileiro deste ano, temos o Palmeiras como grande campeão seguido do Flamengo. Flamengo…. Podia ter chegado? Sim. Voltamos ao destino escolhido: Paquetá’ faltando 8 minutos, desperdiça uma clara oportunidade de gol da vitória, em cima do concorrente maior, Palmeiras.

Vitinho instantes finais contra o São Paulo desperdiça o gol da vitória, quase debaixo da baliza, bola na arquibancada. Somados os pontos…Flamengo ultrapassaria o Palmeiras e poderia eternizar uma conquista valorizando o coletivo e confirmado por um só personagem.

Voltamos à ciência exata, sobretudo a estatística. A porcentagem de uma equipe de vencer uma partida devem ser medidas pelas quantidades de oportunidades que a equipe propicia durante os 90 minutos aliado à competência individual.

Treinos táticos e secretos, pranchetas, quadros, análises técnicas, todos esses recursos são dispensáveis se um apenas um atleta tem a responsabilidade de decidir uma partida.

Deixamos menos a valorização das ações coletivas e valorizamos mais o desenvolvimento individual.


Zico e Roberto aperfeiçoaram suas técnicas individuais de cobrar falta e pênalti treinando sozinho. Não dá para entender um jogador na pequena área efetuar uma cabeçada que não seja em direção ao chão, não dá pra aceitar que um jogador não consiga finalizar uma jogada porque não chuta bem de esquerda ou de direita. Com isso criamos deuses que ficam debaixo do gol e atribuímos a eles defesas incríveis, quando na realidade a suposta defesa “impossível”, se deu por falta de competência clara da aplicação dos fundamentos básicos do futebol.

Os treinadores brasileiros devem cobrar mais de seus operários.

Esporte coletivo: Realidade ou Ilusão..

O DIA DE LAVAR A ALMA DE VERDE E A NOITE MAIS LINDA DO MUNDO

por Marcelo Mendez

Era um dia frio em São Paulo.

Aos meus 23 anos de idade, já sem muita inocência, nada de pueril em mim, um homem que é santo sem abrir mão de seus pequenos pecados, de suas tantas heresias, de suas paixões avassaladoras que tantas madrugadas lhe custava.

Esse era eu, naquele 12 de junho de 1993. Um sábado pela manhã que acordei triste, mas que por conta de uma trajetória de fé, de vida toda, precisei trocá-la por uma ansiedade. Coisas da vida. Eu tinha um namoro capengante com Cecília, por culpa de todas as minhas cagadas, uma relação que beijou o vento do precipício, um domingo antes, no dia 06 de junho.


Pela primeira partida da final do Paulistão de 93 o Palmeiras perdeu para o Corinthians por 1×0, gol do Viola. Na comemoração, ele abaixou, imitou um porco, tirou sua onda e novamente os fantasmas todos na cuca, novamente a volta do trio, Eu, Meu Pai, Tio Bida, tristes, solitários nas emoções, sem ter o que fazer da vida.

Pedi pro Tio me deixar na casa dela. Cheguei, entrei, ele ouvia uma musica de uma banda inglesa, daquelas que num tinha saco pra ouvir; Inspiral Carpets. Entrei acabado e ela falou:

– Sério mesmo? Você tá assim por conta dessa porcaria desse jogo? Você, cara culto, bem informado, sujeito inteligente… Por causa de um jogo??

Foi o fim:

– O que? O que você tá me falando? Cê tá comigo há um ano e meio, sabe de mim, da minha história, do que eu sinto, do que eu sei… Porra; Olha pra minha cara, caralho! Você acha que se fosse só isso aí que você está dizendo, eu estaria assim, desse jeito?

A discussão foi grande demais para o relato. Basta saber que saí de lá com dois discos do Lou Reed, um livro do Paul Verlaine fui pra casa lamber minhas feridas.

Assim o fiz a semana toda, a pior semana para ser Palmeirense. Muita tiração, muita onda dos outros times, muita duvida. A semana de 06 até 12 de Junho de 1993 parece ter durado 20 séculos. Mas passou.

A manhã se inicia em 12 de junho. Naquelas primeiras horas, tudo era tão somente, incerto…


Sábado, 07h30min da manhã:

Meu pai me acordou com umas batidas na porta.

Sábado, 07h30min da manhã:

Meu pai me acordou com umas batidas na porta.

Sábado, 07h30min da manhã:

Meu pai me acordou com umas batidas na porta.

Na noite anterior, eu enchi a cara de campary, de dor de amor e de tudo para ver se conseguia dormir. Desmaiei. Mas quando o Velho me acordou eu nem tive tempo de ter ressaca:

– Toma (Me falou esticando meu ingresso em minha direção) Dessa vez a gente não vai junto.

– Como assim, Pai? Ta maluco? Vamo como sempre fomos já falei com Tio Bida…

– Não. Olha, filho, você me conhece, sabe que num acredito nessas coisas, mas não é possível, deve ser a gente. Dessa vez, vamos separados para não dar azar!

– Mas, Pai, isso é ridículo!

– Vindo o título, que seja assim ridículo!

Sem muito poder argumentar, meio que topei a coisa. Peguei meu ingresso da numerada inferior, com a promessa de por lá, não ver o jogo ao lado de meu Pai e meu Tio. Era uma agonia enorme, de um dia que não passava, de um tormento que insistia em existir. Mas mudaria.

Dessa vez, seria diferente.

Foda-se a Combinação!

Eu não quis sofrer com a espera do jogo.

Meti o fone de ouvido do Walkman, com uma fita cassete do Lou Reed no ouvido e entrei num transe que acabou quando a bola rolou. Que acabou quando o Antonio Carlos ganhou uma dividida com o Neto, que quase gritou gol numa jogada de fundo que o Edmundo não concluiu bem. Que viu o paraíso…

Quando a perna direita do canhotíssimo Zinho meteu a bola para o fundo das redes, eu fui feliz como poucas vezes na vida. Era um peso que saía das costas, uma perspectiva de felicidade no caminho, que carreguei ao longo do jogo que acabou 3×0.

Faltava apenas um empate na prorrogação para o Palmeiras ser campeão.

Ser campeão…

Edmundo sofreu um pênalti que ele não queria sofrer. Tentou ficar de pé de todas as formas, mas não deu. O zagueiro Ricardo o levou ao chão. Agora era vez e Evair, o nosso matador Evair fazer o que ele sempre fez muito bem. Na hora, pensei:

– Vai dar errado!

Sim. Eu era do Palmeiras que perdia para o Bragantino, Pra Inter de Limeira, pro Xv de Jaú, pra Ferroviária. Eu era parte daquele Palmeiras que nasceu para não dar certo. Tudo aquilo de bom não era pra mim. Abaixei a cabeça e sentei. Eu não queria ver, num queria sofrer de novo, até que no meio daquilo tudo, senti alguém me batendo no ombro. Levantei a cabeça e vi:

– Pai!


– Pênalti pra nós, filho!

– Mas a gente num tinha combinado…

– Foda-se a combinação! Agora é hora da gente ser feliz!

– Tá, mas eu num quero ver…

– O que? Depois de tudo que a gente passou, depois das tantas vezes que saímos daqui tristes, você não vai querer ver o Palmeiras ser campeão?

– Vai bater!!!

Era meu Tio Bida que também havia chegado, avisando a gente.

Naquele momento, Evair começou a corrida em direção a bola a impressão que tínhamos é que aquela corrida havia começado em 1976 e que ao chegar na bola, aí sim, em 1993.

“GOOOOOOOOOOOOOOOLLLLL” o barulho em uníssono de uma torcida que cantava e vibrava pra valer. Um grito que eu não ajudei, não participei.

Na hora que Evair balançou a rede do goleiro Wilson, ao invés de gritar gol, eu abracei meu pai. Abracei Seu Mauro com força, com um choro que veio da alma, pra descarregar tudo aquilo que tava me doendo desde sempre. Tio Bida abraçou a gente e assim a gente comemorou aquele gol.

Depois dele, eu só chorei. Chorei até o fim do jogo, mas um choro de emoção pura, alegre, feliz.

O Palmeiras é campeão!

Como era gostoso gritar aquilo! Como foi boa aquela noite. Posso dizer seguramente que uma das maiores alegrias da minha vida.

Ao longo dos tempos tive outras, tantas outras. Mas peço licença a estas outras pra eleger o 12 de junho de 1993 como a noite mais importante da minha vida. Por conta de tudo, e por conta de algo que faltava:

Tendo a Lua…

Madrugada alta, 04h40min e eu bêbado na frente da casa da Cecilia:

– Ceciliaaaaaaa!!! – a luz se acendeu, a mãe dela me chamou pra dentro, mas não quis. Eu queria a rua e mundo todo para mim. Cecilia entendeu e saiu:

– Oi, Marcelo, que foi? – perguntou com um riso na cara:

– Cecília, olha só. Eu te amo. Não mais que o Palmeiras, claro. Mas te amo. Então cê me perdoa e fica comigo? Prometo nunca mais fazer merda!

– Marcelo, você ta bêbado…

– Claro que sim, caralho, o Palmeiras foi campeão! Que mundo cê vive?

– Um outro, bem diferente desse seu.

– Então deixa eu ser o ET da sua vida!

Ela gargalhou nessa hora e eu aproveitei:

– Para de brigar comigo e me amaaa. Beija eu, Ceciliaaaaaaaa!

Ela me abraçou rindo.

Bom, o que aconteceu depois disso importa sim, mas não pra esse momento. Não nos casamos, não ficamos juntos, somos grandes amigos até hoje, mas nada disso importa como falei.

Abraçados entramos na casa da Cecília. Assim ficamos. Os Paralamas do Sucesso cantavam “Tendo a Lua” no cd player e pronto.

A maior noite da minha vida em 1993…

OS SUPERCAMPEÕES DO BRASIL

por Fabio Lacerda


No gramado em que a luta o aguarda, no solo que tem suas cores, o Palmeiras mais uma vez chegou ao título de campeão brasileiro. Para os alviverdes, “tomar” a faixa do arquival, que havia “tomado” em 2017 do Palmeiras, é outro saboroso ingrediente na história do sexto título Brasileiro desde 1971. Pela primeira vez, o Palmeiras não conquistou o campeonato mais importante do país de forma consecutiva.

Dentro de campo, a redenção de Luiz Felipe Scolari, que por ironia do destino ou maldade, é lembrado pela goleada sofrida para a Alemanha, no Mineirão, na Copa do Mundo de 2014. Mas nossa memória é curta e não lembra do título de 2002 sobre a própria Alemanha. A chegada de Luiz Felipe Scolari reduz a zero qualquer distúrbio ou conflitos dentro de um grupo. Ele não permite. E diante de seus comandados, transforma a lealdade em padrão. A irretocável campanha verde deflagra uma gestão nos bastidores e dentro das quatro linhas sustentável.

Nesta campanha invicta desde a 17ª rodada, o Palmeiras rateou. Muito em razão do calendário, já que disputou muitas competições ao longo do ano como é de praxe para os grandes clubes bem geridos. As derrotas para Corinthians, Sport e Cruzeiro, nas 5ª, 7ª e 8ª rodadas, respectivamente, assim como os três empates consecutivos contra Ceará, Flamengo e Santos, e em seguida, a derrota para o Fluminense, na 15ª jornada, acenderam o sinal de alerta. Chega Luiz Felipe Scolari e arruma a casa. Uma característica marcante de um profissional vencedor. Um senhor do futebol brasileiro. Já colocado na mesma prateleira de imortais palmeirenses junto de Osvaldo Brandão. E por quê não, Vanderlei Luxemburgo? Aí é papo para mais de dois dias.


“Defesa que ninguém passa”. O primeiro verso da terceira estrofe do hino diz um pouco do sistema defensivo do clube, ainda mais após a chegada do Felipão que assumiu a equipe após a derrota para o Fluminense, e tem o privilégio de fechar o certame invicto. O Palmeiras tem a melhor defesa do Brasileiro, sofrendo 24 gols. Desde que Luiz Felipe Scolari assumiu na 16ª rodada, a defesa palmeirense, que fez rodízio de zagueiros e laterais em função da Libertadores da América. sofreu apenas nove gols. Outro informação interessante desconstrói a taxação de técnico defensivo pelo fato de ser da escola gaúcha. Dos 64 gols marcados pelo Palmeiras, 42 foram marcados sob o comando do técnico. Até ele assumir, a equipe tinha marcado 22 vezes.

Dentro de campo, o conjunto fez a diferença, e o plantel, idem. E ter no grupo jogadores acostumados a sagrarem-se campeões é um diferencial competitivo que faz a diferença na hora da decisão, na hora de separar os meninos dos homens, de separar os craques dos bons jogadores. Sem dúvida, Dudu fecha o campeonato como o melhor jogador da competição. O atacante Deyverson (oito gols sendo reserva), quando acionado, deu conta do recado além das expectativas. Felipe Melo e Bruno Henrique (oito gols), volantes que formam barreiras quase intransponíveis à frente da zaga, mas também são capazes de fazerem lançamentos de 50, 60 metros. Os gols do Borja, que apareceu muito bem na temporada, também foram determinantes.


Mas destaco três jogadores que estão comemorando o quarto título Brasileiro. E por coincidência, esses jogadores têm seus títulos em três clubes diferentes. Jean, o polivalente jogador que atua no meio de campo e lateral-direita, foi pelo São Paulo, Fluminense, e duas vezes no Palmeiras. Edu Dracena, aos 37 anos, também conquista o Brasileiro pela segunda vez pelo Palmeiras. Anteriormente, Cruzeiro, em 2003, na equipe que conquistou a Tríplice Coroa, e em 2015, pelo Corinthians. Nos últimos quatro Brasileiros, Edu Dracena conquistou três. Ano que vem, se por ventura for campeão Brasileiro novamente, pode ser o encerramento de uma carreira vitoriosa no seu 20º ano de carreira. E Willian Bigode, um dos jogadores mais versáteis do futebol brasileiro desde que ganhou seu primeiro Brasileiro pelo Corinthians (2011). Dois anos depois, chegou ao Cruzeiro para ser bicampeão Brasileiro nas temporadas 2013 e 2014, sendo determinante para o sucesso celeste das Alterosas. Agora, é campeão pelo Palmeiras. Este jogador ainda não teve a chance de vestir a camisa amarela da seleção brasileira. E uma oportunidade é merecida desde 2011.

Na próxima temporada, os três jogadores têm grande chance de escrever mais capítulos honrosos em suas carreiras. Podem juntar-se a Andrade e Zinho como os maiores vencedores de Campeonatos Brasileiros. Porém, Willian Bigode e Jean ainda têm lenha a queimar e, mediante uma estratégia planejada junto a seus staffs, podem tornar-se os maiores vencedores do futebol brasileiro em todos os tempos. É acompanhar para saber.


Então, Luiz Felipe Scolari, Edu Dracena, Jean e Wilian Bigode, têm motivos de sobra para sorrirem nessa reta final de ano. E Dudu, que pela segunda vez consagra-se pelo Palmeiras. Se em 2016 ele foi eleito o melhor jogador do Brasileiro que culminou com o título palmeirense, não resta dúvida quem será apontado como o craque do campeonato. Fez apenas sete gols. Mesmo assim será eleito. E é outro jogador que merece uma chance na seleção.

Wéverton, Luan, Diogo Barbosa, Cláudio Gomez e Borja, cinco dos 11 últimos titulares na partida que sagrou o Palmeiras campeão Brasileiro em São Januário, conquistam o Brasileiro pela primeira vez. Sendo que Weverton e Luan haviam sido medalhas de ouro nas Olimpíadas, e Diogo Barbosa conquistara um título nacional (Copa do Brasil) com o Cruzeiro. Ou seja, um time com cancha para grandes decisões.