Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Geral

ESTÃO BRINCANDO CONOSCO


É sabido que a imprensa em geral foca seus principais holofotes em Flamengo, Corinthians e, agora, Palmeiras. E, claro, em Tite. A imprensa tem os seus queridinhos e não disfarça isso. Felipão continua sendo tratado como fenômeno e Fábio Carille é o mais novo amor dos jornalistas esportivos.

Ele era o treinador de zaga de Tite, portanto é mais um professor retranqueiro que surge com a função de engessar a nossa arte. A imprensa prefere destacar a contratação do Pato pelo São Paulo do que discutir profundamente o que estão fazendo com o nosso futebol.

Querem um exemplo? Pouquíssimo se falou sobre a derrota da seleção de Sub-17 de 3×0 para uma fraquíssima Argentina. O Brasil podia perder até de dois gols e se classificaria. Vale lembrar que em fevereiro a seleção Sub-20 também havia sido eliminada do Sul-Americano e não garantiu a vaga para o Mundial.

Na época, perguntei quem era o técnico Carlos Amadeu, comandante da garotada. Na mesa redonda, uma “comentarista” disse quer era uma das maiores referências mundiais dessa categoria, Kkkkkk, peraí, estão brincando conosco!


Agora foi a vez da Sub-17. Em um grupo com cinco seleções, ficou em quarto e só os três primeiros se classificavam. O Brasil amargou sua pior campanha na história da competição. Nunca ficou fora da fase final. Sua pior posição foi a quarta colocação, em 1993. A “sorte” é como a sede do Mundial Sub-17 será no Brasil o time está garantido no torneio.

Novamente fui pesquisar para saber quem era o nosso técnico. Guilherme Dalla Déa está no comando desde janeiro de 2018. Você conhece? O que já fez para estar lá? Comandou escolinhas no interior de São Paulo? Chupou laranja com quem, Guilherme Dalla Déa???

Repito, estão brincando conosco. A CBF está distribuindo sua legião de amigos em áreas estratégicas porque é na base que está a galinha dos ovos de ouro. Essas subs todas são como festivais de moda e de automóveis. A intenção é exibir os produtos.


Dizem que o destaque da Sub-17 foi Reinier, do Flamengo, que tem interesse de Real Madrid, Manchester, Milan, Juventus, e Arsenal. Essa notícia, sim, interessa aos jornalistas esportivos. Ou seja, o futebol agora merece a cobertura da Caras. Mas aviso que Neymar namorando Anitta não me interessa.

Por que a imprensa não faz um raio-x das bases dos clubes? Vai descobrir que os empresários comandam a festa. E desde a molecada de nove anos, até menos. Os treinadores que não escalarem um garoto encomendado perde o emprego. Mas a imprensa, como diz a garotada, segue o baile!

Só sei que ontem zapeando ouvi um comentarista experiente dizer “que guardadas as devidas proporções o Clayson, do Corinthians, lembra o Cristiano Ronaldo em seu início de carreira”. Kkkkkkkk!!!!! Acham que continuei no canal ou fui assistir Pica-Pau?   

PATROCÍNIO NÃO É SALVAÇÃO

por Idel Halfen


Os torcedores e a imprensa de forma geral costumam dedicar grande parte de suas expectativas na obtenção de patrocinadores máster para os clubes de futebol, isso costuma ocorrer principalmente nos momentos em que os times vão mal e há uma latente demanda por reforços.

É natural que assim se pense, afinal de contas estão vivos em suas mentes os times europeus que, além de terem no plantel inúmeros jogadores famosos e bons, ostentam nas camisas logos de marcas famosas.

Contudo, seria preciso entender que essa modalidade de patrocínio ainda não está madura o suficiente no Brasil, de forma que poucas empresas têm a real dimensão dos benefícios desta propriedade, ou quem sabe tenham e justamente por isso não invistam.

O que quero dizer com isso é o que sempre repito aqui: a simples exposição da marca é muito pouco para uma empresa que tenha objetivos bem traçados de marketing, mas isso é conversa para outro artigo.


Voltando aos valores envolvidos, com raríssimas exceções, esses não chegam a pagar nem três meses de folha salarial. Claro que já é melhor do que nada, ainda mais em um mercado sem grandes perspectivas de algo mais robusto, mas criar a expectativa de que a obtenção de um patrocinador fará do time uma potência e de que craques serão contratados é mais uma daquelas lendas urbanas que nos deparamos ao longo da vida. Há a hipótese também de as críticas serem parte de uma estratégia de discurso para se falar mal da gestão. Nem sei qual das opções é a mais obtusa…

O mais alarmante desse quadro é a falta de perspectivas de mudança no curto prazo, a não ser o surgimento de empresários que, por razões diversas, resolvam extrapolar a normalidade do mercado. Nesse caso, a torcida é para que esses empresários tenham uma permanência longa e que as áreas de planejamento dos clubes – se é que passarão a existir – elaborem planos contingenciais contemplando um eventual fim do patrocínio.

Acreditar na perenidade pode ser mais letal do que acreditar que patrocínios são as soluções para as gestões. 

É importante também que se registre que, por mais que os defensores destes patrocínios que fogem à normalidade discorram sobre os retornos das iniciativas, as decisões na maioria das vezes não têm o amparo de um bom plano de marketing, o que também não significa dizer que não sejam viáveis.


De qualquer forma, dando retorno ou não, os investimentos feitos de forma pouco analítica não trazem a devida contribuição para a consolidação de uma cultura que entenda o patrocínio como um componente valioso de alguma estratégia de marketing.

Enquanto assim for, é melhor que os torcedores não criem grandes expectativas de bons resultados graças a algum patrocínio, e que a imprensa – ou parte dela -, ao invés de semear “falsas ilusões”, faça a sua parte não boicotando aparições e ativações de marcas.

PONTE PRETA 1977

por Marcelo Mendez


Havia muita coisa acontecendo no Brasil de 1977 e decerto em todas elas não estava incluída nossa bucólica vida na periferia de Santo André no ABC Paulista. Mas fato é que tínhamos nossa bucólica vida periférica naquele ano. 

E essa vida muda consideravelmente quando do lado de nossa casa, muda o seu Montalvão. Um português gente ótima, que tinha uns comércios no Abc, uma Belina lindona, vermelha e toda chavosa e que gostava de bola tanto quanto a gente. Problema é que ele era Corinthiano e não demorou muito a fazer amizade e nos convidar para ir ao Pacaembu com ele ver o time dele jogar. 

No meu caso, menino de 7 anos, fui feliz da vida com o passeio de carro até o Pacaembu com a festa toda envolvida. Meu pai foi porque o Portuga era gente ótima demais. Mas para nossa surpresa, o time de Preto e Branco vindo do interior do estado era um timaço. 

Venceu o Corinthians por 2×1, deu um baile de bola nos caras e com a camisa 10 do time tinha um cidadão de nome Dicá, que me encheu os olhos com o tanto de bola que jogou naquele e em todos os outros dias em que jogou na vida. Mal sabia que um outro 2×1 faria parte da vida desse time. Hoje vamos contar a história dessa esquadra.

O ESQUADRÕES DO FUTEBOL BRASILEIRO chega para falar da Ponte Preta de 1977/1982.


A ESQUADRA

Nos anos 70, a Ponte Preta já dava indícios de que boas coisas viriam direto de Moisés Lucarelli.

Em 1970, após conseguir o acesso, a Ponte Preta fez um grande Campeonato Paulista dando trabalho para um gigante de então, o São Paulo, de Pedro Rocha, que acabou ficando com o título, mas o time do interior mostrou uma fornada de ótimos jogadores, dentre os quais, o maior deles, Dicá.

Mestre Dicá, o Maestro. Vi Dicá jogando na seleção de masters do Luciano do Vale nos anos 80 e ali, deu pra sacar o gigante que foi aquele camisa 10 no auge de sua carreira. Pela Ponte Preta, o Mestre jogou por música, sonho e verso. Sua classe, inteligência, categoria e elegância marcaram a história do futebol Paulista e após saídas para Santos e Portuguesa, foi o Mestre que conduziu a Ponte para fazer história.

Atrás dele, uma defesa poderosa com Oscar e Polozzi, dois ótimos laterais como Jair Picerni e Odirlei, mais o seguro goleiro Carlos. A seu lado no meio campo, um jogadoraço na volância, Vanderlei Paiva, acompanhado de Marco Aurélio na meia, responsáveis pela criação do time. No ataque, o rápido ponta Lúcio, os espertos Parraga e Rui Rei, se revezando com a 9 e com Tuta na ponta esquerda.


Esse esquadrão bateu na trave em 1977, perdendo a final para Corinthians de maneira épica. 0x1 no primeiro jogo, 2×1 no segundo e o gol de Basílio no 1×0 para marcar o final de um sofrimento enorme para o povo Corinthiano. Os dois times se enfrentariam de novo em 1979, com o Corinthians sendo campeão novamente. Em 1981, a Ponte perde a decisão para o São Paulo e daí sei que quem chegou até aqui, há de perguntar:

“Mas só perdeu! De onde vem essa grandeza toda?”

Explico de novo:

A real grandeza dessa coluna é dar luz a times que marcaram na mente de milhões de torcedores jogando o fino da bola, despertando paixões, formando legiões de torcedores e encantando quem gosta de bola.

Não precisa necessariamente de um troféu para conseguir isso.

Parabéns, Ponte.

O INSOFISMÁVEL CAMISA 6

por Marcos Vinicius Cabral


“Futebol é uma parte da minha vida que eu amo e sempre vou amar”. A frase é de Evandro, o eterno camisa 6).

Filho mais velho de seu João e de dona Ziléia, o sonho do pequeno Evandro era ter uma bola de futebol.

Nos meses de novembro (seu aniversário) e dezembro (Natal), os olhos do pequeno garoto buscavam nos quatro cantos da casa o tão desejado presente.

Com apenas seis anos de idade, sua intenção era se relacionar com a bola e viver essa paixão platônica.

Mas os pais não pensavam assim.

A mãe, uma dedicada dona do lar e o pai, caldeireiro do Estaleiro Mauá S/A em Niterói, zelavam tanto pelos estudos dele e do irmão Vander, a ponto de colocá-los no Centro de Ensino Sininho de Ouro, um dos mais tradicionais do bairro.

Mas nada o impediria de viver sua paixão.

– Jogávamos com nossos primos todas às tardes depois das aulas com um bola feita de meias em um terreno íngreme e baldio no Largo do Barradas, onde hoje funciona o Tio Sam Esporte Clube -, confidencia Evandro França de Oliveira de 53 anos.


Dois anos depois, morando no Boa Vista em São Gonçalo, como todo moleque, jogaria na rua no time chamado Galo de Ouro, no qual cada vitória valia um refrigerante.

– Bebi muito Mineirinho! – diz às gargalhadas.

Desde cedo, vencer seria um verbo conjugado sempre na primeira pessoa de Evandro.

Em 1978, com 13 anos e seu irmão com 11, recebiam a notícia que a cegonha estava trazendo um irmãozinho chamado Leandro.

Quando o menino chegou ao mundo no ano seguinte, o duro golpe: seus pais se divorciaram.

Enquanto dona Ziléia precisava trabalhar para cuidar dos três filhos, Evandro era obrigado a cuidar dos dois irmãos.

Sorte deles que ganharam um segundo pai e azar do Club de Regatas do Vasco da Gama, que perdeu um grande lateral-esquerdo.

– Não me arrependo de não ter ido treinar em São Januário para cuidar dos meus irmãos -, lembra visivelmente emocionado.

Se os “Deuses do Futebol” lhe tiraram a chance de ser jogador, o destino foi mais generoso e permitiu que se transformasse num dos maiores jogadores de várzeas.


Estreou em 1980 no bom time do Mequinha Futebol Clube em São Fidélis, conhecida como “Cidade Poema” devido às belezas naturais e ao seu grande número de poetas e foi verso e prosa naquele gramado contra a seleção local no primeiro quadro aos 15 anos.

– Meu tio Zé Maria me escalou, marquei o craque deles e comecei ali minha história no futebol – relembra.

Um outro tio de nome João, vulgo Joãozinho, o levaria no Campo do Vital Brasil em Itaúna, e naquele instante, sentiu algo diferente.

– Foi ali que verdadeiramente nasceu o desejo de jogar futebol. Aquilo foi crescendo, crescendo e crescendo em mim, contagiando… não sei explicar! – diz referindo-se ao futebol praticado pelas equipes do Magno, Pagão e Monte Verde.

Meses depois, no Campo do Mangueirinha, no Luiz Caçador, começou a escrever seu nome de grande jogador vestindo o verde e amarelo do Unidos da Amizade Futebol Clube.

Ganhador de vários campeonatos, a final contra o temido Tronco no Jockey foi inesquecível.

– Ganhamos de 1 a 0, gol de Vandinho, contra o time da casa e sua torcida, mas nosso time era muito equilibrado – conta.


De acordo que os títulos iam se amontoando, os joelhos começavam a dar sinais de desgate: era preciso recuar.

E foi remanejado à zaga, posição que sempre foi seu desejo.

Já como zagueiro, ganhou três dos três campeonatos que disputou com as camisas do Internacional e Unidos da Amizade no Recanto em Luiz Caçador.

– Me espelhava em Leandro – revela sem esconder a admiração pelo ídolo rubro-negro que teve a carreira abreviada pelos joelhos.

Em 1990, conquistou o Campeonato Gonçalense – que é o ápice na carreira de todo atleta amador – no centenário da cidade, jogando pelo Beira-Rio, no extinto 3° BI (Batalhão de Infantaria), na Venda da Cruz.

No Cinco de Julho, pelo Atlantic Peon, em cinco campeonatos chegou em todos na final, sendo vice em quatro deles e campeão em 2000.

– Uma pena que um cara como Evandro não tenha se tornado profissional. Além da dedicação dentro de campo, jogador de rara inteligência. Um boleiro como costumamos chamar – diz Felipe de 60 anos, seu treinador no Atlantic.

Em 2008, no Lira Futebol Clube e já veterano, foi campeão mais uma vez.

– Evandro era um jogador de muita técnica, boa marcação, além dos excelentes cruzamentos e viradas de jogo. Quando era deslocado pra jogar na zaga, colocava o atacante no bolso – diz Helinho de 47 anos que o enfrentou várias vezes.

Mas se dentro de campo não lhe faltou motivos para sorrir com as conquistas alcançadas, fora dele, algumas lágrimas passearam por seu rosto áspero com duas perdas irreparáveis.


– Meu irmão de consideração. Me ensinou a nunca chutar de bico. Trabalhamos juntos nos estaleiros da vida, no camelô e jogamos juntos várias vezes! – diz sobre o falecimento do compadre Lilico.

E completa:

– Minha mãe foi tudo para mim. Deus a levou ano passado no dia do meu aniversário – emociona-se.

Mas no fim, o reconhecimento se dá aos domingos no Campo do Mangueirinha, onde às 9h, o craque da eterna camisa 6 ensina futebol com a maior humildade, qualidade esta que é sua última e grande vitória.

JOGADOR MORRE DUAS VEZES, NÓS VÁRIAS

por Paulo Escobar


Falcão um dia disse que jogador de futebol morre duas vezes, uma quando para de jogar e a segunda quando morre mesmo. Mas de uns anos pra cá acredito que nós, os torcedores, morremos algumas vezes.

Quantos ídolos acompanhamos desde as categorias de base, vimos suas histórias de saída das realidades de pobreza e nos encantaram nos gramados por décadas. E quantos deles no momento de pendurarem as chuteiras nos fizeram perder o chão?

Somos tão envolvidos com o sentimento que o futebol gera em nós, que não percebemos o tempo passar e quando olhamos se passaram os anos. E com este passar do tempo os nossos ídolos viraram senhores, que a idade lhes gerou as marcas também e os leva ao final de suas carreiras, pelo corpo já não aguentar aquilo que é exigido pelo futebol.


Eu era criança quando Zico se despediu do futebol aqui no Brasil, que depois continuou por mais quatro anos no Japão, naquele jogo Flamengo e seleção do Mundo. Maracanã lotado naquele 1990, que ainda existia a geral, totalmente estrumbado pra ver o adeus do Galinho.

Me senti vazio depois daquele jogo festivo, como se a partir daquele momento faltaria a magia, me emocionei. Pensei o que seria do futebol sem Zico, seria voltar a ver o Flamengo e procurar o camisa dez no meio de campo e não encontrá-lo.

Com o passar do tempo voltamos a viver de novo, aprendemos a conviver com a dor da primeira morte do ídolo, e criamos novos ídolos. No nosso altar interno outros se somam e passamos a viver tudo de novo.


Depois, na Bombonera, tive outra morte quando Diego se despediu naquilo que foi mais que um jogo, foi um verdadeiro ritual. Maradona que me fez vibrar e sonhar, pendurava as chuteiras, um tango se encerrava e ali voltei a ter os mesmos sentimentos de vazio, pensando o que viria depois de Diego.

Quando Roman e Marcelo Salas pararam tive a mesma sensação de tristeza, não os veria mais nos gramados e muitas vezes assisti aos jogos e os procurei me esquecendo que já não estavam mais nos gramados. 

Perdi as contas de quantas vezes chorei com a despedida de um ídolo, de quantas vezes estive de luto pela primeira morte deles. E suspeito que ainda morrerei outras vezes, suspeito que me iludirei de novo achando que eles nunca deixarão de jogar, até ter que enfrentar a realidade de que eles irão parar.

Morri junto também com Gamarra, Djalminha, Zamorano, Rincón, Alex, Gaúcho e com tantos outros que levaram um pedaço de mim. Procurei muitos deles no gramado depois que pararam e a cada dia que o futebol se moderniza, sinto mais a falta deles.

Os anos passam e sentimos as dores da idade dentro e fora dos campos, sei que ainda veremos muita coisa, mas uma delas é certa: que se jogador morre duas vezes, nós morremos e morreremos muitas ainda.