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10VALORIZADO

por Marcos Vinicius Cabral


Diego chegou ao Flamengo em 2016, após a vergonhosa eliminação para o Fortaleza na segunda fase da Copa do Brasil.

Com status de craque e não como bom jogador que era, caiu nas graças da torcida.

Boa pinta, virou “sex symbol” entre as torcedoras que se aglomeravam nas arquibancadas dos treinos para vê-lo.

Acostumado a vestir a 10, o meia não pôde vesti-la quando chegou por já pertencer a Éderson e preferiu a 35 – em alusão às idades de Matteo e Davi, seus filhos – que foi um sucesso de vendas.

Dois dias após o anúncio da contratação, assinatura de contrato e apresentação, a foto do jogador já com o Manto teve mais de 100 mil acessos, ficando nos “Trending Topics” do Twitter – que são os assuntos mais comentados na rede social em todo o mundo – durante todo o dia.

Passou a vestir, então, a 10 de Zico, Deus Rubro-Negro, e segundo o portal Globoesporte, o seu número é a segunda camisa mais vendida, perdendo atualmente apenas para a 9 do atacante Gabriel, o Gabigol.

Diego – que entrou para a história do futebol apenas com o primeiro nome, mas hoje carrega o Ribas no sobrenome – foi Campeão Brasileiro de 2002, aos 16 anos, ao lado de Robinho.

Capitão e camisa 10, virou símbolo de um Flamengo claudicante.


Tirando o estadual, obrigação pela grandeza do Flamengo, o meia teve exibições decepcionantes em momentos decisivos do Brasileirão, Libertadores, mas principalmente na Copa do Brasi, onde ficou marcado.

Em 2017, desperdiçou a sua cobrança na final perdida para o Cruzeiro, esteve apagado na derrota da semifinal para o Corinthians no ano passado e, nesta quarta-feira, 17, escreveu o seu pior capítulo no livro dessa (sabe-se lá quando?) passagem pelo Rubro-Negro contra o Athletico-PR, nas quartas de final.

Foi um pênalti.

Mas não um pênalti qualquer, cobrado com força ou colocado, bem ou mal batido, mas displicente, tão sem vontade, que significou falta de respeito às cores do clube, à camisa, à história, aos companheiros de time, e à torcida, personificada em quase 70 mil no Maracanã e os milhões à frente da TV.

Um pedido de desculpas por parte do jogador seria o mínimo, não porque atenuaria a culpabilidade única e exclusivamente sua (Vitinho e Éverton perderam também suas cobranças), mas a Nação, que sustenta tudo isso, merece uma satisfação.

A TAÇA “MUSEU DA PELADA”

por Émerson Cássio Gáspari


Émerson Gáspari

Todo bom escritor que se aventure a redigir em “realidade alternativa” deve evitar a desculpa óbvia do “sonho” para justificar seu texto, recurso primário ao qual recorremos nas redações escolares, isso quando temos 11, 12 anos e queremos contextualizar algo de mais lúdico no papel. 

Mesmo um escritor barato – feito eu – deve procurar fugir desse recurso tão fajuto.

Pois não é que – ironia do destino – creio que de tanto evita-lo, acabei “sonhando” um novo texto? E ainda por cima, livre das “amarras” do tempo, misturando épocas diferentes num mesmo cenário.

Como boas ideias não devem ser desperdiçadas, vamos a ele, então (e que me perdoem os leitores, mas sonho é algo que não se controla, pois aflora do coração, quando a mente se deixa entorpecer pelo sono).

Quando disse a Sérgio Pugliese da minha ideia de promovermos um torneio de futebol entre os craques oferecendo a taça “Museu da Pelada”, ele achou o máximo: e foi logo ligando para Paulo Cézar Lima, requisitando sua preciosa ajuda nisso e para que convidasse todo o mundo futebolístico que este conhecia. 

PC Caju fez mais que isso: pediu a todos com quem falava, para que também convidassem quem conhecessem; independente da era em que houvessem atuado. Desse modo, multiplicou-se exponencialmente o número de cobras e apareceu gente de todo lugar e época do futebol brasileiro. 

O resultado foi espantoso!

Pugliese idealizava o torneio no Rio, berço do Museu da Pelada. E o companheiro André Felipe de Lima – seu fiel escudeiro e vascaíno também – insistia para que o realizássemos em São Januário. 

– E sem VAR, por favor! – exigia ele. 

Mas bati o pé até o fim, argumentando que esta primeira edição precisava ser em São Paulo, pois foi onde o futebol brasileiro teria oficialmente nascido, trazido pelas mãos de Charles Miller e blá, blá, blá e mais blá, blá, blá. 

Até que afinal “Serjão” cedeu, porém sob as condições de que seria um torneio totalmente raiz – de pelada, mesmo – fazendo jus ao nome da taça em disputa e também que a segunda edição aconteceria impreterivelmente na “Cidade Maravilhosa”.

Topei… e comecei a pensar no local ideal para o evento. 

No Jayme Cintra, estádio do Paulista na minha querida Jundiaí, não poderia ser… seria paixão clubística demais, de minha parte.

Precisava ser na capital. Imaginei-o primeiro no campo do CMTC Clube; uma espécie de versão do “Desafio ao Galo” no século XXI (até para emprestar um ar mais amador ao torneio). Mas desisti, pois precisaríamos de mais espaço. 

Pela mesma razão, descartei o romântico estádio da Rua Javari e quando já aventava a possibilidade de utilizarmos a Fazendinha, no Parque São Jorge, o amigo palmeirense Abílio Macedo interveio: 

– Émerson, não! Precisamos de um território “neutro”… que tal o Pacaembu?


Maravilha! Além de charmoso, o Pacaembu ainda contava com o Museu do Futebol, que poderia abrir as portas para que o Museu da Pelada promovesse resenhas com todos os seus membros, no dia do torneio. Era ousado, mas precisávamos tentar.

Apanhamos um bonde e lá fomos nós, pedir auxílio a ninguém menos do que Paulo Machado de Carvalho, para que nos ajudasse a viabilizá-lo no estádio que por sinal, leva o seu próprio nome. 

Dr. Paulo, sempre gentil e solícito, nos tranquilizou: 

– Fiquem despreocupados: eu cuido de tudo! – bradou o “Marechal da Vitória”. 

E já foi – ato contínuo – ligando para seus conhecidos políticos: Maluf, Adhemar, Jânio. Em menos de meia hora, estava tudo resolvido: o Pacaembu prontamente liberado para ser usado no evento, o qual deveria consumir o dia todo, sem dúvida. Além disso, aquele simpático empresário ainda responsabilizou-se pelos gastos decorrentes da premiação. Tudo pelo amor ao futebol. 

Pugliese achou por bem pedir ao torcedor que fosse ao estádio, para que contribuísse com doações para os projetos sociais apoiados pelo Museu da Pelada. Nada mais justo, por sinal.

Finalmente chegou o tão aguardado domingo, que coincidia com folga no calendário futebolístico nacional. O estádio ficou abarrotado: devia haver umas cinquenta mil pessoas ao todo, lá.

E embora na “Terra da Garoa”, fomos brindados com um lindo dia de sol. 

Eram tantos craques reunidos, que ficou decidido – a última hora – que o torneio teria três partidas de exibição. Não se disputariam finais: todos seriam premiados. 

A “boleirada” gostou e – no mais autêntico modo peladeiro – os jogadores sentaram-se no gramado, sendo escolhidos um-a-um (a dedo!) pelos “cobrões”. Mas nada de “cariocas x paulistas”, “casados x solteiros”, “negros x brancos”: bairrismos, modismos e racismo ficaram para trás, são coisas superadas por nossa sociedade, hoje mais justa e consciente da importância de todos. E sem violência também, por favor! 

Era tudo muito amador, mesmo: iriam jogar descalços e sem uniformes. Um time vestiria sempre camiseta do Museu, contra outro sem camisa. E bola “raiz”: costurada à mão, pesadona. Sem essas “bexigas” com que jogam nos dias de hoje – frisei. 

– E nada de VAR! – insistiu uma vez mais, André Felipe de Lima. 

Tudo pronto, os dois primeiros times pisaram no gramado. E a pelada começou exatamente às onze da manhã. Um espetáculo lindo de se ver!


Friedenreich deu a saída, rolando a pelota para Neco, que recuou a Fausto “Maravilha Negra”. Este, com categoria, abriu o jogo na direita para a descida de Zezé Procópio. 

Olhei em volta e vi a multidão nas arquibancadas de olhos vidrados no campo: realmente gratificante. O prélio segue. 

Falta agora de Junqueira em Feitiço, que ia costurando bela tabelinha com Araken Patusca pela meia. Trinta “jardas” de distância. Grané se apresenta para a cobrança: o “canhão 420” toma posição e solta um petardo que explode no travessão da meta defendida por Barbosa (balançando-a, inclusive!) e vai embora pela linha de fundo, deixando os narradores estupefatos, nas cabines de imprensa.

Os alaridos da torcida são constantes. E aumentam, quando Tim domina com exímia categoria e estica um passe para a arrancada empolgante de Romeu Pellicciari: com sua famosa “passada de ganso”, ele deixa o volante Zé do Monte para trás e atira firme para as redes de fora da área, abrindo a contagem. Rojões estouram por todos os lados. Golaço!  

Só que a peleja é lá e cá e ninguém quer ficar atrás no marcador: logo depois vem o troco dos adversários, com Zizinho fazendo uma jogada maravilhosa em cima do zagueiro Nariz, deixando Heleno de Freitas livre para empatar. 

Numa partida dessas o lúdico ocorre a todo instante fugindo às vezes, da luz da compreensão dos mais jovens, não acostumados a práticas mais antigas: como a que ocorre quando Tesourinha faz jogada maravilhosa pela direita e centra na direção de Carlitos. O artilheiro dos gols impossíveis arrisca o chute mesmo sem ângulo e vence o goleiro. Mas Belfort Duarte evita o tento em cima da linha, pois a bola toca em sua mão direita, perdendo-se pela linha de fundo. 

O árbitro Mário Vianna não percebe, assinalando escanteio. Mas o grande Belfort – zagueiro e capitão do time – corre até o juiz e lhe informa que havia sim, tocado na bola. Vianna agradece sua honestidade exemplar e assinala o penal. 

Ao meu lado nas arquibancadas, o amigo André Felipe de Lima não perdoa:

– Tão vendo? Bem melhor que o VAR…

Heleno cobra com força. Mas Marcos de Mendonça defende. O artilheiro se descabela (feito “Gilda”) proferindo xingamentos a tudo e a todos. Acaba sendo gentilmente “convidado a sair” e em seu lugar entra Leônidas da Silva. 

O “Diamante Negro” é ovacionado pela torcida e na primeira bola que recebe pelo alto, num centro do ponteiro Canário, acerta uma bicicleta indefensável na meta guarnecida por Barbosa. 

No intervalo, Veludo entra no posto de Barbosa, enquanto que Marcos de Mendonça dá lugar ao gremista Lara, verdadeira garantia em suas saídas do gol. Vários jogadores da linha também são trocados e os times voltam um pouco modificados para a segunda etapa, pelos seus treinadores Ademar Pimenta e Flávio Costa.

Segunda etapa que começa quente, pois agora o ataque dos “Três Patetas” (Isaías, Lelé e Jair Rosa Pinto) duela contra a linha defensiva “diagonal” de Rui, Bauer e Noronha. A maestria com que Jair, o “Jajá de Barra Mansa” lida com a redonda e executa seus tiros a gol e lançamentos (sempre em “s”) é encantadora. 

Já o clássico Danilo Alvim, o “Príncipe Danilo”, se vê a cometer uma faltinha na intermediária. Na cobrança, Hércules “O Dinamitador” acerta (e derruba) parte da barreira humana. 

A multidão vai ao delírio, extasiada com tantas jogadas “classudas” e incríveis, protagonizadas de parte-a-parte. 

Ademir de Menezes trava uma batalha inglória diante de Domingos da Guia: o “Divino Mestre” não abandona a área, neutralizando a conclusão da maioria de suas belas arrancadas. É um duelo empolgante. 

Bem no finalzinho, Telê Santana, o “Fio de esperança” consegue empatar a partida, num contra-ataque puxado pela direita, antecipando-se ao goleiro e tocando de biquinho, para o fundo das redes.   

Palmas eclodem de todas as partes e os apupos da torcida ecoam junto à bela “concha acústica” do velho estádio.

Entram em campo as equipes para a segunda pelada do dia. 

Ao apito de Armando Marques começa a partida, pouco depois de uma da tarde. Felizmente uma imensa nuvem escura domina parte do céu e providencialmente encobre o sol, durante quase todo o jogo. 


Gylmar sai jogando com Djalma Santos, que estende um passe para Zito. Este avança e entrega para Pelé, que recua para pegar. De Pelé para Coutinho, para Pelé, para Coutinho. Para Pelé de novo, que atira na saída de Manga, abrindo o marcador. 

Que maravilha! Quantos aplausos para o “Rei do Futebol”!

Pouco depois, é a vez de um impossível Mané Garrincha dar seu show e tirar os adversários para “dançarem”: ele finta dois, três adversários pela direita e cruza rasteiro, para o sempre eficiente Vavá empatar, com um tiro inapelável à queima-roupa, que vence Gylmar. 

Em meio à constelação de craques, o meio de campo parece ser o local preferido para um verdadeiro desfile de jogadas cerebrais. 

Numa delas, Dino Sani intercepta um passe, põe no chão e aciona Ademir da Guia. O “Divino” irrompe pela meia, tabelando com Dirceu Lopes. Jesus! Como jogam bem justos, esses dois! A conclusão do lance passa triscando a trave. 

Já pelo outro lado, o ponto forte são os lançamentos que partem do meio, executados com maestria por Didi, “O Príncipe Etíope” e Gérson. Aliás, o “Canhotinha de Ouro” fala o tempo todo em campo, orienta os companheiros e termina por descolar um passe longo açucarado que deixa PC Caju na cara do gol: é a virada!

Didi procura cadenciar o jogo, ora aplicando seus dribles sonsos, ora invertendo jogadas, utilizando-se de sua habitual “folha-seca”.  

Garrincha sente o joelho e entra Jairzinho em seu lugar.  Na outra ponta está Edu, que acaba de substituir Pinga. Porém, não há tempo para mais nada, pois chegamos ao fim da primeira etapa.  

Um Carlito Rocha preocupado vai ver Mané nos vestiários, mas Mario Américo o tranquiliza, dizendo que ele já está melhor com suas massagens, que não foi nada de mais. Só que o dirigente está sempre preparado e faz Garrincha, Didi e Nilton Santos tomarem as vitaminas que carrega no bolso, para “deixa-los mais saudáveis”, se lamentando pelo fato apenas de que não estejam na concentração botafoguense, onde poderia preparar suas fortificantes “gemadas”.

No período complementar, o espetáculo prossegue.


O capitão Carlos Alberto Torres trava um duelo duríssimo contra ninguém menos do que o endiabrado Canhoteiro. Num dos lances, o “Capita” encurrala o ponta junto à bandeirinha de escanteio, mas o lépido atacante escapa por um espaço menor do que um lenço, entre seu marcador e a linha de fundo, arrancando aplausos fervorosos da galera.

Já do outro lado, Julinho Botelho dá bastante trabalho para Nilton Santos, mas por enquanto o “Enciclopédia” vai controlando seu setor e levando a melhor, evitando o confronto, na base da experiência e da antecipação.

Os goleiros – eu ia me esquecendo – a essa altura, já são outros: entraram Oberdan no lugar de Gylmar e Castilho no posto de Manga. Além de outros jogadores na linha, escolhidos pelos treinadores Vicente Feola e AymoréMoreira. 

A sorte de Castilho quase vai pro “bebeléu” quando Tostão enfia um passe audacioso para Pelé, pela meia-esquerda. O “Leiteria” deixa o gol e é inapelavelmente driblado com uma ginga de corpo do “Rei”, o qual corre pelo outro lado, perseguindo a bola que cruza a área em diagonal e a chuta, mesmo desequilibrado. A redonda cruza toda a extensão da meta – com Bellini caindo dentro dela ao travar a corrida – e caprichosamente, vai para fora. 

Já Oberdan se vê em maus lençóis e tem que “se virar”, quando Edu e Rivellino tramam linda jogada pela esquerda – com direito a “elástico” de Riva – envolvendo a dupla Mauro e Piazza. Mas o goleiro palmeirense defende o tiro de Edu, agarrando com uma mão apenas e não dando rebote.

Mais gols, apenas no final: primeiro com Tostão, que inteligentemente apenas desvia um rebote na falta cobrada por Pepe bem no cantinho de Castilho e depois, nos instantes finais (acreditem!), Dario, o “Dadá Maravilha” – que acabara de entrar – também deixa o seu, tocando de cabeça de maneira atabalhoada e de costas para as redes, confundindo Oberdan Cattani. 

A galera cai na gargalhada com o lance e a comemoração, porque “Rei Dadá” não faz por menos e vem comemorar no alambrado com os torcedores.

Ao término do jogo, ele é, ao lado de Pelé, o mais assediado pelos repórteres de campo e explica, no imenso microfone que segura Sílvio Luiz, que “não existe gol feio; feio é não marcar gols”.  

Nas cabines de rádio e TV e na imprensa escrita, um show de profissionalismo e competência: Geraldo José de Almeida, Waldir Amaral, Osmar Santos, Luciano do Valle, José Silvério, Pedro Luiz, Fiori Gigliotti, João Saldanha, Mário Filho, José Trajano, Milton Neves, Sérgio Noronha.


Nelson Rodrigues prefere ocupar uma das cadeiras de honra. Abaixo dele, estão Castor de Andrade e Eurico Miranda, confabulando sabe-se lá o que! 

O sol volta a raiar com intensidade e os apupos da torcida trazem novas equipes a campo.

Já passa um pouco das três da tarde, quando o árbitro Arnaldo César Coelho autoriza o início do derradeiro duelo. Zagallo e Felipão estão à beira do gramado, berrando com seus times, desde o primeiro minuto de jogo. 

O equilíbrio fica mais evidente, desde o início: os espaços estão menores e a marcação, mais acirrada, nesse confronto. A bola parada vira uma arma importantíssima. 

A dupla de ataque Sócrates & Palhinha leva o casal Vicente e Marlene Matheus ao delírio, com suas tabelinhas empolgantes. Do lado de lá, Edmundo e Evair vão mostrando à que vieram: o “Animal” está impossível, hoje. 

Renato Gaúcho faz uma jogada sensacional pela direita e põe na cabeça de Reinaldo, obrigando Dida a fazer seu primeiro milagre. 

Os adversários respondem com uma triangulação infernal entre Zico, Bebeto e Roberto Dinamite, que acaba derrubado na entrada da área. O “Galinho” cobra com perfeição e Leão salva, de ponta de dedos, pondo a escanteio. 

Júnior avança e entrega para Rivaldo, que faz o corta luz, deixando a bola chegar para Ronaldo Fenômeno, que enche o pé, passando muito perto do gol.  

Agora Cafu desce pela direita e toca para Dener. O craque arranca com vontade e imensa velocidade e é parado na falta, na altura da meia-direita. Éder vai para a cobrança. Tensão no ar. 

O petardo infernal sai ziguezagueando, acerta o ângulo e abre a contagem. Fim do primeiro tempo. 

Durante o intervalo, a galera se entretém com alguns jogadores que não estão jogando, optando por brincadeiras mais descontraídas e abrilhantando o espetáculo: no gramado, Rogério Ceni se alterna entre bater e defender faltas e penais cobrados também por Perácio, Cláudio Cristóvam de Pinho, Zenon, Dicá, Ailton Lira, Neto, Marcelinho Carioca, Djalminha, Paulo Baier, Elói e Mendonça. 

Do outro lado do campo, mais atrações: um grupinho formado por Kerlon “Foquinha”, Baltazar “Cabecinha de Ouro”, Leivinha e Escurinho trocam inúmeros passes aéreos – apenas de cabeça – sem deixarem a bola cair. Próximo a eles, um animado grupo faz farra numa “roda de bobinhos”, só tocando de primeira, na maior categoria: Geraldo Assoviador, Kaká, Robinho, Denílson, Ronaldinho Gaúcho, PH Ganso, Neymar e até mesmo Falcão do futsal e Marta do futebol feminino. 

A criançada vai ao delírio com eles!

Na volta dos vestiários, Marcos entra no posto de Leão e Taffarel no de Dida.  Começa a etapa final do último jogo, com muitas alterações (para variar!) e um monte de caras novas aparece em campo.  

Careca & Muller dão uma canseira em Aldair e Marinho Chagas. Já Leandro evita descer para o ataque, pois precisa conter os avanços de Roberto Carlos pela canhota. A dupla “Casal 20” Washington e Assis vira então, um autêntico show à parte.


Do outro lado, é Romário e Adriano quem estão “tocando o terror” na dupla de zaga Oscar e Amaral. Eles só não levaram gol ainda, porque jogam com três zagueiros (como Felipão adotou) e Luís Pereira fica como líbero, salvando os lances mais agudos.

As disputas pelo alto entre o “Imperador” e o “Chevrolet” são épicas, ainda mais quando o zagueirão arranca para o ataque, levando o time todo junto.

Por sua vez, o “Baixinho” obriga o clássico Amaral a salvar gols certos por duas vezes, em cima da linha. Por conta disso, Amaral (mesmo sendo zagueiro) acabaria sendo eleito “o melhor goleiro” daquela tarde, numa descontraída brincadeira por parte da imprensa, que o presentearia por fim, com um “Moto-rádio”. 

O espetáculo está terminando; o “Rei de Roma” Falcão apanha uma bola na zaga e elegantemente caminha, conduzindo-a sem sequer olhar para ela. De repente, a entrega no círculo-central, a Mário Sérgio. O “Vesgo” não tem tempo sequer de olhar para um lado e lançar para o outro: é calçado por Dirceu (que ajudava na marcação) e que acaba por cometer uma falta. Aproxima-se a última volta dos ponteiros!  

Nelinho ajeita a bola ali mesmo, no meio de campo e toma imensa distância para bater. Taffarel pede barreira de seis homens, mesmo dali (pode isso, Arnaldo?). 

A pancada de direita é violentíssima, sai fazendo curvas e não dá a mínima chance ao goleiro, furando inclusive as redes. Incrível: é o empate, em cima da hora! Fim de jogo!

A última pelada termina com um público que se levanta e permanece aplaudindo por vários minutos de pé os seus craques. 

Todos os times agora no gramado começam a receber das mãos do Dr. Paulo Machado de Carvalho e de Sérgio Pugliese, as medalhas e taças do “Museu da Pelada”. 


Finda a confraternização e premiações, parte do público não arreda pé do estádio: é hora da “resenha”, realizada ali pertinho, no Museu do Futebol. 

O público superlota a Praça Charles Miller, prestando especial atenção à descontraída conversa com tantos craques (tendo Sócrates e Caju à frente), comandada por Sergio Pugliese, que conta com a providencial ajuda de alguns membros-voluntários do Museu da Pelada: André Felipe de Lima, Abilio Macedo, Walter Duarte, Daniel Muniz, Émerson Gáspari, entre outros. 

A resenha então se estende preguiçosamente desde o finalzinho da tarde, até altas horas da noite, tirando inclusive a própria Internet do ar e criando um autêntico “colapso digital”, tal a absurda quantidade de acessos de gente que tudo acompanhou – ao vivo, pela TV ou rádio – e que agora se encontra comentando boquiaberto o que viu e que nunca mais irá se esquecer na vida, enfim. 

RAINHA DO FUTSAL

por Wendell Pivetta


Parece difícil de acreditar, nos dias de hoje, que o futsal e o futebol já foram atividades proibidas para as mulheres. Esse veto, no entanto, existiu e foi criado no governo do presidente Getúlio Vargas, que proibia às mulheres a prática de esportes como futsal, o futebol, o halterofilismo, o beisebol e as lutas de qualquer natureza.

A Federação Internacional de Futebol de Salão (Fifusa), em 1983, permitiu a pratica desse esporte para as mulheres, assim a Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS) tornou oficial o primeiro campeonato do esporte: a I Taça Brasil de Clubes, realizado em 1992, em Mairinque (SP). Batalhas assim, foram oportunizando a força feminina, que até hoje luta dia após dia por melhorias e reconhecimento necessários no esporte, como bem vimos recentemente na Copa do Mundo Feminina.

Hoje nosso bate papo é com uma atleta Cruzaltense, do interior do Rio Grande do Sul para o mundo, Tainã Santos.

Com 29 anos e muita garra, jogou em mais de 5 países diferentes, e já encaminha seu sétimo ano de carreira fora do Brasil. Quando visita o Rio Grande do Sul, a atleta promove torneios solidários, como nos conta com maiores detalhes:

– A ideia do Torneio e dos eventos solidários surgiram através de uma visão minha de poder unir o esporte com a solidariedade . Eu passo o ano inteiro longe de Cruz Alta, então faço questão de organizar os eventos aqui que já se estendem pela região para que o futsal feminino aconteça e para que as pessoas possam entender que o nosso pouco pode ser muito na vida de outras pessoas.


Em um senso comum, seja jogador masculino ou feminino, campo ou salão, sabemos que o atleta abdica de muitas coisas em sua vida, antes de chegar ao seu auge e estrelismo firmando sua carreira. Aprender novas línguas e costumes estrangeiros então se torna uma tarefa ainda mais árdua, porém nada é impossível como ela nos conta:

– Viver fora do país tem seus altos e baixos. A vida de uma atleta e em específico jogadora de futsal requer muito pulso firme além de muita fé. Eu não imaginei que eu iria tão longe mas quando as pessoas me perguntam até quando eu quero permanecer eu digo sempre até que Deus me permita. Decidi sair de casa com meus 17 anos para viver sem meus pais foi a coisa mais dolorosa e também desafiadora que eu já fiz. Estou há 6 anos já no futsal europeu e tem sido uma vivência incrível. Penso que minha fé e minha dedicação além de muita força de vontade foram sempre os diferenciais na minha carreira. Sinto uma saudade imensa da minha família e dos meus amigos conterrâneos, mas sem dúvida alguma viver esse sonho de viver na Europa e estar indo para o 5º ano de Itália além de Russia e Espanha é sem dúvida uma conquista e tanto. Em minhas palestras e em meus eventos tanto para criança jovens e adultos eu sempre digo: acreditem nos seus sonhos e trabalhem dia a dia para que eles se realizem porque tudo é possível ao que crê.

Com certeza esta atleta é um ótimo exemplo de esforço e procura pela melhora em sua carreira, e também ampliando para todos que lutam pela tão sonhada carreira de sucesso no futebol. O Futsal é mágico, não tão bem visto como o do gramado, mas tem suas belezas que no campo não se pode fazer com sabedoria como o chute de bico, a rotação até proporcionar o ataque exato, dentre outros lances que geram dribles, mais recursos ao atleta para demonstrar sua habilidade. Porém a quadra é dura e judia mais do físico, algo que deveria ser ainda mais valorizado. O que falta para o berço do futebol de qualidade ser bem visto? Tantos craques da quadra hoje atuam no campo, e acontece um descaso neste meio período que não podemos mais descuidar.

25 ANOS DO TETRA

por Mateus Ribeiro


Há 25 anos, mais precisamente no dia 17 de julho de 1994, o Brasil se tornava tetracampeão mundial de futebol após o craque de bola Roberto Baggio mandar sua cobrança de pênalti na Lua, em uma clara comemoração aos 25 anos da missão Apollo 11 (que obviamente, 25 anos depois, completa meio século de vida).

As lembranças podem ser muitas, mas são basicamente iguais na cabeça de todo mundo: os gritos histéricos de “É tetra!” sendo repetidos exaustivamente, a gravata do Pelé, o Dunga falando todos os palavrões possíveis, a molecada na rua enchendo a cara de refrigerante enquanto os pais e parentes mais velhos tomavam litros de cerveja e muita festa pelas ruas.

Eu estava feliz pra caramba, comemorando junto da minha família, e na minha cabeça, o Brasil era invencível. Antes do início da Copa, meu pai me deu o álbum de figurinhas, me ensinou a fazer cola de trigo (a cola era cara, e mesmo que a nossa situação não fosse de pobreza extrema, luxos não eram exatamente permitidos ou incentivados) e me disse que o Brasil venceria. Venceu mesmo, e tal qual meu velho, não me decepcionou.


Eu estava emocionado, principalmente por ver o Viola ali no meio, e naquela época, ele era um dos meus principais ídolos. Hoje, é bem possível que se eu encontrasse metade do elenco de 1994, não faria a mínima questão de apertar a mão, por divergências de opiniões. Mas naquele domingo, aquela turma me fez a pessoa mais feliz do mundo.

Vinte e cinco anos depois, eu não torço mais (na verdade, desde idos de 2001 eu nem perco meu tempo), porém, esse dia não sai da minha cabeça. A maior Copa do Mundo da história tinha dono, e eu me senti um pouco campeão do mundo naquele 17 de julho de 1994.

Um quarto de século após um dos dias mais felizes da minha vida, reconheço que o futebol apresentado passou longe do espetáculo, e agradeço por isso, pois hoje sou um resultadista, com todo o orgulho do mundo.

Duas décadas e meia depois, sei o quanto identificação é importante e que traumas deixam marcas. Eu juro por tudo que é mais sagrado e que (não) acredito que entendo os adultos que já não ligavam mais em 1994, muitos deles atormentados por Paolo Rossi, penalidades máximas, Maradona e Caniggia.


E no final das contas, sabe o que tudo isso significa? Que depois do final do meu expediente (que começou muito cedo e vai acabar muito tarde), eu vou vibrar com a falta do Branco contra a Holanda, com o Bebeto se declarando para o Romário. Também vou sofrer com o empate dos holandeses e com a porrada que Leonardo deu em Tab Ramos. Vou relembrar como chorei na hora que o juiz apitou o final da prorrogação, temendo o pior. 

Afinal de contas, não é todo dia que se comemora uma data tão especial. E não é todo dia que se volta a colaborar com esse projeto maravilhoso chamado Museu da Pelada.

Obrigado, Brasil. Obrigado, Museu!

MARACANAZO 69

por Israel Cayo Campos


Há sessenta e nove anos ocorria a maior tragédia da história do futebol brasileiro.

Jogo final do quadrangular que decidia o título de campeão do mundo de 1950. 

Copa do Mundo realizada no Brasil. 

A Seleção Nrasileira vinha de “malditas” goleadas sobre Espanha e Suécia e só precisava de um empate contra o Uruguai. 

Mais de duzentas mil pessoas no estádio do Maracanã torcendo por nossos jogadores. Recorde em finais de Copas até hoje! 

Uma preleção cansativa e cheia de políticos querendo fazer fama em cima dos jogadores que enfim trariam a Taça Jules Rimet para o solo brasileiro.

Um primeiro tempo tenso. Mas que acabara sem gols, o que era suficiente para os brasileiros.

Logo aos três do segundo tempo, Friaça abre o placar e leva à loucura a torcida brasileira. O título era nosso! 

Ouvem-se berros! Era Obdúlio Varela empurrando sua seleção mesmo com o placar adverso. 

Uns tapinhas que viraram “bofetões” no imaginário popular no lateral Bigode. 

O Brasil já se vê pela primeira vez campeão mundial. 


É aí que aos vinte e um Varela rouba a bola e toca para Ghiggia. O Seu Alcides passa por Bigode e em alta velocidade chuta cruzado, Schiaffino aparece no meio da área para empatar. 

O titulo continuava a ser nosso! Mas em um lotado Maracanã podia-se ouvir os gritos de Obdúlio. 

Aos trinta e quatro Ghiggia tabela com Pérez e escapa de novo pela marcação na direita do ataque e avança para área. 

Barbosa pressente a jogada que ocasionou o primeiro gol uruguaio e dá um passinho. 

Ghiggia chuta. E se por sorte ou esperteza ela entra exatamente no espaço do canto esquerdo do gol de Barbosa. A Celeste virava o jogo. 

Há uma lenda de que o torcedor brasileiro se calou após a virada uruguaia. Não fora bem assim! 

A torcida empurrou o time que quase empatou em um chute que explodiu no travessão de Maspoli. 

Mas aquele não era nosso dia. Pontualmente aos quarenta e cinco, o árbitro inglês George Reader apitava o final do jogo.

Jules Rimet que havia descido um pouco antes das tribunas do Maracanã para entregar a taça aos brasileiros ao descer ao gramado se assustara com os uruguaios comemorando. 


Mais de duzentas mil pessoas em um silêncio funebre que se espalhou por todo o Brasil… 

Alegres só os uruguaios! Bicampeões mundiais! 

Os jogadores brasileiros cabiam os prantos e a vergonha. 

Uma série de ataques injustos e complexos foram atribuídos a aquela geração.

O Goleiro Barbosa foi o que mais pagou! 

Apesar de até 1950, aquela ter sido a melhor campanha do Brasil em Copas. Vencer era obrigação!

Mas a obrigação virou tragédia… Sessenta e nove anos depois, o “Maracanazo” ainda vive. 

Mesmo depois de cinco Copas conquistadas! 

Curioso ou não, nosso carrasco Alcides Ghiggia faleceu exatamente num dia dezesseis de Julho. Para que os brasileiros nunca esqueçam o seu nome.

Outros dezesseis de julho contra os uruguaios vieram e foram mais felizes. 

Como a conquista da Copa América de 1989 nessa mesma data com um gol de Romário sobre a Celeste Olimpica.

Um título que não vinha a quarenta anos!

Mas não tem jeito. Dezesseis de julho é dia de “Maracanazo”. É dia da lembrança mais dolorida da história do futebol brasileiro.