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Geral

O MENINO E O ÍDOLO

por Claudio Lovato


O menino está no estádio ao lado do pai. 

O menino olha para o banco de reservas e não entende por que seu ídolo está lá. 

Não entende por que ele está lá e por que só tem entrado no fim dos jogos, quase sem tempo para tocar na bola uma vez sequer.

 O pai já tentou lhe explicar: “Ele está voltando de lesão”.

Aquelas palavras nada significaram para o menino. Ele só quer ver de novo seu grande herói em campo, fazendo gols, como se acostumou a ver.  

O pai, em outra ocasião, tentou ser didático (“Ele tem um problema chamado fascite plantar”) e chegou a procurar a definição técnica na internet para mostrar ao filho: Inflamação de uma faixa espessa de tecido que liga o osso do calcanhar aos dedos. Os sintomas incluem dor aguda perto do calcanhar.

Para o menino, aquelas palavras também não diziam nada. Coisa nenhuma. Nada, absolutamente nada que se tente explicar hoje fará diminuir o inconformismo e a frustração e a angústia do menino. Ele olha para o banco de reservas e quer de volta a emoção de ver seu atacante preferido, seu ídolo, seu herói, marcar outra vez, apenas isso.

Um dia ele vai entender – um dia; não agora. Um dia ele vai entender que as coisas acontecem na vida simplesmente porque podem acontecer, e que a realidade tem suas imposições.

E que essas imposições da realidade são quase sempre poderosas, volta e meia intransponíveis, mas sempre – sempre, sempre! – passíveis e merecedoras de enfrentamento e persistência, persistência, persistência, persistência, persistência, persistência, e assim por diante.  

SER CRUZ ALTA

por Wendell Pivetta


Foto: Vinicius Carvalho

Fazer futebol no Interior do RS nunca foi e jamais será fácil. E a SER Cruz Alta, apesar de todas as dificuldades financeiras e pouco apoio das grandes empresas, insiste em manter o futebol ativo durante o ano. Porém, não tem sido fácil. Taxas, viagens, INSS, FGTS, fardamentos, alimentação de atletas, despesas diárias e demais custos pesam e muito no bolso. Por isso, contamos com você torcedor.

Ajude o time de Cruz Alta e região a encerrar bem a temporada de 2019 com um ótimo desempenho na Copa Seu Verardi. A sua contribuição, independentemente do valor, nos ajudará muito a quitar todas as despesas e assim, poderemos em 2020, entrar com o pé direito para a quarta temporada consecutiva de futebol.”

Este é o resumo de um pedido por ajuda de uma equipe que luta pelo seu quarto ano de sequencia no interior do Rio Grande do Sul. A SER Cruz Alta existe há muitos anos, porém conseguiu há pouco tempo voltar e proporcionar um sonho de futebol para torcida e atletas que almejam o futebol profissional. Esta equipe participa no início do semestre da terceirona gaúcha, e aproveita no segundo semestre para participar da Copa Gaúcha que inclusive concede vaga ao campeão para participar da Copa do Brasil. Vale ressaltar que sua equipe SUB-15 joga o estadual de futsal.

Em poucos anos de reestruturação, a equipe consegue se manter bem nas competições em que disputa, conquista pontos fundamentais e conta com uma ótima assessoria de comunicação, fazendo com que atletas de fora venham jogar e buscar melhorar sua imagem profissional. O porém desta história conta com o descaso de algumas empresas que deixam de patrocinar a equipe, fazendo com que a luta seja ainda mais difícil, já que estamos falando de partidas de futebol, um evento. Em casa, o evento custa quase R$ 1.000,00 para que aconteça, contando com suporte da polícia e ambulância, sem falar nas viagens longas, que tem um custo a mais do transporte e alimentação da direção e equipe.


Foto: Vinicius Carvalho

Neste ano, a grande surpresa para a equipe é participar da Copa Seu Verardi, como dita antes, concede vaga ao campeão para a Copa do Brasil. Então a SER Cruz Alta teve por alguns dias sua imagem denegrida, já que um dito cujo “empresário”, através do Facebook, estava convocando atletas que queriam disputar a Copa Seu Verardi. Ao entrar em contato com o mesmo, via WhatsApp num número com DDD 87, a equipe foi informada de que o jogador deveria pagar profissionalização, transferência e um investimento inicial de R$ 1.000,00. Neste momento, a SER Cruz Alta teve de reiterar seu compromisso com a transparência e jamais montaria um elenco com o objetivo de causar prejuízos financeiros a atletas e suas famílias.

O futebol do interior não é nada fácil, as competições oportunizadoras acontecem, porém precisa-se de uma força muito forte para as equipes conseguirem jogar e se manter em dia com suas contas. Que tal ajudarmos a SER Cruz Alta, única equipe da cidade no futebol profissional, e apoiar o sonho de muitos jovens que estão na luta? O link está disponível, e a qualquer valor:

https://www.vakinha.com.br/vaquinha/643013?fbclid=IwAR1qvzpYpfXc4DEi34gXDGsKfobU0RQdOBwBll6SBV0rPWlzO70CYT3bUT8  

Fotos: Vinicius Carvalho

A ACCOR, O PSG E SEUS RESPECTIVOS MERCADOS

por Idel Halfen


Quando olharmos as camisas do Paris St. Germain na temporada 2019-20 notaremos uma significativa diferença em relação às dos anos anteriores. Não me refiro aqui ao desenho inédito das peças, afinal isso acontece a cada início de temporada, mas sim à mudança do patrocinador máster, pois, após treze anos, a Emirates não estará mais exposta dando lugar à marca All – o novo programa de fidelidade da rede de hotéis Accor.

A iniciativa da mudança já valeria uma análise, visto que, apesar de a anterior e a atual pertencerem a setores econômicos teoricamente diferentes – transporte e hotelaria –, o público-alvo de ambas é semelhante: pessoas que saem de casa a lazer ou a trabalho e precisam de acomodações e transportes para isso. Assim, observando sob esse prisma, podemos inferir que a iniciativa da Accor faz sentido, até porque a Emirates parece referendar esse tipo de patrocínio, vide a quantidade de times de futebol onde aporta investimentos dessa espécie.

Creio também ser desnecessário discutir a exposição que a marca terá, já que o clube parisiense chegou a um patamar que lhe permite disputar as principais competições e hoje é reconhecido mundialmente. Além disso, graças ao fato de ter jogadores de diversas nacionalidades e vários craques, os valores relativos à internacionalização, à boa performance e à qualidade, entre outros tão desejados por uma rede hoteleira, passam a ser incorporados à empresa.


Em termos de ativação já foi anunciado que os hotéis passarão a ter espaços onde serão comercializados produtos do clube, o que, além de reforçar ainda mais a associação entre as marcas, aumentará consideravelmente o número de pontos de vendas – são cerca de 4,800 hotéis em diversas partes do mundo – e consequentemente as receitas com royalties advindos do licenciamento. 

Esses pontos de vendas contribuirão também para aumentar o fluxo de pessoas nos hotéis, as quais não necessariamente são hóspedes naquele momento. Claro que uma taxa de ocupação alta com um valor de diária média lucrativo é o objetivo de qualquer rede hoteleira, entretanto, não se pode ignorar que as receitas com outros serviços como bares, restaurantes e eventos também ajudam a compor a equação de resultados das redes, e isso certamente acontecerá em função do maior tráfego de pessoas.
Além disso, um bom trabalho de conversão tem a capacidade de transformar potenciais clientes em clientes, o que, no caso, fica facilitado pelo fato de a pessoa estar no local e, dessa forma, mais suscetível às experiências que lhe forem proporcionadas.

Num mercado em que as pesquisas pelos sites de reservas deixam a competição cada vez mais acirrada e o preço se torna um forte fator influenciador da escolha, é fundamental que as redes se diferenciem e sejam percebidas como tal. Nesse cenário, os trabalhos voltados ao posicionamento das redes são fundamentais para minimizar os efeitos das “guerras de tarifas” – onde as margens são constantemente corroídas -, mas para isso é necessário que as marcas “encontrem” e divulguem os atributos que possam lhe propiciar vantagens e diferenciais na mente do cliente e atrelá-los a elas.


Além do trabalho de posicionamento, que reitero ser imprescindível para qualquer empresa que tenha pretensões de longo prazo, é importante desenvolver produtos e serviços que deixem o cliente com a sensação de que fez uma escolha vantajosa. Em mercados como o de hotelaria, a existência de um plano de fidelidade ajuda bastante nesse sentido, contudo esse precisa ser bem divulgado, e para isso o patrocínio ao Paris Saint Germain tem tudo para ser um case de sucesso para as partes.

TOCA A BOLA AÍ, CARA

por André Felipe de Lima


A pelada está entranhada até o último fio de cabelo da gente. Nem precisa gostar muito de futebol. Todos — sem distinção — já disputaram uma pelada na vida. Uma que seja. No colégio, defronte a casa dos pais, na pracinha do bairro, no quintal dos avós, enfim, pelo menos uma vez na tosca vida de todos nós jogamos uma pelada.

Nem precisamos ser craques de verdade, embora frisássemos sempre sermos “craques de verdade”. Quem quisesse acreditar, que acreditasse. Isso nunca importa para um peladeiro juvenil, que já crescido continuará sempre contando vantagem. Mas sem isso não há alma de peladeiro. O peladeiro é melhor que qualquer outro ser da terra. Nada o supera. Jamais o superará. Em qualquer lugar da vida em que esteja, o peladeiro faz da fantasiosa e criativa memória seu impoluto campo de futebol. Imaculado. Dribla para lá, para cá; dá uma bicicleta; voleio. Cabeçadas e tiros certeiros. Dribles? “Ora, é o que de melhor sei fazer”, responde o “craque de verdade”. Ninguém ousaria bater melhor na bola que ele.

No pensamento? Perpassam somente suas jogadas. “As do quintal dos avós foram as melhores”, costuma dizer. Mas há hora que impeça a santa pelada? Não. Não há.

Mesmo no turbulento e violento centro da cidade do Rio de Janeiro há um “Maracanã” lindo, em um largo em meio a camelôs e gente apressada, estressada e infeliz. Mas quem disse que peladeiro é apressado e infeliz? Ele para ali. Sim, naquele “Maracanã” lindo, idealizado e florido por um monte de peladeiros e torcedores genuínos, iguaizinhos os da geral de antigamente do nosso Maracanã. Pobre Maracanã perdido no tempo.

O almoço pode esperar. O patrão também. E bola lá, bola cá. Alguns ansiosos na “arquibancada”, fazendo a “de fora”, loucos para entrar naquela “grama” cinzenta. A hora chegará, peladeiro… pode esperar, porque, afinal, a pelada é eterna e o relógio, para os meninos e meninas peladeiros, não tem ponteiro. Nunca teve. Toca a bola aí, cara!

OS PALCOS DE SILVIO

por Sergio Pugliese


EM PÉ: ARMANDO PITTIGLIANI (produtor musical), SÉRGIO CHAPELIN, GOLEIRO CONVIDADO, MAESTRO GAYA, FLAVIO CAVALCANTI JR., JUNIOR MENDES (filho do Luis Mendes), PEDRINHO (THE FEVERS) e MIELE.
AGACHADOS: MASSAGISTA, RUY FARIA e MILTINHO (MPB4), PAULINHO TAPAJÓS, NONATO BUZZAR, SILVIO CESAR, CHICO BUARQUE, MAZOLA (produtor musical) e LUG DE PAULA (“Seu” Boneco)
Foto | Arquivo

A equipe do Museu da Pelada não ia perder esse show. Silvio Cesar é um dos maiores intérpretes da MPB e autor de clássicos como “Pra Você”, imortalizada na voz de Elizeth Cardoso, e “O Moço Velho”, escrita especialmente para o Rei Roberto Carlos. Eu e o maestro Reyes de Sá Viana do Castelo ficamos na primeira fila e ele acenou quando nos viu. Estava cercado de estrelas, como Chico Buarque, Carlinhos Vergueiro, Paulo Cesar Feital e Hyldon. A sintonia era perfeita, afinal numa turma assim ninguém desafina. O público estava encantado mas Silvio, cansado, pediu para sair. Foi aplaudido. Nesse palco, o campo de pelada, ele pode se dar a esse luxo. Beijou a camisa do Polytheama, time de fé há 32 anos, e garantiu que em 2012, quando completar 51 anos de carreira, reunirá esse timaço em outro palco, o de algum teatro, para repetirem a mesma exibição, o mesmo entrosamento. 

– Esses dois palcos me revitalizam – suspirou.

O mineiro Silvio Cesar é rato de pelada e conhecido por suas frases de efeito. Certa vez, reclamaram que ele não corria em campo (e é verdade!), então avisou que não era maratonista. Para outro irritadinho que disparou aquele famoso “só gosta de receber bola nos pés”, rebateu: “E se fosse jogador de basquete só gostaria de receber nas mãos!”. Semana passada, indignado por ninguém lhe passar a bola, jogou a toalha.

– Perguntei aos reservas se alguém queria NÃO jogar em meu lugar.

Mas bola e a música sempre conviveram harmonicamente em sua vida. Em 1960, abandonou o futebol de salão e veio para o Rio estudar na Faculdade Nacional de Direito. Conheceu Copacabana e, claro, se encantou. Foi apresentado ao músico Ed Lincoln, viraram parceiros e seu point passou a ser a Boate Drink, na Avenida Princesa Isabel. Ali, cantou para os presidentes Jango Goulart e JK e em pouco tempo explodiu. Mas as peladas no Manufatura e Caxinguelê nunca cessaram, mesmo quando saía dos shows com o sol raiando.

– Quando não jogo perco a inspiração – assumiu.


Foto | Arquivo

No Jazzmania, viveu uma de suas maiores emoções quando conheceu o ídolo Tony Bennet. O Rio de Janeiro era outro! O astro internacional, considerado o maior cantor do mundo, foi assistir Leny Andrade. Sentou-se sozinho e ficou desenhando a cantora enquanto Silvio saboreava um Martini apoiado no balcão e babava de inveja da amiga. No fim do show foram apresentados e Silvio o presenteou com seu disco saído do forno, “Aos Mestres Com Carinho”, com a participação de Tom Jobim e Vinicius. Aí, foi a vez de Tony babar. Foi um encontro marcante. Felicidade como aquela só quando jogou no Maracanã. Foram sete vezes, quatro vitórias, dois empates e uma derrota, essa humilhante! Foi na preliminar da decisão da Taça Guanabara, em abril de 1975, entre o seu Fluminense e o América. O cartola Francisco Horta armou um jogo entre artistas, mas na divisão os tricolores ficaram muito mais fracos. Com 20 minutos já estava 8 x 1 para o Mequinha. Acabou 11 a 2.

– Pior foi o alto-falante anunciando que o placar só ia até 10. E joguei com a 10 do Rivellino, uma lástima – divertiu-se.

Silvio viveu a época romântica da cidade, da música, do futebol e do rádio. O musical Arco-Íris, com ele e Pery Ribeiro ficou seis meses em cartaz. Trabalhou com Grande Otelo, no teatro, Renato Aragão, no cinema e Elis Regina, na tevê. Entende cada momento e hoje continua produzindo com artistas da nova geração, como Jorge Vercillo e Diogo Nogueira. Em seu último cd, lançado recentemente, uma canção sobre pelada não podia faltar. “Não Nasci Para Jogador” é uma declaração de amor à bola. Antes, já havia gravado “Se Você Fosse Um Homem”, com a participação do MPB-4: “se você fosse um homem compreenderia a loucura e a alegria de ficar com os amigos pela madrugada lembrando aquele gol da última pelada…”.

Para Silvio a pelada mexe com a sensibilidade, toca no fundo do coração, assim como os grandes shows. Ele costuma comparar jogadores a músicos. Para ele, Falcão, ídolo do Internacional, seria Helio Delmiro se fosse um instrumentista. Quando fecha os olhos para compor sempre enxerga um gramado verdinho lá no fundo. A poesia do gol é a mesma de uma bela canção, de um violão afinado. Assistir Pelé, Didi e Garrincha era como se encantar com os Três Tenores, Luciano Pavarotti, Jose Carrera e Plácido Domingos. Aos 70 anos continua como lateral do Polytheama, time do amigo Chico Buarque.

– Chico é craque, domina mesmo as tijoladas que recebe e disfarça a voz para reclamar dos outros. Nos faz rir o tempo todo.

Silvio vai em frente. A perna já não obedece. Prevê toda a jogada, mas ela fica guardada na imaginação. Não se importa com isso. Aprendeu a conviver com o tempo, a trocar passes com ele. Se ele limita seu fôlego, sua velocidade, sua impulsão, contribui para o amadurecimento de sua inspiração. E essa está com a corda toda, fervilhante, dando carrinhos, correndo por todo o campo e com a disposição de um menino.