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SÓ PODE PATROCINAR?

por Idel Halfen


Se analisarmos de forma mais apurada os patrocinadores másters dos times que disputaram a série A no campeonato brasileiro de 2021, constataremos que o setor mais presente foi o de “apostas” – sete equipes -, sendo que em 2020 esse número não passava de quatro. A título de esclarecimento, vale salientar que tais dados dizem respeito ao espaço mais nobre do uniforme, o peitoral, pois, caso considerássemos outras propriedades como calção, manga, meias, etc. a quantidade seria ainda maior.

Não há dúvida que se trata de uma tendência, a qual está relacionada não só à capacidade de investimento das empresas deste setor, como também à provável identificação de que o público que assiste futebol é um de seus alvos. Cumpre ainda relatar que o mesmo fenômeno ocorre em escala mundial e só não é maior em função das restrições legais que existem e/ou passaram a existir em alguns países como a Espanha, por exemplo.

Ao contrário do que possa parecer, o jogo – excetuando turfe e loterias – continua proibido no Brasil, a liberalidade mencionada no caso dos patrocínios diz respeito à sua publicidade.

Por outro lado, o tabaco e as bebidas alcoólicas, apontados como passíveis de dependência, têm o consumo permitido, porém, os clubes brasileiros não podem expor em suas camisas marcas oriundas desses segmento. Ressalte-se que em alguns países marcas de cerveja, de vinho e até de aguardentes patrocinam times de futebol.

Diante do cenário descrito não há como deixar de refletir acerca do suposto paradoxo. É razoável admitir que uma prática seja ruim a ponto de ser proibida, mas ainda assim ter o consumo incentivado? Ou que outra possa ser usufruída, mas não incentivada?

Ainda que seja importante discutir os aspectos ligados à saúde e ao próprio contexto histórico que motivaram as legislações, creio que as análises sob o prisma de marketing e branding sejam o ponto de partida para se entender a questão.

Enquanto as indústrias de cigarro e de bebidas buscam posicionamentos para as suas respectivas categorias e investem na consolidação dessas imagens, a indústria do jogo não se atentou para essa necessidade. Filmes e novelas do passado traziam os personagens principais bebendo drinques e fumando, fazendo com que tais hábitos virassem sinônimos de glamour. Já o jogo era abordado para mostrar alguns personagens indo à bancarrota.


Por mais que a vida não seja exatamente igual à arte, não há como negar que ainda há um resquício desse passado, o qual certamente vem sendo herdado pelas gerações.

Caberia aos gestores de cada modalidade de jogo, encontrar um posicionamento responsável para seus produtos, isto é, exaltando seus benefícios sem ignorar os aspectos ligados ao meio ambiente, à saúde e à governança.

Por fim, é mandatório esclarecer que o objetivo do texto não é fazer apologia da liberação ou não do jogo, mas sim mostrar algumas contradições e chamar a atenção de que o marketing é fundamental para qualquer ramo de atividade.

OS ENCANTOS DO DOUTOR RÚBIS…

por Péris Ribeiro


O primeiro grande ídolo que tive na vida, não foi Didi, o genial inventor da Folha-Seca. Nem mesmo Zizinho, o inigualável Mestre Ziza. Ou ainda Mané Garrincha, alegria maior dos estádios de todo o mundo.

Na verdade, quem povoou os sonhos da minha infância e me ensinou o caminho das emoções de cada domingo no futebol, foi um fenômeno rubro-negro que atendia pelo nome de Rubens. Rubens Josué da Costa. Um meia-armador baixinho e troncudo, repleto de habilidades, e que, na idolatria da torcida do Flamengo, era o maior de todos os craques da época. Mas que, para ela, era simplesmente Doutor Rúbis.

Conheci-o primeiro pelas ondas do rádio, através das empolgantes transmissões do professor Oduvaldo Cozzi, o mais famoso dos narradores esportivos da época. Até que, já inteiramente arrebatado, parti para vê-lo em ação em pleno Maracanã – onde a minha fantasia, se consumou numa colorida e festiva realidade.

Maior expressão do frenético time do Flamengo, que caminhava a passos largos para a conquista do primeiro tricampeonato da Era do Maracanã, dava gosto – e como! – vê-lo jogar. Particularmente, por unir a cada passo, em cada lance em que o víamos em ação, trejeitos típicos de um passista de escola de samba aos invejados dotes de um grande artista da bola.

Aliás, a tarde – noite em que o Flamengo comemorou o bicampeonato carioca de 1954, em pleno mês de fevereiro e às vésperas do Carnaval de 1955, jamais sairá da minha memória. Ainda mais, que eu estava ali – menino ainda, nos meus 11 anos de idade -, vivenciando tudo aquilo. Tão perplexo quanto deslumbrado. Ainda mais, que havia chovido o domingo inteiro – aquela chuvinha fina e resistente, dos longos dias de verão. Mas o Rio de Janeiro, mesmo assim, era uma festa só.

Nas arquibancadas, a charanga de Jayme de Carvalho, àquela altura, fazia o estádio inteiro tremer. Era um show à parte. E entre sambas e marchinhas carnavalescas, e o empolgante hino do clube, jamais parava de tocar. “ Flamengo, Flamengo / Tua glória é lutar/ Flamengo, Flamengo/  Campeão de terra e mar…” E se empolgava ainda mais, quando mergulhava no embalo de um samba-batuque de Risadinha, que ganharia o carnaval daquele ano, e ao qual adaptara uma paródia irresistível: “ Venho do lado de lá/ Venho do lado de lá/ O Doutor Rúbis mandou/ Todo mundo gingar/ O Doutor Rúbis mandou/ Todo mundo gingar…”

E que lá embaixo, no campo, o Bangu sofria a humilhação de uma goleada de 5 a 1. E toda aquela aula de futebol era comandada por Rubens, que não se cansava de colocar Índio, Evaristo, Benitez e Paulinho Almeida na cara do gol. Ou de descadeirar Zózimo, Gavillan e quem mais se atrevesse a marcá-lo, com sucessivos dribles desmoralizantes.

Ah!, o seu drible! Podia ser pequeno, estreito, mas quase sempre era largo, vistoso. E ele executava-o com elevada tessitura plástica, partindo para cima do adversário e bailando diante dele. Para, logo em seguida, ultrapassá-lo com a maior das facilidades, como se estivesse prendendo a bola à chuteira numa espécie de barbante ou elástico – o que fazia com que a citada bola parecesse ir e vir, intermitentemente, ao seu pé direito. Para desespero de quem dele, Rubens, se acercasse naquele momento.

Gostando de invadir a área inimiga, trocando passes com Índio, Benitez, Paulinho ou Evaristo, Rubens era dos que sabiam chutar com rara precisão a gol. E se conhecia como poucos, os atalhos para os lançamentos sob medida de mais de 40 metros, era de conceber verdadeiros recitais no meio-de-campo, ao lado de sua alma gêmea, Dequinha.

Até que certa vez, após mais um daqueles momentos geniais ao lado do velho Deca, limitou-se a comentar:

– Para ser franco, nem sei bem o que dizer. Nem sei como explicar. Parece uma coisa mágica, sabe? É como se estivéssemos juntos há muito tempo. Como se a gente jogasse por música…

Consagrado o Maior Jogador do Rio nas temporadas de 1953 e 54, além de ser tido e havido como o grande herói daquele bicampeonato rubro-negro, já no início de 1955, Rubens era, na verdade, tudo aquilo e muito mais. Na minha concepção, ele era ritmo, simetria e sofisticação em campo. Tudo isso ao mesmo tempo. Só que também era picardia, malemolência, leveza, malandragem…

Como se vê, só podia virar mesmo Doutor Rúbis !

Por sina. E pura vocação.

A FALTA QUE FAZ O TORCEDOR

por Zé Roberto Padilha


Outro dia, conversando com o Dé, o Aranha, essa figura maravilhosa que só o futebol foi capaz de revelar, relembramos uma partida que marcou muito as nossas vidas. Foi um Flamengo 3 X 1 Vasco, terceira rodada da Taça GB, no dia 04/04/76.

O jogo valia apenas os três pontos, não decidia nada, mas os moradores da Cidade Maravilhosa combinaram, depois da praia, ir ao Maracanã. Foi tudo uma enorme coincidência.

Nos vestiários, pelo barulho, já sentíamos que tinha algo diferente acontecendo lá dentro do estádio. E quando entramos, tomamos um susto. Tinham policiais retirando torcedores das marquises. Nunca vimos tanta gente.

Foram 174.465 pagantes, o quinto maior publico da história do Maracanã. Não jogamos, lembramos, levitamos. Foi inesquecível. Não dá para subestimar o calor ao vivo que potencializa o atleta a ir além dos seus limites.

Hoje, porém, no inicio do Campeonato Carioca, O Globo anuncia que teremos o estadual mais rentável financeiramente dos últimos anos. Para isto, todos os esforços foram feitos para ele, torcedor, ficar em casa. Ser apenas um telespectador.

Serão jogos transmitidos por TV Aberta (Record TV), pay-per-view, plataforma oficial (Carioca TV), canais dos clubes, além da “transmissão bet” e quatro canais de streaming.

Cada vez mais retiram dos estádios o calor do torcedor. O poder, a empatia, a cumplicidade até de uma vaia que chegam até os artistas principais. Seus desempenhos pouco importam. O que vale é o lucro.

Sabe, Dé, se eles soubessem o quanto essa emoção nos faz jogar melhor…mas aí não seriam cartolas. Seriam dirigentes. E como eles fazem falta na organização do futebol brasileiro.

A ordem, a partir de hoje, é esquecer o ingresso. Comprar pipocas, latas de Brahma, reunir os amigos. E pagar caro para ver de longe a falta que todos eles nos fazem por perto.

JOGAR NO FLAMENGO: SONHO QUE O FENÔMENO NÃO REALIZOU

por Elso Venâncio


Ronaldo Fenômeno é um dos personagens mais vitoriosos do mundo do futebol. Paulo Roberto Falcão costumava dizer que jogador morre duas vezes. A maioria perde o rumo quando se afasta dos campos. Ronaldo, não. Renasce sempre e melhor, como atleta ou empreendedor, lembrando a história da Fênix, lendário pássaro da mitologia grega que morria e pouco depois ressurgia, renascendo das próprias cinzas mais forte do que nunca.

Muitas articulações nos bastidores não chegam à imprensa. O predestinado Ronaldo foi uma espécie de “estagiário” na Copa de 1994. Seus empresários argumentaram com Parreira que a convocação do garoto agradaria ao patrocinador, à CBF, e que ele ganharia experiência para os próximos Mundiais. Afinal, despontou aos 16 anos de idade como um autêntico furacão, um tufão que varria todas as defesas que encontrava pelo caminho, brilhando com a camisa do Cruzeiro.

Parreira levaria Evair, que estava em grande forma no Palmeiras, mas o atacante de 29 anos não teria chance de jogar nos Estados Unidos, menos ainda nas próximas Copas. Com isso, o técnico mudou de ideia. Convocou Ronaldo, então com 17 anos, para ser talvez o único “trainee” da história de um Mundial.

Preparado desde cedo para ser um grande jogador, tinha pinta de craque. Acabou se tornando um fora de série, um supercraque. Estrela mundial, brilhou pelo PSV, arrasou no Barcelona, foi muito bem na Inter de Milão, ídolo de uma constelação no Real Madri e craque do Milan, sendo eleito por três vezes (1996, 1997 e 2002) o melhor jogador do mundo.

Passou a ser o jogador brasileiro mais conhecido e idolatrado na Europa. Bem orientado, inteligente, apoiado por multinacionais e com futebol digno de Fenômeno – apelido que recebeu dos italianos quando atuava pela Inter –, superou adversidades e atingiu todas as metas traçadas até se tornar sócio de clubes poderosos em todo o planeta.

Ronaldo parece ter o mundo a seus pés, mas um sonho de criança passou ao seu lado por três vezes e ele nunca conseguiu realizá-lo: jogar no clube do seu coração.

Na primeira tentativa, saiu da humilde Bento Ribeiro para ser testado dentre quase mil meninos que tentavam a sorte na peneira do Flamengo. Aprovado, não pôde voltar por não ter dinheiro para pagar as passagens.

O São Cristóvão lhe abriu as portas após um convênio com o Social Ramos, clube de salão onde jogava. Para o Cruzeiro e para a fama foi um pulo, mas o Flamengo – e eu pude comprovar isso – não saía da sua cabeça.

Eis que surge na sala de imprensa um garoto magrelo, dentes para fora, munido apenas de um calção e sem camisa. Tinha saído da sala de musculação que ficava entre o vestiário e o corredor onde os jornalistas resenhavam. O garoto já era jogador do Cruzeiro, contratado havia poucos meses, e se recuperava de uma contusão na Gávea. Com um sorriso juvenil, me fez um pedido:

“Elso, eu sou Flamengo. Me ajuda… quero jogar aqui.”

Revelou que ouvia os jogos do time pela Rádio Globo, torcendo ao lado do pai, Nélio Nazário, e que era fã do ‘Garotinho’ José Carlos Araújo.

Ronaldo ainda teve uma última chance de vestir o manto rubro-negro. O sonho do atacante ficou bem perto de ser realizado 15 anos depois de despontar no cenário futebolístico. Em setembro de 2008, já rico, famoso, realizado, protagonista do pentacampeonato conquistado na Copa do Mundo do Japão e da Coreia, o jogador passou quatro meses treinando na Gávea, recuperando-se de uma grave contusão no joelho esquerdo. Estava livre no mercado, pronto para quem sabe finalmente jogar no seu clube e fazer, enfim, um gol no Maracanã.

É verdade: Ronaldo, como profissional, por ter atuado muito tempo no exterior, não tinha marcado ainda no maior e principal estádio do mundo. Mas, curiosamente, não recebeu nenhuma proposta da diretoria rubro-negra. Treinava normalmente, forte, mas não participava dos coletivos. O tempo se passando e nada de proposta, nada de projeto para que permanecesse, ficasse de vez e jogasse pelo Mais Querido.

Seu lado profissional entrou em ação e o craque decidiu aceitar uma proposta tentadora do Corinthians. No clube paulista, encerraria ainda em bom nível a sua brilhante carreira.

Ele não entende até hoje como foi desprezado pelo Flamengo, deixando de realizar o seu sonho de criança.

Coisas do futebol. Vá entender cabeça de dirigentes…

COPA SÃO PAULO PREMIA SEUS MELHORES FINALISTAS

por André Luiz Pereira Nunes


Santos busca o quarto título da Copinha

Foi feita justiça. A presente edição da Copa São Paulo de Juniores será decidida pelos melhores times da competição: Palmeiras e Santos. A final premia os esforços de duas equipes que não mediram esforços para alcançar o título. Também retrata o que todos já sabem. Existe, de fato, uma disparidade abissal entre a qualidade do futebol paulista e a do resto do país. A base é o verdadeiro pilar. Sem esse investimento, não existe trabalho de médio nem de longo prazo. O futebol já deixou de ser uma brincadeira há muito tempo. É uma indústria centrada na venda e compra de jogadores.

Em se tratando de Rio de Janeiro apenas o Flamengo poderia ter tido vida mais longa no certame. Mas a sua diretoria resolveu, de maneira incompreensível e incompetente, dispensar os melhores atletas no meio da competição. Resultado: o rubro-negro acabou eliminado, em seguida, pelo “poderoso” Oeste, de Itápolis.

O Vasco até ensaiou uma boa performance. Contudo, não teve condições de superar o São Paulo, caindo nas oitavas. Os outros, com exceção do Resende, não merecem sequer uma citação de nota de rodapé.


Endrick, do Palmeiras, é a principal revelação do torneio

O torneio contou com alguns bons jogos, nenhuma maravilha, é claro, mas já se é possível sonhar com uma nova safra de jogadores talentosos como Endrick, do Palmeiras. Aliás, o Verdão investiu pesado no torneio, ao contrário do Flamengo, pois visa uma conquista inédita. Já o Santos possui um trabalho sedimentado e extremamente competente no que tange às categorias de base. Oito anos depois do bicampeonato, em 2014, o Peixe volta a uma final de Copa São Paulo, a sexta de sua história. Será a chance do quarto título (84/2013-2014). Ainda foi vice em 1982 e 2010.

Como sempre, a imprensa já projeta em Endrick, destaque absoluto da competição, um futuro promissor, inclusive vestindo a camisa da Seleção Brasileira. Tal disparate não deveria ser sequer ventilado, haja vista que se trata de um atleta ainda muito jovem. Também se esperava muito, em 1988, do meia-atacante Mil, do Nacional (SP), vencedor e craque daquela edição. Infelizmente foi mais uma jóia preciosa que se perdeu no sumidouro de talentos que abunda nesse Brasil do desperdício.