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Futebol

BOÊMIOS DA VILA F.C.

por Marton Olympio


Hoje teve Boêmios, lá no campo do Sampaio e como sempre acontece, aquele sol glorioso abriu ali sobre o bairro, deixando todo mundo bem aquecidinho. Aquele preparo de sempre: tornozeleira, caneleira, tensor pro joelho (que hoje deu uma apitada bonita), o gel de silicone pra suportar o peso no calcanhar e tudo aquilo que ajuda a dor ser menor. Ainda sentia as dores da pelada de quinta, mas, mesmo com elas, fui pra lá tentar não atrapalhar a equipe.

Para a minha surpresa eu ia começar jogando. E lá fui eu. Dois zagueiros me esperavam. Um, visivelmente mais velho e mais lento e outro jovem, esguio e veloz. Lógico que escolhi jogar pelo lado do primeiro deixando para meu amigo Marquinho, companheiro no ataque, o desenrolo com o outro beque.

Os dois, anos mais novos, com certeza iriam se entender. O jogo estava ótimo. Daqueles jogos bacanas, limpos, gostoso de ver e jogar. Divertido. E com alternativas bacana de ataque, defesa, tudo aberto e como diz a gíria: jogo jogado. E foi durante um desses embates lá na frente, trocando tintas com a zaga, que uma frase me fez lembrar uma história que me contaram essa semana.


Um time de escritores peladeiros foi enfrentar o time do Chico Buarque, o famoso Politeama. E num dos momentos do jogo, alguém deu uma chegada no Chico. Note bem que chegada não tem a ver com agressão ou tampouco fere a ética da pelada. É só uma forma de testar a resistência do corpo do adversário. Se é falta ou não, vai do juiz, do campo ou do grito. Depende muito. E, após o choque, de um jogador mais novo e robusto, Chico foi ao chão.

Climão na hora. Alguns protestos e o rapaz sem graça, ajuda o Chico a levantar e pergunta:

– O senhor tá bem?

Ao que Chico, educadamente responde com “a frase”:

– Senhor é o caralho! – E seguiu o jogo.

Hoje, em um momento de troca de marcação, aguardava a bola cruzada dentro da área, naquele movimento de empurra empurra tipico de espera da batida da falta. Eis que ouço uma frase:

– Eu tô com o magrinho… Marca o coroa! – e o zagueiro colou em mim.


Eu era o coroa. Essa frase tá mais latejante em meu corpo que meu joelho inchado e coberto de gelo. Coroa. Queria ter reagido tão rápido quanto o Chico Buarque, um verdadeiro, sem trocadilhos, craque com as palavras.

Ps.: É maravilhoso jogar no Boêmios. Obrigado a todos os envolvidos. Ah sim, ganhamos de 2 x 0. Chupa, novinho

BRASIL DE 58 X BRASIL DE 70

por Émerson Gáspari


Aproveitando o privilégio de estar no Museu da Pelada, proponho aqui, vir à tona com uma das nossas maiores discussões em rodas futebolísticas, até hoje: qual das duas seleções brasileiras foi a melhor, na opinião de vocês: a de 1958 ou a de 1970?

Aposto que a maioria irá se decidir pela de 70, afinal de contas, sequer acompanhou a de 58, transmitida pelo rádio. Mas a dúvida persiste e tentar definir isso de vez me parece salutar, para jogar um pouco de luz num das maiores dilemas da história do futebol brasileiro. Futebol esse que anda difícil de engolir, ultimamente. 

Dia desses, minha esposa descia a escadaria daqui de casa e notou o televisor da sala sintonizado num São Paulo x Santos – completamente abandonado – enquanto eu me refugiava na sala de jantar, diante do computador, compenetrado. Daí me perguntou se eu não iria assistir ao futebol e lhe respondi que futebol mesmo, era o que eu estava vendo, ali: Botafogo x Santos, partida completa de 1964, no Maracanã. 

De um lado; Gylmar, Pelé, Zito, Coutinho, Pepe. Do outro, Manga, Garrincha, Nilton Santos, Jairzinho, Gérson (de topete!). Falando sério: dá pra comparar? Só me resta mesmo ser saudosista nesta vida, gente!

Aliás, quem frequentava meu sebinho no centro de Ribeirão Preto e curte futebol, sempre participou das acaloradas discussões promovidas por mim, com os colegas fanáticos pela bola. Numa delas, confabulamos a respeito da eterna celeuma de qual seleção brasileira foi melhor: a de 1958 ou a de 1970? 

A maioria dos meus amigos sempre defendeu que foi a de 70, até porque – no caso deles – era a primeira que haviam visto jogar e tal. O “grupo” seria melhor.

Eu sempre contra argumentei que seria a de 58 (inclusive tinha um belo pôster dela, publicado na antiga revista O Cruzeiro, colado na parede, ao lado de minha mesa).

E apresentava minhas razões, para justificar a dura escolha.


– Pessoal, mas o grupo de 58 tinha mais craques, individualmente falando: para mim, Gylmar, Bellini, Nilton Santos, Zito e Garrincha, eram superiores a Félix, Brito, Everaldo, Clodoaldo e Jairzinho, respectivamente. Já Djalma Santos (notem que preteri De Sordi), Orlando e Didi, mais ou menos empatariam tecnicamente com Carlos Alberto Torres, Piazza e Gérson. Apenas Tostão e Rivellino levariam boa vantagem – tecnicamente falando – contra Vavá e Zagallo. 

Pelé é um caso à parte e eu estaria blasfemando ao tentar cravar se o “Rei” foi melhor aos 17 anos, na Copa de 58 ou aos 29, na de 70.

Só que o pessoal não costumava entregar os pontos facilmente, nessas questões:

– Mas o grupo de 70 “mataria” o de 58, no preparo físico, Émerson.

E eu, bancando os primeiros campeões mundiais, respondia:

– Amigos, o máximo não é correr atrás da bola, é fazer a bola correr, como sempre defendeu Rivellino! Além disso, apenas o time de 58 teve dois gênios incomparáveis juntos: a dupla Pelé-Garrincha – que jamais foi derrotada, inclusive – o que por si só, já dá uma dimensão do que aquele selecionado seria capaz de fazer, num embate desses.

A turma não se dava mesmo por vencida, apontando então, a evolução do futebol, nos doze anos que separaram as duas seleções, como argumento.

Retruquei então que evolução nem sempre acontece. A seleção de 66 mesmo foi um desastre, regredindo em relação às de 58 e 62. O que dizer então, das que temos visto nos últimos anos?

É por isso que eu defendo tanto que Pelé e Garrincha – hoje, tendo a tecnologia e preparação física de última geração – continuariam sendo os melhores, estourados. Difícil seria ver os “craques” de hoje desempenhando o mesmo papel, sem tanta preparação física, no meio dos de antigamente, onde só feras jogavam! Alguns, não passam de craques “no marketing”. 

Mas levantei um ponto favorável à seleção tricampeã mundial, ao menos:

– Para mim, os maiores adversários das duas equipes foram equivalentes: Inglaterra, Peru e Uruguai em 70 eram tão complicados como URSS, País de Gales e França, em 58, a meu ver.

No empate contra a Inglaterra em 58, a seleção ainda não tinha sua formação definitiva, portanto não ponho na conta. Porém, acho que a final de 70 foi mais dura, pois os italianos, mesmo “faltando pernas”, eram superiores aos suecos, apesar destes jogarem em casa. 


Os demais adversários pouco puderam fazer diante do Brasil, na minha humilde análise. Desejaria mesmo, era ter uma opinião a respeito disso, de Pelé e Zagallo, que estiveram nas duas Copas. Eles sim; poderiam opinar com mais propriedade, acerca do assunto.

– E se jogassem uma contra a outra? – me perguntaram, de supetão. 

– Olhem, numa partida dessas, precisaríamos fazer um nivelamento no aspecto físico e tático, no equipamento esportivo (uniformes, bola, traves, gramado) e até nas regras, pois nem cartão amarelo em 58 ainda, havia. Estabelecendo-se isso, aí sim, poderíamos pensar no assunto. Colocá-los em choque direto assim, a seco, não sei… 

Meus amigos não deixaram por menos: foram logo me “intimando” com a proposta: 

– Você não é o “Poeta da Bola”? Que tal usar sua imaginação para isso? Você sempre escreve a respeito e publica em livros… tente aí, de cabeça, imaginar como as coisas poderiam ser, num confronto desses!

Ri daquela situação. Eu havia escrito uma série de livros, intitulada “Poetas da Bola”. Mas o título fazia referência à verdadeira “poesia” que os craques do passado, com os pés, escreveram nos gramados. Não que fosse pretensão minha, ser apelidado assim.

Topei de imediato! Comparar exige certos cuidados e considerações, mas seria um exercício criativo bacana com o nosso sagrado futebol brasileiro, pelo qual possuo o maior respeito. E comecei a descrevê-lo, de improviso (igual político fazendo discurso) tendo meus colegas por testemunhas:

Brasil-58 x Brasil-70 não se enfrentam em Estocolmo ou Guadalajara, mas no Rio de Janeiro, num Maracanã lotado, com público de quase 200 mil pagantes, como palco do maior tira-teima de toda a história do futebol brasileiro.

A seleção de 1958 pisa o gramado primeiro, com: Gylmar, Djalma Santos, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Zito e Didi; Garrincha, Vavá, Pelé e Zagallo. Téc.: Vicente Feola. O selecionado de 1970 vem a campo, com: Félix, Carlos Alberto Torres, Brito, Piazza e Everaldo; Clodoaldo, Gérson e Pelé; Jairzinho, Tostão e Rivellino. Téc.: Zagallo.

Carlos Alberto ganha o sorteio de capitães e o Brasil de 70 dá a saída: Pelé está com um pé sobre a bola, tendo Tostão a seu lado. O árbitro autoriza: está valendo!


Mas os primeiros campeões mundiais é que começam com tudo: logo roubam a bola e Didi lança para Garrincha. Daí para Pelé. Para Garrincha. Ele ultrapassa Everaldo pela direita e manda a bomba em cima de Félix. 

Até parece a estreia da dupla “Mané e Pelé” em Copas, diante da URSS. Escanteio batido e Brito alivia. Intercepta Didi. Daí à Garrincha. Para Pelé. Outra vez para Garrincha. Ele passa por Everaldo e Piazza e manda uma paulada que explode no poste esquerdo de Félix. 

Agora é Zito quem apara o tiro de meta e toca para Pelé. Para Garrincha. Mané devolve a Pelé, que da entrada da área, dispara um foguete no travessão adversário.

– Como demora este gol brasileiro, minha gente! – esgoela-se um locutor, numa das cabines de rádio do Maraca.

São três minutos. Tiro de meta interceptado. Bola para Pelé. Para Garrincha. Daí à Didi. E Vavá entra fulminante, para fuzilar Félix: Brasil-58, 1×0. Festa nas arquibancadas!
“Foram os três minutos mais inacreditáveis de toda a história do futebol” trará, no dia seguinte, a manchete da Gazeta Esportiva.


Mas o Brasil-70 é experiente e não se abala com gols tomados. E recomeça o jogo, na base da tranquilidade, tocando a bola.  De Pelé para Tostão, que retrocede para Clodoaldo. O qual entrega para Gérson. Este ultrapassa o círculo central e lança na direita para Jairzinho, marcado por Nilton Santos (que duelo!); a bola parece que vai sair, mas ele corre feito raio e antes que cruze a linha de fundo, centra-a com violência pelo alto, para a grande área. Pelé sobe mais que Orlando e cabeceia violentamente para o chão, Gylmar salta no canto, dando um tapinha nela, por baixo.  Caprichosamente, a bola sobe cheia de efeito, encobre o travessão e rola por sobre as redes. O estádio todo se levanta e aplaude a defesa monumental de Gylmar, após a cabeçada mortal de Pelé. 

Os minutos passam e com eles, jogadas de efeito se sucedem dos dois lados. Agora é mestre Didi quem faz um lançamento de 40 metros para Garrincha, que se livra de Everaldo e antes da chegada de Piazza, bate para o gol, no cantinho do gol de Félix: 2×0 para o Brasil-58, que começa com a corda toda.

A luta para conter Garrincha está terrível e enlouquece os rivais: Clodoaldo é obrigado a vir dar o primeiro combate, pois Everaldo é “tirado pra dançar” por Garrincha a toda hora e nem sempre Piazza chega a tempo, na cobertura. A famosa “fila” vai se formando. Gérson nem se mete: perece traumatizado pela final em que Flávio Costa o mandou marcar Mané e o Flamengo acabou destruído pelo “anjo das pernas tortas”.

Mas é justamente Gérson quem rouba uma bola de Zagallo, que estava recuado e a entrega rapidamente para Pelé. Antes da risca do meio-campo e pelo lado direito, ele enche o pé, a 64 metros de distância, disparando um chute por cobertura, ao notar Gylmar um pouco adiantado. O goleiro volta desesperado, acompanhando a trajetória descendente da esfera, que por fim, passa próxima do ângulo esquerdo de sua meta. Aplausos gerais!

Agora é Tostão que pela esquerda, luta contra Djalma Santos, Bellini e Zito, na grande área. Ele se desvencilha dos três e centra para Pelé, na marca penal. O negão vira o jogo para a direita. Jairzinho penetra e enfia o pé, sem dó: 2×1 no placar.

Explode a torcida brasileira! Por via das dúvidas, não há separação de torcidas, pois ninguém está ali para torcer por este ou aquele selecionado; é uma torcida unida, feliz.


Quase trinta minutos de jogo e Nilton Santos desce para o ataque, pela meia- esquerda. Ante a aproximação de Clodoaldo, ele toca para Vavá, que traz consigo a marcação de Brito. O “Enciclopédia” então, se infiltra na zaga adversária e pede a bola de volta, recebendo-a. Félix pressente o perigo e abandona sua meta, fechando em cima do lateral, mas é tarde demais: com um toque sutil, por elevação, Nilton põe a bola no ângulo: o Brasil-58  faz 3×1, aumentando vantagem, no marcador.  

São decorridos 37 do primeiro tempo, quando Jairzinho cai pela esquerda e estende um passe a Pelé, no meio. Uma vez mais, ele rola para a direita, de onde agora surge Carlos Alberto Torres, que bate de primeira, descontando para o Brasil-70.

Zito fica louco e distribui uma bronca em todos. Com os olhos, busca apoio de Vicente Feola no banco. Mas o flagra cochilando e desiste. O placar está 3×2, para “58”.  

No intervalo, a torcida canarinha continua a fazer muita festa e gente como Paulo Machado de Carvalho, João Havelange, Neném Prancha, Armando Marques, Leônidas da Silva, Friedenreich, Zizinho, Zico, Sócrates, Romário, Ronaldo Fenômeno, Mário Filho, João Saldanha, Nelson Rodrigues, Tim, Telê Santana, Orlando Duarte, Armando Nogueira, Luciano do Valle, Milton Neves entre muitos outros, circulam pelos camarotes e bastidores, comentando a respeito do maravilhoso espetáculo à que estão assistindo. 

Milton até arrisca escalar o “time dos sonhos” daquele encontro: Gylmar, Carlos Alberto, Bellini, Orlando e Nilton Santos; Gérson, Didi e Pelé; Garrincha, Tostão e Rivellino. Téc.: Zagallo.  Quando perguntado por Armando Nogueira sobre qual dos dois “Pelés” seria aquele da escalação, ele se sai com essa:

– Qualquer um, ora bolas… fica impossível decidir, porque se trata do mesmo sujeito!
Os escretes estão novamente em campo. Pedro Luís e Geraldo José de Almeida disparam a “metralhadora verbal” em seus microfones, narrando o segundo tempo. 


Zito toma uma bola de Clodoaldo e a enfia para Nilton Santos, que arranca. Já na altura da meia-esquerda, ele centra pelo alto. Pelé domina, dá um chapéu incrível em Piazza e bate antes que Brito chegue no “pé-de-ferro”: 4×2, para “58”.

Vibração intensa do público. O jogo é um delicioso desfile de craques imortais e suas jogadas maravilhosas, para os privilegiados que assistem tudo, das arquibancadas do estádio.

Extasiado, Sérgio Pugliese, do site Museu da Pelada, mal pode crer na magia que seus olhos veem e já sonha com resenhas que irá propor aos torcedores, no dia seguinte. Mas quando Vavá perde um gol feito, ele não perdoa, berrando:

– Poxa, esse até eu faria, Vavá! 

Do banco, Zagallo pede para que Rivellino acompanhe Zagallo (ele mesmo?!), quando esse fechar pelo meio. E para que Pelé ajude Gérson a dar combate no garoto Pelé, toda vez que ele quiser partir para o ataque. 

“É o lúdico elevado à máxima potência, rompendo com todos os limites do imponderável”, diz Nelson Rodrigues. 

Agora, Gérson lança pelo alto para Pelé, que está invadindo a área. O “Rei” salta e mata no peito; deixa a bola cair ao solo, troca de pé e fulmina Gylmar: 4×3, aos 22 minutos da etapa final.

Quanta gente boa reunida! Que privilégio poder assistir uma exibição de gala dessas!

Orlando sai jogando com Zito. O “Gerente” estende um passe à Zagallo, que é bloqueado por Gérson. A bola se oferece graciosamente à Didi. Ele a acaricia com o lado de fora do pé direito e – ato contínuo – desfere um chute cheio de veneno, lá da intermediária. A bola sobe muito, mas subitamente decai e, como se fosse teleguiada, entra no ângulo do arco defendido por Félix, que na vã tentativa de alcança-la, acaba abraçado à trave: 5×3 para a turma de “58”.

Faltam quinze minutos para o encerramento da partida. 


Tostão agora recua e cai pela meia-esquerda, enfiando um passe rasteiro e em diagonal para Pelé. Gylmar deixa o arco em desespero, Pelé finge que vai apanhar a bola e driblá-lo, mas ao invés disso, ginga o corpo e sai pela esquerda, fintando-o, enquanto a bola passa pelo outro lado, sem ser tocada. O “Rei” vai atrás dela, perseguindo-a e já dentro da grande área, bate cruzado, desequilibrado, enquanto Djalma Santos tenta salvar, tropeçando e caindo dentro do gol. A bola cruza toda a extensão da meta, passa ao lado pé da trave, e vai para fora. 

Delírio total no estádio! Nelson Rodrigues comenta que isso que aconteceu é algo só explicável pelo “Sobrenatural de Almeida”.  

Faltam pouco mais de dez minutos e o Brasil-58 continua na frente. Mas a Seleção de 70; começa a “sobrar” fisicamente em campo. 

Feola pede para que o time prenda a bola. Mas Garrincha parece não compreender e se põe a driblar todo mundo, inclusive os seus próprios companheiros. Quem entende o Mané? É o show, chegando ao requinte! Zito tem que dar uma bronca para que ele pare com aquela “palhaçada” toda. A torcida se diverte e agradece, aplaudindo os dribles “chaplinianos” do ponta, que faz Everaldo e Piazza se estatelarem às vezes, no chão.

Saldanha grita da geral para Zagallo mexer no time, pois “as feras” vão perder o desafio, desse jeito. 

O Velho Lobo saca Clodoaldo, recua Gérson para a posição de volante, traz Rivellino para a meia cancha ao lado de Pelé e coloca Paulo Cézar Caju para jogar enfiado, na ponta esquerda, na intensão do time agredir mais.

Numa tabelinha sensacional, Tostão é derrubado, próximo da meia-lua. A barreira de seis homens é formada, com Jairzinho posicionado ao lado da mesma. Rivellino corre e desfere sua “patada atômica”. De súbito, Jair se desloca e a bola passa exatamente no espaço vago, indo morrer nas redes de Gylmar: 5×4. 


O Brasil-70 parte com tudo pra cima! Já passamos dos quarenta e três minutos.

Caju desce pela meia-esquerda, esquiva-se de Djalma Santos, mas Bellini vem para o combate e ambos trombam. A bola sobra limpa para Gérson, que vem de trás, entrando na diagonal e acerta um chute violento, cruzado e rasteiro, no canto de Gylmar; é o empate: 5×5. 
Dez golaços num jogo só: meu Deus!

Mário Vianna (com dois “enes”) trila seu apito e encerra a partida (e que partida!). 
Aplausos calorosos que duram quase cinco minutos brotam de todos os lados do estádio. É o reconhecimento do torcedor, pelo legítimo e inigualável futebol brasileiro e seus craques. Muitos vãos às lágrimas nas arquibancadas e um coro de quase 200 mil vozes toma conta do estádio: BRA-SIL! BRA-SIL! BRA-SIL! 

Gérson e Didi trocam camisas, cada qual elogiando a técnica de bater na bola do outro. Zagallo passa pelo banco adversário e cumprimenta o técnico Zagallo, dizendo que quando encerrar a carreira vai querer seguir a carreira de treinador também, feito ele. 
Garrincha, alheio a tudo, deixa o gramado abraçado a Nilton Santos, convidando o compadre para irem juntos à Pau Grande; caçar passarinhos e jogar uma pelada com os amigos dele, marcada para o dia seguinte, que será de folga. 

Gylmar e Félix conversam sobre a complicada tarefa de se enfrentar tantos craques em campo e da real impossibilidade de impedi-los que façam muitos gols. 

Carlos Alberto Torres felicita Djalma Santos, que está sendo abraçado por Rivellino. 

No círculo central, uma cena chama a atenção de todos: o veterano Pelé abraça o jovem Pelé e o cobre de elogios: 

– Você é único, garoto! Ninguém nunca conseguiu ser coroado “Rei” no futebol com apenas 17 anos, “entende”?

O menino, chorando copiosamente, tomado pela emoção, agradece e retribui:


– Obrigado, mas o senhor é que é demais: nunca vi, na vida, alguém marcar mil gols! 

Todos os jogadores se confraternizam no gramado, enquanto a torcida brasileira, orgulhosa, começa a invadir o gramado. Dali a pouco, Tostão está quase sem roupa, arrancada pelos torcedores, que agora carregam seus ídolos nos ombros, numa inusitada volta olímpica. 
Um pódio é providenciado, junto à lateral do campo, onde João Havelange aguarda os atletas das duas seleções, para a cerimônia de premiação. Apenas Paulo Cézar Caju se mantém à distância e com o braço direito levantado e o punho cerrado, executa a característica saudação dos “Panteras Negras”, evocando a luta contra o racismo e  sendo efusivamente aplaudido por toda a torcida, pelo seu gesto contestador.

Havelange então recebe os atletas que sobem, um a um, cumprimenta-os e finalmente entrega a Taça Jules Rimet nas mãos dos capitães Bellini e Carlos Alberto Torres, os quais, juntos, levantam aquela deusa dourada magnífica, inigualável, sob um foguetório enlouquecedor e inesquecível que colore os céus da “Cidade Maravilhosa” e desse país tão abençoado pela magia de seu futebol. O país do futebol. 

FORÇA, ARLINDO!


Ontem, ouvindo uma das suas pérolas, que embalam points pela Copa, nos deu saudades do Arlindo. Poucos brasileiros são tão inspirados e sensíveis, como ele, a transformar em melodias as aspirações, dores e alegrias do nosso dia-a-dia. Seja ao lado do Sombrinha, um dia do Luis Carlos da Vila, foi de Madureira que ele alcançou e melhor interpretou a alma do nosso país.

A Copa do Mundo de futebol é a maior celebração da nação que melhor estendeu os ritos deste fascinante esporte. Sua miscigenação, sua diversidade, foi capaz de levar até suas periferias fábricas de atenuar desigualdades sociais. E onde tinha um terreno vazio, e bolsos dos seus pais tanto quanto, seus meninos humildes trataram de iniciar seu aprendizado rumo ao Barcelona, ao Chelsea, ao Paris St. Germain. Fora dele, meninos Arlindinhos, com os atabaques da resistência, tamborins e chocalhos sobrevividos do berço, elevaram o samba como a trilha sonora de uma arte praticada sem igual. E em um país tão desigual tem encontrado em seus meninos talentosos, dentro e fora de campo, um bálsamo de oportunidades contra o descaso. E a opressão.


Como muito dos seus fãs, temos recebido notícias desencontradas na mesma proporção em que paramos de receber suas melodias inspiradoras. Verdadeiras ou não, desejamos apenas que se recupere. E volte logo. Para que cada obra de arte dos nossos meninos, desta vez em gramados da Rússia, continue a ter o seu talento a resumi-las em canções. Um país que teve Pelé, e hoje tem Neymar, precisa de um Arlindo, como teve um Gonzaguinha, para encher o peito da sua gente e fazê-la acreditar, pelo menos em tempos de Copas do Mundo, que ele é bonito, é justo e um dia será igual.

AS COPAS SÃO PARA OS PERFEITOS, NÃO PARA OS DEMÔNIOS

por Paulo Escobar

Há uma inquisição por trás do futebol, que age nas entidades oficiais, nas mídias tradicionais e nas cabeças conservadoras daqueles que assistem e pregam essa crença moral e perfeita.

Através do futebol tentam moralizar a sociedade, através dele tentam nos dizer o que é certo e errado. Desde como jogar, como se comportar, até como agir dentro e fora de campo.

Para estes o futebol deve seguir conceitos morais de pureza, deve ser sacro, limpo de maus pensamentos. Para estes temos que ser Freis ou Santos para jogar ou torcer.

As Copas do Mundo são as verdadeiras reuniões de como há de ser bom e moral para estar nela ou estar presente em suas igrejas (digo arenas), ali somos ensinados em como agir e sermos Fair Plays. A mídia nos transmite os bons modos a nível mundial neste evento, todos os ensinamentos e doutrinas são transmitidas durante os jogos e comentários.

Ali não há lugar para aqueles que usam drogas, ou pelo menos se caçam os que são detectados e às vezes depende do país que se nasce ou o que o drogado pensa, nada de entorpecentes mesmo que toda essa pressão e em nome do espetáculo sejam necessárias as substancias para poder aguentar essa loucura toda. Afinal as crianças estão assistindo e há que deixar o bom exemplo, mesmo que essas crianças no futuro venham sofrer a mesma pressão e serão talvez aqueles que venham a usar as mesmas drogas também.


Maradona teve o erro de falar demais, de bater de frente com entidade moral que guia o futebol, a partir dali seus “erros” morais foram colocados a luz. Uma verdadeira cruzada para mostrar ao mundo que este ser profano era um verdadeiro “demônio” a ser combatido. A cada investida que Diego sofria, mais os imperfeitos gostávamos dele. Mesmo frequentando as Copas, era caçado e passou a ser o rei dos antidopings.

Alex, um gênio com uma qualidade incrível, da sua geração aqui no Brasil poucos fizeram o que ele fez, não ficou devendo a ninguém e inclusive até hoje poderia ser convocado. Mas Alex cometeu o crime de pensar diferente e isso não é bem visto no futebol.


Cantona teve a “maldita” ideia de chutar um fascista, de dar um golpe naquele que destilava seu veneno contra um estrangeiro, ou contra negros e gays, o futebol lhe cobra autocontrole e ser pacifico mesmo quando tocado no mais profundo e da forma mais desumana. A voadora foi à gota para os moralistas do futebol, pois não era só por aquele momento que Eric era um incomodo.


Djalminha maldito gênio da cabeça quente, não era o bom moço que poderia ser um exemplo a ser seguido pelas crianças. Como levar alguém sem etiqueta para estar na cita máxima da moral futebolística?

O que dizer do Chile, no qual toda uma geração foi punida pelo gesto do Rojas, que talvez cometeu o crime que mais se comete nos bastidores do futebol, ganhar a qualquer custo. Mesmo com todo o peso de um país que acabava de sair de uma ditadura militar e colocava sua esperança naquele time.

E quando alguns destes profanos e hereges do futebol conseguem entrar nestes encontros da moral futebolística, são observados o tempo todo nas suas ações e gestos, a mídia faz verdadeiras analises mais centralizadas nas vidas que levam. O futebol passa a ser um detalhe, o que importa é mostrar as vidas devassas e o que as crianças não devem fazer.

As Copas do Mundo não foram feitas para os maus rapazes, não foram pensadas para os contraditórios ou que pensem a sociedade de outra forma e nem para ex-pobres com manias de pobres. Assim como a igrejas não são para os demônios o futebol não é para os imperfeitos, as Copas são para os santos e deuses, pois eles possuem a perfeição, essa perfeição chata e impossível.

Eu prefiro os demônios do futebol, pois:

“A perfeição é o chato privilegio dos deuses” – Eduardo Galeano

 

 

Paulo Escobar

Maloqueiro, Varzeano, corre com o povo de rua e Sociólogo.

“CORRIGINDO” AS COPAS DO MUNDO

por Émerson Gáspari

Dentre todos os esportes coletivos, talvez o futebol seja o mais imprevisível.

Fruto de fatores como o alto número de jogadores, o tamanho do campo de jogo e de ser praticado com os pés, ocasionando um número sem fim de combinações de jogadas, gols e placares. Embora nem sempre ele nos reserve surpresas agradáveis, muitos creem ser justamente aí que resida nosso interesse maior pelo futebol: na sua fantástica imprevisibilidade.


Em Copas, as “surpresas” às vezes atingem nações inteiras e traumatizam gerações, (em caso de derrota) dado o “encantamento” que certas seleções provocam no mundo futebolístico, por vezes conquistando fãs de outros países e continentes.

Exemplos como a Hungria de 54, a Holanda de 74 ou o Brasil de 82, irremediavelmente nos vem à cabeça. Mas seriam apenas esses, os “injustiçados” na história dos Mundiais? E aquelas seleções, cuja antecipada certeza da vitória impediu que a mesma se concretizasse? Ou como ficam as que ganharam com “cartas marcadas”? Ou ainda: como poderia ser o resultado em Copas que sequer tivessem acontecido?

Parece impossível? Depende do ponto de vista!

Para mim, sempre foi mais difícil aceitar a crueldade com que certas derrotas aconteceram, do que criar uma alternativa num universo lúdico e mais justo.

Saibam que cada um de nós, representa um universo particular em potencial.

Cada pessoa possui teorias, convicções – ente outras coisas – que nos moldam diferentemente e provocam divergências de opiniões. Daí; concordem com a “minha” realidade alternativa ou apostem na de vocês: o que lhes soar mais verossímil.

Importante é não perder a capacidade de sonhar nessa vida – mesmo com os pés no chão – em diferentes áreas, inclusive nas que envolvam nossas “paixões”.

A paixão pelo futebol, em especial.

Por isso, convido vocês a mergulharem comigo nessa “reviravolta” futebolística das Copas, reescrevendo (ou não!) a história delas ao longo de mais de oito décadas. Torcedores têm sim o direito de questionarem resultados e promoverem “justiça divina”, conforme sua própria consciência.

Mãos à obra, então!


COPA DE 1930 (Uruguai): Poucos sabem que a ideia de uma Copa surgiu em 1905, um ano após a criação da FIFA. Mas a tensão reinante na Europa, não deu margem a isso. Após a I Guerra e a reconstrução de vários países, a entidade, presidida por Jules Rimet, concretizou o sonho de promovê-la. Mas o boicote europeu esvaziou o torneio, que teve apenas 13 seleções, o qual logo apresentou dois candidatos ao título: Uruguai e Argentina. O Brasil ainda “engatinhava” no futebol amador. Por serem bicampeões olímpicos (em 1924 e 1928) e atuarem em casa, no recém-inaugurado estádio Centenário, os uruguaios confirmaram seu favoritismo e, numa final justa, que não merece reparos, derrotaram os argentinos. A finalíssima teve ingredientes únicos: Carlos Gardel cantou para o público de 70 mil pessoas e como cada país queria usar sua própria bola, foi estabelecido que cada seleção usasse a sua, em um tempo da partida. Desse modo, a “Celeste Olímpica”, embora saindo na frente, levou a virada no primeiro tempo, com a bola argentina. Já no segundo, com a bola dos uruguaios e um jogador a menos, os argentinos viram sua vantagem de 2×1 ser revertida para 2×4. Para mim, seria como foi, até porque os anfitriões contavam com Nasazzi, Andrade, Scarone e “Manco” Castro: URUGUAI CAMPEÃO.


COPA DE 1934 (Itália): Mussolini organizou uma Copa para ganha-la, sob o domínio do fascismo. Por aí, já se nota que as coisas não foram muito legítimas. O ditador socava a tribuna de honra, quando sua seleção “emperrava” em certos confrontos. A Espanha, que despachou o Brasil na primeira partida, me parecia melhor que a Itália. Vítima de arbitragens parciais, no entanto, acabou eliminada por eles num jogo-desempate, em que não pôde contar com seu grande arqueiro Zamora, contundido pelos italianos, entre outros escândalos da arbitragem. A Tchecoslováquia seria também “garfada” na final, apesar de atuar melhor que os donos da casa. Foi uma Copa em que o Brasil dividido politicamente no futebol, não levou seus melhores atletas. Os uruguaios boicotaram o torneio, perdendo a chance do bicampeonato, talvez. Para mim, o terceiro lugar caberia à Áustria de Sindelar, chamada de “Time-Maravilha”, vencendo a Itália e seus “oriundi”. A final deveria ser entre espanhóis e tchecos, num jogo equilibradíssimo, de placar baixo, em função da presença dos dois maiores goleiros do planeta: Zamora e Planicka. TCHECOSLOVÁQUIA CAMPEÃ.


COPA DE 1938 (França): Aí, a coisa muda de figura: a Itália do técnico Vittorio Pozzo estava bem mais preparada e reforçada. Ao lado do craque Meazza, agora havia o artilheiro Piola. O boicote sul-americano (liderado pela Argentina, que quisera promover a Copa) não atingiu o Brasil, que pela primeira vez levou sua força máxima, tendo Leônidas da Silva, como nossa maior estrela e artilheiro do Mundial, com sete gols. Fizemos jogos memoráveis contra a Polônia (6×5) e a Itália, quando ficamos de fora da final. Mas a Itália jogou melhor e mereceu vencer, em que pese aquela polêmica envolvendo o pênalti cometido por Domingos da Guia. O terceiro lugar nos coube muito bem: estávamos evoluindo depressa. A Áustria foi covardemente anexada pela Alemanha que não venceu aquele Mundial, embora tivesse sérias pretensões. Foi outra derrota esportiva de Adolf Hitler.  A Hungria dos craques Sarosi e Titkos merecia chegar à final, de fato. Só que a “Squadra Azurra” fez por merecer o título, mesmo sendo vaiada pela plateia francesa, na decisão. Até porque, jogou sob a ameaça do famoso telegrama de Mussollini, que ordenava: “Vencer ou morrer”. ITÁLIA CAMPEÃ.

COPA DE 1942 (América do Sul): Fazer “justiça divina” implica não apenas subverter fatos, mas criar outros. Apaixonado por futebol, jamais eu iria preferir a II Guerra Mundial a uma nova edição da Copa do Mundo! Então, claro que uma nova Copa seria disputada e bem aqui na América do Sul, provavelmente na Argentina ou no Brasil, países candidatos a sediá-la (Jules Rimet inclusive estava no Rio, analisando sedes, quando Hitler ordenou a invasão da Polônia, iniciando o conflito, em 1939). Acredito que, por ter mais tradição no futebol naquela época e também por já haver lançado uma candidatura (derrotada) em 1938, a Argentina sediaria o Mundial e o venceria, pois seu auge futebolístico se deu entre 1939 e 1946, com craques maravilhosos, como Moreno, Labruna, Pedernera e muitos outros, a maioria da chamada “La Máquina” (o time do River Plate).  Além disso, pesaria o fato de estar atuando em casa. A Itália seria a vice-campeã, numa final muito “pegada”, sem dúvida. ARGENTINA CAMPEÃ.

COPA DE 1946 (Europa): Adivinhar o país-sede dessa vez, seria pedir demais, então nos concentremos em alguns fatos: a Copa aconteceria antes do trágico acidente aéreo que vitimou todo o elenco do Torino em 1949, desfalcando metade de sua seleção nacional. Completa (e sob a sombra de Mussolini, que não teria sido executado na II Guerra, já que ela sequer ocorreria) a Itália se entregaria de corpo e alma à preparação e em seu continente, devolveria a derrota de quatro antes aos portenhos, numa final dessa vez mais aberta, com mais gols e bons jogadores dos dois lados. O ainda jovem Di Stéfano só se firmaria um ano depois, enquanto a geração de craques argentinos já estaria veterana. O Brasil brigaria pelo terceiro lugar, talvez com a Alemanha, que até poderia sediar esta edição da Copa, em mais um projeto esportivo megalomaníaco do “Fuhrer”. ITÁLIA BICAMPEÃ.


COPA DE 1950 (Brasil): Se o Brasil mereceu perder pela balbúrdia na concentração, às vésperas da final como alegam alguns, então, numa Copa perfeita, sem “oba-oba”, nem clima de “já ganhou”, nossa seleção venceria. Não que o Uruguai não fosse um grande adversário. Mas já não se tratava da “Celeste Olímpica” dos anos 30, embora tivesse grandes valores individuais, como o capitão Obdúlio Varela, Máspoli, Schiaffino, Júlio Pérez e Ghiggia. Só que o Brasil tinha mais time, com Barbosa, Bauer, Danilo, Zizinho, Jair Rosa Pinto e o artilheiro da Copa com nove gols, Ademir de Menezes. Até Flávio Costa, num Mundial perfeito, não implicaria com as chuteiras de Nilton Santos e o escalaria para anular Ghiggia. O Brasil perdeu do Uruguai, mesmo com a vantagem do empate, é verdade. Mas não creio que perderia, se jogasse outra vez, até porque não seria provável, a repetição da tragédia diante daquelas 200 mil almas. Prova disso, é que às vésperas do torneio, havíamos conquistado a Copa Rio Branco numa melhor-de-três, justamente em cima dos mesmos uruguaios. A final foi em São Januário, pois o Maracanã estava em fase final de construção. Para ser perfeito, o Mundial teria que ter a conquista brasileira. E o empate já resolveria aquela parada, aliás, como relatei para vocês aqui, no Museu da Pelada, semanas atrás, em meu conto “Subvertendo a Tragédia de 50”. Não tenho dúvidas, portanto! Para comemorar a conquista dourada, após o Mundial, o Brasil mudaria a cor do uniforme para o amarelo. BRASIL CAMPEÃO.


COPA DE 1954 (Suíça): Alguém duvida que a final tenha sido injusta? Ou que a chuva que enlameou o gramado, deixando-o pesado e escorregadio não prejudicou os húngaros? Ainda mais, pelo fato dos alemães terem utilizado chuteiras moderníssimas para a época, altas e parafusáveis. Sem tudo isso – e um gol de Puskas mal anulado no fim da partida – teria sido impossível derrotar a campeã olímpica de 1952, que sustentou uma invencibilidade de 36 partidas até aquela fatídica final e que só voltaria a perder em 1956. A Hungria era uma “fábrica de gols”, capaz de placares como os 9×0 na Coréia do Sul ou os 8×3 sobre a Alemanha, ainda na primeira fase. Ok, os alemães estavam desfalcados de meio time. Mas foi nesse jogo que contundiram Puskas, o qual atuou sem condições, na final.  Não preciso dizer mais nada, certo? Talvez tenha sido a maior injustiça de todas as finais, até hoje. Quanto ao Brasil, indubitavelmente fez um “partidaço” diante da Hungria – violência à parte – com chances até de vencer, não fosse um penal duvidoso para eles, além de duas bolas na trave seguidas, quando poderíamos ter passado à frente, já na etapa final. Mas aquela derrota seria o amadurecimento que precisávamos para enterrar o “complexo de vira-latas” – ao qual sempre se referia o escritor Nelson Rodrigues – na Copa seguinte. HUNGRIA CAMPEÃ.


COPA DE 1958 (Suécia): Uma seleção com Pelé e Garrincha, dupla jamais derrotada em campo, nas 40 partidas que realizou, seria sobrepujada por outra? Imaginem então; acrescentando Gilmar, Djalma, Nilton Santos, Zito, Didi. Nem há muito a comentar. Verdade que o time foi modificado na tal estreia da intrépida dupla, bem na terceira partida, diante da URSS de Yashin. Mas, encontrada a formação ideal, ninguém seria capaz de deter aquele selecionado e o aparecimento do “Rei” Pelé; como os franceses (e o mundo) passariam a chama-lo. A França, uma potência, tendo Just Fontaine, artilheiro daquele Mundial com 13 gols, bem que deu trabalho, sendo prejudicada por atuar parte do jogo contra nós, com apenas 10 homens. Só daí o Brasil deslanchou. A Suécia, em que pese o talento de seu craque Liedholm, não deveria ter chegado à final. Eu mudaria as chaves numa Copa perfeita; a França faria a decisão contra o Brasil, perdendo por um placar apertado e elevado, com Pelé e Fontaine fazendo gols aos montes! E com Zizinho no banco de reservas, sendo o primeiro brasileiro – ao lado de Nilton Santos – a se sagrar bicampeão mundial. A primeira vez também que um selecionado ganharia o Mundial em outro continente. Merecidíssimo: a delegação brasileira trazia até inovações, como psicólogo e dentista. Tudo sob o comando do Dr. Paulo Machado de Carvalho, o “Marechal da Vitória”: BRASIL BICAMPEÃO.


COPA DE 1962 (Chile): Muitos irão brigar comigo, mas, de coração, não foi um Mundial que deveríamos ter vencido. Explico: há menos informação sobre essa Copa, talvez por tudo o que envolveu a conquista. Nem foi um grande Mundial, tecnicamente falando. Tanto, que o conquistamos com uma seleção envelhecida, na base da experiência e de fatores extracampo. No quesito organização, não é preciso falar muito: a partida entre Brasil e Inglaterra teve duas invasões de cães em campo (algo inimaginável, hoje!). Se havíamos ganhado do México na estreia graças a Pelé (já que o time não foi bem), no início do jogo seguinte, o “Rei” se contundiu sozinho e ficamos sem o craque até o fim. Amarildo até que o substituiu bem, mas não é a mesma coisa. Quanto a Mané, a lenda que corre é a de que ganhou o Mundial “sozinho”. Até pode ser verdade, mas o fato é que suas atuações não empolgaram exatamente, na primeira fase. Apenas em dois dos últimos jogos ele “arrebentou” em campo.  Agora, não podemos negar estranhas “facilidades” nos momentos complicados da campanha. Na decisão, Garrincha jogou mesmo expulso por agredir um chileno com um pontapé durante a semifinal. Deram um “sumiço” no bandeirinha, após o juiz depor no Tribunal, que “não havia visto a agressão”. Pior, foi no duro jogo que o Brasil teve contra a Espanha, reforçada pelo naturalizado Puskas. A “Fúria” saiu na frente e perdeu a chance de ampliar no segundo tempo, quando Nilton Santos cometeu o famoso pênalti e soube disfarçar, dando dois passos à frente, ficando com os pés sobre a linha. Até aí, apenas a típica “malandragem” brasileira. Mas malandragem mesmo foi na sequência do lance: Puskas cobra a “falta” e Peiró marca um lindo gol de bicicleta. O juiz providencia um “jogo perigoso” totalmente inexistente, inventado às pressas. Vergonhoso! Quem mereceria estar na final, diante da Tchecoslováquia de Masopust seriam os espanhóis, que, classificados, ainda iriam contar na segunda fase do torneio, com Di Stéfano (também naturalizado, voltando de contusão) com quem Puskas iria reviver a lendária dupla do Real Madrid. Desculpem, mas – discordem ou não de mim – uma conquista, antes de tudo no esporte, precisa ser legítima: ESPANHA CAMPEÃ.


COPA DE 1966 (Inglaterra): O que podemos dizer de um Mundial no qual, no mastro das bandeirinhas de escanteio, tremulava a bandeira do Reino Unido? Foi uma Copa realizada pelos ingleses, para lhes premiar com um Mundial, após ausências e até vexames em edições anteriores, por parte dos anfitriões de 1966. Se a Copa de 1962 teve “fatos estranhos”, essa seria “medonha” nesse sentido: árbitros coniventes com a violência praticada contra as equipes consideradas adversárias diretas do selecionado inglês. Pelé por exemplo, foi “caçado” em campo, diante de Portugal. Mas nossa seleção, desorganizada e com excesso de atletas, não iria muito longe, de qualquer maneira. Os absurdos continuaram pelo Mundial sempre favorecendo o “English Team”: a expulsão do artilheiro argentino Ratín foi um fato lamentável e que originaria até, mudanças na regra, com a posterior criação do cartão amarelo. Mas nada superou o absurdo da finalíssima, entre ingleses e alemães. Um jogo disputado palmo-a-palmo, que terminou num equilibrado 2×2, foi transformado na prorrogação, no maior escândalo da história das Copas, quando uma bola que bateu no travessão e caiu sobre a linha foi providencialmente transformada em gol. Como se isso não bastasse, ainda houve tempo para um quarto gol inglês, marcado em contra-ataque, enquanto a equipe médica que prestara assistência a um jogador, nem havia saído de campo, enquanto alguns torcedores o invadiam, pelo outro lado. A Inglaterra tinha um timaço, mas não merecia ter vencido assim. Para mim (e boa parte do mundo) a vitória final seria da Alemanha do então jovem Franz Beckenbauer. ALEMANHA CAMPEÃ.


COPA DE 1970 (México): Foi uma redenção do futebol: nada de “garfadas” e as maiores potências futebolísticas (exceto a ausente Argentina) no auge, tecnicamente falando. Além disso, a organização e hospitalidade mexicanas foram fantásticas, deixando nossa Seleção bem à vontade. A preparação física, tática e mental durou meses. Pelé, Rivellino, Gérson, Carlos Alberto, Tostão, Jairzinho, Clodoaldo, Piazza…    uma constelação de “feras” que atropelou as seleções que vinham pela frente, vencendo todos os jogos. Por outro lado, a semifinal foi um jogo de gigantes, entre Alemanha e Itália, vencido pela “Azzurra” num 4×3 dramático, na prorrogação, que desgastou os italianos, aos quais faltaram pernas, no segundo tempo da final contra nós. Não importa! De qualquer modo, os brasileiros venceriam. Apenas penso que na decisão, deveríamos ter tido pela frente, aquele que foi o adversário mais duro durante o torneio: a Inglaterra de Gordon Banks, Bob Moore, Bob Charlton e Hurst, a campeã de 66. Mas não daria nem mesmo para eles, que na primeira fase, perderam para nós, por 1×0. Já pensaram aquela cabeçada de Pelé e a defesa de Banks bem na final? Antológico! Mais ainda, se o gol que definisse o título, tivesse nascido daquela jogada mitológica, construída pelo ataque brasileiro, em cima dos ingleses: Tostão entortando os adversários pela esquerda, Pelé virando o jogo para a direita e Jairzinho “Furacão da Copa” entrando para definir. Apoteótico! E a Taça Jules Rimet, mesmo que por outros caminhos, teria sido conquistada em definitivo na mesma edição de Copa do Mundo. Com isso, Alemanha e Itália protagonizariam a maior disputa de terceiro lugar de todos os tempos e não a semifinal. Não tem jeito, sob qualquer análise que se faça a Jules Rimet viria para as nossas mãos e Pelé se consagraria como o maior jogador de todos os tempos, naquele Mundial. BRASIL TRICAMPEÃO. 


COPA DE 1974 (Alemanha): Se você pensou que eu corrigiria os fatos e faria da “Laranja Mecânica” a grande campeã dessa Copa, adivinhou. Aliás, como não se render aos talentos de Cruyff, Neeskens, Rensenbrink, Krol e outros; todos magicamente orquestrados pelo genial técnico RinusMichels? Nem mesmo a seleção germânica, liderada por seu capitão Beckenbauer deveria ter sido capaz de parar o “Carrossel Holandês” naquela decisão. O Brasil – agora sem Pelé – só passou para a segunda fase devido a uma sofrida partida diante do Zaire, na qual precisava vencer por pelo menos 3×0 e conseguiu o terceiro gol, graças a um frango histórico do goleiro adversário. O time não era nem sombra daquele que levantou o tricampeonato, na Copa anterior e não teria mesmo sido páreo para os holandeses, que passariam por cima de nós, da mesma forma, já que a seleção canarinho vivia um período de transição. Pior para os alemães, que perderiam a Copa em casa. HOLANDA CAMPEÃ.


COPA DE 1978 (Argentina): Aqui se aplica a mesma regra que o Brasil na Copa de 62. Falar dos disparates daquele Mundial seria “chover no molhado”: os caras fizeram de tudo para ganhar essa Copa, que possuía todo um cunho político. O Brasil obviamente foi o maior prejudicado, obrigado a viajar muito mais que os anfitriões e a treinar em campos recém-plantados, que soltavam placas de grama, na hora do chute. Não satisfeitos, os anfitriões alteraram o horário de um confronto decisivo, apenas para poder jogar diante do Peru, já sabendo de quantos gols precisariam, para avançar no torneio e nos desclassificar. Por falar em Peru, é impossível se esquecer daquela seleção, cujo goleiro era um argentino naturalizado peruano e também dos seis gols que a defesa deles levou, naquele jogo. Por tudo isso e pelo fato da ditadura argentina ter bancado o Mundial apenas para vencê-lo, o melhor castigo para os portenhos seria o de perderem a final para a Holanda no minuto final, com aquela bola que o Rensenbrink mandou na trave entrando e evitando-se assim, a prorrogação que viria logo após. O Brasil, mesmo invicto, tinha problemas, especialmente na parte ofensiva e para mim, terminaria no terceiro lugar, na bonita virada sobre a Itália, como acabaria acontecendo, de fato. Para uma Copa perfeita, Menotti reconsideraria sua decisão e colocaria Maradona, então com 17 anos, no grupo e em campo. Em contrapartida, Cruyff reconsideraria sua decisão política e jogaria pelos holandeses, repetindo-se o “Carrossel Holandês”. Já imaginaram a final desse jeito? Até os “deuses do futebol” agradeceriam! E os portenhos chorariam copiosamente a derrota em casa, em plena final. Impagável! HOLANDA BICAMPEÃ. 


COPA DE 1982 (Espanha): Esse Mundial não tem nem o que discutir: o mundo inteiro (menos a Itália) vai concordar que teria que ter terminado diferente, com outro campeão. O futebol-arte daquela seleção brasileira que tinha Zico, Sócrates, Falcão & Cia. comandados por Telê Santana, deixou saudade e não merecia perder (apesar da desatenção) para os italianos, conforme inclusive retratei, em conto, aqui no Museu da Pelada: “Exorcizando o Sarriá de 82”. Para piorar, a França, também praticante de um futebol belíssimo, foi desclassificada quatro dias depois, pela Alemanha. Isso acabou mudando (para pior) o próprio modo de se enxergar o futebol, especialmente por aqui. Adotamos um estilo feioso, de resultados e mais defensivo, rompendo com a nossa tradição. Pena que o futebol de resultados tenha prevalecido. Sinceramente, a final mais perfeita para uma Copa cheia de craques e seleções jogando bonito, teria sido a de nosso selecionado, contra a França de Michel Platini, Giresse, Tiganá, Rocheteau. E com vitória brasileira, numa batalha repleta de gols e sem faltas, onde o tetra teria vindo mais cedo e merecidamente. BRASIL TETRACAMPEÃO.


COPA DE 1986 (México): Assim como a Copa de 70 foi a de Pelé, a de 86 foi a de Diego Maradona, não há como contestar. Os próprios ingleses (acreditem!) se dividem sobre quem teria sido o maior jogador do século XX, fruto principalmente da atuação histórica do argentino, no confronto frente os britânicos. Embora o Brasil tivesse ido bem e sido desclassificado num jogão diante da França, a verdade é que ambos os países já não estavam mais no mesmo nível, com a maioria de seus craques veteranos ou contundidos. Daria Argentina mesmo, nas costas do Maradona (pois a seleção em si não era grande coisa). Apenas o vice não seria a Alemanha: eu o substituiria pela Dinamarca, que embora tenha sido “arrasada” pela Espanha, demonstrou um futebol lindíssimo, envolvente, goleando o Uruguai por 6×1. Se a “Dinamáquina” fizesse a final, ao menos seria um prêmio para a iluminada geração de Laudrup & Cia., que mais tarde faturou a Eurocopa 92 e a Copa das Confederações 95. ARGENTINA BICAMPEÃ.


COPA DE 1990 (Itália): Tecnicamente, essa Copa foi um porre! Um futebol feio e retrancado, que ditou a moda, entre a maioria das seleções que a disputaram. Quase nada acrescentou de novo, teve um dos números mais baixos de gols marcados até hoje, prenúncio das próximas edições do Mundial. Uma seleção alemã mais robusta, liderada pelo eficiente Matthaus, foi tudo o que se viu. Um Maradona obeso, com lampejos de genialidade, foi o que a Argentina conseguiu oferecer como resistência (ela que heroicamente chegara à final, eliminando a Itália nos penais, graças ao surpreendente goleiro Goycochea). Não há muito a acrescentar: talvez os italianos merecessem ao menos estarem na final, mostrando um futebol um pouco mais ofensivo, com Schillaci e Roberto Baggio surpreendendo no ataque. Foi uma fatalidade perderem para a Argentina, que à duras penas havia eliminado o Brasil, esta, uma seleção descaracterizada, jogando com três zagueiros, naquilo que se rotulou de “Era Dunga”. Os alemães, até por terem se preparado melhor e batido com folga a Holanda de Gullit, Van Basten e Rijkaard, maior decepção daquele Mundial, mereciam mesmo a taça e vencendo a Itália na final. ALEMANHA BICAMPEÃ.


COPA DE 1994 (Estados Unidos): Não adianta brigar comigo, amigo leitor! Não sou chegado a patriotadas! Para mim, melhor que o Brasil, era a Argentina, naquela Copa. Porque Maradona estava maduro, em ótima forma e desta vez, tinha um time respeitável, a acompanha-lo: Simeone, Redondo, Caniggia e Batistuta.  Que “El Pibe de Oro” usou drogas na carreira, todo mundo sabe e ele mesmo assumiu, exceto no caso de 94, quando jura inocência em nome das filhas. O tal “complô” que tirou Maradona daquele Mundial, “quebrou” os portenhos (até paramédica uniformizada entrou em campo e pelo braço, o retirou do gramado). Não creio que o Brasil teria sido páreo, apesar da zaga e da dupla de atacantes: Bebeto e principalmente Romário. O Brasil não tinha meio-campo, empatou duas vezes e praticava aquele futebol pragmático, engessado. Na semifinal, perderia para os “hermanos”, por mais que seja doloroso reconhecer. Os italianos, pelo que mostraram na final contra nós, também não teriam melhor sorte. Os argentinos (com Maradona “turbinado” ou limpo) venceriam a Copa, cuja decisão não iria sequer para os penais. ARGENTINA TRICAMPEÃ.


COPA DE 1998 (França): Já disse que não sou de patriotadas, na hora de opinar sobre futebol. Minha opinião – polêmica, eu sei – sobre a convulsão de Ronaldo Fenômeno é a de que ele não iria sofrer outra, em campo (por isso mesmo, foi liberado para jogar), mas o estrago psicológico já estaria feito, na cabeça do grupo. Particularmente, penso que o Brasil começou a perder essa Copa, antes mesmo de viajar, quando a comissão técnica optou pelo corte de Romário. Fez falta! Com o “Baixinho” lá na frente e com Ronaldo, a história teria sido outra. Na ausência de Ronaldo, repetiríamos o ataque de 94. Enquanto isso a França treinou, se aprimorou e foi de uma obediência tática absurda, jogando tudo o que podia, justamente na final, contra um Brasil desarticulado e abalado psicologicamente, que se estivesse bem, poderia ter feito mais, sem dúvida, mas não impediria o título dos “blues” tendo Zidane a lidera-los.  Daí eu não contestar o campeão e achar apenas que o placar foi dilatado. FRANÇA CAMPEÃ.


COPA DE 2002 (Japão/Coréia do Sul): Uma Copa a feitio, para o Brasil. Muito bem organizada e num continente “neutro”, não deu outra: conquista brasileira (merecida), com Ronaldo, Rivaldo e Ronaldinho Gaúcho arrebentando e vencendo todas as sete partidas que disputaram (um recorde!). E pensar que, como em outras oportunidades, o time estava desacreditado e correndo riscos até de não se classificar para a Copa do Mundo. Ótimo trabalho de Luís Felipe Scolari, que fez suas apostas pessoais, armou um esquema rígido na defesa, mas com liberdade no ataque e no fim, deu no que deu. Os alemães não tinham chances; o talento brasileiro era muito superior. A caminhada brasileira foi irretocável e mesmo com a arbitragem errando duas vezes a nosso favor, em partidas diferentes, teríamos chegado do mesmo jeito, pois os gols saíam sempre na hora certa e a moral do time foi se elevando. O goleiro Oliver Khan falhou numa final em que São Marcos jogou mais. Não há o que corrigir. Ao contrário de 94, desta vez tínhamos uma liberdade maior para sair jogando, um meio-campo mais talentoso e mais que suficiente para levar o caneco, pela quinta vez. BRASIL PENTACAMPEÃO.


COPA DE 2006 (Alemanha): Os germânicos fizeram talvez a Copa mais bem organizada até hoje. O esmero em tudo foi motivo de muitos elogios pelo mundo todo. Mas, apesar do artilheiro Klose, os alemães não conseguiram chegar à final, na qual italianos e franceses se enfrentariam. Zinedine Zidane deu uma aula de futebol no jogo em que desclassificaram o time brasileiro e seu “quadrado mágico”. Da minha parte, corrigiria apenas o detalhe que fez toda a diferença na final, no qual Zidane é provocado, se descontrola e dá uma violenta cabeçada no peito de Materazzi, sendo expulso e deixando a França com dez, justamente em seu melhor momento dentro da partida. Então, para mim, o ideal seria que isso não tivesse acontecido e dessa forma – acredito eu – naturalmente o gol francês acabaria saindo e a decisão nem teria ido para os penais, evitando assim, a vitória do insosso time italiano. Por isso, eu apenas inverteria o campeão e o vice. FRANÇA BICAMPEÃ.


COPA DE 2010 (África do Sul): Uma Copa diferente, também disputada em continente “neutro” e na qual a FIFA “teve que engolir” várias falhas na organização. Porém, em campo, as equipes não tiveram problemas com isso. Um Brasil sem inteligência no meio-campo, desprovido de um articulador de jogadas (um camisa 10 autêntico), fruto da teimosia do técnico Dunga, foi o que apresentamos no torneio, decepcionando a crítica mundial. Resultado: acabamos sendo desclassificados pelos holandeses, numa partida infeliz do volante Felipe Melo.  O futebol espanhol, de posse de bola e incessante troca de passes, deu um show de eficiência, consagrando seu estilo de jogo denominado como “tiki-taka”.  Mesmo tendo pela frente uma equipe insinuante e perigosa como a Holanda do driblador Robben. Eu não mudaria em nada a finalíssima: a Espanha controlou o jogo, apostando que o gol sairia naturalmente, sem desesperos. E foi o que, de fato, acabou acontecendo, a quatro minutos do fim de uma emocionante prorrogação, através de Iniesta. Sem retoques. ESPANHA BICAMPEÃ.


COPA DE 2014 (Brasil): Um lamentável equívoco, para os brasileiros! Organizada no pior momento para a economia do país e ainda por cima, sem um cuidado adequado na preparação de nosso selecionado. Comissão técnica aparentemente ultrapassada e jogadores que sentiram (e muito!) a pressão. Resultado: a maior decepção em Copas, justamente em casa. O caos levou o time a tomar dez gols nas duas últimas partidas. A própria torcida se sentiu envergonhada. Em minha modesta opinião, sequer deveríamos ter chegado entre os quatro primeiros. A Alemanha, com um planejamento impecável, conquistou com todos os méritos, mais uma Copa do Mundo. Apenas acho que a Holanda mereceria ao menos o vice, pois deu muito trabalho, especialmente com o atacante Robben, jogando um futebol bonito e ofensivo. A Argentina de Messi, ao contrário, atuando na defesa chegou à finalíssima, mas para mim, deveria mesmo era ter disputado o terceiro lugar, contra a surpreendente França, que contava com um time jovem, mas centrado e que teve em Benzema, seu principal jogador. À equipe de Muller & Cia., todos os méritos pela inquestionável conquista! Seria a “vingança” dos alemães, pela derrota em 74 em casa, para os holandeses. ALEMANHA TRICAMPEÃ. 

Ufa! Aí está: 22 Copas (e não 20) e o ranking da FIFA diferente, em títulos: Brasil pentacampeão; depois Alemanha e Argentina, tricampeãs; Itália, Espanha, França e Holanda bicampeãs; Uruguai, Hungria e República Tcheca, campeãs.

O Brasil teria tido o mesmo desempenho, inclusive conquistando a Taça Jules Rimet, na mesma Copa do México, porém Pelé teria sido “apenas” bicampeão do mundo, mesmo continuando a ser o maior jogador de todos os tempos. As seleções de 62 e 94 teriam suas conquistas substituídas pelos selecionados de 50 e 82.

Os alemães teriam um título a menos; a Itália seria a mais prejudicada, perdendo metade deles, ao contrário da Espanha e França, que duplicariam suas conquistas.

A Holanda seria a maior beneficiada, deixando de ser “tri-vice”, para virar bicampeã.

O Uruguai perderia um título e a Argentina ganharia outro, mantendo os nove conquistados, pela América do Sul.

A Hungria e a República Tcheca (ou Tchecoslováquia, como queiram) teriam vencido suas finais, no lugar da Inglaterra, que perderia a sua e não teria obtido sequer um Mundial, até hoje.

Para encerrar, uma confissão: não sou; nunca fui e jamais tive pretensão de ser o dono da verdade. Apenas realizei essa brincadeira, pois sempre gostei de criar e explorar assuntos até então intocáveis. “Brincar de Deus”, tentando “levar justiça” às muitas trapaças que o futebol apronta, é minha diversão. Esse gosto pelo lúdico sempre foi uma espécie de “marca registrada” minha. Estejam à vontade para discordar de mim. O mais importante é termos opinião própria, sempre. Especialmente no futebol.