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Futebol

OS DEZ CARRASCOS

por Israel Cayo Campos


Eu admito! Sou fã de listas! E quanto mais bizarras, mas me chamam atenção e me divertem! Pensando nisso, resolvi fazer uma nova lista. Dessa vez envolvendo os 10 maiores carrascos do futebol brasileiro.

Mas ao contrário do quadro do Fred do Canal Desimpedidos, prefiro me aprofundar nessa lista com um pouco mais de história naquilo que construo. Evitando somente falar dos jogadores e clubes que surgiram juntamente com as televisões de plasma!

Vejamos a lista, e depois fiquem à vontade para concordar, discordar ou colocarem outros membros no lugar dos citados aqui…

10° Lugar: Ernest Wilimowski – Polônia 5 x 6 Brasil.


Pouca gente lembra, mas na primeira Copa do Mundo em que o Brasil se destacou, no ano de 1938 na França, a Seleção enfrentou em sua estreia a Polônia em Strasbourg.

Apesar da vitória brasileira, essa Copa nos mostrou nosso primeiro carrasco, um polonês de nome bastante complicado, Wilimowski! Nessa partida, o polonês marcou quatro dos cinco gols de sua seleção contra o Brasil! Se não fosse pela atuação de Leônidas da Silva, ele seria a primeira lembrança de um carrasco em Copas do Mundo!

Três tentos foram marcados no tempo normal, todos no segundo tempo! Sendo o gol de empate que levou o jogo para prorrogação (4 a 4), marcado por ele aos 44 minutos da etapa final!

Segundo João Saldanha, a falta de conhecimento da regra contribuiu com os gols de Wilimowski. Domingos da Guia que não sabia bater um tiro de meta chutava a bola de maneira fraca, essa era rapidamente interceptada pelo atacante polonês, que a mandava para as redes brasileiras!

A versão do goleiro brasileiro naquela partida é um pouco contraditória a de Saldanha. Batatais alegou que nesse jogo, que fora o mais disputado daquela Copa e até hoje um dos mais emocionantes da história dos mundiais da FIFA, Domingos da Guia, o “Divino Mestre”, teria entrado em campo com muita febre praticamente obrigado pelo técnico Ademar Pimenta.

Esse problema de saúde teria facilitado a vida do polonês. Batatais ainda afirmara com certa soberba que se Domingos estivesse bem de saúde, Wilimowski não passaria por ele! Mas como o “se” não joga…

Wilimowski é até hoje o único jogador a ter marcado quatro gols na Seleção brasileira em um mesmo jogo! Um feito que só não é mais lembrado do que de fato merece devido ao resultado da partida.

Como saímos vencedores da dura peleja, seguimos para o jogo contra a Tchecoslováquia,e Wilimowski ficou para os brasileiros apenas nos almanaques que contam a história dessa partida!

E só por não ter saído vitorioso, o polonês não ficou em uma posição mais à frente em meu ranking. Pois marcar quatro gols contra uma Seleção Brasileira, seja em qualquer época, com ou sem a febre de Domingos da Guia, não é para qualquer um!

9º lugar: Tore André Flo – Noruega.


Uma das raras seleções que o Brasil nunca conseguiu vencer em seus mais de 100 anos de história é a Noruega. Foram quatro jogos, sendo três em Oslo, capital norueguesa e um pela Copa do Mundo de 1998 na França. Dois empates e duas derrotas canarinhas! Essas duas derrotas se devem basicamente a Tore Flo, atacante alto e desengonçado que causou problemas ao Brasil entre os anos de 1997 e 1998.

Em 1997 um amistoso. O Brasil vinha como franco favorito a Oslo com um time que contava com um quarteto de ataque de respeito: Djalminha, Leonardo, Romário e Ronaldo. Porém, o que se viu foi um passeio norueguês comandado por Flo. O atacante marcou dois e ainda deu o passe de cabeça para o quarto gol norueguês naquela partida! Em um final indigesto, o Brasil perdia por 4 a 2 diante dos escandinavos.

Em 1998 a chance do revide, Copa do Mundo da França, a Noruega caia como último adversário do Brasil no grupo “A” do torneio. A Seleção já estava classificada. Era a hora de enfim o Brasil encerrar esse jejum!

Depois de um primeiro tempo fraco tecnicamente, uma bela jogada de Denilson e gol de cabeça de Bebeto. Até que enfim a “zika” com cheiro de bacalhau iria sair! Mas foi aí que o nosso carrasco número 9 resolveu aparecer!

Com a Noruega precisando vencer para não cair logo na fase de grupos, a única maneira era atacar o Brasil, mesmo que isso lhe custasse uma derrota por maior número de gols! Tore Flo arrancou pela esquerda, deu um corte em Júnior Baiano e empatou o jogo para os noruegueses!

Mas o empate não servia para a Noruega, já que no outro jogo do grupo Marrocos goleava os escoceses. Foi então que novamente Tore André Flo apareceu. Dessa vez sofrendo pênalti de Júnior Baiano, que estava em uma de suas noites mais infelizes como zagueiro. Rekdal bateu, converteu, virou o jogo, manteve o tabu e classificou a Noruega para as oitavas de final! Mas o herói da noite, nosso carrasco, tinha sido Tore André Flo novamente.

Embora tenha sido em um jogo amistoso, e em outro que já não valia nada numa Copa do Mundo. Se hoje a Noruega pode se vangloriar de ser uma das raras seleções que nunca perderam uma partida para pentacampeã do mundo Brasil, devem esse orgulho diretamente aos 3 gols, uma assistência e um pênalti sofrido por Tore André Flo em seus dois únicos jogos contra o “país do futebol”.

8º lugar: Ángel Romano – Uruguai 6 x 0 Brasil.


Antes do fatídico e inesquecível 7 a 1 sofrido pelo Brasil na semifinal da Copa de 2014 em casa diante da Alemanha, a maior goleada que a Seleção verde amarela havia sofrido para outra nação (levando em consideração a diferença de gols!) fora um seis a zero para o Uruguai no Torneio Sul-americano de 1920 disputado no Chile.

Nessa partida disputada na cidade de Viñadel Mar, os brasileiros sofreram dois gols de Ángel Romano, atacante do Nacional de Montevidéu. Que contribuíram para o vexame brasileiro.

Três anos antes, no Sul-americano de 1917 disputado no Uruguai, nova vitória da seleção do Rio da Prata fácil! Um 4 a 0 com direito a mais dois gols de Ángel Romano. 

Em 1921, dessa vez no Sul-americano da Argentina, Romano novamente balançou as redes brasileiras duas vezes. Dessa vez numa vitória apertada por 2 a 1. Contribuindo para mais um fracasso brasileiro no torneio continental dos anos 1920.

Totalizando, o Uruguaio marcou seis gols contra a Seleção brasileira em três jogos, todos eles em campeonatos Sul-americanos. Provavelmente, Romano foi o pesadelo dos jovens torcedores do futebol brasileiro do início do século XX, e até hoje é o segundo jogador que mais balançou as redes de nossa Seleção!

O nosso carrasco de torneios continentais entre seleções. Que protagonizou a maior derrota da história do futebol brasileiro até o ano de 2014, merece estar nessa lista!

7º lugar: Nwankwo Kanu – Nigéria 4 x 3.


Era o único título que o Brasil não tinha! Depois de dois Vice-campeonatos olímpicos nos anos 1980 e uma decepcionante desclassificação no pré-olímpico de 1992, a Seleção brasileira, campeã do mundo em 1994 chegava como grande favorita a então sonhada medalha de ouro olímpica.

Jogadores como Dida, Aldair, Roberto Carlos, Bebeto, Juninho, Rivaldo, Luizão e Ronaldo (todos campeões do mundo!) faziam parte do elenco brasileiro! Nosso grande adversário naquele torneio era a Argentina, que também possuía uma boa geração com Ayala, Chamot, Crespo, Gallardo, Claudio López, Ortega, Simeone, Sensini e Zanetti. Nenhum se tornou campeão do mundo!

Na fase de grupos, após um susto contra o Japão, duas vitórias sendo uma sobre a Nigéria com gol solitário de Ronaldo… Mal imaginávamos que era essa Nigéria que iria acabar nos complicando!

Após uma goleada nas quartas de final sobre Gana, estávamos de novo de frente com a Nigéria. Era o último passo para a final olímpica, e quando Flávio Conceição abriu o placar no primeiro minuto de jogo, parecia que aquele jogo seria um novo passeio contra uma seleção africana!

Mas logo aos 20 minutos, em bela jogada de Babayaro, Roberto Carlos acabou fazendo gol contra! Porém, a tensão logo se desfez quando em duas belas jogadas Bebeto e novamente Flávio Conceição colocaram o Brasil na frente com dois gols de vantagem ainda no primeiro tempo!

Na segunda etapa o Brasil cansava de perder gols! Alguns como em lance de Ronaldo sem o goleiro! Até que o juiz marcava um pênalti para os africanos! Jay-Jay Okocha bateu e Dida começava sua fama de pegador de pênaltis! Tudo conspirava para a classificação brasileira!

Porém, quando faltavam 12 minutos para o fim do jogo, o barraco começou a desabar! Ikpeba aproveitando roubada de bola de Rivaldo descontou para a Nigéria.E já com o tempo regulamentar terminando (faltando 20 segundos), apareceu o nosso carrasco para empatar uma partida que já estava no papo!

O jogo ia para a prorrogação ainda no estilo “Golden Goal”, e a Nigéria veio para cima… Não durou nem quatro minutos e novamente Kanu em bela jogada individual driblou a defesa brasileira e fuzilou o goleiro Dida. A Nigéria seguia para final e o sonho olímpico brasileiro era mais uma vez adiado!

A tão conhecida sorte do técnico Mário Jorge Lobo Zagallo o abandonava curiosamente em um dia 31 de julho. 31 = 13 ao contrário! Essa era a desculpa mais usada pelo Velho Lobo! Mas a verdade é que se não existisse o carrasco Kanu em campo, poderíamos estar hoje comemorando o bicampeonato olímpico!

6° lugar: Eusébio – Portugal 3 x 1 Brasil.


O ano era 1966. O mundial voltava a Europa para ser disputado na casa dos inventores do futebol, os Ingleses! E o Brasil chegava como atual bicampeão do mundo, e favorito a conquista do tricampeonato!

Com uma estreia vitoriosa sobre a Bulgária por dois a zero com dois gols de falta. Um de Pelé e um de Mané (última partida que a maior dupla de todos os tempos realizou junta com a camisa da Seleção) o Brasil começava com o pé direito rumo a mais um título.

No segundo jogo, uma derrota para a Hungria por 3 a 1, outra seleção que até pouco tempo nunca havíamos vencido em nossa história. Agora era obrigação vencer Portugal na terceira rodada. Uma seleção que apesar de ter como base o grande Benfica bicampeão europeu do início dos anos 1960, era estreante em mundiais!

Pelé que não jogara contra os húngaros machucado voltava a equipe. Era tudo ou nada! O Brasil não era eliminado numa fase de grupos de um Mundial desde o primeiro em 1930. Além da reentrada de Pelé, outras oito caras novas! A honra do atual bicampeão do mundo contra um mero estreante estava em jogo!

Logo aos 15 minutos, Eusébio, atacante do Benfica dá um belo drible em Brito, cruza na área e conta com o rebote “mão de alface” do goleiro Manga, que solta a bola na cabeça de Simões! Um a zero Portugal.

Aos 27 minutos, aproveitando bola escorada após falta cobrada por Coluna, Eusébio apareceu de cabeça para ampliar o placar! Para desespero de Vicente Feola, técnico campeão do mundo na Suécia pela Seleção brasileira, antes da primeira meia hora de jogo, o Brasil já perdia por 2 a 0.

Aos 15 da segunda etapa, Rildo marcava para o Brasil pondo fogo no jogo! Mas era só fogo de palha! Faltando cinco minutos para o fim do “match”, aproveitando uma bola escorada por Torres, o nosso carrasco lusitano nascido em Moçambique acertou um petardo sem chances para o goleiro Manga! Eusébio 3, Brasil 1. Estávamos eliminados do mundial da Inglaterra!

É bem verdade que nessa partida Pelé fora caçado em campo! Tomou chutes que o fizeram atuar até o final apenas para fazer número. Entretanto, a noite era de Eusébio, que fez o que quis com o Brasil e garantiu uma humilhante eliminação na fase de grupos. Por acabar com uma seleção que vinha de dois títulos mundiais seguidos, o carrasco Eusébio merece estar com louvor nessa lista!

5° lugar: Emilio Baldonedo – Argentina.


Desse jogador a geração recente sequer tem memória! Me arriscaria dizer que até boa parte da geração anterior a atual sequer sabe de quem escrevo. Mas se o uruguaio Ángel Romano está nessa lista como o segundo jogador a marcar mais gols na Seleção brasileira, o argentino Emilio Baldonedo não pode ser esquecido! Afinal, esse é o Museu da Pelada.

Nascido no dia 23 de junho de 1916, mesmo data a qual nasceu o polonês Wilimowski já citado nessa lista (esse deve ser o dia dos carrascos!), o atacante argentino é até hoje o jogador que mais marcou gols contra a Seleção brasileira! No total, sete tentos!

Se Romano foi nosso carrasco nos primórdios da atual Copa América, Baldonedo foi o nosso destruidor nos torneios conhecidos como “Copa Roca”, atual Superclássico das Américas. Um torneio disputado entre Brasil e Argentina desde a segunda década do século XX, até a década atual (com longos intervalos cronológicos entre um torneio e outro!).

A primeira disputa de Baldonedo contra o Brasil nesse torneio se deu em 1939, quando a Copa Roca foi disputada em terras tupiniquins. Nos dois primeiros jogos em São Januário, Baldonedo não jogou. E mesmo assim os argentinos aplicaram uma goleada por 5 a 1 no primeiro jogo.

Na segunda e decisiva partida, uma vitória brasileira por 3 a 2, com direito a um pênalti pra lá de suspeito marcado pelo juiz brasileiro Carlos de Oliveira Monteiro, vulgo “Carlos Tijolo”. Tal marcação fez com que todo o time argentino se retirasse de campo revoltado. Com a vida facilitada, Perácio converteu a penalidade com o gol vazio.

Como naquela época não havia saldo de gols, uma nova partida fora marcada dessa vez para o Palestra Itália. O torneio que ainda valia por 1939 já avançava para fevereiro de 1940, e o técnico argentino Guillermo Stabille (artilheiro da primeira Copa do Mundo em 1930), resolve lançar no time o jovem Baldonedo, ainda prestes a completar 24 anos!

Na difícil partida, Leônidas da Silva garantia a vitória na prorrogação para os brasileiros, até que faltando quatro minutos para o final, Baldonedo empatou! Era o primeiro gol dele contra a nossa Seleção. Como não haviam disputa de pênaltis e o jogo novamente terminara empatado, uma nova partida deveria ser realizada.

Sete dias depois no mesmo estádio, as duas Seleções entravam para o quarto embate na disputa pelo título. Dessa vez a Argentina venceu fácil, e Baldonedo novamente marcou, abrindo o placar para os “Hermanos” em um jogo que terminou 3 a 0. A Copa Roca de 1939 ficava com a Argentina e esse era o segundo gol de nosso carrasco! Não perca as contas!

Duas semanas depois uma nova Copa Roca. Dessa vez oficialmente pelo ano de 1940! Agora os jogos seriam realizados na Argentina, e no primeiro disputado no estádio do San Lorenzo uma goleada portenha! Seis a um, com direito ao quinto gol ser marcado por Baldonedo. Na segunda partida os brasileiros reagiram, vitória por 3 a 2. Mas nosso carrasco marcara os dois gols de honra da Argentina, o que novamente forçava a disputa do troféu a um terceiro jogo.

Dessa vez no estádio do Independiente, no dia 17 de março de 1940, outro passeio argentino! 5 a 1 nos brasileiros com direito a mais dois gols de Baldonedo, o primeiro e o quarto gol da seleção albiceleste na partida! Era o bicampeonato da Copa Roca para os argentinos, graças aos sete gols de Baldonedo!

Vale ressaltar que os sete gols que dão a Baldonedo o título de maior artilheiro em partidas contra a Seleção se deu em cinco jogos disputados pelos arquirrivais entre os dias 18 de fevereiro e 17 de março de 1940. Ou seja, em menos de um mês apenas! Um carrasco rápido e letal! Que contribuiu para a retirada de dois títulos na época muito importantes contra os nossos maiores rivais até os dias de hoje!

4° lugar: Alcides Gigghia – Brasil 1 x 2 Uruguai.


Tudo bem, esse só marcou um gol sobre o Brasil em sua brilhante carreira de jogador profissional. Mas fora o gol mais dolorido até hoje sofrido pela Seleção canarinho, que a época jogava de branco!

Era o último jogo do quadrangular final do mundial de 1950. O Brasil só precisava de um empate para o título. E era exatamente o resultado que ocorria na segunda etapa. Gigghia já participara do primeiro gol uruguaio. Recebendo uma bola de Obdúlio Varela, partiu pela ponta direita de ataque, deixou o lateral Bigode no chão, entrou a área e cruzou, Schiaffino como um bom centroavante colocava nas redes brasileiras!

Ainda servia para o Brasil, um 1 a 1 salvador! Redentor! Abençoado pelo Cristo! Até que desgraça nos abateu…

 Aos 38 minutos do segundo tempo, Julio Pérez e Gigghia tabelam novamente na frente de Bigode. Gigghia corre para ponta e os demais atacantes uruguaios vão para área. O uruguaio entra sozinho na grande área brasileira. O goleiro Barbosa antevê o lance que dera o gol de empate uruguaio e dá um passinho para a direita. Ghiggia chuta, a bola passa no pequeno espaço entre o goleiro e a trave! É o gol da virada uruguaia!

Mais de 200 mil pessoas caladas! Mais de 50 milhões de brasileiros (população da época) em profunda desolação! Um jogo que causou várias mortes! Sejam elas por enfartos ou até suicídios de torcedores, é até hoje lembrada pelo público brasileiro como uma tragédia!

Como diria anos depois o “Seu Alcides”, só três homens haviam conseguido calar o Maracanã… O Papa João Paulo II, Frank Sinatra e ele…, Mas com certeza, só ele conseguira tal façanha pelo sentimento de tristeza fúnebre dos presentes!

Mesmo depois de 68 anos e duas cinco Copas do Mundo vencidas, Alcides Gigghia ainda é lembrado como o carrasco imortal daquele dia 16 de julho de 1950 para o povo brasileiro. Por quem vale salientar, Gigghia possuía muito respeito! Se negando a falar sobre aquela final para veículos brasileiros em respeito ao povo de nosso país!

Curiosamente ou não, em um mesmo 16 de julho, só que de 2015, o “Seu Alcides”, (que assim como Jairzinho em 1970, marcou gol em todos os jogos de sua Seleção no mundial de 50!), veio a falecer. Era o último remanescente daquele triste dia na história do futebol brasileiro. Obviamente, um dos mais felizes da história da gloriosa “Celeste Olímpica”. O carrasco de apenas um gol, mas um dos gols mais doloridos da história de um país gigante, que começava a ganhar sua identidade nacional naquele período!

3º lugar: Clube Atlético Boca Juniors – Contra times brasileiros em competições Sul-americanas.


Para quem pensou que só iria falar de carrascos em pessoa física, lembramos de nosso maior carrasco em pessoa jurídica. Poucos times de massa do Brasil não tiveram um momento de pesar contra o gigante clube argentino.

Só na Libertadores da América, os “xeneizes” iniciaram sua tradição em 1977 contra o então atual campeão Cruzeiro. Vencendo nos pênaltis a final por 5 a 4. No ano seguinte, o arquirrival da raposa, o Atlético Mineiro, foi a vítima do Boca nas semifinais do torneio.

Dando um salto para o ano de 1991, ainda na Libertadores, as vítimas foram as duas maiores torcidas do país. Nas oitavas o Corinthians e nas quartas o Flamengo. Ambos eliminados no placar agregado de 4 a 2.

Mas foi nos anos 2000 que a fama de papão contra os brasileiros se alastrou! Na final do torneio daquele mesmo ano uma vitória nos pênaltis sobre o atual campeão Palmeiras. Em 2001 uma eliminação do Vasco nas quartas e novamente do Palmeiras nas semifinais. Em 2003 caíram Paysandu nas oitavas e o Santos na final. E em 2004 o emergente São Caetano também não resistiu ao time azul e amarelo do bairro de La Boca nas quartas de final. Em 2007, o Grêmio de Mano Menezes caiu na final. E em 2008, novamente o Cruzeiro foi a vítima, dessa vez nas oitavas do torneio!

Na segunda década do novo milênio, o Boca já não assustava como anteriormente! Entretanto, ainda conseguiu eliminar o Fluminense nas quartas de final do torneio de 2012, e o Corinthians nas oitavas de final de 2013 (em um jogo bastante suspeito!).

Nos torneios secundários da América do Sul, tais como a Copa Mercosul e a Copa Sul-americana, o Boca eliminou ainda na primeira fase o Corinthians no ano 2000 da Mercosul e o Internacional em 2004 nas semifinais e em 2005 nas quartas da Sul-Americana.

Na Recopa, torneio disputado entre os vencedores dos dois principais torneios da América do Sul, foi a vez do São Paulo perder em 2006 para os argentinos. Fora Supercopas e Copas CONMEBOL que não deu para contabilizar, O Boca é de longe o time que mais eliminou brasileiros nos certames internacionais!

Levando-se em consideração que o Brasil tem 12 grandes clubes (quatro de São Paulo, Quatro do Rio, dois de Minas e dois do Rio Grande do Sul). O Boca só não tem o Botafogo como vítima em torneios oficiais. Muito pelo fato do clube de General Severiano não conseguir enfrentar o Boca nesses torneios! Sendo justo e não ofensivo com os alvinegros, raramente o Botafogo se classifica para os mesmos!

Já os demais clubes, foram ao menos uma vez, ou até mais vezes vítimas do carrasco Boca Juniors.

2° Lugar: Zinedine Zidane – França.   


Em 1998, recém completados 26 anos, Zinedine Zidane era um ilustre desconhecido para o futebol brasileiro! Até então naquela Copa em casa só havia aparecido pelo “coice” dado em um jogador da Arábia Saudita que lhe custou um gancho de dois jogos no mundial. Mas “Zizou” era muito mais que um jogador temperamental. E iria mostrar justamente na final contra a Seleção Brasileira.

Antes daquela final em Paris, o único jogo de Zidane contra o Brasil tinha sido no empate do Torneio da França por 1 a 1 em jogado em Lyon um ano antes. Nesse jogo o filho de argelinos teve uma atuação discreta, mais preocupado com a marcação do forte ataque brasileiro.

No entanto, na final do Mundial de 1998, primeiro uma jogada espetacular que deixou Guivarc’h na cara do gol. Para sorte brasileira o péssimo atacante francês perdeu a chance. Mas logo duas cobranças de escanteios em posições inversas do campo. Duas cabeçadas certeiras do “carequinha”! Dois a zero para a seleção da França.

Nos acréscimos do jogo, Petit selou o primeiro título mundial francês em casa! Mas aquela era a final de Zinedine Zidane. A partir daquele jogo, a sua vida mudou! Ele se tornara uma estrela mundial. Alcançava o status de craque da bola!

No centenário da FIFA no ano de 2004, Zidane voltou a enfrentar o Brasil. Dessa vez não marcou gols, mas novamente presenteou os espectadores do “Stadede France” com lindas jogadas para cima da atual campeã do mundo. Ao final daquele jogo sofrido, o então lateral brasileiro Roberto Carlos afirmara: “O Brasil não perde mais para a França”.

Dois anos depois, no mundial da Alemanha, Zidane em suas últimas apresentações com a camisa dos “Bleus” novamente enfrentava o Brasil. Era o jogo de quartas de final entre uma Seleção que até então tinha chegado lá aos trancos e barrancos, contra a seleção mais estrelada do planeta. Com o quadrado mágico formado por Kaká, Ronaldinho, Adriano e Ronaldo.

O estrelado time do técnico Parreira mal viu a cor da bola naquele primeiro de julho de 2006. Em um lance inicial, Zidane humilhou Zé Roberto, Juninho Pernambucano e Gilberto Silva em uma só jogada. Em seguida, um “balãozinho” para cima de Kaká. E antes que o primeiro tempo encerrasse, dois dribles secos que deixaram no chão o zagueiro Lúcio e o volante Gilberto Silva. Isso sem contar os passes certeiros e objetivos do capitão da Seleção Francesa.

No segundo tempo mais show. Dois chapéus em Gilberto Silva e Ronaldo. E aos 13 do segundo tempo uma bola “açucarada” no pé de Thierry Henry. Era o gol da França que nos eliminava mais uma vez de uma Copa do Mundo. Curioso ou não, a bola foi exatamente na zona do lateral Roberto Carlos, que afirmara que o Brasil não iria mais perder para os franceses!

Antes do fim do jogo. O pobre Gilberto Silva novamente fora humilhado com um drible de giro a lá Zinedine Zidane! O juiz apitou e curiosamente todos os jogadores brasileiros que atuavam no Real Madrid, caso de Ronaldo, Cicinho, Robinho e Roberto Carlos, foram abraçar Zizou como se reconhecessem uma das maiores atuações de um jogador de futebol numa Copa do Mundo.

O famoso narrador Luciano do Valle dizia em seus comentários finais que desde Maradona em 1986, não via uma atuação tão espetacular de um jogador em uma partida de Copa do Mundo! A França seguiu rumo a final contra a Itália e o Brasil novamente ficou pelo caminho.

Zidane fica com a medalha de prata entre os carrascos da história do futebol brasileiro por todos os motivos citados anteriormente. Mas o principal é que conseguir eliminar o Brasil em uma Copa muitos conseguiram, mas eliminar em duas. Sendo o protagonista em ambas as partidas! Só Zinedine Zidane conseguiu!

1° Lugar: Paulo Rossi – Itália 3 x 2 Brasil.


1982. Estádio Sarriá em Barcelona. Futebol Arte. Melhor Seleção brasileira desde a geração tricampeã de 1970… Espetáculos nos primeiros quatro jogos, com direito a um humilhante 3 a 1 sobra a maior rival Argentina. Esse era o Brasil de Telê Santana. Do zagueiro Oscar. Dos laterais Leandro e Júnior. Dos meias Falcão, Cerezo, Sócrates e Zico. Dos atacantes Éder e Serginho. O Brasil jogava o melhor futebol e era o favorito ao tetra!

A Itália era o oposto, vinha com um futebol feio. Empatando suas três partidas na fase inicial do torneio e só se classificando no critério gols feitos! Na segunda fase uma vitória a base de muito suor e marcação sobre os mesmos argentinos por 2 a 1. O jogo que valeria vaga nas semifinais daquele torneio memorável ia ser entre brasileiros e italianos. Com o direito do empate para a Seleção canarinho!

Logo começou aquele jogo em 05 de julho e o nosso maior vilão, que havia saído de uma suspensão do futebol apenas um ano antes, entrava em ação. Cinco minutos de jogo, cruzamento de Cabrini e gol de Paulo Rossi sozinho de cabeça.

Não era a primeira vez naquele mundial que o Brasil tinha começado atrás no marcador. Era questão de tempo para haver o empate. Serginho ficou cara a cara com Zoff, mas chutou mascado para fora! Ia fazer falta…, no entanto, aos 12 minutos, o “Galinho” achou Sócrates em lance espetacular e o “Doutor” colocou tudo no seu lugar. Brasil 1 x 1 Itália.

Aos 25 minutos o lance que todo jogador de futebol faz em todas as partidas. Mas todos só lembram de Cerezo fazendo! Ao receber a bola de Leandro, o meia brasileiro passou a pelota cruzada pela área. Paulo Rossi que nada tinha a ver com a desatenção da zaga brasileira roubou a bola e como um foguete avançou até a entrada da área para balançar as redes do goleiro Waldir Peres. Itália 2 a 1. E assim terminava o primeiro tempo para assombro do mundo.

Segundo tempo. Pênaltis para ambos os lados não marcados. E o jogo seguia com pressão brasileira. Aos 23 minutos Júnior achou Falcão, o jogador da Roma fingiu o passe para Cerezo e cortou para o meio da área. Era gol! Era o grito emblemático do “Rei de Roma” tirando uma montanha das costas brasileiras. O Brasil iria as semifinais!

Hoje é fácil dizer: O Telê deveria ter fechado o jogo. Segurado o empate. Mas aquela seleção tinha um DNA ofensivo, e por esse ímpeto pagou caro. Há quase 30 minutos do segundo tempo escanteio para a Itália. Cobrança na área e no bate e rebate Paulo Rossi novamente estava lá para desviar o chute de Tardelli. A Itália mais uma vez passava a frente. Dessa vez de maneira definitiva.

Era o final de uma geração de ouro. Desde 1950 a população brasileira não chorava tanto por uma derrota no futebol. Era mais do que uma derrota. Era a substituição do futebol arte pelo futebol força onde deveria se priorizar a marcação.

Esse estilo de futebol os clubes e seleções que vieram nas gerações posteriores. Antes de pensar em vencer, era necessário não perder!

A Itália prosseguiu no mundial. Rossi fez mais três gols e saiu como o artilheiro do torneio. Foi bola de Ouro daquele ano! Para um jogador de nível mediano, foi um ano de muita sorte! Tanta sorte quanto marcar três gols sobre aquela maravilhosa geração brasileira! 

Dentre os dez selecionados como maiores carrascos da história do futebol brasileiro, tecnicamente Paulo Rossi não é o melhor! Longe disso. Mas com certeza, foi o que causou mais estragos não só ao futebol do nosso país, bem como ao futebol enquanto esporte! Por isso a medalha de ouro entre os maiores carrascos do futebol brasileiro é do “Il Bambino d’Oro” Paulo Rossi.

REMINISCÊNCIAS DE UM TORCEDOR

por Émerson Gáspari     


Um dia me disseram que as lembranças afetivas que nos acompanham pela vida, nada mais são do que o desejo velado de que as coisas continuassem a ser como outrora.

Nada mais verdadeiro do que isso.

Meu coração atua como um autêntico “relicário de lembranças” sempre que minha mente descortina fatos que o tempo tolamente insiste em tentar apagar, revelando-me um incorrigível saudosista, especialmente no futebol.

Foi meu saudoso pai, o responsável por incutir em mim o “vírus futebolísticus”, há meio século.

Eu sequer havia completado oito meses de vida e já estava – levado por meus pais – misturado à massa torcedora que recepcionava os heróis jundiaienses chegando de São Paulo, campeões invictos da “Divisão de Acesso”, pelo Paulista de Jundiaí.

Estávamos então, no inesquecível ano de 1968: aquele que “não terminou”.

Todavia, minhas primeiras reminiscências datam do início dos anos 70.

Lá estava eu – então com quatro, cinco anos – nos vestiários do estádio Jayme Cintra, vendo o altar a Nossa Senhora num cantinho, percorrendo o túnel e pouco depois, já correndo pelo gramado à noite, com os refletores ligados e as arquibancadas vazias, enquanto meus pais conversavam com o ex-presidente do clube, Wanderley Pires.

Daquela mesma época, recordo-me vagamente de uma partida com placar final de 0x0. Eu estava nas sociais, junto de meu pai, meu avô e um tio.

Meu pai nasceu em Jundiaí em 1931 e desde garoto, adorava futebol. Jogava nos campinhos do Vianelo, frequentados também por seu amigo Dalmo Gaspar, lendário lateral do Santos de Pelé.

Na juventude, atuou por diversos clubes amadores; sempre como central. Dizia que, por ser canhoto, achava mais fácil desarmar os atacantes, geralmente destros. Tinha um chute potente de esquerda e batia de três dedos na bola, com precisão. 

Corintiano roxo, apesar do pai palestrino, adorava me contar histórias sobre quando apanhava um trenzinho e ia ver na capital, o Timão do IV Centenário no Pacaembu da “Concha Acústica”, o Palmeiras da Academia, o São Paulo levantando o Morumbi, o Santos de Pelé, a Lusinha, o Juventus e tantos times de um período romântico do nosso futebol que o progresso e sua silenciosa estupidez conseguiram enterrar.

E eu adorava ouvi-las.


Viciado nos jornais “Gazeta Esportiva”, “Jornal da Tarde” e na revista “Placar”, eu curtia também, confeccionar meus próprios times de botão, com a carinha dos jogadores para depois brincar, irradiando as partidas – em imitações fidedignas – dos maiores locutores do rádio paulista: Fiori Giglioti, Osmar Santos e José Silvério.

Tempos também, do “Show de Rádio” e as intermináveis “Jornadas Esportivas”.

Na minha Jundiaí, a melhor estação sempre foi a Rádio Difusora, comandada na época, pelo saudoso locutor Hélio Luiz. O então repórter de campo, Adilson Freddo, continua lá até hoje, chefiando o esporte daquela emissora tão cativante, que já passou dos 70 anos de fundação.

Já o redator-chefe do Jornal da Cidade, o jornalista Sidney Mazzoni – de quem inclusive herdei o estilo de escrita – e que produzia a coluna diária de futebol mais badalada da cidade, a “Tirando de Letra” – partiu desse mundo já há algum tempo.

Eu e meu pai não perdíamos um programa futebolístico sequer.

Às vezes o velho exagerava.

Como quando resolveu levar o radinho de pilhas para ouvir uma partida durante uma festa de aniversário, para desgosto de minha mãe.

Seu papo era rico e variado. Versava facilmente sobre assuntos como atualidades, política, educação, realidade social, economia, história, astronomia e – é claro – esportes. No futebol então, ninguém o superava.

Lembro-me com desmedida saudade, das inúmeras vezes em que o acompanhei em seu trabalho pelas cidades e estradinhas que circundam Jundiaí, a bordo da Variant 70, bege (SL 8580) e dos nossos intermináveis e entusiasmados papos sobre futebol.

Nunca mais tive um parceiro futebolístico assim. Nunca mais.

Nos sábados bem cedo, batíamos uma bolinha no gramado de um clube social, antes que a rapaziada chegasse e tomasse conta do campo, para disputar uma pelada.

Eu no gol, meu pai chutando enviesado, colocado, rasteiro.

O velho botava fé que eu no futuro fosse goleiro do Paulista, porque realmente levava jeito, mas eu – tolamente – nunca quis tentar. Perdi talvez a chance de fazer parte da história do clube pelo qual torço.

Aos doze anos, comecei a pressioná-lo para que me levasse ao estádio. Eu ia equipado com um baita cornetão para azucrinar os adversários e trajando a camisa do Galo.

Bons tempos do inesquecível Joseph Pfulg à frente do clube.


O Paulista teve alguns presidentes que se destacaram ao longo de sua centenária história: Wanderley Pires, Eduardo Palhares… mas só um “pai”: o suíço Pfulg, presidente da Vulcabrás e que de futebol nunca entendeu, mas foi um ser admirável que sabia lidar com pessoas e fez tudo o que fez, desprovido de vaidade ou qualquer interesse pessoal que não fosse apenas o de retribuir à sociedade, tudo o que conquistara na cidade que o acolheu.

Todavia, houve um período em que o acesso para a Primeirona teimava em não vir e um torcedor “sem noção” pichou no muro do estádio: “FORA PFULG”.

Para desespero geral, ele ameaçou sair e então, lhe enviei uma carta comovente, lançando um apelo em nome da torcida, o qual – soube depois – o emocionou muito. Não sei até que ponto isso influenciou, mas o fato é que Pfulg acabou ficando.

Torcedor tem que fazer a diferença.

Não me esqueço do primeiro jogo “noturno” ao qual assisti – vencido nos acréscimos e de virada – em cima do Santo André, graças à “arma secreta” do treinador Adailton Ladeira: o folclórico Marco Antônio “Telefone”, verdadeiro talismã do time.

Um crioulo simpático, sorridente e brincalhão, nada clássico ou hábil com a bola.

Mas que “incendiava” o jogo e arrebatava a torcida com suas arrancadas empolgantes e uma raça inigualável. Se a peleja apertava, a torcida logo começava a gritar, exigindo:

– Põe o Telefone! – e costumava ser prontamente atendida.

Mesmo depois que ele deixou o clube, a torcida – por pura farra – continuava a pedir sua entrada e todos caíam sempre na gargalhada.

Agora, inacreditável para mim, foi – vinte e cinco anos depois – voltar ao Jayme Cintra (quando eu já morava aqui em Ribeirão Preto e fui ver meu time treinado pelo meu amigo e vizinho, o técnico Vagner Mancini) e, ao longo de uma dura partida diante do Coritiba pelo Brasileiro, ouvir a torcida ainda pedindo: “Põe o Telefone!”.

Disse para dois velhinhos com quem fizera amizade naquele dia, que não acreditava no que ouvia tantos anos depois, perguntando-lhes então, pelo paradeiro do jogador.

Rindo, eles responderam que se eu não acreditava no que ouvia o que iria dizer então, a respeito do que eles apontavam na curva das arquibancadas, mais abaixo.

Olhei e confesso que não pude crer no que vi: um senhor negro, cinquentão, usando abrigo e tênis esportivo, barba toda grisalha, braços cruzados e sorriso inconfundível, balançava a cabeça, enquanto ria dos gritos da torcida.

Era ele mesmo, o “Telefone”, em carne e osso, divertindo a galera. Incrível!

Como não amar uma torcida dessas?

Pena que meu pai já não estivesse mais entre nós, nesse dia. Iria se divertir a valer.

As lembranças são muitas. Dariam um livro. E um rio de saudosas lágrimas.


Por isso, vou encerrar por aqui, contando a vocês, duas historinhas apenas, ocorridas em jogos nos quais tive o prazer de poder acompanhar, das arquibancadas. 

Um deles, o mais emocionante que já presenciei no estádio Jayme Cintra, ao lado de meu pai. Já o outro, sozinho em São Carlos, onde eu passava sempre as férias escolares e acabei – acreditem – ajudando a decidir a partida.

São histórias inesquecíveis para mim. E quero dedica-las a todos os queridos torcedores que sempre me honram com sua leitura e comentários elogiosos no Museu da Pelada. Em especial, a Abílio Macedo, Carlos Vianna, Walter Duarte e Jorge Vitório (que inclusive batiza minhas crônicas de “texto Gáspari”).

Espero que gostem.

                                                                     – o –           


Estávamos na primavera de 1982.

No ano anterior, o Paulista estivera próximo do acesso à Divisão Especial, perdendo a vaga na semifinal. Mas agora, apesar do elenco reforçado, as dificuldades começariam mais cedo. O “Galo da Japy” precisava vencer o Palmeiras de São João da Boa Vista e se classificar para a fase seguinte do campeonato da Intermediária.

O adversário não era lá essas coisas, mas havia um obstáculo a ser vencido: o goleiro Cláudio, verdadeiro “paredão” – o melhor do torneio – mais até, do que Eli, do Aliança Clube, famoso por permanecer mais de seiscentos minutos sem tomar gols.

Cláudio era verdadeiramente um goleiro completo, geralmente o menos vazado no campeonato e contra o Paulista, desdobrava-se, saindo sempre com todos os prêmios de melhor em campo, além de sustentar (quase sozinho!) um tabu diante do Galo, que começava a incomodar.

Naquele domingo de sol, nem precisei pedir ao meu pai: ele mesmo já foi confirmando que deveríamos ir bem cedo, pois o estádio iria lotar. Na verdade, já fazíamos isso, pois ir ao Jayme Cintra naquele tempo era um evento para a tarde toda. Você chegava cedo e havia sempre uma partida interessante na preliminar, fosse de mulheres, de veteranos ou aquela que a torcida mais gostava: com o badalado time de juniores do Paulista.

Essa equipe de jovens disputava os jogos do antigo “Desafio ao Galo”, transmitido aos domingos de manhã, pela TV Record, direto do campo da CMTC, na capital.

Nessas ocasiões, o time envergava outra camisa: a do “Passarin” de Jundiaí e fez realmente muito sucesso, sendo inclusive campeão na temporada 80/81.

Certa vez, permaneceram tanto tempo “cantando de galo” no torneio, que para tirá-los de lá, foi preciso formar uma “Seleção de Campinas” com direito a Carlos, Polozzi e outros profissionais com nível de Seleção Brasileira, para que fossem derrotados por 2×1 e terem sua longa invencibilidade quebrada.


A maior revelação daquela equipe acabaria sendo o centroavante Ricardo, que logo subiu para o time de cima do Paulista e depois de alguns anos como artilheiro no tricolor, acabou contratado por Castor de Andrade e sua pasta cheia de dinheiro vivo em 1986, indo jogar no Bangu e depois em Portugal.

Pois naquela tarde não aconteceu preliminar alguma. Aliás, nem mesmo a equipe da RTC – Rádio e Televisão Cultura estava lá, para filmar o jogo e mostrar os melhores lances no programa “É Hora de Esporte”, na segunda-feira, ao meio-dia.

No lugar de tudo isso, tivemos a visita mais indesejada que poderíamos receber: uma chuva repentina, torrencial e gelada (fato comum, em Jundiaí), que começou meia hora antes do espetáculo.

Foi realmente terrível!

A certa altura, quando já nos encontrávamos encharcados “até os ossos” (para que vocês me entendam bem) por aquele verdadeiro “dilúvio”, meu pai teve a ideia de começar a pular para aquecer o corpo gelado, sendo prontamente acompanhado por mim e pela torcida, que já não aguentava mais e entoava o grito de “Gaaaaloooo, Gaaaalooooo…) por todos os cantos do estádio, o qual a esta altura, já apresentava dois terços de sua capacidade, ocupada.

Atendendo aos pedidos, o time saiu dos vestiários mais cedo, enquanto o temporal amainava. O Palmeiras veio em seguida.

Tudo pronto começou a verdadeira “batalha épica” em busca do gol salvador, já que o adversário era realmente um time limitado, que pouco atravessava o meio de campo.

Agora, havia mais um problema que surgia para atrapalhar o tricolor, uma equipe de maior envergadura técnica e toque de bola: o estado prejudicado do campo.

O Jayme Cintra tinha um belo gramado e sistema de drenagem, mas o volume de água que caiu foi realmente absurdo, a ponto de fazer o campo começar a “enlamear” em alguns lugares, atrapalhando (e muito) o toque de bola.

Disso se valia o adversário, que estourava qualquer bola para fora, assim que um ataque mais eminente se desenhava.

E tome cobrança de falta que o goleirão “se virava” para pôr a escanteio. Ou cabeçada que Cláudio salvava, de ponta de dedos. Foram várias chances perdidas. Até que o primeiro tempo terminou mesmo num 0x0, apesar daquele bombardeio todo.


No segundo, já com o sol querendo retornar, a roupa que secou no corpo e a garganta ficando completamente rouca de tanto tocar meu cornetão e puxar o grito de “Galo, Galo, Galo” (que meu pai apoiava e sempre acabava dando certo, pois contagiava a torcida que se inflamava e passava a gritar e empurrar o time também) o Paulista veio atacar bem no gol onde nos encontrávamos mais próximos.

Virou definitivamente um jogo de um lado apenas do gramado, o qual parecia ficar, a cada minuto que passava, mais e mais impraticável, dificultando por demais, o equilíbrio dos jogadores e o domínio de bola.

A dramaticidade foi chegando ao extremo: quando não era Cláudio que defendia, era o pezinho salvador de algum zagueiro do Palmeiras ou mesmo a trave e até, em certos lances, o próprio nervosismo ou o puro azar, que atrapalhavam tudo.

A menos de dez minutos do fim, o treinador colocou o atacante reserva Mosca em campo. Mais um, para tentar furar aquela barreira aparentemente intransponível. Jogador rodado, veterano já, que na primeira bola na qual partiu atrás, demonstrou toda sua vivência futebolística: pressionado por dois zagueiros, “mergulhou” na grande área em meio às poças de lama. Pênalti! Eram 39 minutos.

Mas o medo bateu logo: e se o gol não viesse? Muitos torcedores, me recordo, viraram de costas para o gramado.

A tensão era imensa. O capitão Pedro Omar apanhou a bola e caminhou até a marca de pênalti, mas teve dificuldade em colocá-la (o pior lugar de todo o campo, pois estava alagado, bem ali). Por várias vezes tentou ajeitá-la e nada. 

Cláudio usou de muita catimba, reclamando bastante com o juiz de que a bola estava adiantada em relação à marca penal (a qual nem podia ser vista, sob a água barrenta).

O árbitro corrigiu Pedro Omar que, com nervosismo, chutou insistentemente com a lateral do pé, parte do acúmulo de água sob a redonda. Eram decorridos 43 minutos. Se ele falhasse, não haveria tempo praticamente para mais nada.

Estranhamente, não se distanciou muito. Correu e bateu – não com a pancada costumeira – muito menos no canto. Foi de uma frieza absurda, até.

Então, o tempo pareceu congelar nesse instante e o próprio mundo por um momento, parou de girar, talvez!

A lama. O chute seco. O corpo do goleiro tombando timidamente para o lado esquerdo. A pelota em câmera lenta se encaminhando, baixa, para o centro da meta. Cláudio percebendo que ia passar da bola e retorcendo o corpo, para tentar voltar a tempo. Um filete de suor a me escorrer pela têmpora. A engolida em seco de muitos torcedores. O desespero estampado no rosto de meu pai.

O suspense, na garbosa voz de Hélio Luiz, entrincheirado na cabine da Difusora, enfartando quem estivesse ouvindo aquele drama todo, pelo rádio:

– Prepara-se Pedro Omar para a cobrança… não tomou muita distância… autorizado… partiu para a bola, pé direito, bateu: gooooooooltricolooooooorrrrr!!!

Bandeiras tremulando, rojões, palmas, gritos, risos: a agonia que tomara conta do estádio se transformava agora no delírio de uma torcida sofrida, apaixonada e linda.

                                                                – o –           

Minhas férias escolares eram invariavelmente desfrutadas em São Carlos, na casa de meus queridos avós. Naquele mês de julho de 1981, não seria diferente.

Aos 13 anos, atleta do judô e praticante de vários esportes, eu já entrava no cinema tranquilamente em filmes de censura 18 anos.


Então, não tive dificuldades para comprar meu ingresso no estádio Luís Augusto de Oliveira, o “Luisão” e acompanhar sozinho, a uma partida do Grêmio Esportivo São-carlense, o qual curtia ouvir os jogos sempre pela Rádio São Carlos, bem como, ler as matérias a seu respeito, nos três jornais da cidade: a Folha, o Diário e a Tribuna, todos ainda impressos em placas de chumbo.

Tive até um time de botões com uma das formações do clube: Luiz Sérgio, Paulo Felisberto, Bussolan, Hamilton, Ederaldo e Carlinhos; Silvano, Horácio, Elias, João

Carlos Traina e Serginho. Mas voltemos ao jogo.

Na semana anterior, pela primeira rodada do segundo turno, o “Lobão Sorriso” havia arrancado um belo empate fora de casa (1×1) frente o Corinthians de Presidente Prudente e direito a golaço com chapéu aplicado no goleiro e tudo o mais.

A partida em casa, diante da Votuporanguense, era fundamental para confirmar a reação da equipe, a qual no primeiro turno não havia ido nada bem, sofrendo três goleadas e rondando a perigosa zona de rebaixamento.

Não sei se já disse a vocês, mas meu coração de torcedor é tão grande, que consegue abrigar, com intensa paixão, vários clubes ao mesmo tempo.

No interior, além do meu Paulista de Jundiaí – terra onde nasci – ainda há espaço suficiente para o Grêmio São-carlense e para o Comercial, pois moro em Ribeirão Preto faz trinta e cinco anos.

Sempre soube, desde muito cedo, da minha importância como torcedor e da dimensão que isso pode tomar. Por isso, de certa forma me orgulho em ter ajudado diretamente o Grêmio a vencer a partida, naquele dia.

O time da casa começou melhor a partida e em dois ataques pontuais, abriu uma vantagem de dois gols logo nos primeiros minutos, para a nossa felicidade.

Imediatamente, entretanto, resolveu recuar e passou a sofrer um sufoco “daqueles” por parte dos visitantes, até o fim do primeiro tempo. Foi um recuo calculado, porém preocupante, pois a cidadela são-carlense esteveprestes a cair, várias vezes.

Na segunda etapa, o drama prosseguiu: a equipe acovardada, o goleio gremista trabalhando demais, os zagueiros estourando a bola para qualquer lado, até que o time de Votuporanga enfim descontou (quando na verdade, merecia era estar ganhando de virada!). 

Com o gol, baixou um silêncio momentaneamente sepulcral no estádio. O treinador permaneceu calado no banco, desanimado. A torcida – cerca de mil pessoas – muda.

Os atletas retornavam cabisbaixos para nova saída, no círculo central, lentamente.

Foi quando, aproveitando-me por estar posicionado bem no meio das acanhadas arquibancadas, ali pelo sexto ou sétimo degrau, logo acima do alambrado, berrei – a plenos pulmões – com toda fúria, para que os jogadores mais próximos ouvissem:

– Satisfeitos agora ou só quando eles empatarem? E a torcida que veio apoiar, vai passar vergonha? Cadê a raça?

Com o sangue fervendo, percebi que vários torcedores me olharam, espantados.

O juiz me observou enquanto mexia em seu cronômetro e vários atletas dos dois times, também, em silêncio.

Então, um jogador gremista, solidário à minha cobrança, de súbito bateu palmas para chamar a atenção dos companheiros, dizendo:

– Ele tá certo! Vamos dar o sangue!

Ato contínuo, três ou quatro companheiros mais próximos concordaram com a cabeça.

Incrível: instantaneamente, acabou a apatia. Passaram a dividir todas as bolas, jogando com mais ânimo e principalmente, voltaram a atacar.

Estávamos quase na metade do segundo tempo e dali por diante, o Grêmio ainda desperdiçou duas ou três oportunidades para ampliar, não passando mais sustos até o final da partida, quando então os atletas receberam nossos merecidos aplausos.

Confesso que fiquei satisfeito. Para mim, um clube só existe em razão de sua coletividade e o torcedor tem que fazer a diferença.

Ao me levantar para ir embora, alguns gremistas mais próximos, nas arquibancadas, vieram me congratular pela bronca que dei nos atletas, perguntando se eu não apreciaria fazer parte de sua torcida organizada, também.

Agradeci, explicando que por ser de fora eu não poderia, mas que eles não deixassem nunca de apoiar o time, mesmo quando tudo parecesse perdido, pois ele, mais do que qualquer um, precisava.

E fui embora, solitário e feliz, com a certeza de ter cumprido com a minha missão de torcedor do Grêmio, de alguma forma, naquele dia.

 

O FUTEBOL DO FUTURO

por Mateus Ribeiro


Não faz muito tempo que acompanho futebol. Talvez, uns vinte e sete anos. Porém, mesmo sendo pouco tempo, eu pude observar inúmeras mudanças, seja dentro ou fora do campo.

Todas essas mudanças aconteceram rápido demais, o que acabou me deixando um pouco assustado. Dia desses, pensando no que o futuro pode reservar, fiz um exercício que misturou previsões, paciência, uma dose de bom humor, e imaginei como o futebol poderá estar em 2050.

É sempre bom avisar que essa lista é uma brincadeira, portanto, peço que não encarem tão a sério (apesar do meu medo de que algumas coisas aqui se tornem realidade).

Então, vamos lá. De acordo com todas as transformações que vi até hoje no futebol, daqui algumas décadas, essas serão as mudanças pelas quais nossa judiada paixão passará:

1 – Os nomes dos times mudarão: Acredite se quiser: com a onda cool que tomou conta do futebol desde os anos 2000, muitos times tradicionais do futebol mudarão seus nomes. O Corinthians se tornará Itaquera Hawks, o Palmeiras passará a se chamar Big Green Falcons, o tradicional Santos mudará sua razão social para Beach Boys. O Grêmio será conhecido por Immortal Blues, o Fluzão será o Xerém Warriors, e o Atlético Paranaense vai ser chamado de Hurricane.

2 -A imprensa esportiva vai ficar pior: Acredite, o que parecia não ter como ficar pior, vai piorar, e muito. Os programas esportivos são apresentados por ex participantes de reality shows, e jogadores como Ganso, Pato, Lucas Moura, Bernard e Elias comandarão uma mesa redonda, que além de muito sem graça, contará com a presença de cientistas da NASA, que explicarão o futebol através de cálculos astronômicos. Aliás, depois do 4–1–4–1, o esquema da moda será o 1–1–1–1–1–1–1–1–1–1, onde cada jogador ocupa uma faixa do campo.


3 -Sistema de Draft: Da mesma forma que os esportes americanos, o futebol adotará o sistema de draft. Universitários serão escolhidos, porém, de maneira diferente. Ao invés do clube analisar seu desempenho nas competições, a beleza e o potencial de marketing do possível futuro jogador serão analisadas, além da popularidade nas festinhas da faculdade. O goleiro Alisson comandará a comissão de escolha, por ser um dos pioneiros da dinastia da beleza no futebol nacional. E ah, a capacidade técnica será apenas um detalhe.

4 – Mudança dos uniformes: Sabe a expresão “fulano joga de terno”? Pois bem, ela vai se tornar realidade. Para deixar o futebol mais plástico e glamouroso, não teremos mais uniformes como os atuais. Afinal, um esporte tão elitizado não pode ter como traje algo tão simplório como essa coisa brega de camisa, calção e meião.


5 – Transferências com valores astronômicos: Esqueça os milhões. Os jogadores agora mudarão de time por bilhões. E não será nem em euros. As transferências serão pagas em barras de ouro (que valem mais do que dinheiro e moedas virtuais).

6 – Teremos apenas dois jogos por mês: Cansados da rotina cansativa de viagens, jogos, entrevistas, estadias em hotéis de beira de estrada, refeições nos restaurantes menos apresentáveis, e campanhas publicitárias om baixo retorno financeiro, os jogadores (ou players) decidiram que para sofrer menos, o ideal é que se jogue uma vez a cada 15 dias. A CBF acatará a decisão, em nome do bom futebol.

Pelo visto, o futuro é nebuloso.

E aí? Você acha que dá pra encarar o futebol do futuro?

Um abraço, e até a próxima.

GOLAÇO DO MESTRE

por Mateus Ribeiro


Eu me lembro como se fosse ontem, do dia que eu queria ver uma partida de futebol, e o senhor me levou até o clube da cidade para que eu pudesse assistir. Até aquele dia, eu não gostava de futebol, e nem eu entendia o motivo de eu chorar tanto para tentar ver uma exibição de algo que até o dia anterior eu não era fã.

Eu me lembro como se fosse hoje, de ver um rapaz jogando, e o senhor comentando com algumas pessoas no alambrado que “…o beque era bom”. Obviamente, fui perguntar o que era um beque, e assim que minha dúvida foi sanada, tratei de perguntar o nome e a função de todos os jogadores presentes no gramado.

Eu ainda me recordo com muita clareza de uma vez que fomos visitar o Vô Jorge. O nosso mestre já estava bem velhinho, e eu queria dividir com ele o mundo mágico do futebol que eu estava descobrindo. Perguntei para o Vô se ele ainda assistia futebol. A resposta? “Eu gostava mesmo na época do Nilton Santos…”.

Eu me lembro do amor do senhor pelo Santos, e como o senhor detestava o Corinthians.

Eu ainda me lembro, e o senhor deve ter uma mágoa gigantesca, do dia que escolhi o Corinthians (na verdade, o Corinthians me escolheu) para torcer, e todos os esforços que o senhor fez para tentar me fazer ser são paulino (pelo vô) ou santista (por razões óbvias) foram em vão.

Eu me lembro, e sou muito grato pelo dia que fui apresentado ao futebol no rádio. Nossos domingos, quartas, sábados e quaisquer outros dias eram extremamente felizes. Demos muita risada, discutimos, choramos… tudo era um caminhão de emoções. E nem precisávamos de muito. Bastavam o rádio e o senhor. Meu mundo estava ali. Meu mundo e nada mais.

Agora, vamos colocar essa máquina do tempo um pouco mais pra frente.

Eu me lembro claramente de nossos sábados repletos de jogos de todo e qualquer campeonato do mundo. Naqueles dias de dificuldade, quando o senhor ficava em uma cama, o futebol era uma das poucas alegrias existentes. E eu me sinto muito honrado de poder dividir esses momentos mágicos.

Um desses momentos foi quando Van Persie empatou o jogo com a Espanha, pela Copa. E depois, no final, quando Robben deixa a zaga e a defesa adversária no chão, o seu sorriso de satisfação foi o complemento da obra.

E o que dizer do dia que o senhor chamou minha mãe para falar que “…gostava de assistir futebol comigo pois um dia eu aprendi, e agora eu ensinava”? Desnecessário eu afirmar que esse foi o maior momento da minha vida. E nada NUNCA vai chegar perto desse momento.

Infelizmente, tenho algumas lembranças amargas também. Como no fatídico 01/10, quando horas após o seu enterro, liguei a tv para ver uma partida de futebol. Quem estava jogando? O Santos. Olhei pra um lado, pro outro, e vi que as coisas já não eram iguais. Praticamente desisti de acompanhar tudo.

Mas ah, se o senhor ficasse sabendo que eu estava sendo covarde, iria me dar uma chamada digna do Zito chamando a atenção do Pelé. E resolvi reunir todos os ensinamentos aprendidos (inúmeros, incontáveis), juntar os cacos, e comecei a colocar pra fora tudo o que eu guardei dentro de mim por longas décadas.

O resultado tá aqui. Esse texto é um dos meus trabalhos aqui no Museu, um lugar que me abriu as portas, e que o senhor adoraria conhecer, e ouvir as historias. Talvez, esteja acompanhando por aí, no Estádio dos Imortais. Um dia eu apareço aí pra gente bater um papo e dar risada dos caneludos que sobraram por aqui. Mas eu espero que esse dia demore bastante.


Enquanto esse dia não chega, fica o meu recado para todos vocês: aproveitem cada momento ao lado dos seus pais. Abracem, chorem, curtam, pois a vida é breve, e infelizmente, não é um jogo do Manchester United na época do Alex Ferguson, portanto, não há acréscimos.

Hoje, quase trinta anos depois de assistir a primeira partida, eu entendo o motivo de ter pedido tanto para assistir a um jogo: era um chamado dos deuses do futebol para que nosso laço fosse eterno e inquebrável.

Com amor, de Mateus Roberto da Silva Ribeiro para Carlos Ribeiro.

A DOR DE UMA PAIXÃO


São dez livros, muitas noites concorridas, outras vazias. Fora de casa, já não temos os amigos próximos, parentes, apenas aqueles “tu é responsável por aquilo que cativas” que cativamos.

Já cascudo, passei a dar valor a quem compareceu, e procurar entender aqueles que não dei razões para se deslocarem até la. É uma sensação estranha: “você a caneta os livros e uma incógnita no ar: Será que vão aparecer?

Ontem foram poucos, fora meus parentes, dois atletas que treinei, dois com quem joguei: Nielsen e Eduzinho.


É uma professora de história. Edu, com quem joguei um ano no Flamengo, foi o bálsamo de todas as ausências. Carinhoso, gentil, educado com todos, valeu cada quilômetro percorrido. Nestes exemplos, de qualidade e afeto, aprendi a valorizar no lugar de quantidade de livros vendidos. Por eles, os 30 livros vendidos valeram passar uma noite tão agradável. O livro ficou lá em consignação e posso dizer: com 250 páginas contém tudo o que gostaria de deixar como legado. Você vai gostar, tenho certeza. Abraço