Escolha uma Página
Generic selectors
Exact matches only
Search in title
Search in content
Post Type Selectors

Futebol

OS VENTOS DO ÓDIO DENTRO DOS CAMPOS

por Paulo Escobar


Não é de hoje que se percebe o ódio nas pessoas, e não é de hoje que os preconceitos contra as ditas minorias (em direitos), mas maioria em quantidades, se faz presente. Podemos dizer que nos dias atuais somente tem se colocado mais para fora os ódios internos guardados, e no mundo do futebol não é diferente.

Em alguns países são toleradas atitudes totalmente desumanas e cruéis, opiniões que podem custar a vida de pessoas por conta de serem diversas, e jogadores que vêm de meios de pobrezas apoiando opressões e falas racistas, homofóbicas, xenófobas e estúpidas dentro e fora dos gramados.

Quando um jogador de futebol se manifesta a favor da intolerância e de posturas cruéis, ele reproduz ódios e frases que são escutadas em rede sociais ou televisão aonde crianças ouvem e imitam estas ideias e alimentam na cabeça de quem assiste os preconceitos defendidos, correndo o risco de tornar ódios como coisas normais e tudo em nome da tal democracia e liberdade de expressão.


Bom lembrar que muitos destes jogadores, através do futebol, saíram e saem de meios extremamente pobres e sofreram preconceitos dos mais variados, sentindo na pele a exclusão social por conta da condição financeira. Seria honesto talvez não esquecer do lugar de onde saíram, e começar a enxergar que o fato de terem dinheiro não apaga o lugar de onde vieram. Querer hoje defender ideias desumanas por estarem longe do meio que os viu crescer, das favelas ou quebradas, chega a ser bizarro tendo em vista que os seus amigos deixados para trás continuam sofrendo o peso da exclusão e preconceitos que eles sofreram um dia, e que ao que tudo indica serão as primeiras vítimas diante do massacre que estes discursos de ódio trarão consigo.

Como bem observou Angel Cappa, ex-jogador de futebol argentino:

“Eles são postos diante de uma armadilha. São levados a viver a ilusão de uma ascensão social, quando na realidade não é assim. São retirados de sua classe social e deixados no ar, são conscientemente apartados da realidade. Eles não se esquecem de onde vêm, mas se alienam. Adotam os costumes, o modo de falar, os restaurantes, os perfumes, a roupa do opressor. Ou digamos que de outra classe social, para não ser tão extremos. E ficam deslocados, perdidos, porque jamais são admitidos na elite à qual ilusoriamente são levados a acreditar que pertencem. As pessoas só se aproximam deles por causa da fama, e depois de seus quinze minutos eles ficam novamente no ar, não são nem do local de onde vieram nem da alta sociedade.”

Jogadores e ex-jogadores negros apoiando discursos de racismo, jogadores que têm companheiros gays apoiando discursos homofóbicos, jogadores ditos cristãos apoiando a apologia a tortura, jogadores que já tiveram problemas com vícios e que talvez estiveram nas bocas atrás de suas drogas apoiando o extermínio de pessoas com vícios chega a ser de uma desumanidade e hipocrisia sem tamanho.


Não podemos esquecer também que a estrutura que são submetidos pelos clubes, assessores e confederações também os colocam numa cegueira social, afastamento até intencional diria na qual são distanciados da realidade tal qual ela é. Como não enxergar que muitos dos torcedores que os acompanham nos jogos e que consomem o futebol e que são seus clientes, por assim dizer, são pessoas diversas em todos os sentidos.

O futebol que é um meio de socialização, de integração e até que dentro dos estádios muitas vezes juntou as diferenças não pode ser utilizado como meio de cultivo de ódio às diferenças ou reprodutor de atitudes injustas e cruéis como já foi no passado aonde serviu de ocultação de realidades duras e do desaparecimento de pessoas apoiando regimes nefastos (seja de direita ou esquerda).

Quando vejo um jogador defendendo o ódio, penso no poder que aquela atitude tem e como isso se multiplica, penso em como pessoas que torcem pelos times que eles mesmos defendem irão sofrer as consequências deste ódio e crueldade. E vejo uma desonestidade com o passado e sofrimento que muitos passaram até chegarem a ter uma vida mais estável economicamente falando.

Em alguns times pelo mundo jogadores de futebol que manifestaram apoio a discursos de ódio contra as diferenças foram apagados da história de seus clubes, e alguns até convidados a se retirarem em caso de continuidade destas atitudes. Aqui no Brasil muitos clubes se isentam de posicionamento e em nome da “democracia” manifestam que todos têm direito a manifestação mesmo que este ato seja uma reprodução de ódio e crueldade, o direito a expressão não quer dizer direito a ser desumano com o outro.


E pra finalizar não voto desde que nasci, acredito numa política construída no dia a dia com as pessoas mais prejudicadas e sofridas, na sobrevivência, no futebol como símbolo de alegria e de alivio daqueles que mais sofrem. Aos jogadores e ex-jogadores por favor sejam mais coerentes com suas histórias de lutas e vidas e com aquilo que o futebol é, um instrumento de alegria e socialização e não de ódio.

Diante do ódio o papel do futebol é resistir.

POR UM TSUNAMI DE IDEIAS

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Quem me conhece sabe que há anos ando desiludido com o futebol e com a política. CBF, FIFA, PSDB, PT, PMDB, enfim, nenhuma dessas siglas me representa. Todos se envolveram em um mar de corrupção e conseguiram afundar o Brasil e o futebol. Estamos mergulhados de cabeça na lama e não me iludo com promessas e discursos.

Mas, confesso, fiquei feliz porque no país todo o resultado das urnas comprovou a sede por mudanças. Não sou Lula ou Bolsonaro e nem sei se os eleitos cumprirão suas promessas, mas essa inquietação contra a mesmice é a que me move. Os grandes partidos perderam espaço e a nossa capacidade por indignação ganhou força. O futebol precisava dessa chacoalhada.

Um tsunami seria necessário para uma renovação nos dirigentes das confederações, federações e clubes, na mentalidade dos “professores”. A escola gaúcha não tem mais o que dizer, parou no tempo. Felipão está prestes a vencer um Brasileirão e sairá como herói. Mano venceu a Copa do Brasil. Zero inovação, a receita de sempre: um monte atrás torcendo por um golzinho salvador. Palmeiras e Flamengo montaram elencos milionários e a partida entre eles foi sofrível. Dinheiro não compra qualidade. Qualidade é nata e está na molecada que vocês estão colocando fora de posição para marcar e dar carrinho.

Felipão colocou um time em campo com quatro cães de guarda: Felipe Melo, Bruno Henrique, Moisés e Tiago Santos. Eu disse quatro!!!!!


E cadê o Lucas Lima? Tá no banco! Não morro de amores por ele, mas sabe jogar bola e não pode ficar na reserva para nenhum desses quatro. Dudu se salva, mas precisa deixar de ser chorão. Joga bola e pronto! Felipe Melo espanou Paquetá o quanto pôde e os comentaristas dizendo que ele jogou muita bola. Em que mundo vocês vivem???

E o Felipão no fim do jogo exaltando o fato positivo de se jogar em um Maracanã lotado…. com 50 mil torcedores. Ô Felipão, 50 mil dava Olaria x Madureira dos bons tempos! O problema é que essa turma se contenta com pouco.

Vem tsunami, varre esses exterminadores do bom futebol para bem longe daqui!!! Querem um exemplo bobo. O centroavante Pablo, do Atlético Paranaense. Quantas vezes vocês já ouviram o nome dele em alguma sondagem dos últimos “professores” da seleção? Nenhuma! Será necessário ele mudar de empresário ou ir para a Europa? Essas convocações são abomináveis, é um toma lá dá cá escandaloso.


Precisamos de novos ventos, de novas ideias. O futebol precisa ser discutido, reavaliado. Na política, não vimos apresentação de propostas entre os presidentes nem entre os candidatos ao governo do Rio. Só acusações, dossiês, fake news. Triste. Mas a verdade é que nosso futebol é fake, nossos dirigentes são fakes. No meio dessa bagunça generalizada, o torcedor clamando por renovação.

Só sei que no dia da eleição, nosso querido Mané Garrincha faria 85 anos. Meu voto vai para ele porque não só no futebol, mas como na política, precisamos de sua criatividade, seu raciocínio rápido, sua sagacidade, mas, acima de tudo, precisamos de sua pureza.   

DEIXEM-NOS ENTRAR

por Paulo Escobar


Deixem-nos entrar com as bandeiras, instrumentos e nossas faixa, não nos privem e reprimam a festa que somente a torcida que sofre e se alegra com seus times pode proporcionar.

Parem de nos privar do privilégio dos estádios e viajar com nossos times que são nossa religião, nos privar com os preços de ingressos inacessíveis para nos barrar do prazer de exercer a nossa fé.

Deixem-nos cantar e xingar sem tanto moralismo que procura punir manifestações dentro dos estádios, símbolo daqueles que também querem desabafar as agonias da semana pobre que nos destinaram a viver desde que nascemos.

Deixem-nos tocar os instrumentos e ter a liberdade de torcer que até hoje nossos irmãos argentinos possuem, privilégio que nos gera inveja e ciúmes quando vemos como são felizes e participantes do jogo dentro e fora de campo.

Parem de querer que engulamos que torcida é esse público de teatro que mal sabe cantar os cânticos ou então que mal sabe o que é realmente sofrer pelo seu time de coração. E deixem de insistir que o jeito certo é torcer sentado sem poder pular ou expressar nossas paixões de formas diversas.


Deixem-nos acender sinalizadores, fumaça e papel picado nas entradas dos nossos times, pois queremos no meio da festa lhes dar as boas-vindas e manifestar que ali estamos presentes alentando.

Deixem os nossos rivais entrarem na nossa casa e podermos comemorar nossas vitórias com eles presentes, e parem de nos culpar pela violência que é uma questão muito mais ampla e gerada socialmente por muitos acima de nós. 

Deixem de insistir em reprimir nossas paixões, e parem de chamar de invasões o que muitos de nós fazemos quando queremos entrar de alguma forma daquilo que vocês nos privaram através da barreira econômica imposta nos preços, aonde mostram que lugar de povão é do lado de fora.


Parem de achar que é democrático abrir as portas de treinos gratuitos e nos barrar dos jogos, que é o que realmente vale a pena assistir.

Já nos roubaram os estádios, já nos tomaram os acessos, já nos proibiram de tudo e tentaram nos colonizar. Mas a única coisa que nunca vão tirar de nós é a paixão e fé que temos naquilo que nos move que é o torcer e manifestar nosso sofrimento e amor.

FUTEBOL DE SALA DE AULA

:::::::: por Paulo Cezar Caju ::::::::


Muita gente pede que eu escreva sobre estratégias de jogo, esquemas táticos, essas chatices que inundam os programas esportivos. Você liga a tevê para ouvir uma resenha divertida e vê essa garotada que nunca chutou uma bola na vida desenhando e analisando quadros cheios de setas coloridas. Se acham os professores, Kkkk!! Esse é o problema do futebol, ficou acadêmico demais.

Não sei se o Brasil é o país onde mais se assiste futebol, mas, com certeza, é o lugar do planeta onde mais se joga. Por isso, somos o país onde formam-se (hoje, se deformam-se) mais jogadores. E com estilos diferentes porque brotam em todas as regiões: Rivaldo, de Recife, Tostão, de Minas, Sócrates, de São Paulo, Falcão, de Santa Catarina, e Zico, do Rio. Essa mescla sempre foi nosso diferencial. Por isso, reclamo de uma escola com a cultura retranqueira.

O futebol brasileiro sempre foi conhecido por surpreender os adversários com jogadas inusitadas e belíssimas. Me lembro de uma excursão ao México, com escala em Peru e Bogotá. O time do Botafogo havia passado horas e horas no aeroporto, as viagens eram bem mais cansativas. Durante o jogo, exaustos, ficamos tocando a bola, colocando o adversário na roda, sempre liderados pelo Gerson. Era um recurso para descansarmos. Fazíamos isso com extrema facilidade porque o brasileiro cresceu jogando em espaços reduzidos, nas ruas, praia, salão e várzea. Podem acreditar, isso faz uma tremenda diferença.

O improviso sempre foi nosso trunfo. Em 62, podem pesquisar, o Brasil foi campeão do mundo com vários titulares acima dos 30 anos. Era óbvio que os adversários menos técnicos precisavam frear isso de alguma forma e na Copa seguinte a Inglaterra venceu graças ao preparo físico.


Tim, um dos maiores estrategistas que conheci, certa vez mandou Luiz Claudio, do Flamengo, não me deixar jogar. Foi irritante, mas ele conseguiu. Mas o Tim formou um Bangu e um San Lorenzo maravilhosos, inesquecíveis. O problema é que hoje só se investe em marcadores.

Em 70, o nosso preparo físico precisou ser forte por conta da altitude. Em 74, falaram sobre inovação, Carrossel Holandês, com jogadores não tendo posições fixas. Balela! Brasil x Holanda foi um dos jogos mais violentos da história das Copas e essa conversa de não ter posição fixa já fazíamos há tempos.

Em 78, com Claudio Coutinho, os treinamentos começaram a mudar e começou esse papo de apostar corrida. Os velocistas ganharam força. Mas havia uma pequena diferença, Dirceuzinho, Búfalo Gil e Zé Roberto, por exemplo, corriam muito, mas jogavam uma barbaridade. Hoje, só correm.


No Sul, Minelli e Ênio Andrade ganharam títulos e notoriedade investindo no futebol força, com dois cabeças de área. Hoje, alguns times jogam com até quatro. A diferença, mais uma vez, é que a qualidade foi enterrada. Falcão, Carlos Roberto e Pintinho eram cabeças de área. Vejam a diferença! Hoje os técnicos são peças figurativas e as comissões técnicas, enormes, ensinam futebol nas salas de aula.

Tô fora! Adoro Legião Urbana, mas não me convidem para essa festa estranha, com gente esquisita. 

O FUTEBOL AGONIZA, MAS NÃO MORRE

por Marcelo Soares


Meu pai, parceiro de arquibancada, cresceu com o futebol das décadas de 70 e 80. Hoje já não tem mais vontade de ir aos jogos.

Será que naquela época eram muito bons mesmo ou hoje são muito ruins? Acredito que as duas opções estejam certas.

Anteontem, toda essa festa antes da final da Copa do Brasil mostrou como as coisas estão mudando no futebol brasileiro. Após a bola rolar acabou a festa. Cartões para todos os lados e os onze jogadores atrás da linha bola. 

Certamente não é essa a mudança que queremos.

VAR… Não me lembro de ouvir do meu pai e do meu avô reclamações sobre arbitragem. Esqueceram o futebol nas décadas passadas e buscam sempre um vilão.  Árbitros, jogadores. Talvez o problema não estejam neles. Sabemos que não estão dentro de campo.

Categorias de base em situações precárias, dívidas bilionárias…

Aquele que é considerado o melhor time do país apresenta um futebol fraquíssimo. Vence pois os adversários são piores ainda. O famoso “extracampo” está cada vez mais sendo decisivo.

Apesar de tentarem e muito acabar com ele, o verdadeiro futebol agoniza, mas não morre. Como diria Nelson Sargento.


O que fez e faz meu pai perder a vontade? Times sem padrão de jogo? Escassez de craques? Ingressos caros? Ou toda essa palhaçada que estão fazendo fora de campo?

Anteontem, infelizmente não fomos ao estádio.

Para o Corinthians, nunca foi fácil. Mas está cada vez mais difícil. Difícil comemorar um gol, uma boa partida.

Talvez o mais difícil será convencer a próxima geração a ser meu parceiro de arquibancada. 

As próximas gerações podem olhar para o futebol e dizer:

Que jogo mais chato, VAR pra PQP.